A derrocada de Renan Calheiros

A Câmara dos Deputados reencaminhou Rodrigo Maia à presidência com tranquilidade e ainda no primeiro turno. O deputado carioca teve 334 dos 513 votos possíveis. Mas no Senado houve briga — e feia. A escolha do favorito do governo, Davi Alcolumbre, foi difícil e terminou com placar apertado: 42 dos 81 votos. Quando percebeu que ia perder, seu principal adversário, Renan Calheiros, desistiu.

A confusão se instaurou ainda na sexta, quando os senadores decidiram que o voto para presidente deveria ser aberto, numa sessão presidida pelo principal interessado na decisão — Alcolumbre. Partidária de primeira hora da candidatura Renan, Kátia Abreu chegou a subir à mesa diretora para arrancar do adversário as pastas com documentos da presidência (vídeo). A sexta foi encerrada sem decisão e, naquela madrugada, no Supremo, o ministro Dias Toffoli deu ordens para que a Casa retornasse ao voto secreto, como previsto no regimento. Pelos cálculos de Renan, ele só seria eleito se os senadores não precisassem confessar em quem votaram. Mesmo sendo fechado, alguns senadores abriram suas cédulas para mostrar em quem votavam. Quando a urna do primeiro escrutínio foi aberta, porém, havia lá 82 votos. Alguém votara duas vezes, melando o resultado. Na segunda rodada, mais senadores abriram seu voto — Renan percebeu que não teria chances e saiu em ira. Segundo ele, naquela abertura teria perdido os votos dos tucanos José Serra e Mara Gabrilli e, talvez, do próprio Flávio Bolsonaro.

Demista como os dois presidentes do Legislativo, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, trabalhou por Alcolumbre e contra Maia. “A derrota dele vai fazer bem ao país”, disse o ministro sobre Renan. “Ele estava junto ao PT há quanto tempo? O Senado se reencontrou com as ruas.” Na mesma entrevista a Andréia Sadi, Lorenzoni também falou sobre Maia. “Ele ganhou com votos de esquerda, é muito articulado e respeita divergências. Tem essa qualidade de conseguir votos de diferentes áreas.”

Coincidência... De acordo com Lauro Jardim, a mulher do ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni trabalha no gabinete de Alcolumbre. Ganha salário de R$ 6,7 mil. Líquido. (Globo)

O novo presidente do Senado é investigado em dois inquéritos que correm no Supremo. Num, aberto em 2016 pela procuradora-geral Raquel Dodge, busca indícios que expliquem o uso de notas fiscais frias para justificar gastos durante a campanha de 2014. Alguns dos cheques emitidos para estes pagamentos foram endossados pelo contador da campanha ou sacados em espécie no caixa. O segundo inquérito também trata de outras notas frias naquela mesma disputa eleitoral e estão sendo tocados em conjunto. (Globo)

Renan ainda fechou o fim de semana assumindo seu modelo jagunço, com uma violenta mensagem contra a jornalista Dora Kramer. Não gostou de uma análise da veterana de décadas da cobertura política. Após polêmica, apagou o tweet. Mas ficaram cópias. O conflito entre ambos é antigo.

Na Câmara, Rodrigo Maia não quer trazer as pautas de costumes cedo para o debate político. “Você acaba gerando relações de atrito entre base e oposição que vai dificultar votar as matérias econômicas no plenário”, afirmou. “Se ficar estressando o plenário antes da Previdência, o ambiente para votá-la vai ser muito precário.” Ele também mandou um recado para os defensores do Escola Sem Partido. “Quem é a favor tem que tomar cuidado porque, na hora que começar a tramitar no Congresso, o Supremo vai derrubar, vai declarar a inconstitucionalidade.” (Folha)

Sergio Abranches: “Rodrigo Maia usou sua experiência e maleabilidade para se reeleger no primeiro turno. Obteve votos de todas as correntes, mas errou na mão, tentando conquistar a confiança do Planalto. Fez concessões caras ao PSL, como entregar-lhe a Comissão de Constituição e Justiça. No Senado, a presidência foi conquistada por um senador em primeiro mandato, sem liderança. Terá no plenário matilha de raposas dispostas a dificultar sua gestão. A maioria de Alcolumbre é circunstancial. A de Rodrigo Maia teve construção mais robusta, mas não está isenta de fragilidade. É heterogênea demais, não é crível que consiga persitente apoio tanto da banda aliada ao presidente Bolsonaro, quanto da banda esquerda, ambas peças importantes de sua vitória. Além disso, Maia criou espaço para armadilhas e impasses em comissões-chave, como a CCJ e a de Finanças e Tributação, ao entregá-las a um partido de neófitos. As coalizões que elegeram Maia e Alcolumbre são eleitorais, portanto efêmeras, e não podem ser consideradas governistas. Além disso, Maia contraiu dívidas políticas de campanha que podem levá-lo a contrariar interesses do governo. Esse quadro não é muito alentador para um governo de agenda controversa e que não é consensual nem mesmo entre os membros do próprio Executivo.”

Christian Lynch, do Iesp-Uerj: “Pra quem achava que o governo estava derretendo, a derrota de Renan foi um banho de água fria. Os métodos empregados mostram que a turma conservadora não veio pra brincadeira. Articularam sem muita finura, mas conseguiram derrubar um colosso da política profissional. Desejaram dar uma demonstração pública de que a república tem novos donos, e conseguiram. O novo establishment parece ter mais força do que a esquerda e a imprensa liberal estavam dispostos a admitir. E a julgar pelo discurso de posse do novo presidente do Senado, o STF que se cuide. Esse sujeito já deu a entender que vai ignorar todas as decisões da Suprema Corte que julgue de competência exclusiva do Senado. Isso significa uma concepção de relação entre os poderes que exclui o judiciarismo e reafirma a autoridade dos legisladores contra a interferência de juízes ativistas tipo Barroso. Mostra compromisso com uma concepção de relação entre os poderes próxima de juristas antijudiciaristas e antiliberais, como Ives Gandra Martins.”

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O primeiro general pôs-se publicamente contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro. A avaliação internacional é de que o sucessor de Hugo Chávez cairá no momento em que perder apoio das Forças Armadas.

Cultura

Se você não pensa em tornar-se vegetariano por conta dos problemas do planeta, talvez pense em fazê-lo por... Beyoncé. Pois é. Na semana passada, ela anunciou em seu Instagram o The Greenprint Project, e uma oportunidade para que seu fãs ganhem ingressos gratuitos para shows dela e de seu marido, Jay-Z, por 30 anos. Eles apenas têm que prometer que vão experimentar uma dieta à base de vegetais. Um deles será escolhido aleatoriamente no concurso online e será o grande sortudo.

Causou polêmica a decisão da Universal de cancelar a estreia do filme Boy erased (trailer) nos cinemas brasileiros. O drama, que conta a história real de um jovem que se submete a um tratamento de ‘cura gay’ nos EUA, sairá agora diretamente no streaming. Nas redes sociais, usuários associaram o cancelamento no país à pressão de grupos conservadores. (Globo)

O ator norte-americano Kevin McHale, famoso por sua participação na série Glee, usou o Twitter para criticar a decisão e acusar o governo Bolsonaro de censura. O presidente respondeu. “Mentira! Tenho mais o que fazer”, disse em seu Twitter.

E Lauro Jardim mostra, com dados, que cinema no Brasil é mesmo coisa de shopping center. (Globo)

Viver

Morreu no sábado a ativista social Sabrina Bittencourt, 38, que recebeu as primeiras denúncias de assédio sexual contra o médium João de Deus. Ela se suicidou. A morte foi confirmada por uma nota divulgada pelo grupo Vítimas Unidas, ONG de apoio a vítimas de abuso do qual Sabrina fazia parte. Ativista há cerca de 20 anos, Sabrina reuniu denúncias de vítimas de João de Deus, que está preso sob suspeita de violência sexual contra diversas mulheres, e também ajudou a articular denúncias contra o guru Prem Baba. “Marielle me uno a ti. Somos semente. Que muitas flores nasçam dessa merda toda que o patriarcado criou há 5 mil anos! Eu fiz o que pude, até onde pude”, escreveu Sabrina em uma mensagem no Facebook. (Globo)

E a polícia de Goiás prendeu, também no sábado, um dos filhos de João de Deus. Sandro Teixeira de Faria é acusado de coação e corrupção de testemunhas. Ele e seu pai ofereceram pedras preciosas no valor de R$ 15 mil a uma delas para que retirasse o registro de denúncia (Globo)

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Após o movimento #MeToo, algumas das maiores seguradoras do mundo colocaram indústrias inteiras em uma espécie de ‘lista negra’ para ‘seguros de responsabilidade civil por práticas trabalhistas indevidas’, o EPLI, que cobre práticas como assédio sexual, discriminação sexual e outras queixas. Estão entre elas: empresas financeiras, de entretenimento e mídia, escritórios de advocacia, concessionárias de automóveis e outras indústrias. Isso não significa que empresas em setores mal-vistos não possam obter um seguro. Mas elas podem ter que concordar com franquias mais altas, além de demonstrar que seus problemas estão sob controle — por exemplo, com a criação de um serviço externo confidencial para que os funcionários relatem reclamações anonimamente, ou a divulgação de políticas anti-assédio. No geral, as empresas vem sendo cada vez mais escrutinadas.

Por falar... No Brasil, a Justiça concede uma medida protetiva para mulheres a cada dois minutos. Em 2018, foram mais de 318 mil casos. (Globo)

Não foi um jogo dos mais emocionantes, mas foi uma noite de glória para os Patriots e, especialmente, para Tom Brady no Super Bowl. Na reedição da final de 17 anos atrás, entre Patriots e Rams, mais uma vez deu New England: 13 a 3. Mais uma vez deu Tom Brady e Bill Belichick. É o sexto título da franquia de Boston, igualando a marca do até então maior vencedor, Pittsburgh Steelers. Tom Brady fez história ao garantir o sexto anel de campeão e, aos 41 anos, tornar-se o jogador com mais conquistas na NFL, superando Charles Haley. Já Belichick igualou os Hall da Fama George Halas e Curly Lambeau como únicos treinadores com seis títulos.

E nada de polêmicas no show do intervalo. Recentemente, artistas como Cardi B, Rihanna e Pink recusaram-se a se apresentar no evento por causa da situação ruim entre a NFL e o quarterback Colin Kaepernick. O Maroon 5 foi uma escolha segura e apolítica. E a banda cumpriu essa promessa.

O Super Bowl é também o espaço publicitário mais caro da TV norte-americana. Os melhores comerciais deste ano, segundo a Time.

O Washington Post usou o espaço para defender, na voz de Tom Hanks, o jornalismo e a democracia.

Galeria: O Super Bowl em imagens.

 

Cotidiano Digital

O YouTube vai investir, este ano, num teste de redução do alcance de conteúdo extremo na plataforma: entre eles, vídeos anunciando curas milagrosas, pseudociência no nível Terra plana, ou teorias conspiratórias a respeito de eventos históricos recentes. Por não violarem as normas de conduta do serviço, os vídeos continuarão no ar. Mas sairão em massa das listas de vídeos recomendados. O teste, inicialmente, vai se limitar aos EUA.

O YouTube vem sendo acusado de ser um dos principais núcleos de radicalização política da internet. Muitas pessoas são apresentadas a ideologias extremas pela primeira vez porque, após assistir a um vídeo inocente sobre um tema, o próprio software lhes sugere visões conspiratórias relacionadas.

Há um interesse crescente de publishers internacionais de games para celular pelo mercado brasileiro. Segundo Carlos Estigarribia, da consultoria RightZero, cinco deles estão em busca de comprar estúdios daqui. O objetivo é usar a força local para fazer a manutenção de games internacionais de grande sucesso.

De acordo com a Anatel, o Brasil fechou 2018 com 31,05 milhões de contratos ativos de banda larga.

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