Filme une a comédia romântica ao drama dos migrantes na França

É possível fazer uma comédia romântica com um dos temas mais sérios da atualidade, a situação dos refugiados na Europa? Para a cineasta francesa Julie Navarro, sim. Destaque nas estreias desta quinta-feira, seu filme Apenas Alguns Dias nos apresenta Arthur Berthier, um crítico musical que, provavelmente se achando um astro do rock, destrói um quarto de hotel e acaba relegado a reportagens comuns. Numa delas, vai cobrir a desocupação de um acampamento de imigrantes em Paris e conhece Mathilde, líder de uma associação apoio a refugiados. Na confusão, Arthur é agredido pela polícia e cai nas graças da ativista. Para impressioná-la, aceita acolher em casa Daoud, um jovem afegão, na crença de que será algo provisório. Não é. Arthur quer se livrar dele, mas pode perder sua chance Mathilde. Pouco a pouco, começa a compreender o drama desses expatriados.
Após um filme de 1994 tão tosco que nunca foi lançado oficialmente, dois fracos (2005 e 2007) e um desastroso (2015), parece que Reed Richards e companhia finalmente terão uma presença digna nas telas com Quarteto Fantástico – Primeiros Passos, agora parte oficial do Universo Cinematográfico da Marvel. O grupo, criado em 1961 por Stan Lee e Jack Kirby, foi o primeiro megassucesso da editora, e o longa remete, estética e conceitualmente a esse período. A ação se passa em uma dimensão paralela à dos heróis da Marvel que conhecemos, numa década de 1960 retrofuturista onde os quatro protagonistas são ao mesmo tempo heróis e celebridades. Até que a Surfista Prateada (sim, é uma mulher, mas isso também está nos quadrinhos) anuncia que a Terra acabou de entrar no cardápio de Galactus, o Devorador de Mundos. Caberá ao quarteto, impedi-lo. O elenco é encabeçado pelo onipresente Pedro Pascal e por Vanessa Kirby (nenhum parentesco com Jack Kirby, aliás).
Igualmente fantástico, mas sem nada de fictício, Charles Aznavour (1924-2018) divide com Edit Piaf o título de maior ícone da música francesa e tem sua história contada em Monsieur Aznavour, de Mehdi Idir e Grand Corps Malade. Por trás do nome artístico francesíssimo estava Shahnur Vaghinak Aznavourian, filho de imigrantes armênios considerado feio demais para ser um ator (Jean-Paul Belmondo e Vincent Cassel devem muito a ele) e rouco demais para cantar. Como mostra o longa, Aznavour superou todos os preconceitos e se impôs pelo talento, compondo e gravando mais de mil canções em diversos idiomas e vendendo 180 milhões de álbuns em todo o mundo ao longo de notáveis sete décadas de carreira. Mas sua grandeza não se resumiu à arte. Durante a ocupação nazista na França, a família dele, dona de um pequeno restaurante, arriscou a própria vida para esconder e ajudar na fuga de judeus e armênios perseguidos pelos alemães.
Outro artista que ganha uma cinebiografia esta semana está mais perto de nós. O bailarino carioca Thiago Soares, vivido por Matheus Abreu, é o tema de Um Lobo Entre os Cisnes, de Marcos Schechtman e Helena Varvaki. O longa conta a trajetória do artista desde a infância pobre e turbulenta no subúrbio do Rio, a descoberta do talento para dança, a luta contra o preconceito (incluindo o próprio) e o treinamento severíssimo com o mestre cubano Dino Carrerti. Quem viu rigor de Pai Mei com a protagonista de Kill Bill faz ideia do que Thiago passou. O esforço valeu, levando-o ao posto de primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres.
Embora não seja exatamente biográfico, Lições de Liberdade, de Peter Cattaneo, é baseado em fatos reais. O sempre ótimo Steve Coogan vive Tom Michael, um desiludido professor inglês que vai para a Argentina lecionar numa escola de elite em 1976, quando o país mergulhava em uma brutal ditadura militar. Tão turbulenta quanto a política era sua turma de alunos. Um dia, numa praia, ele salva um pinguim preso em uma mancha de óleo, e o bicho passa a segui-lo por toda parte, tornando-se seu companheiro e uma espécie de mascote para os estudantes. O parceiro emplumado vai torná-lo conhecido, mas não imune as horrores do regime.
Mais de 50 anos se passaram desde que Orlando Senna e Jorge Bodanzky dirigiram Iracema – Uma Transa Amazônica, mas o filme, que volta aos cinemas em cópias restauradas, soa terrivelmente atual. Em 1974, uma adolescente de origem indígena (Edna de Cássia) se prostitui no Pará e sonha em migrar para o Sudeste, pegando carona com o caminhoneiro Tião Brasil Grande (Paulo Cesar Pereio). Como o apelido indica, ele crê nas promessas do regime militar, simbolizadas pela Rodovia Transamazônica, de “desenvolver” Região Norte à base de motosserra, fogo e gado e pretende ganhar muito dinheiro com o transporte de madeira. A prosperidade cínica de Tião e a degradação constante de Iracema mostram os dois lados daquela política, cujos impactos são sentidos até hoje. Previsto para estrear em 1975, o longa foi proibido pela censura e só chegou aos cinemas pela primeira vez em 1981.
E para as crianças há um documentário que mistura marionetes e muitos animais. Dirigido e escrito pelo ambientalista João Amorim, Thiago & Ísis e os Biomas do Brasil retrata suas viagens com os filhos (os três representados por bonecos) por regiões como o Cerrado, o Pantanal e a Mata Atlântica. De uma forma lúdica, o filme mostra a biodiversidade brasileira e a importância de protegê-la.
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