Tarifaço reaproxima governo do Centrão e embaralha planos de Tarcísio

A taxação de 50% sobre todos os produtos brasileiros anunciada por Donald Trump na última quarta-feira buscando, segundo o próprio Trump, encerrar os processos contra Jair Bolsonaro, está provocando um rearranjo nas forças políticas por aqui. O Palácio do Planalto e o Centrão, que vinham se estranhando havia meses e entrando em guerra aberta por conta do aumento do IOF, ensaiam uma reaproximação com base no discurso de defesa da soberania nacional — e dos interesses de setores empresariais prejudicados pelo tarifaço. Alguns nomes do Centrão, porém, alegam que o alinhamento é pontual. Além disso, a Câmara tem nesta semana votações que podem reabrir o conflito com o Executivo: no plenário, a revisão do licenciamento ambiental; nas comissões, a PEC da segurança pública e a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil. (Globo)
Fora de Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca uma aproximação com outro setor que lhe é normalmente avesso: o empresariado. Ele se reuniu com ministros na noite deste domingo e anunciou a criação de um comitê para tratar da reação às tarifas, previstas para entrarem em vigor no próximo dia 1º. Além disso, pretende se reunir pessoalmente com líderes empresariais para discutir estratégias de defesa da produção brasileira e, de quebra, reforçar a imagem de que Bolsonaro é o responsável pelo tarifaço. Nas redes, o governo e a esquerda intensificaram a campanha com foco na soberania, vendo a tensão com os EUA como uma oportunidade para acertar a comunicação e melhorar a imagem do presidente. (Folha)
Já na direita o cenário é de conflito e tentativa de reacomodação. Visto como potencial candidato conservador ao Planalto em 2026, já que Bolsonaro está inelegível, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), teve um fim de semana de idas e vindas. Inicialmente, ele culpou o governo federal pela elevação das tarifas e chegou a almoçar com Bolsonaro em Brasília, mas mudou o tom e, durante evento com empresários, disse que era necessário “unir esforços” e defendeu a atuação diplomática do Planalto. (g1)
A mudança de rumo tem explicação. Prejudicados pelas tarifas, empresários paulistas que vinham apoiando as pretensões presidenciais do governador começaram a questionar sua independência em relação ao bolsonarismo. (Folha)
A virada expôs ainda mais o racha com o clã Bolsonaro. Na sexta-feira, após Tarcísio se encontrar com o encarregado de negócios da embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), condenou qualquer tentativa de negociação que não inclua a anistia aos golpistas de 8 de janeiro. O parlamentar, que está nos EUA desde fevereiro fazendo lobby contra o processo a que o pai responde no STF, classificou qualquer acordo nessa linha como “caracu”, uma expressão pouco educada para um resultado em que só uma parte sai ganhando. Na mesma linha, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que as tarifas são “um empurrãozinho” para a anistia e que o Brasil não tem “poder de barganha” para enfrentar os EUA. (UOL)
Enquanto acontece a briga política e econômica, a Procuradoria-Geral da República apresenta hoje as alegações finais na ação penal junto ao STF contra Bolsonaro e outros sete réus por tentativa de golpe de Estado após a derrota eleitoral de 2022. (g1)
Mas os acusados pelo golpe tiveram um motivo para comemoração. O ministro do STF André Mendonça, indicado por Bolsonaro para o cargo, será o relator de um agravo regimental que busca paralisar o processo. O recurso, impetrado por advogados do ex-assessor presidencial Filipe Martins, questiona a atuação do ministro Alexandre de Moraes no caso. (Globo)
Enquanto isso, nos EUA, a preocupação é com a possibilidade de criação de um novo mapa do comércio global. A União Europeia, que soube neste fim de semana que Washington sujeitaria o bloco a tarifas de 30% a partir de 1º de agosto, seria o centro dessa nova ordem. Ursula von der Leyen, presidente do braço executivo da UE, respondeu prometendo continuar as negociações, mas disse que continuaria a elaborar planos para retaliar com força. Mas essa não era toda a estratégia. A Europa, assim como muitos dos parceiros comerciais dos Estados Unidos, também busca amigos mais confiáveis. Já entre os consumidores, a preocupação é com o preço do cafezinho. Mais de 99% do café consumido no país é importado e, no ano passado, o Brasil foi responsável por mais de 8,1 milhões de sacas, cada uma com 60 quilos de café, que entraram nos Estados Unidos. Qualquer mudança repentina seria uma “situação de perda para todos”, disse Guilherme Morya, analista de café do Rabobank em São Paulo. (New York Times)
Para ler com calma. “É um campo de concentração. Sinto muito”, diz o ex-primeiro-ministro israelense Ehud Olmert, ao ser questionado sobre os planos de construção de uma “cidade humanitária” sobre os escombros de Rafah. Uma vez lá dentro, os palestinos não teriam permissão para sair, exceto para ir a outros países. Olmert diz ainda que forçar os palestinos a entrar seria uma “limpeza étnica” e que a raiva de Israel pela guerra em Gaza não se deve apenas ao antissemitismo. (The Guardian)
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Viver
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi vaiado por parte da torcida presente no MetLife Stadium, em East Rutherford, minutos antes da final da Copa do Mundo de Clubes entre Chelsea e Paris Saint-Germain, quando sua imagem apareceu rapidamente nos quatro telões do estádio, durante a execução do hino americano. Trump assistiu à partida ao lado da mulher, a primeira-dama Melania Trump, e do presidente da Fifa, Gianni Infantino, em um dos camarotes do estádio. E as vaias não se restringiram ao início do evento, durante a premiação, o presidente americano foi novamente mais vaiado que aplaudido. O republicano entregou medalhas e troféus individuais e sempre que era colocado em evidência no telão, recebia as manifestações. Veja alguns momentos. Em campo, o Chelsea venceu o PSG por 3x0 e foi o campeão do Mundial. (Estadão, CNN Brasil e UOL)
O percentual de crianças alfabetizadas no país subiu de 56% em 2023 para 59,2% no ano passado, segundo levantamento do governo federal divulgado nesta sexta-feira. Apesar da melhora, o Brasil não conseguiu atingir a meta de 60% de alunos da rede pública alfabetizados no período. O ministro da Educação, Camilo Santana, disse que a situação de calamidade gerada pelas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul acabou impactando os dados educacionais. Os índices do estado gaúcho caíram de 63,4% para 44,7%. O ministro disse que a pasta vai “arregaçar as mangas” para atingir a meta de 64% deste ano. (Folha)
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados nesta sexta-feira mostram que o acumulado de alertas de desmatamento na Amazônia Legal no primeiro semestre de 2025 foi 27% maior do que no mesmo período do ano passado. Foram 2.090,38 km² de desflorestamento nos primeiros seis meses deste ano, contra 1.645 km² de 2024. Mato Grosso, Pará e Amazonas são os estados com mais áreas destruídas, somando mais de 400 km² juntos. Só o Mato Grosso respondeu por quase metade desse total, com 206 km². Até 27 de junho, donos de terras privadas foram responsáveis por 795 km² de desmatamento, ou 39% do total. (g1)
Economia
A indústria brasileira nunca vendeu tanto para os EUA quanto agora. Só no primeiro semestre foram US$ 16 bilhões em exportações, alta de 8,8% com relação ao mesmo período de 2024. A fatia americana chegou a 12,4% do total, mais do que China, União Europeia ou Mercosul. Mas esse cenário pode mudar se o tarifaço de 50% de Trump entrar em vigor em 1º de agosto. Os aviões da Embraer, o aço e os combustíveis estão entre os itens mais vendidos. O Monitor do Comércio Brasil-EUA, da Câmara Americana de Comércio para o Brasil, alertou que parte expressiva dessas exportações pode se tornar inviável e pediu ao governo brasileiro uma solução diplomática rápida. Mesmo com o crescimento das exportações, o Brasil tem déficit comercial de US$ 1,7 bilhão com os EUA. (Globo)
Segundo o IBGE, o setor de serviços cresceu apenas 0,1%, mas se mantém no topo da série histórica e 17,5% acima do nível pré-pandemia. O avanço veio puxado por segmentos como tecnologia e consultorias, enquanto transporte e serviços às famílias recuaram. O turismo também desacelerou, com queda de 0,7% no mês, mas segue acumulando ganhos no ano, especialmente no Rio e no Sul. Na comparação anual, o setor cresceu 3,6%, acumulando 14 meses seguidos de alta, com destaque para áreas ligadas à tecnologia e transporte aéreo. (Meio)
Mais dados do IBGE. Do lado da indústria, o cenário foi de queda em maio, com recuo de 0,5% frente a abril, com nove dos quinze estados pesquisados registrando retração. Os locais de maiores quedas foram Mato Grosso (-7,0%), Bahia (-3,7%) e Amazonas (-3,3%). Ainda assim, na comparação com maio de 2024, o setor cresceu 3,3%, impulsionado por fortes altas no Rio Grande do Sul e Espírito Santo. O acumulado do ano mostra um avanço modesto de 1,8%, com Pará e Paraná liderando. (Meio)
O boletim macrofiscal, divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério da Fazenda, atualizou as expectativas para as contas públicas e a atividade econômica nos próximos anos. De um lado, os economistas consultados reduziram a projeção de déficit primário para 2025, agora em R$ 72,1 bilhões, menor valor desde outubro do ano passado. De outro, houve piora nas estimativas para 2026, tanto em resultado fiscal quanto em gastos. Ainda assim, o governo melhorou sua projeção para o PIB de 2025, que passou de 2,4% para 2,5%, impulsionado pelo consumo das famílias, pela resiliência do mercado de trabalho e por uma safra mais otimista no campo. A inflação projetada para 2025 caiu levemente para 4,9%, ainda acima da meta. O boletim, no entanto, ainda não incorpora os potenciais impactos da tarifa de 50% anunciada pelos EUA sobre produtos brasileiros. Apesar da tensão diplomática, o impacto no crescimento deve ser pontual em um primeiro momento. (CNN Brasil)
A BRF anunciou mais um adiamento da assembleia que votaria a fusão da empresa com a Marfrig. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) quer mais informações dos comitês independentes e determinou nova pausa de até 21 dias após a entrega dos dados, que ainda precisam ser atualizados, já que parte do material enviado anteriormente veio com projeções financeiras ocultas por “sigilo comercial”. É a segunda vez que o processo é postergado. (InfoMoney)
O Ibovespa encerrou a sexta-feira com queda de 0,41%, aos 136.187 pontos, acumulando perdas de 3,59% na semana, a pior sequência desde dezembro de 2022, com as cinco sessões da semana no vermelho, em meio ao impacto da guerra tarifária desencadeada por Donald Trump. As exceções foram as ações da Vale, Petrobras e Prio, que subiram com apoio das commodities. O dólar fechou o dia praticamente estável, em leve alta de 0,12%, a R$5,54, mas acumulou avanço de 2,28% na semana. Em Nova York, Wall Street também teve cenário de aversão ao risco. O S&P 500 caiu 0,33%, o Dow Jones perdeu 0,63% e o Nasdaq recuou 0,22%, refletindo o temor de uma escalada protecionista global. No começo da semana, na Ásia, não houve direção única e os investidores analisam as tarifas de Trump e os dados de exportações da China, que cresceram 5,8% em junho. Xangai ganhou 0,27%, mas o Nikkei, do Japão, perdeu 0,28%. Na Europa, com exceção do Reino Unido (em que o FTSE 100 avança 0,22%), os principais índices se desvalorizam após anúncio das tarifas de 30% sobre o bloco europeu. O DAX (Alemanha) cai 0,86%. (InfoMoney)
Cotidiano Digital
Perseguida em seu país e crítica feroz das big techs, a jornalista filipina Maria Ressa, que venceu o Nobel da Paz em 2021, voltou a defender a regulação das redes sociais e o jornalismo como antídoto contra o autoritarismo. Em entrevista, ela disse que “as mentiras hoje se espalham seis vezes mais rápido” nas plataformas, que “hackeiam nossa biologia” com medo e ódio, minando o discernimento e a democracia. Ressa também alerta sobre os riscos da inteligência artificial e dos deepfakes, e menciona um vídeo com sua voz e seu rosto que incentivava diabéticos a jogarem insulina fora. “Jamais disse isso, mas algumas pessoas podem acreditar. Nós não estamos preparados para IA, e por isso deveria haver leis, uma vez que, com a IA generativa, as pessoas não sabem mais o que é real ou não”. Para ela, as big techs precisam ser responsabilizadas, pois “uma torradeira nos EUA tem mais regulação de segurança do que um algoritmo”. (Globo)
A Meta deve enfrentar problemas ainda maiores no bloco europeu. A dona do Instagram é alvo quase certo de novas acusações antitruste e possíveis multas diárias da Comissão Europeia, isso porque o órgão regulador classificou como insuficientes as mudanças que a empresa promoveu em seu modelo de consentimento para coleta de dados, exigidas pela Lei de Mercados Digitais, que tenta frear o domínio das big techs no continente. O modelo atual, adotado em novembro passado, limita o uso de dados pessoais em anúncios direcionados. Mas, segundo fontes, a companhia não pretende ceder mais. Com isso, as multas podem chegar a 5% da receita diária global da empresa. Só neste ano, a Meta já foi multada em 200 milhões de euros. (Reuters)
Meio em vídeo. O Midjourney está de cara nova. Faça animações com mais controle e estenda seus vídeos muito além dos 5 segundos. Saiba como no Revoluções por Segundo, o programa do Meio que vê a inteligência artificial com bons olhos. Apresentado pelo nosso amigo alienígena Grog, Nelson Porto e Marck Al. (YouTube)
Cultura
Um dos mais tradicionais do país, o Prêmio Shell de Teatro anunciou, nesta sexta-feira, a primeira leva de indicados de sua 36ª edição. Os espetáculos Torto Arado: O Musical e Vinte foram os mais indicados, com três cada, seguidos por Nebulosa de Baco, Lady Tempestade e Carne Viva, com duas. A lista ainda deve ser ampliada com peças do segundo semestre deste ano. A premiação reconhece as principais produções em São Paulo e no Rio de Janeiro em nove categorias, entre atuação, direção, dramaturgia e outros setores de bastidores, como figurino, cenário e iluminação. (Folha)
Meio em vídeo. No novo episódio do Diálogos com a Inteligência desta semana, Christian Lynch fala sobre a história do teatro ao longo dos tempos com Gustavo Gasparani, ator, produtor, diretor e fundador da Cia dos Atores. O Diálogos com a Inteligência é uma parceria da Insight, editora da revista, com o Meio. O que buscamos é conversar com vários especialistas com uma abordagem não-convencional sobre temas importantes para o Brasil e para o mundo. Conheça a Revista Insight Inteligência. (YouTube)
Não são poucos os milagres que os suplementos alimentares nos prometem numa enxurrada de anúncios a cada sinal de culto ao corpo, de uma busca online ao registro no aplicativo da academia. Não à toa, o mercado desses produtos movimentou cerca de US$ 192,7 bilhões em 2024. Na Edição de Sábado, exclusiva para assinantes premium, mergulhamos nesse mundo de fórmulas e cápsulas. Leia aqui.