Sem avaliar Moro, STF mantém Lula preso

Perante a Segunda Turma do Supremo, ontem à tarde, a Defesa do ex-presidente Lula pediu que os dois habeas corpus em pauta fossem encarados. Os ministros concordaram. O primeiro HC questionava uma decisão monocrática do ministro Felix Fischer contra Lula, no STJ. Livrou-se rápido desta — 4 votos a 1, apenas Ricardo Lewandowski concordou com os advogados. O segundo era o delicado, pois traz o argumento de que Sérgio Moro foi um juiz parcial. Sem tempo para avaliar, levando-se em consideração que os diálogos publicados pelo Intercept Brasil reforçam o pedido da Defesa, Gilmar Mendes sugeriu que Lula deveria receber liberdade através de uma liminar até que o HC possa ser avaliado, no segundo semestre. Foi derrotado. Além dele, Lewandowski apoiou a liminar. Foram contra Cármen Lúcia, Edson Fachin e o decano Celso de Mello. (G1)

Aliás... Celso de Mello fez questão de dizer com clareza: ser contra a liberdade não é uma antecipação de voto. Como Lula já foi condenado em três instâncias — por Moro, pelo TRF-4 e pelo STJ, o decano considera que deve permanecer preso até que a parcialidade de Moro seja examinada. A notícia, porém, não é de todo favorável ao ex-presidente. Celso também afirmou que os conteúdos divulgados pelo Intercept não têm autenticidade comprovada e podem ter sido forjados ou adulterados. O Supremo volta do recesso em agosto. (Jota)

Igor Gielow: “A derrota da Defesa de Lula naquela que talvez tenha sido sua maior chance de ver o ex-presidente livre é péssima notícia para o petista. Para o PT, contudo, é garantia de manutenção de seu arcabouço retórico, que até agora não conseguiu encontrar algo melhor do que golpe ou processo injusto para definir seu estado político atual. Um Lula solto obrigaria o partido a definir rumos que a mitologia do líder acorrentado convenientemente empurra para a frente. Assim, PT e, ironicamente, o governador João Doria são beneficiários indiretos dos eventos inusuais ocorridos na Segunda Turma do STF. Explica-se. Lula na rua, mesmo que apenas temporariamente, seria uma benesse inesperada para Bolsonaro. Nada seria melhor para o presidente do que a volta à cena do espantalho-mor do eleitorado que o levou ao Planalto em 2018. Ele veria reforçada sua bandeira antipetista, visto que seria inevitável uma reação dessa fatia da população contra uma libertação do ex-presidente. O ministro Gilmar Mendes operou com sagacidade, esticando a corda interna da Segunda Turma com sua promessa de adiar a votação da suspeição de Moro no processo que levou Lula à cadeia, só para quase fazer valer a ideia da soltura provisória. Ao fim, contudo, foi derrotado com Ricardo Lewandowski. O peso da Lava Jato segue forte no Judiciário, ainda que tudo isso possa mudar lá na frente, quando Moro for de fato colocado sob escrutínio por suas conversas.” (Folha)

Pois é... O jornalista Glenn Greenwald, cofundador do Intercept, foi ontem à Câmara falar a respeito das conversas da Lava Jato que vem publicando. “Estou desapontado que o partido do governo ficou nas últimas semanas fazendo acusações falsas sobre mim e parece que não estão aqui”, observou. “Queria muito discutir frente a frente.” Ele também comentou a respeito do envolvimento de Moro com os procuradores durante o processo. “Nos EUA, é impensável um juiz fazer isso. Se fizer uma vez o que Sérgio Moro fez durante cinco anos, vai sofrer muita punição.” (Poder 360)

Em jantar organizado pelo site Poder 360, o presidente do Senado Davi Alcolumbre deu sua opinião a respeito dos diálogos vazados. “Do ponto de vista ético, ultrapassou os limites da Constituição”, ele afirmou. “Se aquilo for tudo verdade. É verdade? Vai comprovar? Se for verdade, acho que vai ter um impacto grande. Se fosse deputado ou senador, estava no conselho de ética, cassado ou preso.” (Poder 360)

PUBLICIDADE

Os dois decretos que facilitavam o porte de armas de fogo foram revogados pelo Planalto. No lugar, Bolsonaro editou três novos decretos e enviou ao Congresso um projeto de lei sobre o mesmo tema, mas não é possível saber o conteúdo. O Diário Oficial saiu do ar após a publicação. Até às 22h, o governo não havia explicado as mudanças. Enquanto o texto não é votado pelos parlamentares, voltam a vigorar as normas elaboradas em 2004.

Thomas Traumann: “Seis meses depois de tomar posse, Bolsonaro está recomeçando no papel de presidente. Mas não do zero. No Planalto, fez duas trocas ministeriais. Trouxe para sua assessoria direta ministros que conhece há tempos e amigos de seus filhos. Lealdade é a principal exigência deste segundo momento por dois fatores. O primeiro é a quase certeza de que o vice Hamilton Mourão articula sua queda. Isolar Mourão e mostrar que tem comando sobre as Forças Armadas serão prioridades. O segundo fator é que os bolsonaristas sabem que diminuíram de tamanho. Dos 58% de votos em outubro, a base se reduziu, grosso modo, a 33%. Neste um terço estão três grupos que o presidente pretende reforçar seus laços. Aos evangélicos, prometeu um ministro do Supremo; aos ruralistas, o controle da Funai; e aos lavajadistas a incorporação de Moro no coração bolsonarista. Essa redução também vale para o Congresso. A política de bate-e-assopra entre Bolsonaro e os presidentes Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre é relevante para a narrativa bolsonarista de ser contra a ‘velha política’. A missão não é conquistar o Congresso, mas evitar o andamento de qualquer futuro processo de impeachment. Mas e a economia? O projeto da reeleição depende da retomada da economia em termos visíveis, ou seja, com aumento de consumo, queda no desemprego e volta de investimentos. O capitão precisa mostrar que foi capaz de produzir prosperidade ou senão será tragado pelo mesmo mau humor que afunda todos os políticos do Brasil desde 2015.” (Poder 360)

O Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo pôs mais um trabalho no ar — desta vez, concentrado na Odebrecht. O site equatoriano La Posta compartilhou com o ICIJ, e daí com 17 veículos na América Latina, registros da empreiteira que indicam subornos não incluídos na delação premiada. Ao todo, a empresa pagou US$ 788 milhões em propinas entre 2001 e 2016, recebendo benefícios na casa de US$ 3,3 bilhões. Na primeira reportagem, publicada no Brasil por Época e Poder 360, estão os registros de US$ 39 milhões pagos em troca de conexão com a obra da termelétrica de Punta Catalina, na República Dominicana; mais de US$ 3 milhões por conta de um gasoduto, no Peru; outros US$ 18 milhões para o metrô da cidade do Panamá e US$ 34 milhões para a linha 5 do metrô de Caracas, na Venezuela; além de pagamentos não especificados relacionados à obra de outro metrô, o de Quito, no Equador.

Cultura

Depois de Turma da Mônica jovem, agora é a vez de conhecer os personagens na fase pré-adolescente. Batizada de Turma da Mônica - Geração 12, o quadrinho bimestral mostra os personagens com 12 anos de idade e será em formato de mangá. Chegará às lojas no próximo mês.

E o primeiro live-action inspirado nos personagens criados por Mauricio de Sousa já foi abraçado por quem viu a pré-estreia. Segundo o G1, Turma da Mônica: Laços mantém espírito do gibi para ser o melhor filme infantil brasileiro. É dirigido por Daniel Rezende, que já foi indicado para o Oscar como montador de Cidade de Deus, em 2002. Mas por que a Turma da Mônica? "Um pouco pelo mesmo motivo pelo qual quis fazer o Bingo. O Brasil parece que tem vergonha de sua cultura pop. Quem não conhece a Turma da Mônica? Pelo menos três gerações já cresceram com ela e seus amigos", respondeu o diretor. Neste vídeo, a bela trilha sonora orquestrada dirigida por Fabio Goes.

Galeria de fotos ótimas e aleatórias selecionadas por Alan Taylor, editor do The Atlantic: “Enquanto faço meu trabalho de pesquisa de fotos para várias histórias, sempre me deparo com imagens mais interessantes do que as que eu preciso, ou fotos que não têm relação com a história, mas que ainda são notáveis, estranhas, hilárias ou apenas ótimas. Eu guardo todas em uma pasta sem um plano claro para uso”. Nesta seleção, Taylor exibe uma amostra dessa pasta, sem um tema específico. São imagens históricas que retratam a velocidade terrestre, o mundo subaquático, as eleições italianas, uma jovem princesa Elizabeth, uma balsa aerodinâmica - de conquistas épicas a pequenos momentos. Vale a pena ver.

Emicida lançou ontem seu novo projeto musical, que ele mesmo chama de experimento social. Para AmarElo, o artista convocou Pabllo Vittar e Majur e trouxe de volta a voz de Belchior, incluindo trechos da faixa Sujeito de sorte do cantor morto em abril de 2017. A música veio acompanhada de um videoclipe com o depoimento emocionante de uma pessoa próxima ao rapper.

Viver

Bares que não vendem drinques com álcool estão voltando. Ué, mas gourmetizaram os cafés? Nem tanto, já que laptops não são permitidos em muitos deles. É o caso do Getaway, um bar estiloso perto da avenida principal de Greenpoint, no Brooklyn, em Nova York. Mesmo sem álcool o lugar se parece com um bar —só abre à noite, tem pouca luz e ninguém parece estar trabalhando. O Getaway faz parte de uma onda mundial de casas noturnas para pessoas que querem sair e socializar em espaços tradicionalmente dominados pela bebida. Em Londres, a rede Redemption Bar já tem três filiais. Em janeiro, o The Virgin Mary, um pub sem álcool, foi inaugurado em Dublin, na Irlanda.

Não são um conceito novo. No fim do século 19, na esteira do movimento de temperança, que pregava a abstinência, uma série de bares sem álcool foram estabelecidos no Reino Unido. Eram conhecidos como 'temperance bars'. A diferença em relação à onda atual é que eles não estão enraizados na ideia de abstinência total. Não é exclusivamente para quem não bebe. Será que pega por aqui? Fica o questionamento...

PUBLICIDADE

Errata: O Meio publicou ontem, na editoria Health Tech, que o criador da vacina para prevenir poliomielite foi Albert Sabin. Não foi. A primeira vacina, por agulha, foi desenvolvida pelo médico novaiorquino Jonas Salk em 1955, três anos após o pior surto da doença nos EUA. Sabin criou outra vacina antipolio, aquela usada hoje, a da gotinha. Estão, ambos, entre os ícones da ciência no século 20. E contam, cá entre nossos leitores, com inúmeros fãs dado o número de mensagens. =)

Cotidiano Digital

A Amazon vai abrir, no Rio de Janeiro, o primeiro escritório fora dos EUA da Amazon Studios. Os três existentes operam em Los Angeles, Seattle e Miami. O objetivo é iniciar produção local para o serviço Prime, entrando desta forma na concorrência com Netflix e GloboPlay que também criam filmes e séries no Brasil. A decisão se baseia em dados: nenhum mercado de streaming vem crescendo como o daqui. O escritório do Rio será responsável pelas produções em toda a América do Sul e já há busca por um executivo sênior com pelo menos dez anos de experiência em pós-produção em cinema ou TV. (Globo)

Um grupo de hackers teve acesso a mais de dez redes de celular no mundo: entraram nas redes, assumiram o controle e poderiam ter feito o que quisessem nas operadoras. Optaram pelo silêncio e espionagem. Ao longo de sete anos, acompanharam pelo menos 20 pessoas e extraíram continuamente a localização de cada vítima, além de data e hora de cada ligação feita, para quem. Segundo a empresa de segurança Cybereason, que descobriu a invasão, os métodos empregados e as ferramentas usadas lembram os do grupo APT10, que faz parte do Exército Popular Chinês. Mas como são técnicas já conhecidas, pode ter sido alguém se fazendo passar por.

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.