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A morte da juíza Ruth Bader Ginsburg lançou os EUA, a cinco semanas da eleição presidencial, para a beira de uma crise política gravíssima. Com sua magra maioria de três senadores, o Partido Republicano corre para aprovar uma ultra-conservadora para a vaga num tempo jamais visto. Apenas quatro anos atrás, o mesmo Senado republicano se recusou a avaliar uma indicação do presidente Barack Obama nove meses antes do pleito. Argumentava que em ano eleitoral era preciso ouvir antes os votos sobre quem deveria ser o presidente a indicar candidato.

Não é improvável, pelo discurso contra votos feitos pelo correio de Donald Trump, que haja questionamento judicial sobre o resultado da eleição. Como aconteceu em 2000. Se aprovada ainda em novembro a substituta de RBG, ela pode ser decisiva no resultado final.

Se ocorrer a nomeação de uma substituta a toque de caixa e o Partido Democrata sair do pleito com maioria no Senado, o que é possível segundo as pesquisas, ameaçam tornar Porto Rico e Washginton DC estados, ampliando o número de assentos potencialmente democratas no Senado. Ameaçam, também, ampliar o número de cadeiras na Suprema Corte para mudar a proporção de conservadores e progressistas.

Ou seja: os EUA chegaram ao ponto em que começam a derreter institucionalmente, a polarização os levou ao vale tudo político num jogo que lembra as frágeis democracias latino-americanas. É esta rápida deterioração democrática, impensável até pouco tempo atrás, que explicaremos neste sábado. Não é o único tema. Lembraremos, também, dos 30 anos de Goodfellas, o icônico filme de mafiosos dirigido por Martin Scorsese.

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— Os editores.

Bolsonaro aprovado por 40%

De acordo com pesquisa realizada pelo Ibope e encomendada pela Confederação Nacional da Indústria, o presidente Jair Bolsonaro é avaliado como ótimo ou bom por 40% dos entrevistados. 29% consideram regular e outros 29% ruim ou péssimo. Desde o início da pandemia, este é o primeiro levantamento realizado face a face, que dá à pesquisa maior garantia de qualidade. Como foi realizada de domicílio em domicílio, inclui aqueles que seguem mantendo a quarentena. 51% aprovam o governo na segurança, 50% na forma de governar. 49% consideram Bolsonaro superior a Michel Temer, como presidente. O governo é reprovado por 57% no trato do Meio Ambiente. 55% consideram a gestão ruim em Saúde e, 52%, em Educação. A margem de erro é de dois pontos percentuais. (G1)

Merval Pereira: “A alta da popularidade do presidente traz um paradoxo para o governo. Ao mesmo tempo que revigora sua força política, obriga-o a obter a aprovação para o novo programa social que entraria em vigor no início do ano que vem, quando termina a vigência do auxílio emergencial da pandemia. A pesquisa deixa claro que foi esse auxílio que alavancou a popularidade de Bolsonaro. Uma das maiores altas na popularidade do presidente foi registrada entre os com renda familiar de até um salário mínimo. A pesquisa do Ibope mostra que, apesar de 51% dos pesquisados aprovarem a maneira de governar de Bolsonaro, também 51% não têm confiança no presidente. Entre aqueles que recebem até 1 salário mínimo, essa desconfiança é maior que a média, de 55%, da mesma maneira que entre os de mais alta renda, cujo grau de desconfiança chega a 62%. Essa atitude mostra uma postura cautelosa dos mais pobres diante do novo benfeitor, que terá que confirmar sua magnanimidade com fatos concretos.” (Globo)

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Uma entrevista do ministro da Educação, Milton Ribeiro, agitou o Congresso Nacional. O senador Fabiano Contarato vai ao Supremo pedir que Ribeiro seja investigado por homofobia e o deputado David Miranda acionará o Ministério Público. O ministro falava sobre a questão do bullying nas escolas. “Acho que o adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo (sic) tem um contexto familiar muito próximo”, afirmou. “São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe.” Ribeiro também se esquivou de responsabilidade pela desigualdade de tratamento dos alunos que não têm internet. “Esse não é um problema do MEC, é um problema do Brasil”, disse. “Não tem como, vai fazer o quê? É a iniciativa de cada um, de cada escola. Não foi um problema criado por nós. Essa é uma responsabilidade de Estados e municípios, que poderiam verificar e ter as iniciativas para tentar minimizar esse tipo de problema.” (Estadão)

A Advocacia Geral da União suspendeu uma portaria que promovia em massa 606 procuradores federais ao topo da carreira. Todos seriam contemplados com salários acima de R$ 27 mil. Em outras carreiras da AGU, assim como no caso dos procuradores da República, é preciso que surjam vagas para a promoção. Mas a regra não vale para os procuradores federais. O Congresso apresentou requerimento pedindo que a AGU explicasse a repentina promoção. (Poder 360)

O presidente americano Donald Trump se recusou, pela segunda vez, a garantir que deixará pacificamente o governo caso perca as eleições. “Temos de ter certeza de que a eleição foi honesta e não garanto que será”, afirmou a um grupo de jornalistas. O líder do governo no Senado, Mitch McConnell, tentou contemporizar. “Haverá uma transição ordeira como tem ocorrido a cada quatro anos desde 1792”, tuitou. A presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, não foi tão diplomática. “O senhor não está na Coreia do Norte”, ela disse. “Não está na Turquia, não está na Rússia, senhor presidente. O senhor está nos Estados Unidos da América. Esta é uma democracia, então por que o senhor não tenta honrar seu juramento à Constituição?” (New York Times)

Viver

O Brasil registrou 818 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas, chegando ao total de 139.883 óbitos desde o começo da pandemia. Com isso, a média móvel de novas mortes no Brasil nos últimos 7 dias foi de 693 óbitos, uma variação de -1% em relação aos dados registrados em 14 dias. No total, 8 estados apresentaram alta de mortes: MG, RJ, AM, AP, RR, BA, PI e RN.

Pois é... pessoas que se mantêm em quarentena rígida ainda existem, seja por serem do grupo de risco ou para tentarem proteger pessoas próximas. “Não sei como vou conseguir voltar a viver de maneira normal, diante de tanta decepção com o coletivo”, disse a estudante de psicologia Brenda Cavalcante. Outros desabafos.

E o governo federal informou na noite de ontem que o presidente Jair Bolsonaro editou duas medidas provisórias para garantir a participação do Brasil na Covax Facility, programa coordenado pela Organização Mundial da Saúde para impulsionar o desenvolvimento e garantir a compra de vacinas contra a Covid-19.

Uma descoberta pode ajudar a explicar o mistério que cerca o coronavírus: por que ele deixa alguns pacientes doentes ou morrendo na UTI, enquanto outros são pouco afetados ou assintomáticos. Em artigo publicado na revista Science, o consórcio internacional Covid Human Genetic Effort descreve que uma proporção significativa de pacientes que desenvolvem formas graves de Covid-19 tem mutações genéticas que prejudicam a capacidade de combater o vírus. O consórcio sequenciou todos ou parte dos genomas de 659 pacientes com Covid-19, bem como os de 534 pessoas com infecção assintomática ou leve, e descobriu que os pacientes gravemente enfermos eram mais propensos a carregar um tipo de mutação deixando-os incapazes de produzir uma molécula imunológica chamada interferon tipo 1. No segundo estudo, envolvendo cerca de 1.000 pacientes graves com Covid-19, eles descobriram que pelo menos um em cada 10 pacientes carregava anticorpos contra seu próprio interferon, que bloqueiam sua ação. Nenhum desses auto-anticorpos foi encontrado em pacientes assintomáticos ou leves. Essas descobertas foram descritas por um cientista como “surpreendentes”.

Ainda sobre a pandemia, países não deveriam aliviar as medidas de restrição até que atendam cinco critérios - e muitas nações não estão nem perto disso, de acordo com uma nova análise publicada ontem no Lancet. Os pesquisadores avaliaram nove países que começaram a afrouxar as restrições - Hong Kong, Japão, Nova Zelândia, Cingapura, Coréia do Sul, Alemanha, Noruega, Espanha e Reino Unido. Eles descobriram que muitos governos não cumpriram os critérios necessários para evitar novas ondas de infecção, como visto na Espanha, Alemanha e Reino Unido. “A evidência é clara. Se estamos tendo um ressurgimento de doenças, de número de casos, então eles abriram muito cedo, é uma espécie de axiomático“, disse Martin McKee, professor de saúde pública na London School of Hygiene à CNN.

Sobre os incêndios no Pantanal, a suspeita dos policiais é que tenham sido provocados para transformar vegetação em pastagem. Entre janeiro e agosto de 2020, incêndios que saíram de controle devastaram mais de 12% do Pantanal,

Mas o que pensam três pessoas que atuam na região? A AFP ouviu um produtor agropecuário, um representante de uma ONG e uma acadêmica especialista em áreas alagáveis. “O homem pantaneiro aprendeu a usar o fogo, seja para renovar o solo, ou para iniciar um novo plantio para o gado. O que precisamos entender é como fazer esse manejo corretamente”, defende Leonardo Gomes, diretor de relações institucionais do Instituto SOS Pantanal. Catia Nunes da Cunha, pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas, concorda que não é possível culpar um grupo específico pelos incêndios. Para João Gaiva, agrônomo e pecuarista em Mato Grosso, os incêndios acontecem porque “engessaram o homem pantaneiro: não deixam que ele limpe a terra”.

Por falar em fogo, é uma época crítica do ano no Emerald Triangle, um canto de três condados do norte da Califórnia que, segundo algumas estimativas, é a maior região produtora de cannabis dos Estados Unidos. O incêndio ameaça o enclave de cultivo de cannabis de Post Mountain-Trinity Pines, que abriga até 40 fazendas legais, mas muitos dos habitantes locais se recusam a evacuar a área.

Cultura

Programação para o fim de semana. No sábado, o choro ocupa as redes do Sesc Santana com show do Regional Imperial com participação do violonista João Lyra. No mesmo dia, os filhos de Baden Powell, Marcel e Philippe, conversam sobre o legado do violonista nos perfis do projeto 20 Anos sem Baden e Casa Natura Musical no Instagram. João Bosco, Amaro Freitas e Hamilton de Holanda são alguns dos convidados do MIA, festival de música instrumental do interior paulista que será transmitido pelas Oficinas Culturais no domingo. Até domingo, o Festival Bananada transmite via Twitch o #BanaLive, com shows de Rakta, Badsista e Edgar, entre outros. No sábado, às 20h, Elza Soares e Djonga participam da live de encerramento do Festival IMuNe.

Para assistir com as crianças, uma boa opção são os 15 curtas de animação apresentados pelo festival Takorama, de forma gratuita, como Vagamundo e O Macaco Homem. No sábado, a diretora do documentário Terra das Donzelas, Susanna Lira, conversa com a historiadora Paula Franco sobre a resistência feminina à ditadura brasileira em live do MIS. Para comemorar 25 anos, o Instituto Estação das Letras promove, ao longo do sábado, uma série de palestras e encontros sobre literatura, com nomes como José Miguel Wisnik e Antonio Cicero. Programe-se. Para mais dicas culturais, assine a newsletter da Bravo.

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Um retrato do século 15 do mestre renascentista Sandro Botticelli será leiloado na Sotheby's Masters Week em Nova York, marcada para janeiro de 2021. Young Man Holding a Roundel (entre o final da década de 1470 e o início da década de 1480) pode bater mais de US$ 80 milhões, tornando-se assim a obra mais cara do artista já vendida. O trabalho é notável por ser um dos últimos grandes retratos renascentistas em mãos privadas, embora tenha sido exposto publicamente em alguns museus.

Mudando de assunto, o filme One Night in Miami, exibido no Festival de Toronto no último fim de semana, relata o lendário encontro de Muhammad Ali com Malcolm X, Sam Cooke e Jim Brown na mesma noite que venceu o Sonny Liston, em 1964, para se tornar campeão mundial dos pesos pesados. Forte candidato ao Oscar.

Cotidiano Digital

A Amazon entrou no mundo de games em nuvem. Seu novo streaming Luna vai estar disponível inicialmente para PC, Mac, Fire TV, iPhone e iPad, com uma versão Android planejada para depois. Por enquanto, só nos EUA a partir de US$ 5,99, ainda sem previsão para um lançamento internacional. A nova plataforma promete acirrar a disputa no mercado de jogos em nuvem que já tem o Google Stadia e o xCloud da Microsoft. O grande diferencial do Luna é a integração com o Twitch, plataforma de streaming da Amazon: os jogadores verão streams do Twitch no Luna, e pelo Twitch poderão jogar no Luna. Assim como o Google Stadia, o Luna ainda terá um controle próprio Wi-Fi que é conectado com a assistente Alexa e promete latências mais baixas.

A Amazon também anunciou outros lançamentos que vão estar disponíveis no Brasil. Uma nova geração de dispositivos inteligentes da linha Echo e da Fire TV.

A briga dos aplicativos contra a Apple e o Google ganhou mais um capítulo. Foi criado o grupo Coalition for App Fairness (algo como Coalizão pela Justiça nos Apps) para lutar contra as políticas consideradas prejudiciais da App Store e do Google Play. Há 13 membros iniciais que incluem Spotify, Basecamp, Epic Games e Match Group, que têm aplicativos como Fortnite, Tinder e Hinge. No centro do debate está a cobrança da comissão de 30% para todas as transações dentro dos marketplaces. Outras dez mudanças pedidas incluem um processo mais transparente para obter a aprovação de aplicativos e o direito de se comunicar diretamente com seus usuários. A ideia é que todos os envolvidos juntem recursos e atuem em conjunto contra as big techs. O grupo pode ajudar a Epic Games, que foi banida da App Store e está em um processo na Justiça contra a Apple.

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