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No último sábado tratamos da longa história de racismo nos Estados Unidos. Neste próximo traremos o foco para o Brasil: também a nossa terra trouxe da África homens e mulheres cativos, os maltratou, torturou, explorou, matou. Também o Brasil, após abolir a escravatura, não cuidou para que houvesse integração à sociedade. Mais de um século depois, também aqui a polícia mata homens negros jovens numa proporção muito maior do que faz com quaisquer outros.

No Brasil, aliás, é pior. 600 mil escravos foram levados para os EUA. 3,6 milhões para cá. Negros formam quase 13% da população americana. No Brasil, são mais de metade. O racismo atinge, dificulta a vida e ameaça mais de metade de nós. E esta é a história que contaremos.

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— Os editores

SP reabre comércio em momento de alta da pandemia

Enquanto São Paulo autoriza reabertura do comércio a partir desta quarta e o Rio de Janeiro flexibiliza regras, o número de mortes aumenta no Brasil. Ao todo, são 38.497 óbitos e 742.084 pessoas doentes desde 26 de fevereiro, quando a doença foi diagnosticada pela primeira vez no país. Cidades do interior que reabriram as atividades econômicas nos últimos dias ou semanas registraram um aumento súbito de novas infecções e mortes causadas pelo novo coronavírus. É a maior circulação de pessoas engrossando uma segunda leva de casos. (Folha)

O país registrou ontem 1.185 novas mortes por Covid-19 e 31.197 novos casos nas últimas 24 horas, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa. Já o portal do governo voltou a divulgar o número total de mortes. Segundo a pasta, nas últimas 24h, 1272 novos óbitos foram registrados; 38.406 acumulados. Mesmo número do Conass e mesmo número da Johns Hopkins. (G1)

O número de mortes acumuladas levantado pelo consórcio é diferente do registrado pelo ministério. Isso porque estados confirmam 91 mortes por Covid-19 a mais que Saúde. Pela conta dos estados, 31.197 pessoas tiveram o diagnóstico oficializado nas últimas 24 horas, o que eleva o índice total para 742.084. Já o governo federal confirma 739.503 casos no total, 2.581 a menos que o levantamento do consórcio indica. (UOL)

Então...comércio paulistano poderá abrir as portas entre 11h e 15h. As imobiliárias vão abrir 4 horas por dia, desde que o horário de funcionamento (abertura e fechamento) não ocorra durante o pico de movimentação. A expectativa da Prefeitura é de que hoje seja assinado o termo de compromisso com shoppings para que possam reabrir a partir de amanhã. Serão cinco setores reabertos: escritórios, concessionárias, imobiliárias e o comércio em geral, incluindo as lojas de rua. (G1)

A capital da maior cidade do país se aproxima dos 5.000 óbitos. Para o professor de medicina Domingos Alves, responsável pelo Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medina da USP de Ribeirão Preto, o passo dado em direção ao relaxamento da quarentena acendeu um alerta vermelho. “Estamos mandando a população para o abatedouro”. Mas o governo de SP, tanto estadual como municipal, sustenta que as taxas de ocupação dos leitos de UTI estão caindo. Nesta terça-feira, a taxa era de 66% no Estado e de 67% na capital —onde as autoridades afirmam que o sistema de atendimento já não corre risco de colapso como entre abril e maio. (El País)

E a curva do Brasil segue em alta. Gráfico (Financial Times)

Pois é...Após a reabertura de economia feita por governos estaduais e municipais, o Brasil teve o mais baixo índice de isolamento social desde o período de antes da decretação de quarentenas para combater a epidemia de coronavírus. É o que mostram números da consultoria In Loco que usa dados de celulares para monitorar a movimentação de pessoas.(UOL)

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Enquanto isso, na Colômbia... Daniel Quintero, prefeito de Medellín, começou a preparar a segunda maior cidade do país no final de janeiro. Muitos colombianos o chamavam de paranóico. Como fevereiro passou sem casos no país, ele se perguntou se poderiam estar certos. Quando o vírus chegou em março, a província de Antioquia, da qual Medellín é capital, foi trancada - cinco dias antes da maior parte do país. Quintero agiu mais rápido do que qualquer outro prefeito. Sua biografia pode ajudar a explicar a abordagem ao Covid-19. Antes de ser político, ele vendeu bonsai e sobremesas caseiras nas ruas, tornou-se engenheiro e foi vice-ministro de informação e tecnologia de um governo colombiano anterior. (The Economist)

Nos EUA, integrantes da Guarda Nacional testaram positivo para o coronavírus após serem enviados para conter protestos recentes em Washington. (Estadão)

Com mais de sete milhões de infectados e 404 mil mortes em todo o mundo, a Covid-19 está piorando, segundo Tedros Adhanom, chefe da Organização Mundial de Saúde. Adhanom disse que “embora a situação da Europa esteja melhorando”, a alta de casos em países como o Brasil, México e Peru fez com que a situação global piorasse. (O Globo)

Aliás, a OMS voltou a se explicar. Afirma que assintomáticos também transmitem Covid-19. O esclarecimento foi feito um dia após a líder técnica do programa de emergência da agência, Maria Van Kerkhove, dar uma declaração confusa. (DW)

E um estudo da Universidade de Harvard apontou que o novo coronavírus pode estar circulando em Wuhan, foco inicial da doença na China, desde agosto de 2019. A China nega. (Reuters)

Investigado desde o ano passado, o bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, foi preso, na manhã de hoje. Ele é apontado como cúmplice do sargento da reserva da Polícia Militar Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes. De acordo com os investigadores, o bombeiro ajudou, logo após a prisão do sargento, a descartar as armas escondidas por Lessa.

Centenas lotaram a igreja Fountain of Praise em Houston, no Texas, para a cerimônia que antecedeu o enterro do corpo de George Floyd, ex-segurança negro morto por policial. A sobrinha de Floyd, Brooke Williams, disse em sua homenagem que atraiu aplausos: “Eu consigo respirar. E enquanto eu respirar, a Justiça será feita.” Fotos. (Reuters)

Política

O ministro Alexandre de Moraes pediu vistas e, por isto, o Tribunal Superior Eleitoral adiou o julgamento de duas ações que podem levar à cassação da chapa Bolsonaro-Mourão. Os dois inquéritos vão determinar se o então candidato teve relação com hackers que invadiram a página Mulheres Unidas contra Bolsonaro. Não há indícios. (Estadão)

Porém... O Ministério Público Eleitoral recomendou ao TSE que inclua informações do inquérito de fake news que corre no Supremo em suas análises. Não atinge as duas ações atuais, mas pode tocar em outras. E as provas já levantadas podem dar substância às acusações de que houve manipulação do processo eleitoral. (Poder 360)

Merval Pereira: “O julgamento da chapa Bolsonaro-Mourão, ontem no TSE, foi o primeiro dos muitos que vão acontecer e deve ser arquivado, porque a questão é frágil. O único que vai dar discussão é o de impulsionamento de mensagens no WattsApp, mentirosas ou favoráveis a Bolsonaro. Impulsionamento na campanha é ilegal — não se pode mandar a mesma mensagem para milhares pessoas porque é caro e caracteriza abuso de poder econômico. Além disso, quando impulsiona mensagens mentirosas, outro candidato está sendo prejudicado. O julgamento deve acontecer ainda este ano, o que, no caso de impugnação da chapa, obrigaria a uma nova eleição direta para presidente. O TSE pode também impugnar apenas a candidatura de Bolsonaro, e nesse caso assumiria o restante do mandato o vice Hamilton Mourão. Mas é preciso levar em conta que é muito difícil anular uma chapa presidencial eleita por 60 milhões de votos. A não ser que o excesso de provas torne inevitável a decisão.” (Globo)

Vera Magalhães: “Jair Bolsonaro conduziu uma reunião do conselho de ministros nesta terça no Palácio da Alvorada em que quase parecia um estadista. No domingo anterior, não fez sua tradicional aparição cercado de apoiadores na rampa do Palácio do Planalto. Depois de esticar a corda ao máximo, ao determinar que o Ministério da Saúde revisasse e escamoteasse os dados pandemia, recuou diante de mais uma invertida do Supremo, numa semana plena de potenciais encrencas para o governo no Judiciário. Todos esses recuos são do conhecido comportamento ciclotímico de Bolsonaro, mas agora foram ditados por avisos muito claros que auxiliares fizeram ao presidente: o apagão de dados da Covid-19 era o que de mais cristalino em termos de crime de responsabilidade o ‘capitão’ cometeu até aqui, e não passaria incólume só com notas de repúdio. Somando a gravidade da pedalada com as vidas e o fato de que as ruas começam a encher, Bolsonaro viu a cara do impeachment, e, pela primeira vez, ela estava viva.” (Estadão)

Meio em vídeo: Sérgio Abranches, nosso entrevistado desta semana, é o criador do modelo do presidencialismo de coalizão. Não se compreende a política brasileira sem perceber que, para governar, presidentes precisam compor maiorias no Congresso. Foi por não tê-lo feito que Collor e Dilma caíram. E esta crise põe hoje, na mira, o governo de Jair Bolsonaro. Assista.

A Assembleia do Rio votará hoje a decisão de se avalia ou não abertura de processo de impeachment do governador Wilson Witzel, conta Guilherme Amado. A decisão poderia ser tomada pelo presidente da Casa, mas ele preferiu abrir. (Época)

Cotidiano Digital

A IBM está fora do mercado de reconhecimento facial. Em carta ao Congresso americano, Arvind Krishna, presidente-executivo, diz que não irá mais utilizar tecnologia que contribua com vigilância de massa, perfilamento racial e violação de direitos humanos. Ao Verge, a companhia ainda revelou ter cessado o desenvolvimento e a pesquisa com a tecnologia. A decisão da IBM vem em meio aos protestos antirracistas contra a morte de George Floyd. Nos últimos anos, pesquisadores e organizações têm denunciado o viés racial e de gênero dos sistemas de reconhecimento facial usados por autoridades policiais. A IBM não chegou a lucrar muito com os seus negócios de reconhecimento facial. Mas, mesmo assim, a decisão é relevante já que o governo americano é um dos clientes da big tech.

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E a Sony vai apresentar o PlayStation 5 e os seus novos jogos amanhã às 17h, horário de Brasília. O lançamento do novo console está previsto para o final do ano.

Cultura

Muitos fotógrafos da vida selvagem, como Daisy Gilardini, Marina Cano, Marsel van Oosten ou Thomas D Mangelsen, criam imagens que frequentemente revelam as qualidades "humanas" dos animais: vínculos familiares, diversão, humor ou momentos delicados. “Com os gorilas compartilhando 98,4% de nossa composição genética, é mais um caso de fotografar 'alguém' do que 'alguma coisa'”. É como Nelis Wolmarans descreve seu trabalho com os grandes símios. Veja.

O cinema e a literatura exercem uma forte influência na maneira como as pessoas enxergam os animais, com versões muitas vezes distantes da realidade. Tubarões não são assassinos vingativos. Cobras não são "más". E a maioria dos pandas, não importa o que dizem os filmes, não são mestres em Kung Fu. “Transformamos os pandas em personagens engraçados e caricatos”, diz a fotojornalista da National Geographic, Ami Vitale, que fotografou os ursos por três anos na província chinesa de Sichuan. “São animais muito esquivos, quietos e solitários”. Ela fala sobre a experiência num TED.

O trabalho fotográfico de Nick Brandt também está mudando a maneira como as pessoas vêem o mundo natural. Seu último projeto em grande escala, This Empty World, mostrou animais selvagens (incluindo elefantes, hienas e rinocerontes) em ambientes humanos perturbadores. Cada imagem foi criada a partir de dois momentos capturados com semanas de diferença no sul do Quênia. Conheça o trabalho de fotógrafos que estão mudando a maneira como vemos os animais. (BBC Culture)

Banksy, artista de rua e uma das figuras mais influentes de Bristol, propôs uma nova apresentação da estátua de Edward Colston, que foi derrubada por algumas pessoas num acerto de contas com o passado imperialista do Reino Unido. “Eis uma ideia que serve tanto àqueles que sentem falta da estátua de Colston quanto àqueles que não sentem”, disse Banksy no Instagram. “Nós o erguemos da água, colocamos de volta no pedestal, amarramos cabos ao redor de seu pescoço e encomendamos estátuas de bronze de tamanho real de manifestantes no ato de puxá-lo para baixo. Todos felizes. Um dia famoso relembrado”.

O artista já havia reagido ao acontecimento que desencadeou os protestos globais: o assassinato do negro norte-americano George Floyd. Ele publicou uma obra de arte que retrata a bandeira dos Estados Unidos sendo incendiada por uma vela que forma parte de um memorial a uma figura negra anônima em silhueta.

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