Prezadas leitoras, caros leitores —

Conturbada esta semana — como foi a passada e as que vêm aí prometem mais. O Alto Comando do Exército ameaça o Supremo. Um deputado pede em vídeo a surra dos ministros da Corte e, quem sabe, um novo AI-5. Na Câmara, uma parlamentar que inúmeras vezes pediu o choque entre poderes é candidata à Comissão de Constituição e Justiça. De afronta em afronta à Constituição, se deprime a democracia brasileira.

Talvez, nestes momentos, seja bom lembrar que já foi pior. Porque já foi pior. E justamente em um dos momentos que foi pior vivia, por aqui, o homem que melhor se encaixaria no papel de pai da democracia brasileira. É Ruy Barbosa.

Quando muitos diziam que o Exército substituíra o rei no papel de um Poder Moderador, logo que veio a República, ninguém se indignava mais do que Ruy. Quando um presidente militar assumiu no rastro do antecessor com a tese de que em democracia a maioria mandava — Ruy estava lá para lembrar que, não, em democracia mesmo quem perdeu tem voz. Aliás, as minorias têm voz na democracia como em nenhum outro regime. Sem nunca ter sido ministro do Supremo, foi o maior defensor que o Supremo teve em seu papel de garantidor da Constituição. Ruy via militares no governo com muito desconforto. E, ainda assim, quando mesmo passados os militares assumiram o poder os oligarcas — o Centrão do tempo —, Ruy era aquele que se recusava a fazer o jogo. Era o candidato a presidente eterno que não tinha como ganhar — porque sem o Centrão do tempo não se ganhava. Mas insistia, era candidato mesmo assim, mesmo que fosse só para mostrar que era preciso se candidatar, que era preciso falar, denunciar.

E como era popular. Pode nunca ter se elegido presidente, mas foi eleito senador em todos os pleitos aos quais concorreu. Só um outro homem teve tantos mandatos quanto Ruy — ninguém teve mais. Reunia multidões em seus comícios. Inspirava.

Os problemas que enfrentou não são assim tão distintos dos atuais.

Hoje a sua casa, a Casa de Ruy Barbosa, tem no comando uma bolsonarista feroz. Sinal dos tempos. Pois também hoje, se estivesse por aqui, Ruy reconheceria todos os discursos feitos pelos antidemocratas de hoje. Ele estaria nas ruas, nas redes, nos vídeos, falando onde pudesse ser ouvido, denunciando, pedindo democracia, brigando por ela. Porque fez assim em seu tempo.

Este é o tema da Edição de Sábado do Meio. Ruy Barbosa e a democracia.

Para inspirar.

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— Os editores.

Câmara deve manter prisão de Daniel Silveira

O que se desenhava como uma crise institucional entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Câmara dos Deputados caminha para uma solução, se não abertamente negociada, honrosa para todos – menos, claro, para o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ). A Mesa Diretora da Câmara marcou para as 17h de hoje a votação que decidirá se o parlamentar terá ou não a prisão revogada. (G1)

Silveira foi preso na noite de terça-feira por ordem do ministro do STF Alexandre Moraes, após publicar no Youtube um vídeo em que ofendia ministros do Supremo e defendia o fechamento da Corte e a volta do AI-5. Moraes entendeu que, como o vídeo estava disponível permanentemente, havia flagrante continuado de crime inafiançável, condição para se prender um parlamentar. No dia seguinte, o plenário do STF referendou a prisão por unanimidade, e a Procuradoria-Geral da República protocolou uma ação contra Silveira. (UOL)

Até mesmo aliados do deputado duvidam que a Câmara revogue a decisão unânime do Supremo. Apenas seis partidos – PSL, PSC, NOVO, Podemos, PROS e, extraoficialmente, PTB – se manifestaram contra a prisão. (Globo)

Gerson Camarotti: “Após ter ouvido que a maioria dos deputados deve votar a favor da manutenção da prisão de Silveira, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), escolheu como relator do tema o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que, como seu partido, é favorável à manutenção da prisão.” (G1)

Mais cedo, Lira se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro, de quem Silveira é apoiador ferrenho, para avisar da tendência a que a decisão do STF seja mantida. O presidente da Câmara argumentou que a derrubada da prisão poderia criar uma crise institucional que atrasaria a votação da pauta econômica. (Estadão)

Coluna do Estadão: “Qualquer que seja o desfecho do caso Daniel Silveira, Lira até agora vem dando um baile nos bolsonaristas. Ele está usando a trucada deles em cima do STF para se desvencilhar do radicalismo tóxico da turma de Jair Bolsonaro, que o apoiou na disputa com o grupo de Rodrigo Maia. Lira tem procurado, com gestos, esclarecer sempre ter sido ‘Centrão raiz’. Essa postura, porém, deve deixar mágoas: os bolsonaristas vestiram a camisa na eleição da Casa, contrariaram bandeiras e apoiadores para abraçar o Centrão.” (Estadão)

Durante o dia, o Congresso ficou em compasso de espera, em função da audiência de custódia de Silveira, marcada para o início da tarde. Havia a esperança, não a expectativa, de que a prisão fosse substituída por uma medida mais branda, mas Alexandre Moraes devolveu a bola e disse que só avaliaria uma mudança após a votação na Câmara. (Folha)

Painel: “Críticos das audiências de custódia, que só serviriam ‘para soltar bandido’, sites de direita subitamente se converteram em entusiastas do mecanismo com o caso Daniel Silveira. Lamentaram o fato de ele seguir preso, entre outros, o Brasil Sem Medo, ligado a Olavo de Carvalho, e o Crítica Nacional.” (Folha)

Após a audiência, Silveira, que é soldado licenciado da Polícia Militar do Rio, foi transferido da superintendência carioca da PF para um batalhão da PM. Durante a transferência, ele acenou para apoiadores e voltou a provocar o Supremo. “Eu vou mostrar para o Brasil quem é o STF”, disse. (Antagonista)

Silveira estava preso na PF, mas nem um pouco isolado. Agentes encontraram dois celulares na sala em que o deputado estava detido. Foi aberta uma investigação para saber como os aparelhos chegaram até ele. (UOL)

Alexandre Moraes determinou uma perícia nos dois aparelhos. (G1)

Bela Megale: “Os dois celulares escondidos foram encontrados em uma bolsa, onde o deputado guardava suas roupas. A avaliação de investigadores e também de membros do STF é que o fato pode atrapalhar o relaxamento da prisão de Silveira na próxima semana.” (Globo)

Meio em vídeo. O caso Daniel Silveira é o tema do Pedro+Cora desta semana, junto com o bloqueio do Facebook às notícias na Austrália, o pouso do robô Perseverance em Marte e mais um megavazamento de dados no Brasil, com dicas de Carlos Alberto Teixeira para se proteger na rede. Acompanhe no Youtube e no Spotify.

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Meio em vídeo. Nessa briga pelo deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), preso por atacar a democracia, há vários jogadores. O Supremo e a Câmara, os bolsonaristas e o Centrão, e até o Exército brasileiro. No meio de tudo, talvez quem saia ganhando seja a democracia. Talvez. Confira no Ponto de Partida no Youtube.

Seis dias antes de morrer de infarto, em março do ano passado, o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebiano gravou um vídeo afirmando que, em 2018, o então candidato Jair Bolsonaro o aconselhou a processar seu próprio filho Carlos, devido a ataques do Zero-Dois a integrantes da equipe de comunicação da campanha. “O moleque tem que aprender”, teria dito Bolsonaro. O depoimento de Bebiano foi tornado público pelo apresentador André Marinho, filho de Paulo Marinho, articulador da campanha do presidente. (Poder360)

Parabéns à Folha de S.Paulo, que comemora hoje, com um caderno especial, seus cem anos de circulação.

A perseverança está em Marte

Tony de Marco

 
Perseverance

Viver

O Ministério da Saúde fez um jogo duplo ontem em relação ao Instituto Butantan. Em nota, a Pasta disse que não poderá cumprir o cronograma de recebimento de vacinas anunciado na véspera devido à dificuldade “em o Butantan conseguir cumprir as entregas das doses previstas em contrato”. O instituto, ligado ao governo paulista, reagiu: “É inacreditável que o Ministério da Saúde queira atribuir ao Butantan a responsabilidade pela sua completa falta de planejamento”. (Globo)

Ao mesmo tempo em ataca o Butantan, o ministério enviou ontem ao instituto um ofício para comprar 30 milhões de doses do imunizante, além dos 100 milhões já acertados e prometidos para agosto. A negociação acontece em meio a críticas de parlamentares, governadores e prefeitos quanto ao ritmo lento de vacinação contra a Covid-19. (Folha)

Então... O presidente Jair Bolsonaro segue em sua guerra particular contra a CoronaVac. A mãe dele, Olinda Bunturi Bolsonaro, de 93 anos, foi imunizada no dia 12, em Eldorado (SP). Segundo funcionários de saúde, ela e outros 25 idosos receberam a vacina do Butantan. Em sua live, porém, ele disse que ela foi imunizada com a vacina Oxford/AstraZeneca, mas que depois, o profissional de saúde voltou, “rasgou a carteira de vacinação” e substituiu por “um cartão escrito vacina do Butantan”. (Estadão)

Já passa dos dez milhões o número de pessoas que contraíram Covid-19 no Brasil, contando os 49.658 novos casos registrados ontem. Também na quarta-feira houve 1.432 mortes, o terceiro maior número do ano e quinto da pandemia. (UOL)

O relator da MP das vacinas, deputado Pedro Westphalen (PP-RS) incluiu no texto um dispositivo que permite a empresas privadas a compra de vacinas, mas com duas condições: metade terá de ser doada ao SUS, e a ordem de prioridades de obedecer ao Programa Nacional de Imunização (PNI). Ou seja, mesmo pagando, uma pessoa jovem não pode ser vacinada antes de um idoso. (Poder360)

A prefeitura de Niterói (RJ) demitiu a técnica de enfermagem flagrada fingindo aplicar uma injeção sem pressionar o êmbolo da seringa em um idoso que deveria receber uma dose de vacina. Rozemary Gomes Pita, de 42 anos, foi indiciada por peculato e crime contra a saúde pública e também está sendo investigada pelo Conselho Regional de Enfermagem. (G1)

E veja aqui como conferir se a vacina foi realmente aplicada. (G1)

E as parceiras Pfizer e BioNTech iniciaram um estudo internacional com quatro mil voluntárias para analisar a eficácia de sua vacina em mulheres grávidas, grupo que tem maior chance de desenvolver formas graves da Covid-19. Estudos em animais concluíram que o imunizante não oferece risco aos fetos. Embora não tenha acordo com o governo brasileiro, a Pfizer já pediu registro definitivo de sua vacina à Anvisa. (Globo)

Foram sete meses de viagem e uma chegada, como sempre, tensa. Mas o robô Perseverance, da NASA, pousou na tarde de ontem com sucesso na superfície de Marte. Considerado o mais avançado já construído pela agência espacial americana, o aparelho tem como missão principal encontrar sinais de que já houve (ou ainda há) vida no Planeta Vermelho. Foi o que levou à escolha do local do pouso. A cratera Jazero já foi no passado distante, quando havia água na superfície, um lago ou o delta de um rio, um lugar propício, por exemplo, para se achar fósseis. (G1)

Veja o vídeo com as imagens geradas por computador e a explosão de alegria dos técnicos e cientistas da NASA ao confirmarem o pouso. (G1)

Mas há uma nota triste para quem ama o espaço (e o design). Foi divulgada ontem a morte, aos 82 anos, de Bruce Blackburn, o designer gráfico responsável pelo mundialmente famoso logo da NASA. (New York Times)

Cultura

Após o fiasco da Copa da Inglaterra, em 1966, quando a seleção brasileira foi eliminada na primeira fase, a ditadura militar precisava de uma conquista internacional de peso que servisse de símbolo para o “Brasil grande” e o Milagre Econômico. Para isso, era preciso trazer de volta Pelé, que, abalado com o fracasso, decidira abandonar a seleção. Esse é o pano de fundo do documentário Pelé, de David Tryhorn e Ben Nicholas, que estreia dia 23 na Netflix. Não faltam gols nem depoimentos de amigos nem do próprio Rei, mas o foco é a até hoje explosiva combinação de esporte e política. (Estadão)

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Talvez seja um exagero dizer que o hip-hop não existiria sem o cantor de reggae jamaicano U-Roy, que morreu na quarta-feira aos 78 anos. Mas não há como negar que seu “toasting”, o canto meio falado, teve uma influência pesada sobre o estilo e o rap, mesmo sem perder os elementos clássicos do reggae, como em Soul Rebel (ao vivo no Youtube). (UOL)

Mais de 17 anos depois de seu último episódio, o seriado americano Buffy, a Caça-Vampiros ainda cativa fãs por todo o mundo. Por trás do argumento aparentemente tosco, uma colegial que precisa enfrentar vampiros numa cidade de classe média da Califórnia, jovens encontraram temas como a descoberta e aceitação da sexualidade, perda, relação com os terrores reais e imaginários do mundo etc. Só que agora o fandom tem que lidar com outra ameaça: a revelação de que Joss Whedon, criador da série, é uma pessoa abusiva e tóxica, segundo o relato de praticamente todos os que conviveram com ele. As revelações reacenderam o debate sobre como lidar com a obra consagrada (e boa) de pessoas ruins. (Globo)

Cotidiano Digital

Após terem sido notificadas pelas autoridades, as operadoras Oi, TIM, Claro e Vivo disseram que não identificaram indícios de vazamentos de dados de seus clientes. O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça deu um prazo de 15 dias para que as companhias expliquem os vazamentos. A PSafe, empresa que descobriu os ataques, diz ter detectado a venda ilegal de dados de mais de 102 milhões de celulares na semana passada, incluindo número do celular, nome completo, CPF e tempo das chamadas.

Como saber se os seus dados foram vazados. Confira.

Pois é… O Brasil sofreu dois megavazamentos no último mês e não foi à toa. Segundo Marco DeMello, presidente da PSafe, faltam investimentos e cultura de proteção de dados no país. “A situação já era grave, mas os cibercriminosos estão evoluindo em suas técnicas, táticas e organização. Agora existe uma máfia, extremamente organizada e vasculhada na internet obscura, a deep web, trabalhando para o roubo de dados, que é a nova moeda, você troca por bitcoin, dado é o petróleo digital.” (Globo)

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