Prezadas leitoras, caros leitores —

É hora de o depoimento de Frances Haugen, a delatora do Facebook, começar a ser levado a sério. Em países como Estados Unidos e mesmo aqui no Brasil, a experiência com ódio insuflado pelas redes sociais toma forma em ameaças à democracia. Mas, tanto aqui quanto nos EUA, há extensas equipes do Face que falam as línguas locais.

Em muitos outros lugares do mundo, a realidade não é esta.

Em Myanmar, um monge budista radical e ultranacionalista fez despertar pelo Face um movimento que levou a uma campanha de limpeza étnica da comunidade rohingya, muçulmana e minoritária no país. Sim: houve um genocídio que nasceu nas páginas de uma rede social.

Ali perto, no Sri Lanka, ondas de vigilantismo e linchamentos contra minorias foram igualmente documentadas. Como o foram na Índia, na Indonésia e nas Filipinas.

Neste exato momento, eclode na Etiópia algo que pode se tornar uma guerra civil. E, com frequência, o ódio que leva à morte entre grupos étnicos distintos é atribuído a desinformação que se espalha pela rede.

No caso de muitos destes países, o Facebook não tem gente o suficiente que sequer conheças as línguas e dialetos falados.

Ódio entre grupos étnicos sempre houve, como sempre houve entre grupos de culturas distintas. Em alguns momentos, este ódio levou a genocídios. A diferença, agora, é a velocidade de virada, de como da ausência do conflito à violência o tempo é curto. A diferença é que há um algoritmo que, por motivos diversos, seleciona que conteúdos distribuir e privilegia aqueles que terminam na incitação.

O impacto na política em democracias nós já conhecemos. Neste sábado, o Meio contará histórias piores.

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Bolsonaro nega absorventes a mulheres muito pobres

O presidente Jair Bolsonaro vetou o projeto aprovado pelo Congresso que previa a distribuição gratuita de absorventes a estudantes de baixa renda das escolas públicas, mulheres em situação de rua e outros grupos. A justificativa foi que o projeto não previa a fonte de custeio, embora o texto indicasse que os recursos viriam do SUS. A Presidência respondeu que absorventes “não são medicamentos essenciais”. (UOL)

A bancada feminina no Congresso começou ontem mesmo a articular a derrubada do veto, que ainda não tem data para ser analisado. Coordenadora da bancada de mulheres na Câmara e integrante da base de apoio do governo, a deputada Celina Leão (PP-DF) foi enfática: “Se R$ 84 milhões for muito dinheiro para o governo não dar condição a meninas e mulheres, eu acho que o governo tem que rever os seus princípios. Ele precisa repensar a forma de tratar as mulheres no Brasil”, disse. (g1)

Entenda o que é ‘pobreza menstrual’ e o que o veto de Bolsonaro implica. (g1)

Ricardo Rangel: “É sabido que a falta de absorventes compromete a frequência escolar e o comparecimento ao trabalho, e impacta fortemente a qualidade de vida, a dignidade e a autoestima de mulheres e meninas pobres. O veto é de covardia e crueldade ímpares, mas não surpreende. Bolsonaro despreza pobres, mulheres, estudantes, presidiários e outras minorias, faz o que pode para prejudicá-los.” (Veja)

Leia mais: a história comovente da diretora que descobriu por que as alunas de sua escola faltavam às aulas em certos períodos. (Estadão)

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A CPI da Pandemia decidiu convocar a depor pela terceira vez o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Um dos motivos foi a informação divulgada pela rádio CBN de que o presidente Jair Bolsonaro pressionou o Ministério da Saúde para que fosse tirada de pauta a análise de um relatório da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) no SUS que condenava o uso de cloroquina e de outros tratamentos ineficazes. Além disso, Queiroga não cumpriu o prazo de 48 horas para responder a uma série de perguntas da comissão. (g1)

Indicado por Queiroga, o coordenador da Conitec, o pneumologista Carlos Carvalho negou ingerência política e disse que foi dele a decisão de tirar o relatório da pauta. Segundo ele, pesquisas feitas em setembro não haviam entrado no documento, embora a ineficácia de remédios como a cloroquina contra a covid-19 já esteja estabelecida desde o ano passado. (Estadão)

A quinta-feira na CPI da Pandemia foi marcada por um dos mais estarrecedores depoimentos até o momento. O advogado Tadeu Frederico de Andrade, de 65 anos, disse aos deputados que após 30 dias internado na UTI de um hospital da Prevent Senior, a médica Daniela de Aguiar Moreira da Silva quis removê-lo para um leito híbrido com tratamento paliativo, já que sua morte aconteceria “em poucos dias”. Além disso, disse ele, havia a orientação para que, em caso de parada cardíaca, ele não fosse reanimado. A família não aceitou e contratou um médico particular para fiscalizar o atendimento ao advogado. O médico Walter Correa de Souza Neto, ex-funcionário da Prevent, confirmou as denúncias de pressões e chantagens para prescrição do “kit covid”. O relator da Comissão, Renan Calheiros (MDB-AL) disse que a empresa adotou uma prática “nazista e criminosa”. (Metrópoles)

O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem apanhado muito desde a revelação de que possui uma empresa offshore num paraíso fiscal. E boa parte dessa saraivada é fogo amigo. Colegas de governo e aliados de Jair Bolsonaro têm pressionado o presidente a fritar o outrora superministro. Guedes, dizem fontes, nunca esteve tão isolado. (Folha)

Mas não são as pancadas dos colegas que o incomodam. Como conta Guilherme Amado, Guedes se sente abandonado por Bolsonaro, que vem mantendo, ao menos em público, silêncio ensurdecedor sobre a crise de seu Posto Ipiranga. (Metrópoles)

Bruno Boghossian: “Políticos governistas mantêm apoio à reeleição de Bolsonaro porque acreditam numa recuperação de popularidade até o ano que vem, mas não topam encarar uma campanha que aponte para a continuidade da agenda de Guedes. A revelação de uma empresa num paraíso fiscal foi só um pretexto do Centrão para fragilizar ainda mais o ministro. É a política que vai obrigar Bolsonaro a rifar seu ‘posto Ipiranga’ — agora ou em 2022.” (Folha)

Coluna do Estadão: “Tucanos torceram o bico para a chegada de Joice Hasselmann ao PSDB e lembraram declarações dela sobre Bruno Covas (‘uma nulidade que não gosta de trabalhar’). Tomás Covas, filho do prefeito morto em maio, chamou a chegada de Joice de ‘vergonha’.” (Estadão)

Meio em vídeo. O próximo presidente, seja quem for, terá metade do país o odiando. E a principal causa está nos algoritmos que incentivam uma conversa baseada em ódio. Ele terá na economia, na educação, na saúde, no meio ambiente uma penca de problemas imensos. Mais do que nunca, é preciso um líder capaz de fazer discursos de união — não de divisão. Confira o Ponto de Partida. (YouTube)

O ministro do STF Alexandre Moraes deu prazo de 30 dias para que a Polícia Federal tome presencialmente o depoimento de Jair Bolsonaro sobre suposta ingerência política deste na corporação. Dentro desse prazo, o presidente pode marcar a data e a hora para depor. (g1)

Enquanto isso... A Procuradoria Geral da República recomendou a condenação do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) por ameaças a ministros do STF e às instituições democráticas. Ele foi preso em fevereiro após publicar um vídeo defendendo a volta do AI-5. (Poder360)

Dois jornalistas, a filipina Maria Ressa e o russo Dmitry Muratov, vão dividir o Nobel da Paz de 2021 por seus esforços em defesa da liberdade de imprensa e da democracia em seus países. Ressa fundou em 2012 e dirige até hoje o Rappler, uma rede de jornalistas investigativos que é uma das mais expressivas resistências ao presidente filipino Rodrigo Duterte, um prócer das “democracias iliberais”. Já Muratov luta há décadas pela democracia na Rússia. O jornal Novaja Gazeta, que fundou em 1993, é uma das maiores trincheiras pela liberdade de imprensa e a defesa dos direitos humanos no país de Putin. Ao menos seis de seus profissionais já foram assassinados. Segundo a Academia Sueca, Ressa e Muratov “representam todos os jornalistas que se erguem por esse ideal num mundo onde a democracia e a liberdade de imprensa encaram condições cada vez mais adversas”. (Twitter)

E difícil — assim como é delicado — este debate sobre ameaça à democracia, liberdade de expressão e de imprensa nos tempos digitais. O assunto foi tema de uma Edição de Sábado do Meio, contando a história de como estes princípios se estabeleceram nas democracias. O conteúdo está aberto.

Paraíso para poucos

Spacca

Meio Spacca Guedes paraiso
Enquanto Tony de Marco está fora, seus parceiros no Grupo de Risco — Spacca, Orlando e Marcelo Martinez — vão se revezar trazendo cor a este Meio. Como, não conhece o Grupo de Risco? Então acompanhe nesta segunda-feira, às 19h, a reestreia do quarteto. Não vai se arrepender.

Cultura

O romancista tanzaniano Abdulrazak Gurnah ganhou na manhã de ontem o Nobel de Literatura, o mais importante prêmio concedido a escritores em todo o mundo. De acordo com a Academia Sueca, Gurnah foi escolhido “por sua penetração intransigente e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino do refugiado no abismo entre culturas e continentes”. Ele nasceu em 1948 na Ilha de Zanzibar e migrou para a Inglaterra nos anos 1960 fugindo de perseguições religiosas. O drama dos refugiados e expatriados marca toda sua obra, que jamais foi editada no Brasil. (g1)

“Pensei que fosse trote.” Assim Gurnah reagiu ao telefonema da Academia Sueca informando da premiação. Ao comentar a explicação do prêmio, o autor disse não acreditar que o “abismo entre culturas” seja permanente. “As pessoas, é claro, estão se movendo em todo o mundo. Eu acho que esse fenômeno particular de pessoas da África vindo para a Europa é relativamente novo, mas é claro que o outro, de europeus fluindo para o mundo, não é nada novo”, explica. (Estadão)

Essa foi a quarta vez, em 120 anos, que uma pessoa negra venceu o Nobel de Literatura. Veja quem foram os outros. (Folha)

E mais uma vez o leitor (monoglota) brasileiro está privado de desfrutar da obra do vencedor do Nobel. Dos últimos dez premiados, quatro eram então inéditos por aqui. As editoras argumentam que autores mais badalados têm sido preteridos pela Academia, ao mesmo tempo em que o mercado brasileiro privilegia escritores de maior sucesso e que escrevem nativamente em inglês. (Globo)

A atriz Fernanda Montenegro será anunciada como imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) no próximo dia 4 e tomará posse em março. A eleição é uma mera formalidade, já que nenhum outro candidato se inscreveu para disputar a cadeira 17, vaga com a morte de Affonso Arinos de Mello Franco em março de 2020. (Globo)

Confira as dicas da agenda cultural.

Bete Coelho atua e dirige, ao lado de Gabriel Fernandes, em nova produção de A Gaivota, clássico do teatro moderno de Tchékhov adaptado pela Cia. BR116. Apresentado como uma peça-filme, o espetáculo estreia na terça e dá contornos brasileiros à dramaturgia russa.

A Osesp recebe hoje o regente alemão Marc Albrecht para interpretar o poema sinfônico Don Juan, de Richard Strauss, e a Sinfonia em Ré Menor, de César Franck.

Na segunda, o Museu da Língua Portuguesa lança o curta documental Línguas em Trânsito: Tom Zé, com uma entrevista inédita do compositor que completa 85 anos.

Clique aqui para ver a agenda completa. Para mais dicas de cultura, assine a newsletter da Bravo!.

Viver

O Brasil vai chegar na manhã de hoje à marca de 600 mil mortos por covid-19. Com os 451 óbitos registrados na quinta-feira, o total de vítimas chegou a 599.865 desde o início da pandemia. A média móvel de mortes em sete dias foi de 438, a menor desde o dia 13 de novembro e a primeira a indicar queda após 12 dias de estabilidade. (g1)

Para o ano que vem, o Ministério da Saúde pretende priorizar a compra de vacinas da Pfizer e da AstraZeneca, que já têm registro definitivo na Anvisa. A meta é garantir de 100 a 150 milhões de doses de cada imunizante. Documentos internos da pasta falam em vacinar crianças acima de três anos, embora nenhum imunizante tenha autorização da Anvisa para ser usado nessa faixa etária. (Folha)

A ONU e a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançaram ontem um plano para vacinar 40% da população de todos os países até o fim deste ano e 70% até junho de 2022. Segundo as instituições, o mundo fabrica hoje imunizantes suficientes para atingir essa meta, mas vê a concentração das doses em países ricos. (UOL)

A boa notícia (para quem tem dinheiro). O Reino Unido suspendeu a necessidade de quarentena para viajantes do Brasil que estejam imunizados com alguma vacina de uma lista oficial. A má notícia. A CoronaVac não está na lista. (Poder360)

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Desembargadores do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC) mantiveram, por unanimidade, a absolvição do empresário André de Camargo Aranha, acusado de estuprar em 2018 a influenciadora Mariana Ferrer. O caso ganhou repercussão nacional com a divulgação das audiências em vídeo, nas quais a defesa de Aranha adotou uma postura de extrema agressividade em relação a Mariana. A influenciadora pode recorrer ao STJ. (UOL)

Cotidiano Digital

Quanto custa para produzir o novo iPhone 13 Pro? De acordo com o portal TechInsights, a Apple gasta em média US$ 570 dólares (R$ 3.057) para construir cada smartphone, um aumento de 4% em comparação com os US$ 548 (R$ 2.939) da versão anterior. Mesmo com o aumento no custo, a Apple decidiu manter o mesmo preço para consumidores em relação ao ano passado, com o valor sugerido de US$ 999 (R$ 5.358). (Canaltech)

O Banco Central da Nigéria (CBN) quer lançar sua própria criptomoeda, o ‘eNaira’. O anúncio foi feito pelo governador do banco país, Godwin Emefiele. O ativo digital tornaria a Nigéria “um dos primeiros países da África” e do mundo a adotar uma moeda nacional em formato digital. Entretanto, não se sabe como o ativo deve operar, já que o país foi um dos que proibiu bancos e instituições de negociar em criptomoedas. (Olhar Digital)

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