Prezadas leitoras, caros leitores —

Há uma nova guerra fria em curso, e desta vez os rivais são EUA e China. Os Estados Unidos estão batendo de frente. Atacam empresas chinesas de tecnologia como Huawei e, mais recentemente, Tik Tok. Esta semana, a Casa Branca pediu que o consulado chinês em Houston fosse encerrado. Como na Guerra Fria que dominou a segunda metade do século 20, este é um conflito que tem, no centro, uma disputa de modelos.

Há semelhanças e há diferenças. Assim como a União Soviética dos anos 1950 e 60, a China tem se mostrado capaz de disputar em avanços tecnológicos. Mas os soviéticos nunca conseguiram brigar economicamente. Os chineses podem ultrapassar os americanos em PIB. E não têm nada de inocentes. Seu regime está avançando sobre Hong Kong, por exemplo, violando o acordo de garantia da manutenção de uma democracia na ilha. Assim como aperta a opressão sobre minorias étnicas.

Que regime é esse — ainda dá para chamá-lo de comunista? Como funciona o governo chinês e como encara seu confronto com os americanos? Como busca se impor politicamente, em sua região e no mundo? Este é o tema do Meio deste sábado, que todos os assinantes premium recebem. Falaremos, até, sobre a arte contemporânea do país.

Neste período de pandemia, vocês sabem, a publicidade se foi. São as assinaturas que nos sustentam diariamente — e precisamos muito de sua colaboração. Ora. São dez reais. É pouco e para nós, tanto.

Assine.

— Os editores

Bolsonaro se afasta do olavismo para evitar novas derrotas

Preocupado com as eleições que se aproximam, o presidente Jair Bolsonaro está ampliando sua relação com o Centrão e, no mesmo movimento, se afastando também no Congresso Nacional dos aliados de primeira ordem. Os radicais se mostraram ineficazes para conter a aprovação do Fundeb, esta semana, como era desejo do Planalto. E duas votações consideradas estratégicas se aproximam. Uma, a de renovação do fundo emergencial, que vem segurando a popularidade do presidente na casa dos 30%. Outra, a reforma tributária, cujos termos o governo deseja ditar. A primeira afastada foi a vice-líder Bia Kicis, ligada ao movimento Escola sem Partido. No Palácio, são três os nomes que Bolsonaro vem ouvindo mais: os ministros Paulo Guedes, da Economia, Fernando Azevedo, da Defesa, e Fábio Faria das Comunicações. (Folha)

Outro nome que deve ser trocado é o Major Vitor Hugo, substituído por Ricardo Barros, ex-ministro de Michel Temer, que pertence ao PP. Bolsonaro, porém, procura para seu atual líder na Câmara um cargo que lhe conceda algum prestígio. Vitor Hugo não se entende com o secretário de Governo Eduardo Ramos. A substituição de Bia Kicis foi mais fácil. Quando percebeu que perderia a briga, o Planalto havia tentado vender a derrota no Fundeb como vitória. Ao manter o posicionamento dos sete deputados mais ligados ao governo pelo não, ela deixou clara a goleada que o Palácio tomou. (Estadão)

Aliás... Um dos que trabalha para evitar a substituição de Vitor Hugo é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. O atual líder é inepto, Barros é excelente articulador. A troca, calcula Maia, fortaleceria o Planalto. (Antagonista)

Tales Faria: “Sejamos honestos: quem se manteve ao lado do presidente Jair Bolsonaro quando apareceram as primeiras dissensões no ninho do governo? Foram os bolsonaristas de raiz. Quando o ex-ministro Gustavo Bebianno e os deputados Alexandre Frota e Joice Hasselmann romperam com o governo — ou foram rompidos, sei lá — quem ficou ao lado do presidente? Foram os bolsonaristas de raiz. Aquele grupo mais radical que tem como gurus o Olavo de Carvalho e o filho Zero Dois, Carlos Bolsonaro. Há quem diga que eles foram o motivo do rompimento, mas o fato é que ficaram com as bandeiras do bolsonarismo e os outros saíram. Os deputados Daniel Silveira, Bia Kicis e Otoni de Paula eram unha e carne com Joice, Frota & Cia. Mas escolheram ficar com Bolsonaro. A verdade é que eles não entenderam uma coisa: o Bolsonaro de hoje já não está com o Bolsonaro de ontem. Depois da prisão de Fabrício Queiroz na casa de Frederico Wassef, até então advogado do presidente, o mandatário do Planalto resolveu que tem que se separar do Jair pré-eleitoral. Bolsonaro se agarrou a quem pode, de fato, lhe ajudar a se manter no poder: os generais do Planalto, o Centrão e a parcela do povão com quem ele conseguir preservar o contato direto. E Bolsonaro descobriu, com a pandemia, que bandeiras do passado, como a crítica ao Bolsa Família, não servem para aproximar o povão do seu governo. Aliás, é bom o ministro Paulo Guedes ficar esperto. Bolsonaro nunca foi um liberal. Tornou-se assim por causa dos ventos liberais do momento eleitoral passado. Mas como já dizia Dorival Caymmi, se sabe que os ventos mudam, aí o tempo virou.” (UOL)

Meio em vídeo: Depois duma surra na Câmara, o governo troca líder e vice-líder bolsonaristas raiz por gente do Centrão. Na mesma toada, os olavistas vão ficando no segundo escalão e o governo Bolsonaro, quem diria, ganha um presidente silencioso e fica estável. A história já se repete. Já aconteceu antes. Assista.

PUBLICIDADE

O governo chinês ordenou que seja fechado o consulado americano na cidade de Chengdu — é uma retaliação ao cerre de seu consulado em Houston. A tensão está aumentando entre os dois países. “Temos de admitir uma verdade dura”, disse ontem o secretário de Estado Mike Pompeo. “Se queremos ter um século 21 livre, e não o século chinês com o qual sonha Xi Jinping, o velho paradigma de lida cega com a China não trará isso. Precisamos encerrar esta fase e não retornar a ela.” O consulado em Chengdu era o mais próximo do Tibete e da província de Xinjiang, locais onde há crises de violação de direitos humanos. Sua perda afeta diretamente a capacidade dos EUA se informarem. (New York Times)

Guerra Fria 2.0

Tony de Marco

 
Aguia-e-Panda

Viver

O Brasil registrou 1.317 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas, chegando ao total de 84.207 óbitos. Com isso, a média móvel de novas mortes no Brasil nos últimos 7 dias foi de 1.055 óbitos, uma variação de 2% em relação aos dados registrados em 14 dias. Sobre os infectados, já são 2.289.951 brasileiros com o novo coronavírus desde o começo da pandemia, 58.080 desses confirmados no último dia.

O isolamento social em maio pode ter poupado 118 mil delas no Brasil. É o que indica um estudo inédito realizado por professores da área de estatísticas econômicas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Não foi publicado em revistas científicas e, assim, não foi revisado. Tomando por base dados de como a pandemia se comportou no país, taxa de isolamento e diferenças regionais, os professores estimaram que a cada 1% de aumento no isolamento social havia uma redução na taxa de crescimento do vírus de até 37%.

E o óbvio. A desigualdade tem afetado o controle de doenças crônicas e agravado o quadro de pacientes do SUS com coronavírus. Pacientes com Covid-19 internados em hospitais privados têm taxa de cura 50% maior do que aqueles de instituições públicas.

Enquanto muitos querem acreditar em passaporte para imunidade, outros que enfrentaram o vírus encaram um novo e difícil desafio: a recuperação. Muitos têm dificuldades para superar uma série de sintomas residuais preocupantes, além do que algumas sequelas poderão persistir durante meses, anos ou mesmo pelo resto de suas vidas. São dificuldades que podem ser físicas, neurológicas, cognitivas e emocionais.

David Putrino, diretor de inovação do processo de reabilitação do Mount Sinai Health System de Nova York, falou sobre o assunto ao New York Times. Outro fator que pode prolongar e prejudicar a recuperação é um fenômeno chamado delírio hospitalar, que pode envolver alucinações e confusão mental.

Pois é... o governo Bolsonaro tem estoque parado de 4 milhões de comprimidos de cloroquina. Técnicos que fazem parte de um comitê de emergência sobre o novo coronavírus alertaram, em reuniões no Ministério da Saúde, sobre o risco. No início de julho, o governo federal tinha uma reserva de 4.019.500 comprimidos do medicamento—pouco abaixo do total que já havia sido distribuído, de 4.374.000 até aquele momento.

Cultura

O cantor e compositor Sérgio Ricardo, que atuou em movimentos que redefiniram a cultura brasileira, como a bossa nova e o cinema novo, morreu ontem, aos 88 anos. Ele estava internado no Hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio, desde abril, quando contraiu Covid-19, e teve uma insuficiência cardíaca. O enterro está previsto para a tarde de hoje e será restrita à família devido à pandemia do novo coronavírus.

Sérgio Ricardo deixou uma obra musical imensa, caso da trilha sonora de Deus e o Diabo na Terra do Sol, uma obra-prima. No documentário Uma Noite em 67, um destaque é o retrospecto da vaia, uma das marcas daquela edição do evento dedicado a revelar talentos na música popular brasileira. Inflamado tal qual torcida organizada, o público recepcionou vários artistas de forma pouco amistosa. Caetano Veloso dobrou-o com sorrisos e, ao final, verteu em aplausos os gritos coléricos. Sérgio Ricardo, não. Irritado com a reação do público antes de se apresentar, o músico destruiu seu violão e jogou os restos dele na plateia.

Renato Terra, jornalista: “Sérgio Ricardo era solidariedade infinita. Sua obra na música, no cinema, no teatro, na pintura tem origem nesse olhar verdadeiramente voltado para as outras pessoas.”

Chico Buarque: “Quando apareceu a bossa nova, eu reneguei o que havia antes. E o Sérgio Ricardo além de fazer parte do movimento, fazia aquelas músicas um pouco modernistas. Músicas sem rima. Eu adorava aquilo. Além disso, ele foi um dos primeiros a começar a fazer músicas de movimento social como Zelão. Pedro Pedreiro tem um pouquinho a ver com isso.”

Assista o show O Cinema na Música de Sérgio Ricardo no YouTube.

E um trecho de Mundo Velho Sem Porteira.

“Ê mundo velho. Êta mundo sem porteira. Vou me levando. No retão da lembranceira. Minha dor é como a lenha. Numa caldeira. E a saudade um trem de carga. Sem passageira”.

PUBLICIDADE

O diretor Ridley Scott retomou a parceria com Kevin MacDonald e conta com a ajuda de internautas para lançar o filme coletivo A Vida em um Dia 2020. A premissa é a mesma usada dez anos atrás em Um Dia em Setembro, documentário premiado com o Oscar. O filme está disponível no YouTube e acumula mais de 16 milhões de visualizações desde então.

A ideia atual: no dia 25 de julho de 2020, filme seu dia, sua vida, com a câmera que tiver e envie para a equipe do filme, que vai selecionar, editar e montar o novo longa. O projeto integra a seção de conteúdo do YouTube Originals.

E chegou o fim de semana. Na programação do Sesc, hoje tem show de Sombrinha e amanhã de Maria Rita. Em teatro, Rodrigo Bolzan interpreta hoje o Projeto B, da Cia. Brasileira de Teatro. No domingo, Thiago Lacerda realiza o monólogo Quem Está Aí?. Nos 90 anos de Elza Soares, a própria realiza, no sábado, às 21h, a live especial Elza in Jazz no YouTube. No domingo, Paula e Jaques Morelenbaum participam de live do canal Arte 1. Amanhã, às, 11h, o Inhotim transmite uma gravação do papo entre o escritor Valter Hugo Mãe e a artista Adriana Varejão. O cantor e compositor Mateus Aleluia realiza no domingo uma live para lançar o disco Olorum. Na segunda, a pianista Helen Gallo dá uma palestra para a Cultura Artística com base na nova gravação de Teodor Currentzis da Sinfonia nº 5 de Beethoven. Para mais dicas culturais, assine a newsletter da Bravo.

Cotidiano Digital

Steve Wozniak está processando o YouTube por permitir que seu nome seja usado em fraude de bitcoin. De acordo com a ação aberta na Califórnia, vídeos postados na plataforma alegam que Wozniak retornará o dobro da quantia se enviarem a moeda digital para um endereço. Outros líderes de tecnologia também são vítimas do esquema, incluindo Elon Musk e Bill Gates. No documento, Wozniak diz que o YouTube está ciente desses golpes, mas ainda assim não retirou os vídeos.

Enquanto isso, o Twitter segue descobrindo mais detalhes sobre o golpe de bitcoin feito por hackers na plataforma. Pelo menos 36 das 130 contas invadidas tiveram suas mensagens privadas acessadas, incluindo as de um político holandês de extrema direita.

O Nubank abriu o bolso mais uma vez e comprou a empresa de tecnologia Cognitect, referência no mercado de engenharia de software. Essa é a segunda aquisição da fintech, que em janeiro, comprou a Plataformatec —uma consultoria especializada em desenvolvimento e gerenciamento de produtos digitais.

E o New York Times deu mais um passo em conteúdo de áudio. O jornal comprou a empresa de podcast Serial Productions e fez parceria com a de rádio This American Life.

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.