Câmara aprova Estado de Calamidade Pública

A Câmara dos Deputados aprovou ontem o projeto do governo que decreta estado de calamidade pública no Brasil. Vai, agora, ao Senado — que talvez faça uma votação remota online, segunda ou terça-feira, sem a presença dos senadores no plenário. O decreto tem vigência até dezembro e, em essência, abre espaço para que a União ultrapasse a meta fiscal prevista pelo orçamento do ano, gastando mais em medidas que visam lidar com a crise aberta pelo novo coronavírus. Na Câmara, o apoio foi de todos os partidos. “Vamos oferecer não um cheque em branco”, alertou o deputado comunista Orlando Silva, relator do decreto, “mas um cheque especial que o governo usará com responsabilidade.” (G1)

Aliás... O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, recebeu teste positivo para o vírus. (Estadão)

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Pela segunda noite seguida, panelaços ocorreram contra o governo do presidente Jair Bolsonaro, desta vez em um número maior de cidades: houve registros em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Recife, Curitiba, Florianópolis, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre, João Pessoa, Juiz de Fora, Niterói, além de outras. Estava inicialmente marcado para 20h30, mas desde 19h já se ouvia gritos de ‘Fora Bolsonaro’ e o bater de panelas. Em lugares, o público trouxe música ao protesto — da canção do anti-fascismo italiano Bella Ciao à canção Apesar de Você, que nos anos 1970 Chico Buarque escreveu pensando no ditador Emílio Médici. Convocados pelo presidente, seus apoiadores responderam com outro panelaço — mais tímido —, a partir das 21h. Pelo menos na capital paulista, a mobilização dos eleitores de Bolsonaro foi abafada por protestos contra. (Poder 360)

No condomínio do presidente, na Barra da Tijuca, zona Oeste do Rio, imperou o silêncio em ambos os momentos. (Folha)

No Congresso, a convocação por Bolsonaro de panelas a favor foi comparada com o gesto do ex-presidente Fernando Collor, que também pediu às ruas contra-manifestações. O gesto do presidente foi lido pelos parlamentares como mostra de que sentiu o baque. “Foi um erro muito grave”, comentou com o Painel o deputado Alessandro Molon. “Repetiu o erro do Collor. O vento mudou de lado.” (Folha)

Em plena crise, o deputado Eduardo Bolsonaro criou outra — diplomática. Em um post no Twitter, afirmou que uma tentativa de acobertamento pela ditadura chinesa é responsável pela crise do coronavírus. O embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, rebateu duro em uma sequência de tuítes. “As suas palavras são um insulto maléfico contra a China e o povo chinês”, afirmou o diplomata. “Tal atitude flagrante anti-China não condiz com o seu estatuto como deputado federal, nem a sua qualidade como uma figura pública especial.” Noutro post, seguiu. “A parte chinesa repudia veementemente as suas palavras, e exige que as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês.” E ainda: “Vão ferir a relação amistosa China-Brasil. Precisa assumir todas as suas consequências.” O filho Zero Três se compreende como um especialista em política internacional e desejou ser embaixador em Washington. Não teve apoio suficiente no Senado. A China é o maior importador de produtos brasileiros. (Twitter)

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, se manifestou. “Em nome da Câmara dos Deputados, peço desculpas à China e ao embaixador Wanming Yang pelas palavras irrefletidas do Deputado Eduardo Bolsonaro.” (Twitter)

O BC cortou a taxa de juros em 0,5% para 3,75%, renovando a mínima histórica. O dia foi de tensão no mercado. Antes do anúncio, a bolsa caiu mais de 10%, levando à sexta paralisação nos negócios desde o início da crise do coronavírus — o mesmo número de suspensões registradas durante a crise de 2008. O dólar chegou a bater pela primeira vez em R$ 5,25, mas fechou em R$ 5,19, novo recorde. O Ibovespa fechou em queda de 10,35%, voltando ao nível de agosto de 2017.

Os mercados sinalizam um temor de uma recessão global. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) alarmou que até 24,7 milhões de trabalhadores podem perder o emprego. No Brasil, só no setor de bares e restaurantes, o corte deve ser de três milhões de vagas em 40 dias. Para manter empregos, o governo vai editar MP que permite empresas cortarem pela metade jornada e salários de trabalhadores, mantendo pelo menos um salário mínimo. (Folha)

Todos os setores estão sendo afetados. A General Motors, Mercedes-Benz e Volkswagen vão fechar suas fábricas no país, colocando cerca de 50 mil em férias coletivas. (Estadão)

Wilson Witzel, governador do Rio: “Nós governadores estamos pedindo a suspensão do pagamento, por 12 meses, de todas as obrigações dos estados com o governo federal. Não há capacidade de investimento, e a economia está parada. Precisamos de ajuda para resolvermos o problema daqueles que estão ou ficarão desempregados e vão precisar comprar comida. Hoje existem R$ 200 bilhões em fundos constitucionais e mais de R$ 300 bilhões em reservas cambiais. Precisamos usar esses recursos senão várias empresas vão quebrar. Não estamos falando de uma crise de 30 dias. Estamos falando de uma crise de seis meses. Os EUA estão colocando US$ 1 trilhão na economia. Quanto o governo federal vai colocar?” (Globo)

Viver

De máscaras, ministros e o presidente Jair Bolsonaro participaram de coletiva sobre conjunto de ações contra a pandemia. As proteções foram usadas pelo contato que tiveram com a comitiva presidencial em sua viagem americana — pelo menos 16 pessoas, incluindo o ministro Augusto Heleno, receberam testes positivos para o novo vírus. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que medidas de maior restrição podem ser necessárias para conter a epidemia no País. Ressaltou, no entanto, que não adianta fechar tudo como alguns governadores têm defendido. “É como se fosse o Monte Everest. Se formos subir todos, não conseguiremos. Estamos no pé desse monte, e seu tamanho depende do comportamento de pessoas”, afirmou. Mandetta ainda disse ser contra a recomendação da OMS de fazer testes em todas as pessoas com sintomas. Para ele, é um desperdício de recursos.

Mesmo assim, a Anvisa deu aval para oito kits de testes rápidos que dão resultado em até 10 minutos. Os testes usam amostras de sangue ou são feitos com um tipo de cotonete que retira amostra das vias respiratórias dos pacientes. A previsão é que sejam entregues em até três semanas.

Na coletiva, Paulo Guedes anunciou pacote de R$ 15 bilhões para trabalhadores informais. A ideia é oferecer um benefício no valor de R$ 200, por três meses. O valor, no entanto, está abaixo dos R$ 250 que seriam necessários para não caírem na pobreza. O Brasil enfrenta barreiras sociais e econômicas para conseguir conter o vírus. Ficar de quarentena é um obstáculo para quase metade da população informal do país que depende do dinheiro no final do mês. Lavar as mãos frequentemente, usar álcool em gel e manter distância de outros também são orientações difíceis de serem cumpridas para quem vive em comunidades com problemas de saneamento.

Aliás. Esse pacote do governo só vai ser liberado se o pedido de calamidade pública enviado ao Congresso for aprovado.

Míriam Leitão: “O governo está atrasado e sendo insuficiente no combate ao efeito econômico da crise na saúde. A direção está certa, mas a qualidade da resposta tanto na pandemia quanto na economia depende de rapidez. Há milhões de informais fora do Cadastro Único e eles precisarão estar na rede de proteção social. O programa anunciado pelo ministro Paulo Guedes ontem pegará só uma parte. É bom que se tenha tomado essa decisão e que seja feita uma previsão de R$ 5 bilhões por mês, durante três meses. As parcelas serão de R$ 200. Será necessário mais e por mais tempo. A queda da taxa de juros também foi vista como fraca diante do tamanho do problema. O decreto de calamidade foi até o dia 31 de dezembro porque este ano já está perdido. A economia entrará em recessão e o déficit do primário será muito maior do que a meta. Aquela coletiva ontem era para, enfim, o governo brasileiro falar a mesma linguagem que o país e mostrar que tinha entendido a gravidade da crise. E de novo foi uma comunicação errada. O presidente estava mais preocupado com suas implicâncias e passou mensagens dúbias sobre a gravidade do vírus. Mesmo com máscara, e dois ministros infectados, ele insistia em usar a palavra ‘histeria’ para a preocupação com os acontecimentos. Isso sem falar na compulsiva distorção dos fatos recentes. Bolsonaro parece que, a cada dia, esquece o que fez e disse no dia anterior.” (Globo)

Enquanto isso… o país segue suspendendo serviços. O MEC regulamentou aulas à distância para universidades. Segundo a Unesco, mais da metade dos alunos do mundo estão sem aulas.

As viagens internacionais via ônibus foram canceladas por dois meses e a fronteira com a Venezuela foi fechada. Mas passageiros vindos da Europa e EUA pelos aeroportos de Brasília e Guarulhos ainda não têm passado por nenhuma triagem, segundo a Anvisa.

A Europa ultrapassou a China no número de mortes por coronavírus: há 3.445 mortes registradas frente as 3.237 reportadas no país asiático. Pelo mundo, já são mais de 200 mil casos e 8 mil mortes. A doença ainda está em fase de expansão entre os europeus, a uma taxa mais rápida do que a chinesa. Alguns países têm tomado medidas drásticas. A Alemanha vai transformar hotéis em hospitais provisórios.

Já os EUA vão usar navios para realizar atendimentos. Trump quer invocar a Lei de Produção de Defesa para obrigar empresas a aumentarem a produção de máscaras e equipamentos hospitalares. “O coronavírus é o maior desafio desde a Segunda Guerra”, disse.

Mas há uma notícia boa: pela primeira vez, nesta quarta, a China não registrou nenhum caso novo de contágio comunitário pelo vírus. Há 34 novos infectados, mas todos chegaram de outros países. Foi um longo caminho desde o registro do primeiro paciente, ainda em novembro. Mas, lá, está começando o fim.

Algumas páginas nas redes sociais para quem quer dicas de receitas e de limpeza para a quarentena. Chefs como Rita Lobo e Massimo Bottura são alguns que ainda têm feito aulas de culinária ao vivo pelo Instagram.

Cultura

Por 24 horas, a escritora Patrícia Melo e a editora Leya liberaram gratuitamente, para download, o e-book de seu último romance, Mulheres Empilhadas. Contribuição para as longas horas em casa.

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Para dar a notícia, o CEO da Playboy Enterprises, Ben Kohn, escolheu a forma de uma carta aberta, que publicou ontem no Medium, uma plataforma online para artigos longos. A edição da revista americana que está saindo agora das gráficas será a última de 2020. E, possivelmente, da história. A crise do coronavírus acelerou uma decisão que já estava a caminho. A Playboy segue online.

O Glastonbury foi cancelado. O festival inglês era um dos únicos que vinha mantendo suas datas para a comemoração dos seus 50 anos este ano. “Temos esperança de que a situação no Reino Unido vai melhorar enormemente até o fim de junho. Mas, mesmo que isso aconteça, não podemos passar os próximos três meses com milhares de funcionários ajudando a construir a infraestrutura do festival”, explicaram.

Mas... Um festival online para aproveitar em casa. O line up inclui Sandy, Projota e Léo Santana. Começa amanhã e vai até dia 29.

Cotidiano Digital

O Facebook e o Google querem dados de rastreamento dos usuários para conter a pandemia. As empresas estão negociando com o governo americano para um projeto de coleta de informações sobre a localização dos smartphones e o uso anônimo para mapear a propagação da doença e prever necessidades médicas urgentes. O tema é sensível. As big techs estão no centro do debate sobre privacidade. E o próprio governo americano já passou por escândalos, como quando foi descoberto em 2011 que a Agência de Segurança Nacional coletava registros telefônicos sem permissão.

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