Prezadas leitoras, caros leitores —

O Partido Republicano derreteu. E cindiu.

Um dos dois pilares do sistema bipartidário americano, senadores republicanos fizeram, após o cerco seguido de invasão do prédio do Congresso, discursos que contradiziam de forma profunda um ao outro. Enquanto um pré-candidato à presidência como Ted Cruz falava de “legítimas suspeitas de fraude”, o líder da maioria, Mitch McConnell, acusava o risco à democracia na ideia de questionar a eleição.
E, ao mesmo tempo, os democratas saíam com a dupla maioria de Câmara e Senado, além da Casa Branca.

Donald Trump é apenas um dos personagens da história de como o partido se transformou ao ponto de se tornar irreconhecível e, enfim, cindir. Há pelo menos outros três personagens fundamentais: o candidato à presidência em 1964, Barry Goldwater, o ex-presidente Ronald Reagan e o ex-presidente da Câmara no governo Bill Clinton, Newt Gingrich. De formas diferentes, cada um colocou o partido que um dia foi o símbolo abolicionista nos trilhos que culminaram com um presidente como Trump.

E esta história, a de como o Partido Republicano chegou neste ponto, que o Meio contará na edição deste sábado.

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Após 200 mil mortos, governo compra vacina

O Brasil ultrapassou ontem a marca de 200 mil mortos pela Covid-19. Não são simplesmente números ou estatísticas. São 200 mil vidas interrompidas por uma pandemia que jamais foi tratada com a devida seriedade pelas autoridades máximas do governo. Nenhuma outra doença matou tantas pessoas em um ano, como mostra gráfico elaborado pelo G1. E as perspectivas não dão margem para qualquer otimismo. Com os 1.120 óbitos de ontem, a média móvel dos últimos sete dias (que incluíram um feriado e um fim de semana) ficou em 741, o que indica estabilidade – e isso não é uma boa notícia, pois as mortes estão estáveis num patamar elevado. Num pronunciamento, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, admitiu apenas “erros de comunicação” e atacou o alvo de sempre. O vírus? Não, a imprensa.

Na mesma ocasião, Pazuello anunciou um acordo com o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo, para a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês SinoVac, a serem entregues em quatro lotes até o final de abril. Há ainda a possibilidade da aquisição de mais 54 milhões de doses. É, a rigor, o mesmo acordo anunciado pelo próprio Pazuello em outubro e desautorizado no dia seguinte pelo presidente Jair Bolsonaro.

Por falar em CoronaVac, o governo de São Paulo anunciou oficialmente o resultado dos testes da vacina no Brasil. Ela tem 78% de eficácia em geral e 100% nos casos mais graves. A taxa é considerada boa por especialistas, uma vez que a Anvisa exige eficácia de 50%. O Butantan promete entregar ainda hoje o pedido de liberação emergencial do imunizante.

E a MP da Vacina, editada pelo Executivo na quarta-feira, pode anular o plano do governador paulista, João Doria (PSDB), começar o próprio plano de vacinação no dia 25. O texto determina que o início da imunização deve ser simultâneo em todo o país. (Antagonista)

Empresas privadas poderão comprar vacinas, mas a demanda do SUS terá prioridade, anunciou Pazuello durante live com Bolsonaro. Segundo este, “se uma empresa quiser comprar lá fora a vacina e vender aqui, quem tiver recurso vai tomar vacina lá”.

Mas, para o presidente, “menos da metade” da população vai se imunizar. Bolsonaro disse ter chegado a essa conclusão fazendo uma pesquisa “na praia, em tudo que é lugar”. O “resultado” não bate com a de uma pesquisa de verdade feita pelo PoderData: 75% dos entrevistados pretendem se vacinar, contra 16% que não querem o imunizante. Mesmo entre os que se declaram apoiadores do presidente, 65% querem a vacinação.

Enquanto a vacina não chega, a situação segue crítica em todo o país. Manaus realizou na quarta-feira 110 enterros, se aproximando do recorde de 140 em abril. Em Belém, quase 100% dos leitos de UTI para Covid estão ocupados. Desde setembro o Rio de Janeiro lidera o ranking de mortes entre as cidades do país, com uma média de dois óbitos por hora.

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A aumento nos casos de Covid-19 em todo o país levou entidades estudantis a pedirem um novo adiamento do Enem, marcado para o próximo dia 17. O MEC descarta mudar a data e diz que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pela aplicação das provas, estabeleceu regras para reduzir a aglomeração nos locais dos testes e adotou medidas contra a doença. Já a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) dizem que não foram divulgadas medidas “suficientemente eficazes” e não descartam ir à Justiça para adiar a aplicação do exame. (Folha)

O Tribunal de Justiça de São Paulo afastou da Vara de Família Nossa Senhora do Ó o juiz auxiliar Rodrigo de Azevedo Costa. Ele provocou repúdio com a divulgação de vídeos em que desdenhava da Lei Maria da Penha, dizendo “ninguém agride ninguém de graça”, e foi contra o estabelecimento de medidas protetivas para mulheres em risco. A conduta de Costa será analisada pela Corregedoria do TJ paulista, e ele foi transferido permanentemente para uma Vara de Fazenda, também como auxiliar.

Política

Donald Trump apostou alto ao insuflar seus apoiadores, culminando com a invasão do Congresso na quarta-feira. Perdeu e agora tenta salvar o que resta de seu mandato. Dois sinais são claros. O primeiro foi um vídeo com o tardio reconhecimento da derrota para Joe Biden e o anúncio de uma “transição ordeira” para o próximo governo. O outro, a discussão com aliados e advogados sobre a possibilidade de conceder um perdão presidencial preventivo a si mesmo, de modo a não poder ser processado no futuro.

A preocupação dele não é infundada. Michael Sherwin procurador-geral federal em Washington disse que sua equipe está investigando todos os envolvidos, não apenas os que invadiram o prédio. Indagado se isso incluía o presidente, Sherwin enfatizou “todos” e disse: “Se as provas indicarem crime, eles serão processados”. Enquanto isso, mais e mais líderes democratas e vários republicanos pedem que o vice-presidente Mike Pence invoque a 25ª Emenda da Constituição e destitua Trump, mas pessoas ligadas a Pence dizem que ele é contra a ideia. (New York Times)

E o Wall Street Journal, um dos bastiões do conservadorismo nos EUA, pediu em editorial que Trump renuncie.

A leniência com (ou mesmo o apoio aos) atos de vandalismo foi demais até para colaboradores leais do presidente americano. Duas secretárias (ministras), Elaine Chao (Transportes) e Betsy DeVos (Educação), pediram demissão, juntamente com pelo menos dez outros funcionários de alto escalão. Quem também anunciou a saída foi Steven Sund, chefe de polícia do Congresso, duramente criticado pela resposta tímida ao ataque da turba. (CNN)

E Trump foi banido do Facebook e do Instagram, pelo menos até Biden assumir. “Acreditamos que os riscos de permitir que o presidente continue a usar nosso serviço durante este período são simplesmente grandes demais”, disse Mark Zuckerberg. A plataforma - junto com outras redes sociais, como Twitter e Snapchat - já havia bloqueado por 24 horas as contas do presidente americano após ele incitar a invasão ao Capitólio na quarta. O Twitter ainda ameaçou Trump de ser banido definitivamente se não parar de violar regras da plataforma com suas falsas alegações de que a eleição foi fraudada, mas já liberou novamente seu perfil. O Twitch já foi mais direto e desativou a conta de Trump.

Poderosos ou anônimos, alguns apoiadores de Trump começaram a sofrer consequências dos acontecimentos de quarta-feira. A editora Simon & Schuster cancelou o contrato para lançamento do livro The Tyranny of Big Tech, do senador republicano pelo Missouri Josh Hawley, previsto para junho. Além de questionar o resultado do voto popular, Hawley é acusado de ter incitado a turba que invadiu o Capitólio. Já um dos invasores foi fotografado dentro do Congresso com o crachá de uma empresa de marketing direto sediada em Maryland. Ele ontem foi demitido por justa causa.

Paul Krugman: “Então podemos finalmente usar a palavra com F? Não se deve utilizar levianamente o termo ‘fascista’. Não significa ‘gente de quem eu discordo’ nem é um sinônimo para ‘maus atores políticos’. Donald Trump é, de fato, um fascista – um autoritário disposto a usar de violência para atingir seus objetivos racistas e nacionalistas. Assim como muitos de seus apoiadores. Se você ainda tinha dúvidas, o ataque ao Congresso deve tê-las desfeito. E se a História nos ensina algo sobre como lidar com fascistas, é que o apaziguamento é inútil. Ceder a fascistas não os apazigua, apenas os encoraja a avançar mais.” (New York Times)

Meio em vídeo. Se aquilo aconteceu na mais antiga democracia do mundo, uma das mais estáveis do mundo, nos Estados Unidos, então, pode acontecer em qualquer lugar. Pode acontecer aqui. Porque quando uma turba invade o Congresso incitada pelo presidente, é a própria democracia que está ameaçada. E, neste momento, nossos deputados e senadores estão decidindo se suas Casas serão presididas por um nome deles — ou um daquele que está no Planalto. Nesta edição extra do Ponto de Partida, Pedro Doria faz uma análise da invasão dos manifestantes pró-Trump ao Capitólio, o Congresso dos Estados Unidos. Veja no Youtube.

Ao comentar os atos de vandalismo em Washington, o presidente Jair Bolsonaro fez uma ameaça nada velada à democracia. “Aqui no Brasil, se tivermos o voto eletrônico em 22, vai ser a mesma coisa. A fraude existe, a imprensa vai falar ‘sem provas’, mas a fraude existe”, disse ele a apoiadores na porta do Palácio do Planalto. Mais uma vez sem apresentar qualquer prova, ele afirmou ter havido fraude nas últimas eleições americanas e até no pleito que o elegeu, em 2018.

Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, reagiu, dizendo que Bolsonaro supera os “delírios e devaneios” de Donald Trump. No Twitter, o deputado disse que a “frase do presidente Bolsonaro é um ataque direto e gravíssimo ao TSE e seus juízes” e que “os partidos políticos deveriam acionar a Justiça para que o presidente se explique”.

Já o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, afirmou que o tribunal lida com “fatos e provas”. Em nota, ele disse que provas de eventuais fraudes devem ser “apresentadas por vias próprias” para serem examinadas pela corte “com toda a seriedade”. Apesar de repetir a acusações de fraudes em eleições brasileiras em função da urna eletrônica, Bolsonaro jamais apresentou alguma evidência delas.

Quem também relacionou as cenas de vandalismo em Washington à situação política brasileira foi o ministro do STF Edison Fachin, que comandará o TSE em 2022. Para ele, os acontecimentos nos EUA devem “colocar em alerta” a democracia brasileira.

Com o início em dezembro do processo de impeachment, o governador afastado do Rio, Wilson Witzel, deveria ter seu salário reduzido em um terço. Além do corte não ter sido feito, ele acaba de receber um aumento de 11%, beneficiado pelo reajuste que o governador em exercício, Cláudio Castro, concedeu a si mesmo e a seus secretários. A defesa de Witzel disse que ele devolverá o terço do salário recebido indevidamente, mas não comentou o aumento.

Cultura

Morreu ontem no Recife, aos 89 anos, o cantor Genival Lacerda, um dos ícones do forró. Ele estava internado desde o fim de novembro com Covid-19. Paraibano de Campina Grande, ele estreou em disco em 1955, mas estourou em todo o Brasil vinte anos depois, com Severina Xique-Xique (Youtube), um forró cheio de duplos sentidos, uma de suas marcas registradas.

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A Disney+ levou um banho de água fria quando a Academia anunciou que uma de suas grandes apostas, o musical Hamilton, está desqualificado para indicações ao Oscar. Uma regra de 1997, voltada inicialmente para documentários e curtas, proíbe a participação de trabalhos que sejam “essencialmente registros de performances”. O musical é, a rigor, uma compilação de três apresentações na Broadway. Baseado (livremente) na vida de Alexander Hamilton, um dos fundadores do Estados Unidos e seu primeiro Secretário do Tesouro, o programa da Disney+ é considerado indicação certa para o Globo de Ouro e o SAG, prêmio do Sindicado dos Atores de Hollywood. (Globo)

Cotidiano Digital

Após três anos na liderança, Jeff Bezos não é mais o homem mais rico do mundo. Com a alta de 4,8% nas ações da Tesla ontem, o patrimônio de Elon Musk chegou a US$ 188,5 bilhões, o que representa US$ 1,5 bilhão a mais do que Bezos.

Por falar em Musk... O plano da SpaceX para disponibilizar internet de alta velocidade em todas as partes do globo está avançando. Já foram lançados pouco mais de 900 satélites na órbita da Terra desde 2015. E objetivo é ainda estender essa quantidade para 42 mil, mas isso depende da liberação das autoridades reguladoras. Ano passado, a empresa lançou programas de teste do mecanismo da Starlink no norte dos EUA e no Canadá que foram bem aceitos pelos usuários. (Época Negócios)

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