Ao invés de queimadas, Bolsonaro se queixa de terras indígenas

Na reunião convocada pelo presidente Jair Bolsonaro com os governadores da região amazônica para tratar das queimadas, pouco se falou de queimadas. Sentaram-se os governadores, Bolsonaro encarou as câmeras que transmitiam para a TV do governo e suas redes sociais pessoais, e discursou dirigindo-se a seu eleitorado. “A Amazônia foi usada politicamente desde o Collor para cá”, afirmou. “Aos que me antecederam, foi uma irresponsabilidade essa política adotada no passado, usando o índio ao inviabilizar esses estados. Na visão do presidente, as demarcações inviabilizam o país economicamente pois muitas teriam “aspecto estratégico”. Também lembrou que existem hoje no Ministério da Justiça mais de 400 novos pedidos de demarcação de terras indígenas. “Nossa decisão é não demarcar. Já extrapolou essa verdadeira psicose no tocante a demarcação de terras.” (Folha)

À porta do Plantalto, em conversa com jornalistas, Bolsonaro impôs condições para aceitar os US$ 20 milhões oferecidos pelo G7 para combate ao fogo na floresta. “O senhor Macron deve retirar os insultos que fez à minha pessoa”, disse. “Me chamou de mentiroso. Depois, as informações que tive, é que nossa soberania está em aberto na Amazônia.” Os repórteres o lembraram de que ele respondeu a um seguidor, no Facebook, fazendo graça da primeira-dama francesa. “Eu falei para o cara não entrar nessa área”, respondeu, referindo-se ao seguidor. “Se continuar pergunta nesse padrão, vai acabar a entrevista.” Quando um jornalista tentou lembra-lo de como havia sido a troca na rede social, o presidente foi embora. À tarde, o porta-voz Otávio Rêgo Barros mudou o tom. “Quaisquer recursos advindos do exterior em benefício do combate serão bem-vindos”, afirmou. “Gostaria de reforçar que é essencial entendimento de quem venha a promover essa doação de que a governança desses recursos é do governo brasileiro.” Os jornalistas tentaram compreender se não era mais necessário o pedido de desculpas. Ele escorregou. “Quaisquer que sejam os países que venham a cooperar, que tenham um alinhamento natural e aceitável pelo nosso país.” (UOL)

Leia a troca entre Bolsonaro e um seguidor, quando comparam as primeiras-damas. O link leva a uma captura de tela. O comentário original foi apagado, ontem. (Poder 360)

O deputado e possível futuro embaixador, Eduardo Bolsonaro, também comentou. “Temos queimadas, óbvio. Ninguém está virando a cara para isso. Agora, querer fazer fake news para ter ganhos políticos, o termo molecagem ficou até barato. Fizeram questão de dar um tapa na cara do Macron”, disse, referindo-se ao G7. Assista. (UOL)

No fim do dia, o governo brasileiro aceitou uma doação de £10 milhões, oferta do premiê britânico Boris Johnson. Representa aproximadamente R$ 51 milhões. (G1)

Pelo segundo dia seguido, Bolsonaro ganhou apoio de seu par americano. “Terminei por conhecer bem Jair Bolsonaro por conta de nossa relação com o Brasil”, escreveu Donald Trump no Twitter. “Ele vem trabalhando duro no fogo da Amazônia e feito um ótimo trabalho para o povo do Brasil. Não é fácil. Ele e seu país têm o completo apoio dos EUA!”

Míriam Leitão: “O presidente da maior trading chinesa, a Cofco, veio se reunir com empresários do agronegócio brasileiro e deu o seguinte recado: ‘Nós vamos comprar mais de vocês desde que seus produtos tenham sustentabilidade.’ Os representantes do setor no Brasil estavam acostumados a ouvir essa exigência dos europeus, mas não dos chineses. A palavra ‘sustentabilidade’ foi repetida 12 vezes em uma fala de meia hora do comprador chinês. São sinais assim que o agronegócio brasileiro tem captado. O consumidor está mudando, e entre os seus valores está o de querer saber a origem do que consome. Uma pesquisa, citada pelo executivo da estatal chinesa, mostrou que 50% dos consumidores chineses de 18 a 35 anos querem saber o que comem, de onde vem e como é produzido. Quando o presidente Jair Bolsonaro faz uma reunião como a de ontem, em que, em vez de tratar do combate ao fogo e ao desmatamento, ameaça os povos indígenas, ele só alimenta a ideia de que o Brasil produzirá a qualquer custo ambiental e humano. Ele deveria saber que as terras indígenas são da União e os povos indígenas têm feito um grande trabalho de proteção desse patrimônio natural do país.” (Globo)

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Há um grupo de deputados e senadores do PSL incomodados com a fritura do ministro da Justiça, Sergio Moro. Alguns deles já fizeram chegar ao Planalto de que, caso Moro deixe o governo, o presidente perde apoio da bancada. “Será o cúmulo”, disse a Igor Gadelha, um influente deputado da sigla. “Já teve interferência na Polícia Federal, no Coaf, na Receita. Muita gente do nosso partido já está achando estranho tudo isso.” (Crusoé)

O ministro aproveitou-se de um evento organizado pela PF para elogiar o diretor-geral, Maurício Valeixo — “tem feito um trabalho extraordinário”. Ele garantiu que o presidente está comprometido com o combate à corrupção. “Esse foi um dos temas centrais que me levaram a aceitar esse convite e creio que o governo tem avançado nessa área”, disse. Mas ponderou. “Claro que às vezes há alguns reveses.” (Estadão)

Pois é... A insatisfação no alto comando da PF com a interferência de Bolsonaro não é pequena. E isto repercute para Moro. Sua defesa da instituição, mesmo após o discurso de ontem, não foi incisiva como esperavam. Se Valeixo for tirado do comando sem o que os delegados consideram ser uma explicação satisfatória, ameaçam com uma renúncia coletiva dos cargos-chefes. (Globo)

Quem está enviando recados a Moro é o governador paulista João Doria. Sua arma de sedução é lhe oferecer a vice-presidência numa chapa para 2022. Segundo apurou Igor Gielow, nos bastidores o ministro vem se queixando de que trouxe prestígio para o governo e só recebeu críticas em troca. (Folha)

O dólar ultrapassou R$4,19, ao longo do dia, e fechou em R$4,15. É a maior cotação em onze meses. O Banco Central injetou a moeda americana no mercado, numa taxa bem abaixo da cotação, num leilão decidido às pressas. A desaceleração da economia mundial e as dúvidas geradas pela guerra comercial entre EUA e China influem no cenário. Como influem as preocupações com a condução do governo brasileiro e a acusação de caixa três, feita pela PF contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, percebido como um garantidor de equilíbrio. (Estadão)

A Lava Jato foi pega de surpresa, ontem, por uma derrota grande. A Segunda Turma do Supremo, por 3 votos a 1, decidiu que o ex-presidente do Banco do Brasil não teve prazo suficiente para se defender no julgamento de primeira instância. A questão é técnica. Quando o julgou, Sergio Moro abriu prazo para apresentação de defesa de Aldemir Bendine e de seus delatores, da Odebrecht, simultaneamente. O relator, ministro Edson Fachin, considerou a decisão correta. Em sua leitura, delatores são réus, não fazem parte da acusação, e portanto seus advogados têm o mesmo prazo que os outros. Os ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e, surpreendentemente, Cármen Lúcia consideraram o contrário — que o prazo para defesa de Bendine deveria ser aberto após o dos delatores. O decano, Celso de Mello, não votou por estar de licença médica. Bendine havia sido condenado a 11 anos de prisão na primeira instância pelo recebimento de propina de R$ 3 milhões da empreiteira. O TRF-4 manteve a condenação, mas reduziu a pena a 7 anos e 9 meses. Com a anulação, o caso volta à primeira instância. Os procuradores da força-tarefa em Curitiba consideram que o STF estabeleceu uma nova regra, não prevista no Código de Processo Penal. “Se o entendimento for aplicado nos demais casos da Lava Jato”, fizeram publicar em nota, “poderá anular praticamente todas as condenações, com a consequente prescrição de vários crimes e libertação de réus presos.” (Poder 360)

Errata: Ontem publicamos a notícia de que a diretoria do ICMBio, instituto responsável pela preservação das reservas ambientais da União, havia sido toda substituída por coronéis da PM paulista. A notícia é real, porém antiga. Data de abril.

Cultura

Dirigido pelo cearense Karim Aïnouz, A Vida Invisível (trailer) foi o filme indicado pelo Brasil para tentar uma vaga no Oscar 2020. Anunciado ontem, longa disputou com outros 11 concorrentes e tenta agora uma das cinco indicações na categoria de Melhor Filme Internacional, antes chamada Filme em Língua Estrangeira.

Por falar em audiovisual, a Ancine demitirá 30 funcionários e ordenou estudos para cortar mais custos. Os diretores também determinaram a apresentação das "demais medidas que estão sendo adotadas pela redução de custos e ajuste da execução orçamentária".

De cada R$ 10 doados para a reconstrução do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, R$ 4,27 vieram do governo alemão. Isso significa quase metade das doações. O incêndio que atingiu telhado, parte da construção bicentenária e itens do acervo completa um ano em 2 de setembro. Com R$ 1.394.752 já repassados à Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN), que gerencia as contribuições, a Alemanha é o principal doador.

Viver

Sem liberação de verba, pagamento das 80 mil bolsas do CNPq só chegará ao 5º dia útil de setembro, um verdadeiro apagão na ciência do país. O pagamento da folha de agosto ocorrerá por volta do quinto dia útil do mês de setembro.

Pois é... Em mais uma tesourada do governo federal, o CNPq cancelou o apoio a cerca de 300 eventos científicos no Brasil que tratariam de pesquisas, tecnologia e inovação. Essas propostas já haviam sido aprovadas pela agência estatal de incentivo, mas foram suspensas. Os cortes anunciados anteriormente levaram o conselho a suspender a concessão de novas bolsas. (O Globo)

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A hipótese mais aceita para a formação da Lua é a do Big Splash - ou "grande impacto". Logo após a formação do Sistema Solar, um planeta do tamanho de Marte, chamado Theia, se chocou de lado com a Terra, jogando bilhões de toneladas de rochas e outros materiais no espaço que se aglutinaram. O problema era saber a época. As estimativas variavam de 30 a 200 milhões anos após o surgimento do Sistema Solar. Agora, um trabalho com a participação de um pesquisador brasileiro, dá uma data mais precisa: 4,51 bilhões de anos atrás, ou seja, 50 milhões de anos após a aparição do Sol e seus planetas. (BBC)

Cotidiano Digital

Há um pequeno escândalo em curso envolvendo o diretor do MIT Media Lab, um dos mais criativos centros de inovação tecnológica dos EUA. Joi Ito reconheceu ter recebido algo como US$ 800 mil em doações para o laboratório de Jeffrey Epstein, o investidor milionário investigado por ter montado uma rede de exploração sexual de meninas adolescentes. Epstein suicidou-se na cadeia. Conforme a pressão pela renúncia de Ito aumenta, um grupo dentre os mais célebres nomes da internet em Harvard e no MIT lançaram um site em sua defesa. Assinam o co-fundador do Media Lab, Nicholas Negroponte, o professor de Direito, Larry Lessig, e um dos veteranos inspiradores do Vale do Silício, Stewart Brand.

A Cielo, joint-venture de Bradesco e Banco do Brasil, está para ir além das maquininhas com o app Cielo Pay. Para pequenos empreendedores, permite a criação gratuita de uma conta digital, pagamento imediato das transações com cartões, transferências de recursos para quaisquer bancos, pagamentos por QR Code ou boleto, carteira digital, saque nos bancos 24 horas e também oferta de crédito. Para consumidores, serão oferecidas contas com remuneração de 100% do CDI, pagamentos de conta e cartão de saques. O lançamento está marcado para 14 de outubro.

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