Bolsonaro recua em Jerusalém

O presidente Jair Bolsonaro visitará, hoje à tarde, o Muro das Lamentações, acompanhado do premiê israelense Benjamim Netanyahu. Embora seja uma visita comum de chefes de Estado, costumam fazê-la sozinhos — a praxe é não caracterizar como visita de Estado. Em sua visita a Israel, o presidente não insistiu na transferência da Embaixada para Jerusalém. Mas abrirá um escritório de negócios na Cidade Santa, simbolizando um avanço. É a mesma estrutura que o Brasil tem em Taiwan e em Ramallah, na Palestina, locais onde não pode ter oficialmente embaixadas. A embaixada não foi transferida após um apelo da agroindústria, que teme perder exportações para o mundo árabe. Mas talvez não tenha sido suficiente. A Autoridade Palestina convocou de volta seu embaixador no Brasil. Por enquanto ainda não há reação de outras nações árabes. (Globo)

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Sérgio Abranches em dois momentos — um artigo, numa entrevista.

O artigo: Presidencialismo de coalizão é o nosso modelo desde 1946, quando o Brasil optou pelo presidencialismo, uma Federação com muitos estados, a eleição de deputados pelo voto proporcional e de mesmo número de senadores por estado, pelo voto majoritário, em um sistema aberto a muitos partidos políticos. Essa combinação tornou impossível aos presidentes fazerem a maioria no Congresso com seus partidos. A principal força do Congresso vem do fato de praticamente todas as políticas públicas precisarem de leis para serem instituídas. Presidentes precisam de maioria para implantar políticas novas, mudar as existentes, ou fazer reformas. Negociar uma coalizão majoritária não é escolha. Um presidente não governa sem ela, o governo fica paralisado. Além disso, arrisca-se a ver o Legislativo aprovar medidas contrárias à sua agenda, como aconteceu na Câmara, com as emendas impositivas. Qual o problema hoje? Bolsonaro deixou o seu capital eleitoral se dissipar, insistindo em miudezas, e não apresentou uma agenda clara e relevante, capaz de unir o país. Fixou-se em questões menores, que dividem muito. Não demonstrou ter liderança. Não se empenhou a favor das propostas de seus ministros da Economia e da Justiça. Descartou indicações políticas, mas nomeou ministros ineptos. Preferiu hostilizar o Congresso, a dialogar politicamente. O resultado é paralisia decisória e perigoso impasse político.” (Globo)

A entrevista: “Quando o presidente vai ao Congresso e negocia uma coalizão, ele vai receber apoio de alguns, e outros vão dizer: esse negócio aqui eu não toco. É uma negociação legítima. Acertando um programa de governo para o qual a coalizão vai colaborar e estabelecendo como vai colaborar, ela compartilha do poder de governo. É legítimo. Tem negociações espúrias, como entregar todo o orçamento de um ministério para um partido que vai fazer o que quiser e se aproveitar. Mas dar ministério para os partidos aliados não é corrupção, é compartilhamento de poder. O limite é tênue, mas qualquer pessoa sabe o que é errado e o que é certo. As declarações de Bolsonaro são caricaturas do processo democrático. Não é uma crítica à corrupção, é uma crítica à política. Política é conversar, persuadir, trocar ideias, aceitar uma crítica. Quando ele faz essa caricatura, o que ele está dizendo na verdade é: ‘eu não gosto do jogo democrático’.” (Época)

Pois é... De 16 projetos e medidas enviadas pelo Planalto ao Congresso, em quase cem dias de governo, até agora nada foi aprovado. (Estadão)

Vera Magalhães: “‘Ele não vai mudar.’ Sem nuances, este foi o diagnóstico que colhi relativo a Bolsonaro, feito com a mesma convicção por ministros, assessores do presidente e parlamentares. Havia uma expectativa de que a Presidência trataria de conferir certa noção de institucionalidade. Não vai acontecer, e o entorno já começa a encontrar formas de se adaptar — em alguns casos, alienando o presidente de discussões importantes. Quando um presidente eleito democraticamente insiste em questionar urnas eletrônicas, investe contra a imprensa propagando fake news e propõe a comemoração de um golpe militar, querendo rever a História, a imprensa tem se imbuído de seu papel de expor, checar, propor o contraditório e criticar. Para Bolsonaro, esse exercício equivale a questionar a legitimidade de sua eleição. Para os opositores mais radicalizados, a imprensa pecou justamente ao não fazê-lo. Eis um dos muitos exemplos de como a polarização doentia interdita o debate. Bolsonaro foi eleito legitimamente. Negar isso abre as comportas para seus pendores autoritários e dá asas à ala que flerta com saídas nada democráticas. Fora da imprensa, em setores do próprio governo, do Parlamento e do empresariado que se veem diante do desafio, já surgem arranjos, como o ensaiado por Paulo Guedes e Rodrigo Maia, em que Bolsonaro é deixado de lado, como café com leite, enquanto os adultos cuidam dos temas importantes. De novo, a gritaria nos extremos. O ‘bolsonarismo sem Bolsonaro’ desagrada tanto a opositores quanto aos seguidores fiéis do ’mito’, como vociferam os filhos, que enxergam tentativa de golpear o pai a cada esquina. Cabe aos atores do debate público encontrar meios de lidar com Bolsonaro sem achar que o ‘novo normal’ são seus ataques às instituições, mas reconhecendo que seu governo é legítimo e assim deve ser encarado. Vamos nessa.” (Estadão)

Então... O Planalto divulgou, via WhatsApp, um vídeo apócrifo no qual um homem afirma que, em 1964, “o exército nos salvou”. A assessoria de imprensa do palácio, que distribuiu o vídeo, afirmou que não irá comentá-lo.

A conta do presidente no Twitter, @jairbolsonaro, tem mais de 4 milhões de seguidores. Mas são 5.743 perfis os responsáveis por quatro de cada dez posts a respeito das três principais hashtags bolsonaristas: #EstadaoMentiu, #IlonaNao e #BolsonaroOrgulhaOBrasil. Além de sugerir ação coordenada, alguns destes perfis, segundo especialistas, têm comportamento de robôs. (Globo)

É... Os ataques do presidente no Twitter, diga-se, atraem mais apoios do que os anúncios de feitos do governo. (Folha)

O número dois do MEC, talvez agora enfim definido, é o tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira. Na esplanada, a definição foi encarada como vitória do núcleo militar do governo, e uma derrota do olavista. No Planalto, mais de uma pessoa próxima ao presidente já afirmou que o ministro Ricardo Vélez Rodríguez está de saída. Para os generais, Machado Vieira é o candidato certo para substituí-lo. Eles têm, no entanto, a oposição de evangélicos. (Folha)

Cotidiano Digital

Mark Zuckerberg foi ao Washington Post pedir maior regulação governamental das empresas de internet. Ele pede regras claras em quatro áreas: conteúdo que pode causar danos, como propaganda terrorista e discurso de ódio; integridade eleitoral, principalmente clareza de regras sobre o que pode; privacidade e proteção de dados, área em que ele gostaria de ter uma regra global; e portabilidade de dados. A garantia de que, tendo posto seu conteúdo em nuvem, pode mudar de fornecedor levando o que é seu.

O Spotify está mudando seus algoritmos. As listas feitas com curadoria passavam apenas pela avaliação de especialistas do app. Isto vai mudar e algoritmos vão intervir em algumas para torna-las mais personalizadas ao ouvinte. Tem motivo: um terço das músicas ouvidos no serviço vêm das listas oficiais. E três quartos das músicas, hoje, são ouvidas por streaming. O Spotify é o maior. O resultado é que as gravadoras têm se queixado de ter pouco espaço nestas grandes listas. Por enquanto, o sistema não diz em qual listas está mexendo.

Viver

Um novo estudo da Universidade de Chicago aponta que rever séries favoritas provoca sensação de bem-estar. Em suma: assistir pela terceira vez a trajetória de um publicitário bem-sucedido nos anos 50/60, mas em conflito com sua própria identidade, é como jantar no seu restaurante favorito. O título do artigo é rebuscado — A dinâmica temporal e focal do reconsumo volitivo: uma investigação da experiência hedônica repetida — mas confirma aquilo que fãs já sabem: ele compara a sensação que temos ao rever nossos programas de TV favoritos ao mesmo sentimento que experimentamos ao reler livros que gostamos ou visitar locais que frequentamos. “Os consumidores obtêm insights mais ricos e profundos sobre o objeto de reconsumo em si, mas também uma maior conscientização de que o conhecimento sobre aquilo é expandido.” O apelo de voltar ao mesmo programa está vinculado à familiaridade com personagens, cenários e enredos, mas existe outra explicação ainda mais consistente: não é sobre saber o que vai acontecer, mas sobre se surpreender com alguns detalhes que não foram percebidos. O mesmo se dá com filmes. Em O Poderoso Chefão, nem todo fã percebe de primeira que as laranjas usadas pelo diretor anunciavam uma morte. Vito Corleone, na sua cena final, estava chupando uma laranja. O mesmo Vito comprava laranjas no momento em que sofreu um atentado. Nem tudo que acaba tem, necessariamente, um ‘fim’.

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No dia 1º de Abril, vale lembrar que existem sites comprometidos em apurar notícias que parecem verdade e que circulam por aí, especialmente nas redes sociais e no WhatsApp. A checagem desse tipo de conteúdo avalia, a partir de métodos normalmente utilizados por profissionais de jornalismo, se o  fato é verdade ou se traz algum nível de distorção. Recomendamos três para sobreviver a hoje: Boatos.org, e-Farsas e Snopes.

Cultura

A Biblioteca Mário de Andrade expõe, a partir de amanhã, em São Paulo, apenas obras de mulheres do acervo de raridades: 50 livros escritos por autoras brasileiras entre 1754 e 1933. A cronologia passa por Nísia Floresta, considerada uma das primeiras autoras feministas, Julia Lopes de Almeida, que publicou cerca de 40 livros no século 19, Gilka Machado, Raquel de Queiroz, Cecília Meireles e encerra com Parque Industrial, romance de estreia de Pagu, de 1933, que na época assinava Mara Lobo. O primeiro romance publicado por alguém nascido no Brasil, em 1790, da paulista Teresa Orta, e poemas da heroína da Inconfidência Mineira, Bárbara Heliodora, lançados postumamente em 1862, estão também por lá. Na noite de abertura, a pesquisadora Constância Lima Duarte e o escritor Luiz Ruffato conversam sobre as pioneiras, com mediação de Isabella Martino. A mostra tem curadoria de Rízio Bruno Sant’ana e Joana Moreno de Andrade, bibliotecários da Seção de Obras Raras.

Aliás... Homenagem a trinta escritoras que encantaram o mundo, Bruxas Literárias (Amazon) explica porque muitas autoras nos enfeitiçam mesmo depois de se despedirem do mundo. Ou, nas palavras de Emily Dickinson, “A ausência da bruxa não invalida o feitiço”. A conexão entre bruxas e escritoras visionárias, ambas figuras intrigantes e de criatividade inquestionável, é a premissa do trabalho. Sylvia Plath, Virgínia Woolf, Octavia Mordomo, Safo, Audre Lorde, Anaïs Nin, Gertrude Stein, Flannery O'Connor, Anna Akhmatova, Toni Morrison, e Emily Brontë estão entre elas.

Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e o cão Floquinho estão no último cartaz oficial de Turma da Mônica — Laços (trailer). O live-action baseado na obra homônima dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, chega aos cinemas no dia 27 de junho de 2019.

E tem mais animação. Angry Birds 2 - O Filme, da Sony Pictures, divulgou trailer e cartaz oficiais. O filme estreia nos cinemas na primeira semana de outubro. No longa, um pássaro lilás que mora em uma geleira está cansado da natureza de seu habitat e promete esfriar o alegre universo dos pássaros. Uma sequência interessante onde ambos os lados vão levar sua rivalidade para um outro nível.

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