Brasília em tensão máxima após prisão de Temer

É uma barbaridade”, disse ontem o presidente Michel Temer. Ele estava já dentro do carro da Polícia Federal a caminho do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, onde seria embarcado preso para o Rio de Janeiro. Ainda tinha, porém, o celular, e atendeu ao repórter Kennedy Alencar, da CBN. Foi de manhã que Temer percebeu o que ocorreria, quando viu a quantidade de repórteres se aglomerando na frente de seu prédio, conta Daniela Lima, na Folha. Moreira Franco vinha de Brasília, onde havia se hospedado na casa do presidente da Câmara. Ele é padrasto da mulher de Rodrigo Maia. Desembarcou apressado no aeroporto do Galeão, Rio, conta Ancelmo Gois, no Globo. Já informado de que existia o mandado de prisão contra ele, entrou num automóvel que o esperava sem dar chance à Polícia Federal. O Volvo de Moreira foi interceptado logo depois, no meio da autovia. Michel Temer ficará numa sala de 20 m2, com banheiro privativo, tratado de forma equivalente a Lula. Moreira foi transferido para a Unidade Especial Prisional da PM, em Niterói, mesmo local onde vive o ex-governador Luiz Fernando Pezão.

Temer e Moreira estão em prisão preventiva decretada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio. Ao todo, foram 8 mandados de prisão preventiva e dois de temporária. Eles são acusados de receber propina pelo favorecimento do consórcio que venceu a concorrência para obras da Usina Nuclear de Angra 3. Entre os presos está também o coronel João Baptista Lima Filho, amigo de Temer e dono de uma pequena empresa incluída no consórcio.

Os procuradores vêm trabalhando no pedido de prisão desde uma semana antes do Carnaval e incluíram, no argumento, votos dos ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes, pinçados entre os garantistas mais enfáticos da Corte. (Folha)

Rodrigo Maia não é particularmente próximo ao sogro, pertencem a grupos políticos distintos. Mas tinha acabado de saber da prisão de Moreira quando leu uma ilação de Carlos Bolsonaro, via Twitter, a respeito da decisão de priorizar a reforma da Previdência e não o pacote anticrime. “Há algo bem errado que não está certo”, escreveu o filho 02. No Instagram, foi mais direto: “Por que o presidente da Câmara anda tão nervoso?” Ontem, Maia mandou para o Planalto um recado: que Carlos seja contido ou ele abandonará a articulação pela reforma da Previdência. (Estadão)

Pela lista de Ascânio Seleme, faltam dois políticos do primeiro escalão contra quem há fartas denúncias e que no entanto seguem sem ameaça de prisão. O senador Renan Calheiros responde a 17 inquéritos por corrupção. O deputado Aécio Neves foi gravado pedindo dinheiro ao empresário Joesley Batista. (Globo)

Merval Pereira: “É uma demonstração de força da Lava-Jato, depois da derrota que sofreu no STF. É o modus operandi deles, dar o troco para deixar a sensação de que não são passíveis de controle. Cada vez que sofrem uma derrota, dão o troco alto.” (Globo)

Vera Magalhães: “A prisão coincide com um momento de intensa disputa de poder entre instituições e entre agentes públicos e políticos. Estão no tabuleiro as iniciativas do Supremo para ao mesmo tempo conter o ‘lavajatismo’ e reagir a críticas e investigações contra a corte; a necessidade de a própria Lava Jato reagir a sucessivos reveses; as agruras do ex-símbolo da Lava Jato Sérgio Moro em se adaptar à sua nova condição de ator da política; a dificuldade do governo de articular uma base no Congresso, e a maneira como o Congresso e a classe política tentam se recuperar do processo no qual foram dizimados pela Lava Jato e perderam força de negociação com o governo. Uma análise imediata das prisões permitiria tirar a conclusão de que elas são boa notícia para Bolsonaro, por atingirem um grupo político que foi apeado do poder com sua eleição e por vir num momento em que sua popularidade cai. Será? O tumulto atingindo o sogro do presidente da Câmara — Moreira Franco — e um partido que detém 30 votos coloca em xeque a já conturbada negociação da reforma da Previdência. Mais: se já era latente o conflito entre os políticos e Moro antes dessa nova investida da Lava Jato, agora as condições para que o ministro tenha êxito em sua negociação para o pacote anticrime se deterioram ainda mais. O discurso de que deve haver um fim da Lava Jato, cinco anos depois, já não é apenas entoado nos bastidores: começa a ser expressado publicamente. Resta saber como vai se portar Bolsonaro, eleito como consequência da ‘lavajatização’ da política e tendo em seu ministério o símbolo máximo da operação, mas ao mesmo tempo premido pela necessidade de destravar a economia, tarefa para a qual precisa contar com o Congresso.” (Estadão)

Carlos Melo: “A prisão do ex-presidente ocorreria mais cedo ou mais tarde. Deu-se mais cedo. Para o sistema político, é um cenário de terror: muitos sentem-se desprotegidos. Se figuras como Temer e Lula puderam ser recolhidos pela Justiça, quem não poderia? Nessas horas, em Brasília, o ar se rarefaz e o coração dispara: quem tem cargo tem medo. Quem não tem mais, também. E isso envolve a todos os partidos. Clima assim nunca foi encorajador de processos reformistas, estruturais ou fiscais. O foco de temas e votações necessárias para recomposição das contas da União, dos estados e dos municípios é desviado, como ocorreu quando foram reveladas as conversas entre o próprio Temer e Joesley Batista, em março de 2017. A reforma da Previdência pode, assim, virar artigo de luxo.” (Folha)

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Do Chile, onde está, o presidente aproveitou a prisão de Temer para dar pontadas no Congresso. “O que levou a essa situação, parece, foram os acordos políticos em nome da governabilidade”, afirmou. “Mas a governabilidade você não faz com esse tipo de acordo. No meu entender, você faz chamando pessoas sérias e competentes para integrar o seu governo, como eu fiz.” Irritados, conta Josias de Souza, parlamentares enxergam hipocrisia. Bate em público, oferece cargos em privado. Cargos, porém, ruins. Três bancadas cogitam devolver o que lhes foi oferecido.

E... Um recado está para ser dado. A Câmara pode suspender, na semana que vem, o decreto que dispensa de visto cidadãos de Austrália, Canadá, EUA e Japão.

Então... Jair Bolsonaro apagou de seu Twitter a publicação que mostrava duas pessoas praticando golden shower no carnaval. Os advogados da dupla que aparece nas imagens conseguiram mandado de segurança no Supremo.

Em sua terceira transmissão ao vivo às quintas, Bolsonaro comentou sua viagem aos EUA, lamentou o ciclone que atingiu Moçambique, disse que pretende colocar um fim na Unasul e falou sobre a reforma da Previdência. “Vocês sabem que estamos quebrados, né?”, perguntou. “No fundo, não gostaria de fazer a reforma da Previdência. Mas, se não fizesse, estaria agindo de forma irresponsável”.

Pois é... O perfil do presidente Jair Bolsonaro, no Facebook, publicou um post do vereador Carlos Bolsonaro. Aí, conta Guilherme Amado, apagou. O filho zero dois é suspeito de operar as contas do pai nas redes. (Época)

Surgindo do segundo escalão do MDB da Ditadura, a ‘Turma do Pudim’ liderada por Michel Temer tornou-se o mais longevo grupo a manter-se no poder brasileiro das últimas décadas. Na edição premium deste sábado, o Meio contará esta história. Ainda há tempo. Torne-se também assinante.

A União Europeia concordou em ampliar o prazo para que o Reino Unido se defina a respeito do Brexit. Caso os parlamentares britânicos aprovem o plano, a data de saída será 22 de maio. Se não aceitarem, 12 de abril.

#DENTROTEMER

Tony de Marco

 
Temer-preso

Cultura

Em São Paulo, a Osesp abre hoje a sua temporada com obras de Villa-Lobos e Sibelius acompanhada pelo violinista Augustin Hadelich e regida por Isaac Karabtchevsky. Amanhã, o escultor Artur Lescher ganha retrospectiva com mais de 120 obras na Pinacoteca. No domingo, acontece a primeira edição da PerifaCon com muitos quadrinhos e cultura pop na Fábrica de Cultura do Capão Redondo. No Teatro Ágora, Celso Frateschi dirige montagem de Woyzeck, clássico escrito por Georg Büchner. E o festival Nublu segue com noites promissoras no Sesc Pompeia. Vale conferir a programação.

No Rio de Janeiro, o Circo Voador recebe dois shows imperdíveis neste fim de semana: hoje, a Orkestra Rumpilezz estreia na lona em grande estilo, acompanhada por Caetano Veloso; amanhã, o saxofonista Kamasi Washington toca por lá. A banda franco-brasileira Cao Laru se apresenta na Aliança Francesa Tijuca na manhã de sábado. No domingo, o Quarteto de Cordas da UFF apresenta obras de Beethoven, Villa-Lobos e Mahle no Cine Arte UFF. Com Fabiana Cozza no elenco, a peça Canto Negro faz curta temporada no Armazém da Utopia. Destaque, ainda, para Visitando Camille Claudel, em cartaz no Teatro da UFF.

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Lupita Nyong’o, a primeira atriz queniana a ganhar um Oscar, é um dos destaques em Nós (trailer) o novo filme de Jordan Peele: o terror puro de uma família pacata em férias que se descobre perseguida por seu pior pesadelo. Recebeu ótimas críticas. Julia Roberts, outra vencedora do Oscar, estrela O Retorno de Ben (trailer) no papel de uma mãe que acolhe um filho viciado em drogas e envolvido com o tráfico. Sérgio Alpendre, crítico da Folha, descreve atuação de Roberts como impressionante. Vale conferir, também, a comédia brasileira Cine Holliúdy 2, A Chibata Sideral (trailer). O filme se passa em Pacatuba, interior do Ceará, no ano de 1980, e mistura sertão com ficção científica. Curiosidade: foi selecionado para a mostra Première Brasil Hors Concours da 20ª edição do Festival do Rio.

Rio de Janeiro, anos 1950, quatro mulheres fortes e de mundos diferentes se encontram no momento em que avança a bossa nova. É este o pano de fundo de Coisa Mais Linda, série brasileira que estreia hoje na Netflix. Só o clima do trailer já é bom demais. Maria Casadevall interpreta Malu, menina de família rica que planeja abrir um restaurante com o marido. Só que ele desaparece com todo seu dinheiro. “A Malu reproduz todos os valores dessa família tradicional até que tudo isso acontece e ela se vê obrigada a fazer novas escolhas”, disse a atriz. O conflito está lançado e Malu verá em Adélia (Pathy de Jesus) uma possível sócia para um novo negócio: um bar que dará espaço àquele novo tipo de música que começa a surgir. As atrizes Fernanda Vasconcellos e Mel Lisboa completam o elenco principal. (Folha)

Viver

A premiê neozelandesa, Jacinda Ardern, anunciou que o país deve banir a venda e recolher armas semiautomáticas e fuzis, depois que um atirador matou 50 pessoas em duas mesquitas na cidade de Christchurch, na sexta passada. “O que a Nova Zelândia experimentou foi a violência trazida por alguém que cresceu e aprendeu sua ideologia em outro lugar”, afirmou. “Se quisermos garantir globalmente que somos um mundo seguro e tolerante e inclusivo, não podemos pensar sobre isso em termos de fronteiras".

Cotidiano Digital

O Facebook manteve as senhas de algo entre 200 e 600 milhões de usuários sem proteção, num banco de dados que milhares de funcionários da companhia podiam acessar. A rede social pretende informar a cada usuário que foi exposto assim que a investigação interna se encerrar. A maior parte das vítimas usavam o app Facebook Lite, adaptado para smartphones mais baratos com acesso a velocidades baixas de internet.

Para brincar: o logo modificado do Google de ontem celebrou os 334 anos de Johann Sebastian Bach. É um jogo que usa inteligência artificial para compor no estilo do mestre barroco.

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