Edição de Sábado

Edição de Sábado: A vacina contra a mentira

Ouvir o doutor em microbiologia Atila Iamarino discorrer sobre a pandemia de Covid-19 e seus efeitos é de uma familiaridade perturbadora. Por um lado, sua voz serena e seus argumentos sensatos reconfortam. É como escutar um amigo. Ao mesmo tempo, causam uma sensação de reprise de um dos momentos mais desafiadores, sem qualquer medo da hipérbole, deste século. Um tempo em que o vírus do negacionismo adoecia a humanidade e Atila e outros divulgadores científicos tentavam ser anticorpo num organismo descontrolado — o das redes sociais.

Edição de Sábado: Impedimento

“É um tema que aconteceu há 37 anos atrás (sic), 1987 (...) Nessa lembrança que eu tenho, eu tinha 23 anos na época, nós iríamos jogar uma partida e subiu uma menina para o quarto, o quarto que eu estava junto com mais três jogadores, um quarto com duas camas de casal, em L, outras duas camas. Essa foi minha participação nesse caso. Eu sou totalmente inocente, eu não fiz nada. As pessoas falam que houve um estupro. Houve, acho, um ato sexual com uma vulnerável. Isso foi a pena que foi dada. A gente vê e ouve um monte de coisas falando inverdades, chegando a ofender. (...) Eu respeitei e respeito todas as mulheres, nunca encostei um dedo indevidamente em nenhuma mulher, em nenhuma mulher ao longo de todos os anos que eu vivo. Na bola, já trabalhei com vocês na imprensa, já tiveram comigo, tive em diversos clubes. Eu tive duas vezes no São Paulo, duas vezes no Palmeiras, duas vezes no Santos, nunca foi me questionado isso em uma coletiva. (...) Nós ficamos lá para averiguação, por três vezes a moça esteve lá na frente. Não é que te reconheceu, é que eu não tava. A vítima não sou eu, é ela. A vítima é a moça. “O rapaz não tá, o rapaz não tá”, se a vítima fala que não tá, e eu juro por Nossa Senhora, que é o que eu mais adoro e amo na vida, que não tava. (...) Mas é isso, tem repórteres e pessoas que eu já discuti com eles. 'Cuca, você deve uma desculpa para a sociedade'. Por que que eu devo uma desculpa para a sociedade? Do que que eu devo uma desculpa para a sociedade se eu não fiz nada? Por que que eu devo uma desculpa para a sociedade? Dois anos e meio depois desse caso eu fui jogar ali do lado, na Espanha. Nunca teve consequência nenhuma.”

Edição de Sábado: De noite na cama…

“Meu gemido foi ainda mais alto quando ele começou a explorar o meu sexo. Seu dedo médio abriu meus grandes lábios, seguindo até o meu clitóris e rodeando a minha entrada, fazendo com que eu ficasse ainda mais úmida." Essa é Tatiana Fisher. Ela é estagiária no escritório de Deborah Lennox, a promotora que lhe servia de inspiração. Quem a acaricia é Tyler Lennox, irmão de Deborah, um respeitado e cativante juiz. O affair lascivo entre eles resultou numa gravidez. Mas Tyler, poderoso mas ordinário, duvidava que a criança fosse sua. E, assim, enquanto se discute o caráter de Tyler e a carreira de Tatiana, vão se entremeando cenas de sexo tórrido.

Edição de Sábado: Quem tem medo de uma CPI?

Às 23h49 da sexta-feira, dia 6 de janeiro de 2023, André Fernandes (PL-CE), eleito deputado federal, usou suas redes sociais para recrutar: “Neste fim de semana acontecerá, na Praça dos Três Poderes, o primeiro ato contra o governo Lula. Estaremos lá!”, chamava a postagem dirigida ao derrotado bolsonarismo, que acampava em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília, a cerca de três quilômetros das sedes dos Poderes. A convocação era para a intentona bolsonarista do dia 8 de janeiro. Fernandes não compareceu, alegou “motivos pessoais” para justificar sua ausência. Mesmo longe dos protestos, comemorou nas redes os resultados da anarquia. Uma foto com a porta arrancada do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ganhou destaque na sua timeline, enquanto vândalos quebravam tudo no STF, no Planalto e no Congresso. “Quem rir vai preso”, legendou, ironicamente, a imagem. Os dois posts, o da convocação e o da porta arrancada, foram apagados assim que surgiram as primeiras repercussões negativas sobre os atos terroristas.

Edição de Sábado: Tudo que você sempre quis saber sobre IA

Nas contas da PWC, uma das principais consultorias do mundo, inteligência artificial poderá injetar quase US$ 16 trilhões na economia global em 2030. Um terço viria de aumento da produção e, o outro quinhão, do impacto no consumo. É mais do que produzem, por ano, China e Índia juntas. Mas o valor bonito esconde outro número ali dentro — parte do lucro virá com economia de gente. Os sistemas assumirão trabalho que, antes, pessoas assalariadas faziam.

O povo contra Donald J. Trump

Num hall de passagem para se chegar à corte de Manhattan, onde ouviria as 34 acusações listadas no caso 71543-23, em que o Povo do Estado de Nova York o processa pelo escândalo Stormy Daniels, e se declararia “not guilty” (inocente), Donald J. Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, teve de abrir seu próprio caminho. Os oficiais de Justiça que o antecederam não lhe concederam qualquer deferência: passaram e soltaram o que parecia ser uma pesada porta. Sem olhar para trás. Trump, a boca emburrada em U invertido, até disfarçou bem a surpresa de ter de segurar uma porta, provavelmente, pela primeira vez em décadas. Afinal, ele já estava recebendo um tratamento diferenciado, tendo sido dispensado de usar algemas e de fazer uma mug shot, aquelas fotos tradicionais de detidos nos EUA com macacão laranja.

Edição de Sábado: ‘Olhem para mim!’

Duas fotos de desenhos rabiscados em folhas de caderno — um de uma arma, com a legenda “Um tiro, uma morte”; outro de uma faca ensanguentada, onde se lê “Apenas ódio e vontade de matar” — foram postadas pelo perfil “Taucci0001” no dia 30 de março, no Twitter. Receberam 31 curtidas, foram visualizadas mais de 4 mil vezes. No primeiro comentário, um outro perfil, o “Pretty Taucci”, diz: “Oi queria tanto conversar com alguém que pensa igual eu...podemos conversar?”. Na página desse segundo, há uma imagem do que parece ser uma sala de aula, e os dizeres “novamente nesse inferno de escola”. O Taucci a que se referem em seus nicks é de Guilherme Taucci, jovem que, em 13 de março de 2019, invadiu com um amigo sua ex-escola, em Suzano (SP), e matou a tiros duas funcionárias e cinco estudantes. Ainda nesta sexta-feira, o “Taucci0001”, que tem 316 seguidores, publicou a imagem de uma faca de verdade, que afirmou ter comprado. Foi retuitado pelo “shooting school”, que declara ser LGBTfóbico e recorre com frequência às hashtags #Bolsonaro e #Mito. Como “Taucci0001” diz aguardar a chegada da máscara de caveira que agressores desse tipo costumam vestir, avisa que seu ataque deve acontecer, provavelmente, na terça-feira. Um outro usuário com a foto do Taucci original atrás da tal máscara responde: “Planeja bem isso manda uns 10 pro inferno para vc sempre ser lembrado”.

Edição de Sábado: Cartão verde

Em 1931, quando os japoneses ocupavam a região chinesa da Manchúria, uma brasileira amiga da elite do Japão estava por lá para assistir à entronização do imperador fantoche Pu Yi (ele mesmo, O Último Imperador, do filme de Bernardo Bertolucci). Pagu, a inquieta militante, escritora e até repórter estava em andanças pela Ásia e recebeu uma missão do amigo, poeta e diplomata Raul Bopp: trazer soja ao Brasil. Ele tinha muita curiosidade acerca da semente originária da China, que já era cultivada em micro-escala no Brasil, pela colônia de migrantes japoneses. A soja de Pagu chegaria pouco depois, em 19 saquinhos. Mas as sementes não se aclimataram de imediato. Precisou de muita tecnologia para adaptá-las ao solo e ao clima brasileiros. O investimento deu certo, e bem quando a China se abria e começava a catapultar sua população gigante a melhores patamares de renda — e a mais consumo de proteína. Alimentar os chineses passou a ser mantra dos produtores brasileiros, que hoje enviam toneladas do grão todos os meses, exatamente no caminho inverso dos saquinhos da Pagu.

Edição de Sábado: SXSW e os paradoxos da tecnologia

O super festival de cinema, música, tecnologia e inovação de Austin, o badalado South by Southwest, o SXSW, apresenta a cada ano caminhos que setores da economia devem percorrer diante de novas soluções criativas e inovadoras. Se há uma grande novidade tecnológica em estudo, sendo elaborada ou mesmo em fase inicial de execução, será aqui a sua apresentação. Em 2007, o Twitter foi lançado no SXSW. Em 2012, o Google exibiu em Austin o seu carro autônomo. Dois anos antes, Naveen Selvadurai divulgou aqui o Foursquare pela primeira vez. Este ano, embora muitos novos produtos tenham sido lançados na exposição “Indústrias Criativas” do festival, foi um modelo de visão de futuro apresentado pela futurista Amy Webb que mereceu mais atenção. Segundo ela, a internet como a conhecemos tem seus dias contados e as relações humanas vão mudar dramaticamente.

Edição de Sábado: O pêndulo chileno

Na posse do presidente Lula, em janeiro, produziu-se uma sequência de fotos em Brasília com os chefes de Estado que vieram prestigiar o novo ciclo do país. Nelas, alguns líderes políticos da América Latina exibem sorrisos que não são estranhos ao olhar brasileiro — à exceção de um, mais arejado e luminoso. Esse dispensa gravata, dobra as mangas da camisa, exibe tatuagens e tem menos de 40 anos de idade. E há exatamente um ano chegou à presidência do Chile. Gabriel Boric Font, o presidente chileno, pisava oficialmente pela primeira vez no Brasil.