Prezadas leitoras, caros leitores —

É fácil a gente se perder, em meio ao isolamento social, mas amanhã é feriado. Primeiro de Maio. Como de praxe, o Meio não vai circular. Voltamos sábado aos assinantes premium.

Na Edição de Sábado trataremos de patrimonialismo — um nome pomposo que quer dizer algo muito simples. É quando o governante não sabe distinguir o que é público e o que é privado. O Brasil não é o único país no qual se confunde público e privado o tempo todo, e ele sempre esteve em nossa história. Quando o presidente Jair Bolsonaro insiste tanto na importância de indicar amigos a cargos, quando manda a Polícia Federal investigar ou deixar de investigar por sua conveniência pessoal, é isto que ele está fazendo. Em geral, homens públicos disfarçam. Ele, não.

A TV e a rádio públicas, nos EUA, fazem celebrações anuais que chamam de pledge drive. É o rito de pedir doações para manutenção do serviço. Faz parte de sua cultura. Neste nosso período de quarentena, é o que estamos fazendo aqui no Meio. Tempo de vacas magras e publicidade tímida. Tempo, também, no qual informação é fundamental.

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— Os editores.

Supremo impede nomeação de amigo de Bolsonaro para PF

O delegado Alexandre Ramagem não assumiu ontem o comando da Polícia Federal. Sua nomeação foi suspensa por decisão liminar pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. “Em tese, apresenta-se viável a ocorrência de desvio de finalidade do ato de nomeação do Diretor da Polícia Federal”, escreveu o ministro, “em inobservância aos princípios constitucionais de impessoalidade, da moralidade e do interesse público.” Moraes respondia a uma ação movida pelo PDT. Quando Sergio Moro se demitiu acusando o presidente Jair Bolsonaro de querer substituir o comando da PF por alguém com quem tivesse contato pessoal, foi aberto um inquérito para averiguar possível interferência direta em investigações. Segundo a decisão, o risco de um amigo pessoal do presidente assumir o cargo era o de causar dano irreparável. O Planalto pode recorrer ao pleno do Supremo. (Poder 360)

Inicialmente, a Advocacia-Geral da União havia decidido não recorrer da liminar. Em casos de suspensão similares que ocorreram em governos passados, o governo nunca ganhou. Uma edição extra do Diário Oficial da União, ontem, suspendeu a indicação. Bolsonaro, porém, depois mudou de ideia. “Eu quero o Ramagem lá”, disse a jornalistas. “É uma ingerência, né?” Ele considera que o Supremo se meteu onde não devia. “Vamos fazer tudo para o Ramagem. Se não for, vai chegar a hora dele, e vamos colocar outra pessoa.” Quando questionado sobre o fato de a AGU não ter recorrido, o presidente foi sucinto. “Quem manda sou eu.” (G1)

Gerson Camarotti: “A decisão do ministro Alexandre de Moraes que suspendeu a nomeação do delegado Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal tem respaldo da maioria dos ministros da Corte. Apesar de ser uma decisão liminar (provisória), deverá ser mantida se for analisada no plenário, quando se manifestarão os demais ministros. Segundo integrante do Supremo, a Corte está dando um recado claro de que há limites na ação do Executivo. Em paralelo, integrantes da Polícia Federal avaliam que, se já havia uma blindagem da corporação contra ações políticas nas investigações, a decisão do Supremo fortalece a instituição.” (G1)

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Irritado, Bolsonaro voltou a atacar ontem os governadores. “Não vão botar no meu colo uma conta que não é minha”, disse, referindo-se à escalada de mortes em meio à pandemia. A imprensa tem que perguntar para o Doria por que mais pessoas estão perdendo a vida em São Paulo. Não adianta a imprensa querer colocar na minha conta essas questões que não cabe a mim. O Supremo decidiu que quem decide essas questões (sobre restrição) são governadores e prefeitos.” (Jornal de Brasília)

O governador paulista João Doria respondeu à tarde. “Posso enumerar, presidente Jair Bolsonaro, algumas atitudes que o senhor já deveria ter tomado como presidente da República e não adotou. Esta é a resposta do ‘fazer o quê?’: é fazer aquilo que o senhor não fez, começando por respeitar os brasileiros, os brasileiros que o elegeram presidente da República e os que não o elegeram também. Que o senhor respeite o luto de mais de cinco mil famílias que perderam seus entes queridos e que, hoje, estão sepultados e, em praticamente todos, nenhum parente pôde acompanhar o sepultamento. O senhor disse que o Brasil estava vivendo uma ‘gripezinha’, um ‘resfriadozinho’. Teve a coragem de reafirmar isso várias vezes. E agora, presidente?” (Poder 360)

Pois é... Os governadores vão responder às críticas com uma carta formal. O mineiro Romeu Zema, que vem se alinhando com o presidente, ficará de fora, afirma Lauro Jardim. (Globo)

O Jornal Nacional levou ao ar, ontem, uma forte reportagem com linha do tempo, destacando cada um dos momentos em que o presidente Jair Bolsonaro desdenhou da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Assista. (G1)

Ainda sobrou pra OMS... Bolsonaro publicou, depois apagou, um post afirmando que a Organização Mundial de Saúde incentiva masturbação e homossexualidade infantil. (UOL)

Meio em Vídeo: A polarização da política brasileira, que por tantos anos dominou as redes sociais, acabou. Surgiu um centro forte e orgânico. A observação é do entrevistado desta semana, Marco Aurelio Ruediger, do DAPP-FGV. Um dos maiores especialistas no encontro entre redes e política online. Assista.

Viver

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem 78.162 casos do novo coronavírus. Foram 449 mortes registradas a mais nas últimas 24 horas. No total, 5466.

O número de mortes pela Covid-19 pode chegar a quase dez mil até o próximo domingo, segundo previsão do Imperial College de Londres divulgada ontem. O relatório semanal da instituição sobre a situação da pandemia revela que, neste momento, o país tem a pior situação do mundo com o número de casos “em provável crescimento”.

E segue a subnotificação. A prefeitura de São Paulo divulgou ontem que o número de mortes em casa na capital paulista cresceu 30% na comparação com o mês de março, quando começou a pandemia de coronavírus no município. Em todo o mês de março foram 483 pessoas, mesmo valor médio registrado em fevereiro, quando a cidade teve 453 mortes em casa, e janeiro, quando o número de falecimentos foi de 445 óbitos. Os números de abril não contemplam o mês fechado e, portanto, o total de mortos pode superar os 632 registrados até o dia 25.

As UTIs disponíveis nas cidades da Grande São Paulo que as possuem já estão chegando à lotação máxima e das 39 cidades que compõem a região metropolitana, 12 não têm nenhum leito de UTI adulta, tanto na rede pública quanto no sistema privado.

Em Manaus, famílias enterraram seus entes em valas comuns no cemitério de Tarumã, onde novas covas estão sendo cavadas para vítimas suspeitas e confirmadas. A capital do Amazonas enfrenta um colapso do sistema funerário.

Pois é... caso a curva de casos de Covid-19 siga sem controle e a população fure o isolamento, o Rio de Janeiro avalia 'lockdown'. Segundo Edmar Santos, secretário estadual de saúde, "a única forma de não ter uma curva ainda mais ascendente seria uma forma mais radical de isolamento social. Não vai minimizar o que vai acontecer agora, mas vai evitar danos piores pra frente".

Dados oficiais não dão conta da tragédia. Segundo levantamento do Observatório Covid-19 BR feito para o Uol, com dados do Ministério da Saúde, o Brasil possui, no pior cenário, a cada morte confirmada pelo governo, outras três. E algumas histórias de vítimas. De jovem a idoso; de saudável a doente.

Como você está lidando? É a pergunta da médica Ana Cláudia Quintana Arantes, geriatra e especialista em cuidados paliativos. E da maioria de nós. Especialista em cuidar de quem está muito próximo ao final da vida, a médica prevê que a humanidade passará por três tipos de luto. Além do luto real, das perdas objetivas, ela acrescenta o luto antecipatório —a percepção de que a morte está chegando. “Haverá arrependimento coletivo também”, aposta. O artigo completo, assinado pela jornalista Marina Rossi. (El País).

Falando nisso, o que dizem os especialistas sobre relações amorosas durante o isolamento? Para casais que moram juntos, o ideal é que, se possível, cada um busque um espaço só seu na residência, seja para trabalhar ou mesmo para ficar sozinho. Já os casais que moram separados devem reforçar os laços através da tecnologia. Com o avanço da quarentena, quem mora sozinho tem sentido cada vez mais momentos de ansiedade, frustração e solidão. Especialistas afirmam que é natural e que é bom sempre ter em mente que o isolamento "vai passar".

Pra terminar...que dia mesmo é hoje? Que horas são? Perguntas comuns durante a pandemia de coronavírus, um reflexo de como nossa noção de tempo parece se misturar. Não há dias úteis ou fins de semana. Existe apenas ontem, hoje e amanhã. Junto com esses sentimentos de desorientação, pode parecer que estamos levando mais tempo para concluir as tarefas, como se nosso cérebro estivesse trabalhando mais devagar. Especialistas dizem que tudo tem a ver com a forma como a pandemia está afetando nossa saúde cognitiva - ou seja, nossa capacidade de pensar, aprender e lembrar com clareza. Segundo Elissa Epel, professora de psiquiatria da Universidade da Califórnia, em São Francisco, estamos mais multitarefa. Muitas pessoas estão se equilibrando em múltiplas responsabilidades, como educar os filhos em casa e cuidar de um membro idoso da família enquanto mantêm um emprego em período integral ou enfrentam o estresse de uma demissão. Mas o que podemos fazer? Psiquiatras e psicólogos consultados pela CNN recomendam o que todos já sabem: ir para a cama e acordar à mesma hora todos os dias, fazer pausas frequentes, se exercitar, comer de forma saudável e limitar notícias por períodos. No mais, é se conformar que nem todo mundo sabe, por exemplo, que amanhã é feriado... ou que dia é hoje?!

Fotos. A polícia de Nova York dispersou uma multidão de judeus ultraortodoxos que participaram do funeral de um rabino, desafiando o isolamento social no Estado. Mais imagens. (Reuters)

Hora de Panelinha no Meio. Muita gente troca o jantar por sanduíche, e tudo bem. Para deixar a refeição saudável, o segredo é substituir os ultraprocessados, como pão de fôrma e frios comerciais, por comida de verdade. Parece um trabalhão, mas não é. Rita Lobo selecionou receitas e reuniu um punhado de dicas no seu blog. E no Panelinha tem um especial com mais receitas, inclusive de sanduíches completos, para inspirar combinações. Tem ainda vídeo em que a Rita mostra o preparo de um sanduíche com o que tem em casa. Sem desculpa.

Cultura

Seria o isolamento?! De acordo com números da Alpha Data, o provedor de análise de dados do Rolling Stone Charts, algumas músicas estão ‘voltando’. Enquanto clássicos como Stand by Me, de Ben E. King, e With a Little Help From My Friends, dos Beatles, não saíram do topo, outras avançaram. A Rolling Stone examinou quais faixas tiveram os maiores picos. Destaque para o Joy Division, com Isolation que registrou aumento de 112% no streaming desde de 6 de março, a primeira semana do isolamento social. A lista.

Cotidiano Digital

Com o distanciamento social, o dinheiro físico tem perdido espaço. Mais da metade dos consumidores americanos disseram que agora usam alguma forma de pagamento digital, de acordo com a Mastercard. A tendência vem em parte por causa de preocupações com a saúde, para evitar tocar em maquininhas, por exemplo. Mas pode ter vindo para ficar: 56% disse que continuará utilizando pós-pandemia. Esses tipos de pagamentos poderiam solucionar problemas que países têm enfrentando com a crise. No Brasil, por exemplo, ao menos 5,7 milhões de informais não têm internet, segundo o IBGE, e 46 milhões são “invisíveis” para o governo, sem conta bancária e registros de identificação. Uma realidade que se tornou uma barreira para a distribuição do auxílio emergencial. Nos EUA, já existem algumas propostas para solucionar esse problema. O senador democrata Sherrod Brown propôs que o banco central americano crie contas e carteiras digitais para todos os cidadãos.

Por aqui, o cartão de crédito foi o método mais utilizado nos últimos três meses, seguido do papel moeda, segundo pesquisa da Rapyd. O vice-presidente da fintech, no entanto, acredita que o período atual tende a mudar o cenário: deve crescer o uso de meios digitais entre os brasileiros, acompanhando o avanço das compras online e a entrega em domicílio.

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