Prezadas leitoras, caros leitores —
Abdômen sequinho, cabelo sedoso, melhora da memória… Não são poucos os milagres que os suplementos alimentares nos prometem numa enxurrada de anúncios a cada sinal de culto ao corpo, de uma busca online ao registro no aplicativo da academia. Não à toa, o mercado desses produtos movimentou cerca de US$ 192,7 bilhões em 2024. Na Edição de Sábado, exclusiva para assinantes premium, Luiza Silvestrini mergulha nesse mundo de fórmulas e cápsulas. Enquanto psicanalistas explicam que o culto à imagem promovido pelas redes sociais pode ter contribuído para o fenômeno, médicos e nutrólogos alertam: sem indicação de um especialista, os produtos podem até não fazer mal, mas também não farão efeito.
Não é só isso. Yan Boechat nos informa que o aquecimento global acabou por abrir novas rotas marítimas no Ártico e a uma consequente corrida militar na região entre Rússia, Otan e China. E Guilherme Werneck entrevista Lucas Bambozzi, que está fazendo uma série de pré-estreias do seu filme-ensaio “Que Fim Levou a Multidão?”, no qual tenta responder essa pergunta olhando para a arte, a política e a tecnologia.
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Os editores.
Brasil quer esperar e estuda a retaliação a Trump ‘menos danosa’ à economia

No dia seguinte ao tarifaço de 50% anunciado por Donald Trump, o clima no governo brasileiro foi de cautela, reafirmação pública da defesa da soberania nacional e nenhuma decisão concreta sobre como o Brasil pretende retaliar os Estados Unidos se, de fato, a sobretaxa aos produtos brasileiros entrar em vigor no dia 1º de agosto, como anunciou o presidente americano. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu que não tomará nenhuma decisão até que as novas tarifas passem oficialmente a vigorar. A ideia é usar os próximos 20 dias para voltar à mesa de negociações e, se não houver acordo, encontrar uma maneira menos danosa para a economia brasileira para responder ao que o Planalto vê como uma agressão unilateral, de caráter político e desprovida de qualquer razão econômica. Lula disse que pretende criar um comitê com empresários brasileiros para analisar as melhores saídas para a crise. Além de simplesmente taxar os produtos americanos, o governo estuda a possibilidade de recorrer à Organização Mundial do Comércio e quebrar patentes de medicamentos. O presidente, no entanto, disse que se não houver acordo o Brasil vai aplicar tarifas de 50% aos produtos americanos. (Valor)
Internamente, o Planalto reforçou o discurso de que a culpa pelo tarifaço americano é da família Bolsonaro, que estaria usando sua relação com Trump para pressionar o Judiciário brasileiro a conceder anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro, réu no processo que investiga a trama golpista de 2022. Ontem, o presidente Lula disse que Bolsonaro deveria assumir a responsabilidade pelas medidas adotadas pelo governo americano. Em entrevista à TV Record, Lula afirmou que a ação foi incentivada pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). “Foi o filho dele [Eduardo Bolsonaro] que foi lá fazer a cabeça do Trump”, disse o presidente. (Globo)
Após semanas de embates com o Planalto, o Congresso deu sinais de que, ao menos desta vez, está em consonância com o governo. Ontem, os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), divulgaram uma nota conjunta afirmando que o Congresso vai agir com “equilíbrio e firmeza” para defender os interesses nacionais. Os chefes do Legislativo defenderam que o Brasil deve responder “com diálogo nos campos diplomático e comercial”. De acordo com a nota conjunta, Motta e Alcolumbre afirmaram que a nova lei de Reciprocidade Econômica tem “mecanismos que dão condições ao nosso país, ao nosso povo, de proteger a nossa soberania”. (Estadão)
Nas redes, a estratégia do Planalto de responsabilizar os Bolsonaros ganhou adesão maior do que se esperava. De acordo com o cientista político Pedro Barciela, no dia seguinte ao anúncio das novas tarifas, entre 62% e 78% das postagens nas principais redes sociais exigiam reciprocidade, criticavam o “crime de lesa-pátria” e evocavam o nacionalismo como elemento em disputa contra o governo Donald Trump e seus apoiadores no Brasil. Segundo ele, a mobilização bolsonarista, que afirma que Lula foi o responsável pela ofensiva americana, teve pouco engajamento no país. (ICL Notícias)
Steve Bannon, um dos principais ideólogos do movimento MAGA (Make America Great Again), afirmou à jornalista brasileira Marina Sanches, do UOL, que Trump retiraria as tarifas contra os produtos brasileiros se o STF encerrar os processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Derrubem o caso, derrubamos as tarifas”, disse ele, um dos aliados mais próximos de Trump. (UOL)
Depois do silêncio inicial, o ex-presidente Jair Bolsonaro resolveu se manifestar. Por meio de uma nota, Bolsonaro disse que admira o governo de Donald Trump e que espera que os poderes da República resgatem a normalidade institucional. “Essa caça às bruxas — termo usado pelo próprio presidente Trump — não é apenas contra mim. É contra milhões de brasileiros que lutam por liberdade e se recusam a viver sob a sombra do autoritarismo”, afirmou o ex-presidente. (Metrópoles)
Alvo de críticas entre os bolsonaristas, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), fez o que pôde para mostrar apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Após afirmar que o presidente Lula colocou a “ideologia acima da economia”, Tarcísio cancelou a agenda da quinta-feira e foi a Brasília almoçar com Bolsonaro em uma churrascaria da cidade. Tarcísio é cotado para ser o candidato da direita caso o ex-presidente permaneça inelegível. (Correio Braziliense)
Em resposta às declarações do governador paulista, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que Tarcísio de Freitas é candidato a “vassalo”. De acordo com Haddad, o governador de São Paulo “errou muito”. “O que está se pretendendo aqui? Ajoelhar diante de uma agressão unilateral sem nenhum fundamento econômico?”, disse o ministro. (g1)
Os três maiores jornais brasileiros publicaram editoriais criticando a decisão de Donald Trump de aplicar o tarifaço contra o Brasil e atribuíram a responsabilidade pela medida a Jair Bolsonaro e seus aliados. De acordo com a Folha de S.Paulo, “a chantagem rasteira de Donald Trump contra o Brasil não vai funcionar. Cogitar que o Judiciário de uma nação soberana e democrática, que opera com independência, deixará de processar quem quer que seja para livrar o país de retaliações econômicas dos Estados Unidos não passa de devaneio autoritário”. Já o Estado de S.Paulo atribuiu a responsabilidade pela decisão americana ao ex-presidente Jair Bolsonaro: “Eis aí o mal que faz ao Brasil um irresponsável como Bolsonaro, com a ajuda de todos os que lhe dão sustentação política com vistas a herdar seu patrimônio eleitoral”. O jornal O Globo também criticou a ação americana. “O Brasil é uma democracia com Poder Judiciário independente. Não cabe a Trump nem a nenhum outro mandatário criticar suas decisões. Bolsonaro não pode ser julgado pelos eleitores porque está inelegível, tampouco é vítima de caça às bruxas”, escreveu o jornal em seu editorial. (Folha, Estadão e Globo)
O ex-presidente da Câmara e relator do projeto de lei que prevê a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, o deputado Arthur Lira (PP-AL), apresentou seu relatório final sem alterar de forma profunda a proposta do governo. Lira manteve a taxação mínima de 10% para os super-ricos e ampliou a faixa de redução parcial do IR de R$ 7.000 para R$ 7.350. O texto final da proposta só deve chegar ao plenário da Câmara no segundo semestre. (CNN Brasil)
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Viver
Pela primeira vez, um robô guiado por inteligência artificial realizou de forma autônoma uma cirurgia em tecido humano. A remoção de oito vesículas biliares foi realizada na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, pelo robô SRT-H, treinado com vídeos de cirurgias, que também pode receber dicas da equipe durante a operação. Ele aprende com feedbacks e realiza o procedimento se adaptando às características anatômicas do paciente em tempo real, fazendo correções caso necessário. Segundo os cientistas, o robô atuou “com a expertise de um cirurgião humano experiente, mesmo diante de cenários inesperados típicos de emergências médicas reais”, apesar de ter demorado mais do que um cirurgião humano. (Globo)
Para ler com calma. Principais responsáveis pela formação dos campos úmidos do Cerrado, os olhos d’água difusos são importantes para a segurança hídrica. Mas apesar de estarem protegidos por lei, continuam sendo negligenciados por políticas públicas, consultores ambientais e órgãos de fiscalização. Essas áreas são afloramentos naturais do lençol freático, distribuindo-se por superfícies amplas, formando áreas encharcadas com solos úmidos. Esses locais acabam sendo deixados de lado pelos órgãos de proteção ambiental, que acabam focando apenas em águas superficiais visíveis, como margens de rios ou olhos d’água pontuais, que têm lâmina d’água aparente. (Folha)
Por mais de um século, vapores pútridos emanaram do Emscher, considerado o rio mais poluído da Europa, no coração industrial da Alemanha. Mas um projeto de 5,5 bilhões de euros fez com que as águas, antes contaminadas por resíduos industriais e excrementos humanos, estivessem livres da contaminação desde 2021. Agora, os entusiastas da natureza já avistam a vida voltando ao local, como martim-pescadores, camarões de água doce e até castores. Mais de 130 km de ciclovias percorrem suas margens. Foram construídos uma central de esgoto de 51 km juntamente com inúmeras estações de bombeamento, quatro estações de tratamento e 436 km de canais de esgoto. (Guardian)
Cultura
Amantes do cinema em São Paulo e Rio de Janeiro poderão experimentar, ao mesmo tempo, a Semana Bergman, que traz filmes do aclamado cineasta sueco Ingmar Bergman neste fim de semana. O Rio também tem no cardápio o Festival de Inverno, que vai mesclar nomes como Duda Beat, Alceu Valença, Zé Ramalho e Os Paralamas do Sucesso na Marina da Glória. Ainda tem Fernanda Montenegro lendo Nelson Rodrigues e Simone de Beauvoir no Teatro Multiplan. Em Sampa, o Cultura Artística vai mesclar minimalismo, experimentação e música popular, com destaque para o Kronos Quartet. Já a galeria Martins&Monteiro recebe a coletiva Maranhão na Jamaica. Leia todas as sugestões no site do Meio.
Após 128 anos desde sua fundação, a Academia Brasileira de Letras elegeu nesta quinta-feira a primeira mulher negra como imortal. A escritora Ana Maria Gonçalves vai ocupar a cadeira nº 33, antes ocupada pelo linguista Evanildo Bechara. Ela foi eleita por 30 votos, contra um da escritora indígena Eliane Potiguara. Gonçalves é autora de Um Defeito de Cor, um romance histórico publicado pela editora Record em 2006, que retrata a diáspora africana e os efeitos da escravidão na população negra. A obra foi considerada por especialistas o melhor livro brasileiro de literatura do século 21, além de ser tema de exposição e enredo da Portela no desfile do Carnaval carioca de 2024. (Folha)
O novo livro de memórias de Ozzy Osbourne será lançado como livro de capa dura, audiolivro e e-book em 7 de outubro e vai incluir suas reflexões sobre seu show de despedida que fez com o Black Sabbath no último fim de semana. Intitulado Last Rites (Últimos Ritos), a obra é descrita como “a história chocante, amargamente hilária e nunca antes contada da descida de Osbourne ao inferno”. A frase se refere a doenças físicas que o impediram de seguir uma vida musical ativa, ao enfrentar uma paralisia quase total do pescoço para baixo. Eu Sou Ozzy, seu primeiro livro do gênero foi publicado em 2010. (Variety)
Cotidiano Digital
Elon Musk afirmou nesta quinta-feira que o Grok, chatbot da xAI, será integrado aos veículos da Tesla “o mais tardar na semana que vem”. A promessa veio horas após o lançamento da versão 4 da IA e tenta acalmar quem cobrava mais detalhes sobre a união das plataformas. Musk já vinha sugerindo que os motoristas poderiam conversar com seus carros para pedir tarefas ao Grok. Segundo vazamentos no firmware da Tesla, o assistente oferecerá diferentes “personalidades”, incluindo modos como terapeuta, sexy e conspiracionista. Inicialmente, a novidade estará restrita a modelos com Hardware 3. (TechCrunch)
Um novo estudo apontou que, ao contrário do que se imaginava, ferramentas de inteligência artificial podem até atrapalhar, e não acelerar, desenvolvedores experientes quando eles lidam com códigos que já conhecem. A pesquisa foi conduzida pela organização METR, com programadores de projetos open source usando o Cursor, uma das IAs de codificação mais populares. A expectativa era de ganho de tempo, mas o resultado foi o oposto e as tarefas demoraram 19% mais. Isso porque as sugestões da IA exigiam revisão constante, porém mesmo assim continuavam sendo usadas, porque, segundo os autores, escrever com ajuda de IA torna o processo menos cansativo. (Reuters)
Meio em vídeo. No novo Pedro+Cora, os jornalistas Pedro Doria e Cora Rónai discutem como as redes sociais estão moldando uma nova maneira de fazer política. O ponto de partida da conversa é a campanha de Zohran Mamdani, candidato à prefeitura de Nova York, que vem usando as plataformas digitais de forma inovadora e cativando eleitores. Não perca. (YouTube)
Mais Meio em vídeo. Como a era das redes sociais transformou a intimidade em mercadoria: da ostentação de bolsas caríssimas aos reality shows das Kardashians, vivemos no fio da navalha entre público e privado. Mariliz Pereira Jorge analisa, no De Tédio a Gente Não Morre, a escalada de agressividade de quem defende regulamentar a liberdade de expressão com “guilhotinas” metafóricas e o alto preço de expor, sem pudor, crianças e adolescentes. (YouTube)