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O mar não vê idade

Fazer faculdade após os 40, pode? Pode. E surfar? Também pode. O etarismo esteve na pauta na última semana, mas a vida real mostra que idade não é um limitador da vontade. Não é à toa que a decisão de se aventurar no mar pela primeira vez nessa faixa etária é cada vez mais comum. A imagem do surfe sempre esteve ligada a jovens, corpos sarados, bronzeados. Mas a busca pelo lado de fora, em um contexto pós-pandemia e de crescimento desse esporte cheio de ídolos no Brasil, tem levado homens e mulheres mais velhos a iniciar o desafio de deslizar em uma prancha.

As praias brasileiras estão repletas de escolinhas de surfe e bodyboard. Basta uma rápida caminhada na areia em uma manhã qualquer para ver dezenas de alunos dando os primeiros passos no surfe. O boom do esporte no país, que já abocanhou seis títulos mundiais da World Surf League e o primeiro ouro olímpico da história, ajuda a popularizar o surfe. Mas não é só isso: a vontade de se conectar com a natureza, de adotar um estilo de vida mais saudável, de superar desafios e de se aproximar da família também leva pessoas que nunca haviam tido contato com uma prancha a encarar as ondas.

Uma das pioneiras do bodyboard feminino no Brasil, Isabela Nogueira tem uma escolinha destinada a mulheres na Praia do Recreio, no Rio. A Belas do Bodyboard abriu sua primeira turma em outubro de 2021. Hoje, conta com 23 alunas, a maioria entre 40 e 60 anos. Uma delas, de 57 anos, levou a filha de 30 para o bodyboard. Outra, adolescente, levou a mãe, acima dos 40, para começar a surfar.

“Sem dúvida, a maioria é iniciante, está estreando. Algumas surfaram na adolescência, mas pararam há muitos anos e decidiram voltar agora, com mais tempo para si. Temos alunas aposentadas, mas a maior parte trabalha: vêm bem cedinho para a aula, depois correm para o escritório ou home office. Outras deixam os filhos na escola e depois vêm surfar”, conta a bodyboarder que já viajou o mundo surfando e segue competindo na categoria master. “Elas querem cuidar do corpo, mas sem ficar dentro de uma academia. É uma malhação divertida, com muita batida de perna e remada. Querem também enfrentar um desafio, ter um tempo para elas mesmas e trocar experiências com outras mulheres.”

O desejo de se aproximar da natureza, de se exercitar do lado de fora, de superar medos e de se divertir em família é o que move muitas desses iniciantes, segundo a ex-surfista profissional Andrea Lopes. Há dez anos, ela tem uma escola que leva seu nome na Barra da Tijuca. De seus quase 300 alunos, pelo menos 10% têm mais de 40 anos. A maioria chega ao esporte por meio dos filhos.

“O surfe é uma experiência adequada a todas as idades e tipos físicos. O que vemos, especialmente após a pandemia, é o aumento da vontade de fazer atividades do lado de fora. Muitos trazem os filhos e, ao ver a alegria deles, acabam se contagiando. Experimentam e não param mais. Nos EUA, o surfe sempre foi uma atividade de família”, explica a multicampeã, que hoje também treina a seleção brasileira feminina de surfe. “Além disso, com a pandemia, homens e mulheres buscam não só mais tempo ao ar livre, mas emoções bacanas e a superação de medos.”

A modelo e apresentadora Isabella Fiorentino descobriu o surfe aos 43 anos, em janeiro de 2021, quando a Covid ainda mantinha muita gente dentro de casa. A ideia inicial era tirar seus trigêmeos dos eletrônicos e conectá-los a um esporte ao ar livre. Ao assistir à primeira aula, decidiu tentar também. E não parou mais. Hoje, ela tem um perfil no Instagram dedicado apenas a sua paixão pelo surfe.

“O surfe não tem barreiras, idade, sexo, se você tem uma deficiência ou não, se você é gordo, se você é magro, se você é velho ou não. O surfe está aí para todo mundo”, afirma em um relato em vídeo. “O surfe tem um poder curativo. Quando você está na água, você esquece de tudo, você esquece de todos os problemas.”

Quem surfa quer as melhores ondas. Na busca pela perfeita, o público iniciante acima de 40 anos ajuda a movimentar o turismo para destinos como Bali, América Central, México e Califórnia. E aqueles que já estão no nível intermediário sonham com ondas perfeitas nas Maldivas e topam desembolsar cerca de R$ 25 mil por 11 dias em um barco só surfando.

A Travel S/A é uma agência de viagens especializada em experiências em grupo. Nos últimos cinco anos, registrou um crescimento de 50% no número de surfistas iniciantes que procuram os pacotes da agência, que conta com surfistas profissionais como Claudinha Gonçalves, Gabriel Pastori e Marcelo Trekinho como coaches.

“Após a pandemia, o público acima de 40 anos percebeu que nunca é tarde para iniciar um esporte que possa mudar o rumo de sua vida. Esse público é muito importante para nós e temos consultores de viagens específicos dessa mesma faixa de idade para falar a mesma língua e atender a todas as demandas necessárias”, diz Felipe Mastrocinque, CEO da agência, cujos clientes são principalmente de classe média alta, sendo 64% homens e 36% mulheres, entre 30 e 50 anos. “Esse perfil acima de 40 anos é muito comum aqui. O surfista iniciante 40+ quer evoluir, curtir sem dor de cabeça. Em todas as nossas surf trips em grupo, contamos com surfista profissional como coach, um filmaker/fotógrafo profissional e um staff que cuida de toda a parte operacional.”

O resgate do surfe por quem praticava lá no passado ou o início da relação com uma prancha na água ajuda a turbinar também grandes negócios no setor imobiliário, especialmente longe do litoral. Segundo Kevin Smith, cofundador da The Peak Development, que desenvolve projetos de surfe artificial no Brasil e na América Latina, o país tem cerca de 4 milhões de surfistas, mas um público interessado muito maior e que nunca subiu em uma prancha.

“O desejo está aí. E as piscinas de ondas oferecem um acesso garantido perto de casa. Ainda é algo muito exclusivo, mas espero que isso mude”, conta o executivo, que participou da criação da piscina do condomínio de altíssimo padrão Praia da Grama, em Itupeva (SP), que é única onda artificial em atividade no Brasil. Smith já trabalha no projeto Surf City, para oferecer em condomínios, clubes e hotéis a experiência do surfe artificial — com ondas perfeitas e totalmente controláveis — e de todo o lifestyle que acompanha o esporte.

Surfar longe do mar ainda custa muito caro. Até 2025, São Paulo vai ganhar dois clubes de alto padrão com piscinas para surfistas e título de ao menos R$ 600 mil. Outros dois empreendimentos similares estão em desenvolvimento no interior. Além disso, há um em andamento em Santa Catarina e outro no Rio Grande do Sul. Recentemente, o tricampeão mundial Gabriel Medina também anunciou sua entrada nesse negócio em franca expansão.

Num país com mais de 7 mil quilômetros de litoral, quem vive no interior não precisa esperar uma piscina e gastar milhares de reais para surfar. Passando uns dias na praia já dá para testar a experiência sobre as ondas. Entre no carro, no ônibus ou no avião e experimente. Sempre com orientação, é claro.

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