Impeachment ronda Trump

A presidente da Câmara dos Deputados americana, Nancy Pelosi, anunciou ontem à noite a abertura de um processo de impeachment contra Donald Trump. O presidente é acusado de segurar um depósito de US$ 250 milhões para a Ucrânia enquanto pressionava o também presidente Volodymyr Zelensky a abrir um inquérito contra um de seus possíveis adversários democratas, Joe Biden. Biden teria, quando vice de Barack Obama, tentado influenciar um processo na Justiça ucraniana no qual seu filho poderia estar envolvido. Não há indício de que algo do tipo tenha ocorrido. “As ações do presidente violaram de forma séria a Constituição”, declarou Pelosi em discurso à nação. “Ninguém está acima da lei e sua conduta viola o juramento feito ao assumir o cargo além da integridade de nossas eleições.” Trump reconheceu ter tido uma conversa com Zelensky na qual Biden foi citado, mas não entrou em detalhes. Funcionário de uma das agências de inteligência fez uma delação oficial a respeito de conduta grave de Trump, mas a Casa Branca se recusa a repassar qualquer informação relacionada ao Congresso. Pode ser que trate do mesmo tema. Em essência, Trump é acusado de usar o poder da presidência para obter vantagens eleitorais. (New York Times)

Não é só um caso novo que convenceu Pelosi a partir para o impeachment. A maioria democrata na Câmara depende de alguns parlamentares que foram eleitos em distritos conservadores. Vários destes começaram a se manifestar favoráveis a ao menos abrir o processo. É no faro destes que Pelosi se fia. (Washington Post)

Por unanimidade, o Senado, que tem maioria republicana, pediu que o governo informe o Congresso sobre as minúcias da delação. Na última conta, 170 deputados já se manifestaram a favor do impeachment. São necessários 218 votos para que o processo vá ao Senado. Lá, dificilmente Trump será condenado. É o que já ocorreu com três presidentes: Andrew Johnson, que assumiu após o assassinato de Abraham Lincoln, Richard Nixon e Bill Clinton. Nixon renunciou. Nos outros dois casos, a Câmara aprovou abertura do processo, o Senado não condenou. No caso de Clinton, relativo à jovem amante Monica Lewinsky, a população compreendeu como uma perseguição dos republicanos ao presidente e, com a economia em franco crescimento, o caso terminou por favorece-lo. (Axios)

Há um debate ocorrendo entre especialistas sobre o que a expressão ‘open impeachment inquiry’, usada por Pelosi, quer dizer formalmente. Nos casos de Nixon e Clinton, a Câmara votou pela abertura do processo. Nixon renunciou, mas com Clinton houve um segundo voto, para encaminhar o processo ao Senado. Não está claro se a presidente da Câmara pode abrir por si só o processo ou se apenas o plenário tem o poder de fazê-lo, como ocorreu nos casos anteriores. (Vox)

Trump acredita que o impeachment pode favorecê-lo na eleição do ano que vem. Sua estratégia será a de disseminar confusão, complicando a história, tornando-a difícil de compreender. “Neguei dinheiro à Ucrânia porque a Alemanha, a França e outros também deveriam colocar”, afirmou o presidente. A verba é para proteção ucraniana contra a ameaça militar russa. (Washington Post)

Em seus tuítes de ontem, Trump chamou o processo de ‘caça às bruxas’ e ‘assédio presidencial’. (Twitter)

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O parlamento britânico abre suas portas novamente, hoje, após a humilhante derrota do primeiro-ministro Boris Johnson na Suprema Corte. A decisão unânime dos ministros considerou que a ordem de um recesso de três semanas era ilegal. Foi além: considerou que BoJo enganou a rainha ao fazê-la assinar a ordem. Os líderes de todos os partidos de oposição — Trabalhista, Liberal-Democrata, Partido Nacional Escocês — declararam ontem que Johnson não tem mais espaço como premiê. Até Nigel Farage, o radical líder do Partido Brexit, que apoia o plano de Johnson, defende sua renúncia. (BBC)

Johnson não deve renunciar. Há duas alternativas para a saída. Uma é um motim de seu Partido Conservador para troca de liderança. Embora tenha muitos opositores internos, é difícil que ocorra. A outra é um voto de não-confiança. Aí o Parlamento o derruba. Neste caso, é aberto um prazo de 14 dias para que os deputados escolham um novo primeiro-ministro. Do jeito que a Câmara dos Comuns está dividida, será difícil um consenso. Passado este prazo, se o país estiver sem comando, uma nova eleição seria convocada. Os trabalhistas não querem este novo pleito, pois temem perder. (Guardian)

Enquanto seus dois pares na nova direita mundial viviam suas crises particulares, o presidente Jair Bolsonaro subiu ontem ao púlpito da ONU para abrir a 74ª Assembleia Geral. Falou-se que seria um discurso conciliador. Não foi. “Nossa Amazônia é maior do que toda a Europa Ocidental e permanece praticamente intocada”, disse. “É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade e um equívoco afirmar que é o pulmão do mundo. Valendo-se dessas falácias, um outro país embarcou nas mentiras da mídia e se portou com espírito colonialista.” Bolsonaro criticou o cacique Raoni, respeitado no exterior, e determinou que seu governo não demarcará mais terras indígenas. “Infelizmente, algumas pessoas, de dentro e de fora do Brasil, teimam em tratar e manter nossos índios como homens das cavernas.” O presidente afirmou que o Brasil correu o risco de mergulhar no que ele classificou como socialismo. “O Foro de São Paulo, organização criminosa criada por Fidel Castro, Lula e Hugo Chávez para implementar o socialismo na América Latina ainda continua vivo e tem que ser combatido.” Foi pesadamente crítico à imprensa, tanto nacional quanto estrangeira. (G1)

Assista à íntegra.

Checagens: Aos Fatos, Lupa, Globo, Estadão e Folha.

Vera Magalhães: “Bolsonaro e Trump até pareciam ter ensaiado os discursos que fizeram. Bem fará Bolsonaro se, além de emular a retórica tão histriônica quanto vazia de Trump ao bradar contra o fantasma do socialismo e contra o tal globalismo, observar que nem tudo são flores na relação do presidente dos EUA com as instituições. O que mostra que, numa democracia, não adianta impostar a voz e falar grosso, porque o sistema de freios e contrapesos trata de equalizar as falas e as ações quando elas se desviam — ou mesmo dão indícios de que podem ter se desviado — dos preceitos legais e constitucionais. Bolsonaro fala em ‘democracia ocidental’ e enxerga apenas os EUA, se esquecendo de que a Europa é um parceiro importante do Brasil. A ironia e a forma desrespeitosa com que tratou parceiros europeus podem cobrar um preço do Brasil. Era esse tipo de temor que demonstravam gestores de fundos, analistas de bancos e gestores de empresas brasileiros ontem depois da ressaca da fala passadista de Bolsonaro na ONU. Em sua fala, Bolsonaro deixa subjacente uma crença que o acompanha desde que venceu a eleição: a de que o Brasil subitamente virou um país evangélico, conservador ao extremo, de direita e disposto a tudo contra o espantalho do comunismo. Isso é uma fantasia que já soa cafona para os convertidos das redes sociais.” (Estadão)

O Congresso derrubou, ontem, 18 vetos de Bolsonaro ao projeto de lei que define crimes de abuso de autoridade. Outros 15 vetos foram mantidos. Voltam a caracterizar abuso itens como decretar prisão em desconformidade com a lei, constranger um preso a produzir prova contra si ou terceiro, insistir em interrogatório de quem escolheu ficar em silêncio. (Poder 360)

Renan x Deltan. Sete integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público votaram ontem a favor da abertura de um processo administrativo disciplinar contra o coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol. A análise do caso foi interrompida por pedido de vista do procurador-geral interino, Alcides Martins, quando faltava um voto para o colegiado formar maioria e acolher pedido do senador Renan Calheiros. (Estadão)

Viver

Artigo: A ameaça crescente ao jornalismo ao redor do mundo. Publisher do New York Times alerta que em muitos países jornalistas estão sendo alvo devido ao papel que desempenham na garantia de uma sociedade livre e informada. "Em todo o mundo, uma campanha incansável tem como alvo jornalistas devido ao papel fundamental que desempenham na garantia de uma sociedade livre e informada. Para impedir que os jornalistas exponham verdades desconfortáveis e responsabilizem o poder, um número crescente de governos se engaja em esforços abertos, às vezes violentos, para desacreditar seu trabalho e intimidá-los ao silêncio. Este é um ataque mundial a jornalistas e ao jornalismo. Mais importante ainda, é um ataque ao direito do público de saber, no centro dos valores democráticos, o próprio conceito de verdade. E talvez o mais preocupante, as sementes desta campanha foram plantadas aqui, em um país que há muito se orgulha de ser o mais feroz defensor da liberdade de expressão e da imprensa livre". O texto completo assinado por A.G. Sulzberger e traduzido pelo O Globo. Versão original em inglês.

Elogios moderados por seus sucessos e condenações duras por suas falhas. A Cúpula de Ação Climática das Nações Unidas foi concluída. Pelo lado bom, mais de 60 nações anunciaram que estão desenvolvendo planos ou já trabalhando para reduzir a emissão de gases do efeito estufa a praticamente zero. As promessas da Alemanha, por exemplo, foram descritas por críticos como incompatíveis com metas para redução de carbono já firmadas. Índia, China e a União Europeia disseram que vão anunciar planos mais rígidos para cortar emissões em 2020.

Os jovens dominaram a cena com destaque para Greta Thunberg. O The Onion, jornal satírico norte-americano, sobre as críticas que Greta vem recebendo: "País perplexo com uma garota que não quer que o mundo acabe".

Catarina Lorenzo, 12 anos, de Salvador, também integrou a comitiva de 16 crianças e adolescentes que recorreram à ONU. Foi na escola que a jovem aprendeu sobre os fenômenos climáticos e decidiu ajudar ativamente em ações ambientais. Em casa, teve o exemplo da família e de vizinhos que juntaram esforços e estão tentando criar um parque ecológico. Conheça a história da brasileira.

Ágatha Felix, 8 anos. No Rio, o delegado titular da Delegacia de Homicídios da Capital, responsável pelas investigações, espera receber nesta quarta o laudo que indicará o calibre da arma usada na ocasião. Ele admitiu a dificuldade deste trabalho por causa do tamanho dos fragmentos encontrados. Pelo menos 20 pessoas, entre elas 12 policiais militares, já foram ouvidas.

A partir de 2 de outubro, pedidos para importação excepcional de produtos à base de canabidiol serão feitos por meio do Portal Único do Governo Federal. A solicitação será feita por meio de um formulário e, a partir daí, documentos poderão ser anexados para a análise da Anvisa.

Cultura

Mentir para a rainha não causa uma boa impressão...Artistas britânicos reagiram à decisão da Suprema Corte que considerou ilegal a suspensão do parlamento por Boris Johnson. Cold War Steve, cuja arte satírica sobre o Brexit se tornou viral no Twitter, rapidamente publicou seu 'próprio veredicto'.

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Das capas de Beyoncé às gravações independentes: a nova geração de fotógrafos negros que está movimentando a indústria da moda.

Cotidiano Digital

O Facebook anunciou uma mudança de postura a respeito de posts de políticos. Eles não serão mais retirados mesmo que violem as regras da rede social. Serão retirados apenas nos casos em que podem levar a violência no mundo fora da internet.

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