Prezadas leitoras, caros leitores —
Valendo-se da estabilização da moeda com o Plano Real e dos avanços de distribuição de renda dos anos Lula, a classe média ultrapassou a barreira de metade da população brasileira. Mas anos de crise colocaram pressão sobre essa fatia da população, em especial sobre o homem dessa faixa.
Para discutir esse sujeito, seu lugar na sociedade, seus desafios, suas condições de trabalho, suas inclinações políticas e seus sonhos reunimos a antropóloga especialista em extrema direita Isabela Kalil; o sociólogo, cientista político e pesquisador do campo evangélico Vinícius do Valle; e o comunicólogo Renato Meirelles, que realiza uma série de pesquisas com esse público no Instituto Locomotiva.
Na Edição de Sábado, exclusiva para assinantes premium, trazemos a essência dessa conversa mediada pelo editor executivo do Meio Guilherme Werneck. A íntegra dessa discussão estará disponível em vídeo para os assinantes no streaming do Meio.
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Os editores.
Contra inflação e impopularidade, governo mexe em impostos de alimentos
Para tentar conter a inflação dos alimentos e recuperar a popularidade do presidente Lula, o governo anunciou uma série de medidas para baixar os preços de alguns itens. O vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, anunciou que o imposto de importação de café, carne, açúcar, milho, óleo de girassol, azeite de oliva, sardinha, biscoitos e massa alimentícia será zerado. A medida ainda precisa passar pela Câmara de Comércio Exterior. “É questão de dias”, disse Alckmin. Para ele, a decisão não deve prejudicar produtores locais, pois não se trata de uma substituição, mas de uma complementação. Além disso, o Ministério da Agricultura vai acelerar a análise das questões fitossanitárias em relação a outros países para acelerar a comercialização. O vice-presidente também pediu aos estados que zerem o ICMS incidente sobre itens da cesta básica, como já faz o governo federal. Alckmin destacou que Lula aprovou uma série de medidas sobre o tema, e que os anúncios desta quinta-feira são os primeiros de um pacote. (Estadão)
A alta no preço dos alimentos é apontada como uma das razões para a perda de popularidade de Lula, que atingiu na última pesquisa Datafolha o pior nível de aprovação de sua história. O IPCA fechou 2024 em 4,83%, puxado principalmente pelo grupo Alimentação e Bebidas, cujos preços subiram 7,69%, sendo que comer em casa ficou 8,23% mais caro ante deflação de 0,5% em 2023. “Acreditamos que esse conjunto de medidas vai ter sim um resultado importante. Claro que é preciso destacar que tivemos no ano passado uma queda grande nos preços dos alimentos no país. Depois é que aumentou, motivado por uma seca excepcional e pelo dólar”, disse Alckmin. (Folha)
Economistas avaliam que o efeito prático das medidas do governo será limitado e que elas serão confundidas com a redução de preços já aguardada com a safra maior de grãos. “Para setores que produzem muito no mercado doméstico, zerar a alíquota de importação é mais uma questão de marketing do que real impacto”, afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. Já Juliana Inhasz, economista e professora do Insper, avalia que o efeito positivo não deve ser duradouro. “[As medidas] não resolvem os problemas em si, que são de taxa de câmbio mais alta, pressões que vêm de oferta menor aqui e lá fora. Ou seja, não são medidas que perdurarão muito tempo se não atacarem os problemas em si”, diz ela. (Globo)
Ao ser questionado sobre a renúncia fiscal provocada pela medida, Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, afirmou que os produtos englobados na decisão “têm pouca importação relevante” por causa das alíquotas mais altas. E disse que a expectativa é elevar a competitividade e reduzir os preços internos, com eventuais impactos fiscais a serem estimados a partir das notas técnicas que ainda serão divulgadas. (Veja)
Os advogados de Jair Bolsonaro (PL) apresentaram ao Supremo Tribunal Federal a defesa do ex-presidente à acusação feita pela Procuradoria-Geral da República de participação na trama golpista. Eles afirmam que Bolsonaro é inocente e não compactuou com qualquer tentativa de ruptura democrática. A defesa pede que a delação do tenente-coronel Mauro Cid seja anulada porque ele teria sido pressionado e mudou de versão sobre os fatos narrados. Também pede a nulidade da investigação desde a quebra de sigilo de Cid pela Polícia Federal, em 2021. Além disso, quer que o julgamento seja no plenário do tribunal e não na Primeira Turma. (Globo)
Outros denunciados, como o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira e o general Augusto Heleno, também apresentaram a defesa prévia, questionando a atuação do ministro Alexandre de Moraes, do STF, e reciclando argumentos já rejeitados pela Corte. A maioria das defesas cita a menção da PGR a um plano de assassinato de Moraes, do presidente Lula e do vice, Geraldo Alckmin, para dizer que o magistrado não poderia acumular o papel de vítima e julgador. Os advogados também defendem que o Supremo não tem competência para julgar o caso, pois há denunciados sem foro privilegiado. (Folha)
Em reunião de emergência em Bruxelas, os líderes da União Europeia concordaram com um plano de € 800 bilhões para aumentar os gastos com defesa após o presidente americano, Donald Trump, suspender a ajuda militar e o compartilhamento de inteligência com os ucranianos. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que é “um momento decisivo para a Europa” e também para a Ucrânia. A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, deu o tom da reunião: “Gaste, gaste, gaste em defesa e dissuasão. Essa é a mensagem mais importante e, ao mesmo tempo, é claro, continue apoiando a Ucrânia, porque queremos paz na Europa”. Mas a unidade europeia não foi total. O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, não apoiou uma declaração em relação à Ucrânia, opondo-se a uma negociação de paz que favoreça a Rússia. Os outros 26 líderes da UE “apoiaram firmemente” a declaração. “Não pode haver negociações sobre a Ucrânia sem a Ucrânia”, diz o rascunho do texto. (Guardian)
Na segunda reviravolta em dois dias, o governo de Donald Trump recuou novamente em sua ameaça de impor tarifas de 25% a México e Canadá. O presidente americano assinou uma ordem executiva determinando que todos os bens que atendem às regras de um acordo de livre comércio de 2020 com os vizinhos dos EUA terão mais um mês de isenção. A decisão do republicano segue conversas com a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, e negociações entre autoridades canadenses e o governo Trump. Na quarta-feira, o republicano já havia anunciado que as montadoras que estão dentro do acordo estariam isentas da nova taxa até 2 de abril. Apesar de os principais índices de Wall Street terem respondido mal ao tarifaço, Howard Lutnick, secretário de comércio de Trump, disse que os movimentos no mercado de ações não impulsionariam a política comercial dos EUA. A mais recente medida de Washington foi anunciada horas depois de dados mostrarem que o déficit comercial dos EUA aumentou de US$ 98,1 bilhões em dezembro para o valor recorde de US$ 131,4 bilhões em janeiro. (Financial Times)
Em meio à guerra comercial, várias províncias canadenses estão retirando das prateleiras bebidas alcoólicas americanas. Lawson Whiting, CEO da Brown-Forman, fabricante do whisky Jack Daniel’s, disse que a resposta canadense foi “desproporcional” às taxas de 25% impostas pelo governo Trump. “Isso é pior do que uma tarifa, porque está literalmente acabando com as vendas, removendo completamente nossos produtos das prateleiras”, disse Whiting. (BBC)
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Viver
Com a voz frágil e ofegante, o papa Francisco agradeceu aos fiéis pelas orações por sua saúde em uma mensagem de voz divulgada ontem pelo Vaticano. O pontífice está hospitalizado em Roma desde 14 de fevereiro para tratar uma pneumonia nos dois pulmões. “Agradeço do fundo do coração as orações que vocês fazem pela minha saúde na Praça. Eu as acompanho daqui”, diz na mensagem. Francisco está realizando fisioterapia respiratória e recebe oxigênio de alto fluxo no hospital Gemelli. Em comunicado, o Vaticano afirma que o papa segue estável, sem febre ou novas crises respiratórias. (g1)
A cobertura global de gelo marinho registrou um novo mínimo histórico em fevereiro, segundo o observatório Copernicus. Enquanto a extensão do gelo no Ártico ficou 8% abaixo da média, na Antártida esse índice foi de 26%. A redução glacial tem impactos significativos, alterando padrões atmosféricos e oceanográficos, contribuindo para eventos climáticos extremos e acelerando o aquecimento global. Aliás, o mês passado foi o terceiro fevereiro mais quente já registrado, com temperatura média global de 13,36°C ou 0,63°C acima da média de 1991-2020. Também foi 1,59°C mais quente do que a média de 1850-1900, referência para o nível pré-industrial e o Acordo de Paris. (UOL)
Cientistas israelenses descobriram uma nova parte do sistema imunológico que, segundo eles, é uma mina de ouro para antibióticos. A descoberta se concentra no proteassoma, uma estrutura presente em todas as células do corpo e conhecida por reciclar proteínas, que atua como uma fonte inesperada de antibióticos naturais. O proteassoma tem um modo secreto que pode liberar um arsenal de substâncias químicas que matam bactérias. A descoberta, publicada na revista Nature, revela que o proteassoma pode detectar infecções bacterianas e mudar sua função. Essa nova compreensão do sistema imunológico oferece um potencial revolucionário para o desenvolvimento de antibióticos, especialmente contra superbactérias resistentes. (BBC)
Cultura
Meio em vídeo. Aos poucos, os brasileiros vão destruindo a imagem de povo acolhedor e simpático. Nas redes sociais, a reação raivosa diante da perda de Fernanda Torres fez com que a Academia fechasse os comentários em seus posts. Mikey Madison virou alvo, assim como já tinha acontecido com Karla Sofía Gascón. Por que o brasileiro é assim? Confira o que pensa Mariliz Pereira Jorge em De Tédio a Gente Não Morre. (YouTube)
Após uma abertura parcial em outubro passado e duas décadas de planejamento, o Grande Museu Egípcio (GEM) será totalmente inaugurado em 3 de julho com uma enorme estátua de Ramsés II e mais de 100 mil artefatos, incluindo os tesouros do faraó Tutancâmon. Com 50 hectares, o GEM tem o dobro do tamanho do Louvre, em Paris, e do Metropolitan, em Nova York. Localizado próximo às pirâmides de Gizé, o GEM espera atrair 5 milhões de visitantes anualmente. (Globo)
Um documentário que explora o cotidiano e os bastidores da turnê Coastal, de Neil Young, ganhou um trailer oficial, após ter sua estreia marcada para exibição única em 17 de abril em cinemas selecionados. Dirigido pela mulher do cantor, a atriz e cineasta Daryl Hannah, e produzido por Gary Ward, o longa é descrito como uma jornada “pessoal, nos bastidores” e será seguido por um álbum de trilha sonora complementar a ser lançado um dia após a exibição. O filme estreou originalmente no Festival de Cinema de Woodstock no ano passado e foi apresentado como uma visão privilegiada do retorno de Young aos palcos após a Covid. (Variety)
Cotidiano Digital
O Tribunal Regional Federal da 1ª Região decidiu que a Apple deve cumprir a medida imposta pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e disponibilizar lojas alternativas de aplicativos na App Store. A decisão do desembargador Pablo Zuniga Dourado reverte sentença de primeira instância que havia suspendido as determinações do Cade. Ele entende que o descumprimento leva a “barreiras artificiais à concorrência”, consolidando “o poder de mercado da Apple”. A companhia terá 90 dias para adotar as recomendações, mas disse que vai recorrer, alegando que as medidas podem “prejudicar a privacidade e a segurança” dos usuários. (Globo)
A gigante chinesa Alibaba revelou um novo modelo de inteligência artificial para raciocínio que, segundo a empresa, rivaliza com o ChatGPT, da OpenAI, e o R1, da DeepSeek. O QwQ-32B da Alibaba opera com 32 bilhões de parâmetros frente a 671 bilhões do DeepSeek. Um volume menor de parâmetros normalmente sinaliza maior eficiência em meio à crescente demanda por IA otimizada que consuma menos recursos. A companhia afirma que seu novo modelo pode “melhorar continuamente o desempenho, especialmente em matemática e codificação”. (CNBC)
Já o cofundador do Google Larry Page formou uma nova empresa de IA, a Dynatomics. Segundo fontes, ele e um pequeno grupo de engenheiros estão trabalhando em maneiras de usar grandes modelos de linguagem para criar designs altamente otimizados para uma grande variedade de objetos manufaturados. A companhia deve ser administrada por Chris Anderson, que já foi diretor de tecnologia de outra empresa apoiada por Page, a Kittyhawk, que desenvolvia pequenos aviões elétricos. (The Information)
Meio em vídeo. A nova versão da Alexa, que incorporou IA em seu sistema, é o tema do novo Pedro+Cora. No papo, eles falam sobre os modelos de linguagem que serão incorporados na Alexa+, as possibilidades e os possíveis problemas de ter essa tecnologia em uma assistente pessoal. (YouTube)
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