Bolsonaro chama cuidados com pandemia de histeria
Com a pandemia provocada pelo novo coronavírus a pleno vapor no mundo, o presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que vê nas precauções uma mobilização contra seu governo. “Se a economia afundar”, afirmou em entrevista a José Luiz Datena, da rádio Bandeirantes, “acaba o governo. Há disputa de poder nisso aí.” Em geral simpático ao presidente, Datena o pressionou sobre a decisão de cumprimentar pessoas nas ruas, durante as manifestações governistas de domingo. “Estou sozinho num canto apanhando de todo mundo”, explicou. “Tenho obrigação moral de saudar o povo que ficou na frente do Palácio do Planalto. Se me contaminei, é responsabilidade minha. Está havendo uma histeria.” Bolsonaro foi enfático. “Se resolvi apertar a mão do povo, é um direito meu.” (Infomoney)
Datena não poupou críticas. “Estou perplexo, até porque ele tem ainda testes para fazer. Ele está se colocando em risco, contrariou norma médica. É um péssimo exemplo contrariar ordem médica no meio de um surto.” (Folha)
Assista à entrevista do presidente.
É um tema que está gerando desgaste no Planalto. Bolsonaro começou a perseguir e minar o trabalho do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O motivo: o ministro se apresentou junto com o governador paulista João Doria para falar da pandemia, registra o Radar. (Veja)
Não ficou só nisso. Lauro Jardim conta que o presidente se irritou com a decisão, pelo ministro, de vetar a saída de novos cruzeiros turísticos. Mandetta teve de se esforçar para manter a ordem. (Globo)
Enquanto boicota Mandetta, Bolsonaro vem se aconselhando com Antonio Barra Torres, um contra-almirante da reserva que está no comando da Anvisa. Torres já esteve, este ano, cinco vezes no gabinete do presidente. O ministro da Saúde, duas. Entre os temas comuns dos dois ex-militares estão motos e armas. (Estadão)
Pois é... Nos EUA, Donald Trump já mudou o tom. “A situação é muito ruim”, admitiu, evitando seu tom em geral hiperbólico. “A cada dia, cada um de nós tem um papel crítico para interromper a transmissão do vírus. O presidente americano pediu que ninguém reúna grupos de mais de dez e sugeriu, realisticamente, que os sacrifícios coletivos podem ir até julho e agosto. (CNN)
Não por aqui. Estimulado por Bolsonaro, um grupo decidiu manter um encontro conservador marcado para Belo Horizonte, que começa na sexta-feira. O evento reunirá 500 autodenominados conservadores de todo o país. (Folha)
O ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou um pacote emergencial de R$ 147,3 bilhões para encarar o impacto da pandemia. Em grande parte, não há dinheiro novo, mas antecipações e atrasos. A segunda parcela do décimo terceiro de aposentados e pensionistas será adiantada para maio — R$ 23 bi — e, o abono salarial, para junho — R$ 12,8 bi. Haverá reforço do Bolsa Família, e valores não sacados de PIS/Pasep serão transferidos para o FGTS de forma que possam ser sacados. O governo vai se abster da cobrança de alguns tributos. Vai adiar o pagamento do FGTS pelas empresas por três meses (R$ 30 bi), do naco da União do Simples Nacional (R$ 22,2 bi), reduzirá pela metade as contribuições para o sistema S pelo mesmo período. Guedes atacou o Congresso, se queixando de a privatização da Eletrobrás não ter sido ainda autorizada. (Valor)
Então... Nos EUA, o Fed anunciou a recompra de US$ 700 bilhões em títulos, dinheiro que entra em circulação na economia imediatamente.
Dólar fechou pela primeira vez acima de R$ 5. Esse é um novo recorde histórico nominal, sem contar a inflação. A alta da moeda é pelo avanço do coronavírus e por uma expectativa de corte de juros no Brasil. O esperado é que esta semana o BC corte a taxa em 0,5%, chegando a mínima histórica de 3,75%. Ontem a Bolsa ainda teve o seu quinto circuit breaker do mês, quando as negociações são interrompidas por 30 minutos. O Ibovespa fechou em queda de 14%. Em Wall Street, o S&P 500 caiu 12%, sua maior queda desde a disseminação do vírus. As bolsas na Europa também abriram em baixa em torno de 2%. Enquanto o mercado asiático fechou estável. (Folha)
Com a volatilidade, os agentes de mercado estão começando a pedir o fechamento das bolsas até o pânico passar. A Bolsa de Filipinas se tornou a primeira a cancelar as operações. (Estadão)
Na Europa, montadoras estão fechando suas fábricas. Fiat, Renault, Peugeot, Ford e Nissan estão sofrendo com a falta de peças. (Folha)
Editorial do Estadão: “Bolsonaro, que teve contato com mais de uma dezena de infectados pelo coronavírus, deveria ter se mantido em isolamento, conforme orientação médica. Ao não fazê-lo, colocou em risco a saúde de um número indeterminado de pessoas e a sua própria — que é, por razões óbvias, uma questão de Estado. O presidente foi tão gritantemente irresponsável que custa a crer que não soubesse o que fazia. E, se sabia, o fez de caso pensado: para ele, a saúde dos brasileiros é irrelevante, bem com os impactos econômicos e sociais tremendos da quarentena a que o País começa a ser submetido para tentar frear o avanço da covid-19. A única coisa que interessa a Jair Bolsonaro é seu projeto de poder, que está acima do Brasil e de todos os brasileiros.”
Editorial da Folha: “A atitude estúpida de ir ao encontro de sua diminuta seita de extremistas neste domingo (15), em Brasília, indica que o país não contará com o chefe de Estado na condução da resposta à maior urgência humanitária em décadas. Pelo contrário, Jair Bolsonaro ameaça tornar-se obstáculo à extraordinária coordenação de esforços e recursos necessária para mitigar o impacto que o espalhamento da Covid-19 exercerá no sistema de saúde, no bem-estar de dezenas de milhões de brasileiros e na economia, duramente atingida.”
Editorial do Globo: “O tamanho da falta de sensatez de Bolsonaro, no plano pessoal, pode ser medido pelo fato de que, também no domingo, foi informada mais uma contaminação pelo coronavírus na comitiva que viajou com ele aos Estados Unidos. Seu primeiro teste foi negativo. Serão feitos outros. Por óbvio, deveria se precaver. Quanto ao aspecto político, deverá haver desdobramentos, com a finalidade de que o Planalto respeite os limites que a Carta estabelece ao Executivo.”
Cultura
A TV Globo tomou a decisão de suspender as gravações de suas novelas. Amor de Mãe, que ocupa a faixa das 21h, termina sua primeira fase neste sábado e vai sofrer uma pausa. A partir de segunda uma versão compacta de Fina Estampa, que foi ao ar em 2011, passa a ser exibida. Éramos Seis, das 18h, termina no dia 30. Não será substituída, como era o plano, por Nos Tempos do Imperador. Novo Mundo, de 2017, também em versão compacta, entra no ar. E Salve-se Quem Puder, das 19h, vai até o dia 28 quando também vai ser pausada. Totatalmente Demais, de 2015, a substitui.
A Record, por sua vez, preferiu seguir com a rotina. Amor Sem Igual, das 20h30, continua com as gravações a pleno vapor. E a equipe responsável pela trama bíblica Gênesis, com estreia marcada para abril, está no Marrocos para o registro das primeiras cenas.
As opções na televisão, para quem está em casa, são muitas. A Globoplay abriu toda sua programação infantil por 30 dias. Os seis canais Telecine, também. A operadora de TV paga Net liberou a íntegra de todos seus canais. Sky TV abriu o sinal de 70 canais ao todo; a Oi TV, para dez canais, incluindo os infantis; e, a Claro TV, também abrirá uma variedade maior de opções.
Enquanto isso... Já são 577 as salas de cinema fechadas no Brasil. Destas, mais da metade só no estado do Rio.
A feira Art Basel, que ocorre anualmente três vezes — em Basel, na Suíça, em Miami e em Hong Kong — suspendeu sua exibição asiática de 2020. Pôs, no lugar, uma exibição online.
E o MET Gala, conhecido como o maior evento de moda, foi adiado sem previsão para quando.
Cotidiano Digital
O TikTok limitou visualização de vídeos de pessoas consideradas pouco atraentes e pobres. Segundo as regras de moderação vazadas e obtidas pelo Intercept, até ano passado, vídeos de pessoas com muitas rugas ou em favelas, por exemplo, eram censurados. O documento chega a instruir os moderadores a observar paredes descascadas e decorações de mau gosto nas casas dos usuários para derrubar suas audiências. A explicação da empresa é de que conteúdos “pouco atrativos” diminuiria a taxa de retenção de novos usuários.