Prezadas leitoras, caros leitores —

Um general vai assumir a Petrobras — esta tem sido a ação do presidente Jair Bolsonaro sempre que considera necessário ter num cargo alguém que, ele pode ter certeza, vai obedecê-lo cegamente. O caso mais notório foi o do Ministério da Saúde.

Bolsonaro nega que pretenda interferir nos preços de combustível, mas a relação entre generais e empresas estatais é antiga e tem história. Durante a Ditadura, os generais presidentes usavam as estatais para tomar empréstimos no exterior e, neste processo, aumentar a participação do Estado na economia. Com este dinheiro tomado, fizeram o país crescer. Entre 1967 e 73, período do Milagre Brasileiro, surgiram 273 estatais, em geral dirigidas por militares. Os incrementos salariais que os cargos executivos lhes garantiam eram um atrativo importante dentro das Forças Armadas. Mas o resultado final foi o aumento da participação do Estado na economia, com a transformação da dívida externa, que antes do regime era mais privada do que pública, em mais pública que privada. Hiperinflação, governo quebrado, fraudes — escândalos.

Nenhum governo desde a democratização operou na mesma linha, nem mesmo os de esquerda.

Isto não quer dizer que o governo Bolsonaro fará o mesmo. Aliás, hoje seria ilegal. Mas, quando os militares tiveram as estatais nas mãos antes, elas eram usadas para resolver os problemas do governo. E é esta história que o Meio contará na sua edição de sábado.

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No dia com mais mortes, Bolsonaro insiste no negacionismo

Nem bem rompeu a marca de 250 mil mortes por Covid-19, o Brasil viveu nesta quinta-feira, exatamente um ano após o primeiro paciente ser diagnosticado no país, o dia mais letal de toda a pandemia. Segundo levantamento do consórcio de veículos de comunicação junto às secretarias de Saúde dos estados, foram registrados 1.582 óbitos – até então, o pior dia havia sido 29 de julho, com 1.554 mortos. O total de vítimas até agora é de 251.661, com média móvel em sete dias de 1.150, também a maior desde o início da pandemia. (UOL)

Mas o presidente Jair Bolsonaro não dá sinais de se importar com o mais letal dos dias nem com a assustadora contagem de corpos. Em sua live semanal, pelo contrário, atacou o isolamento social e o uso de máscaras, justamente o que os especialistas apontam como formas eficientes contra a disseminação do vírus. E justificou sua “opinião” citando um suposto estudo alemão do qual não deu qualquer detalhe. (UOL)

Vera Magalhães: “O Brasil atingiu a inimaginável marca dos 250 mil mortos por Covid-19 sem que seu presidente tenha tido a decência mínima de decretar luto oficial. Assim como outras marcas tenebrosas em um ano de circulação do novo coronavírus em terras brasileiras, essa também passou em branco pelo Palácio do Planalto e pela Esplanada dos Ministérios. Vamos enterrando pessoas aos milhares todos os dias, sem que o governo federal reconheça a gravidade da crise sem precedentes que atravessamos.” (Globo)

Em reunião com representantes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, disse que o país vive uma “nova etapa” na pandemia devido às novas cepas que tornam mais rápido o contágio pelo Sars-Cov-2. Já o presidente do Conass, Carlos Luna, responsabilizou também a baixa adesão da população às medidas de distanciamento social. Na avaliação dele, março poderá ser o pior mês devido à crescente ocupação de leitos. (Folha)

Pazuello defendeu três estratégias para enfrentar a crise: atendimento básico, vacinação e transferência de pacientes de estados com as UTIs lotadas. Ouviu dos secretários que “todo mundo está no limite”. Toda a Região Sul está à beira do colapso. Há filas por vagas nos hospitais de Curitiba (PR), o Rio Grande do Sul prevê esgotamento de leitos de UTI, e Santa Catarina admitiu que os esforços para conter a doença foram insuficientes. No Nordeste, a Paraíba decretou toque de recolher, e Sergipe estuda a mesma medida. (G1)

Veja a lista dos estados em situação crítica. (G1)

Para o neurocientista Miguel Nicolelis, somente um lockdown radical de três semanas em todo o Brasil pode evitar um colapso simultâneo no sistema de saúde do país e uma disparada ainda maior nas mortes. “A população precisa acordar para a dimensão da nossa tragédia”, diz o especialista. (Globo)

À noite, o ministério anunciou a compra de 20 milhões de doses da Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech. Mesmo em seu país de origem o imunizante é controverso, pois foi aprovado sem apresentar os dados de eficácia no estágio final dos testes. A Anvisa ainda não recebeu pedido de uso emergencial nem registro da vacina indiana. (Globo)

O Meio errou. O número de mortos no Amazonas nos primeiros 54 dias deste ano foi 5.288, não 5.228, como publicado. Pedimos desculpas.

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Mil duzentos e cinquenta e sete aviões

Tony de Marco

250-mil-mortes

Mesmo perdendo por 2 a 1 para o São Paulo, o Flamengo conquistou o Campeonato Brasileiro de 2020. O time carioca terminou um ponto à frente do Internacional, que precisava vencer o Corinthians, mas ficou no 0 x 0. Foi emoção até o fim, com o VAR anulando aos 51 minutos do segundo tempo o que seria o gol do título dos gaúchos. No outro extremo da tabela, o Vasco venceu o Goiás, mas não conseguiu escapar do rebaixamento. (Globo Esporte)

Meio em vídeo. Um programa especial sobre as novas expedições ao planeta vermelho e com informações direito da fonte. Pedro Doria e Cora Rónai entrevistam o físico e engenheiro da NASA Ivair Gontijo, um dos envolvidos no envio do robô Perseverance a Marte. O cientista conta detalhes da nova missão espacial e as perspectivas para o futuro não tão distante. Será que o envio de humanos ao planeta está próximo? E como é trabalhar na NASA? Como ele saiu do interior de Minas Gerais e chegou até a Agência Espacial Americana, lugar que mexe com o imaginário de tanta gente? Confira no Youtube e no Spotify.

Política

Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, queria para ontem a primeira votação da PEC que trata da imunidade parlamentar, apelidada de “PEC da Impunidade”, mas amargou um adiamento para hoje. A relatora Margarete Coelho (PP-PI) desidratou o texto, tirando mudanças na Lei da Ficha Limpa que beneficiavam parlamentares, mas mantendo a limitação das situações em que um congressista pode ser preso e a impossibilidade de a Justiça suspender um mandato. Nos bastidores, ministros do STF trabalham contra a PEC. (Estadão)

Painel: “A decisão do deputado Celso Sabino (PSDB-PA) de assumir a autoria da PEC da Imunidade Parlamentar causou irritação profunda em seu partido, cujos representantes começaram a se movimentar internamente para que o processo de expulsão de Sabino do PSDB seja retomado.” (Folha)

Míriam Leitão: “O Congresso está conspirando para transformar uma prerrogativa de defesa da democracia em imunidade para criminosos. Esta PEC é uma subversão da ideia da imunidade parlamentar, que é importante para proteger o exercício democrático do mandato. Não para proteger a pessoa do parlamentar. É fundamental entender esta diferença.” (Globo)

O presidente do PTB, Roberto Jefferson, anunciou via Twitter que o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) se filiou a seu partido. Como o parlamentar está preso em um quartel da PM no Rio por ordem do STF, a ficha de filiação foi assinada na cadeia. O PSL diz que ainda não foi comunicado do desligamento. Silveira responde a processo no Conselho de Ética da Câmara e pode acabar cassado. (Poder360)

A mudança de partido antes da “janela de troca” de legendas que acontece no ano que vem dá ao PSL e ao Ministério Público Eleitoral o direito de pedir ao TRE do Rio a cassação do mandato de Silveira por desfiliação imotivada, de acordo com resolução de 2007 do TSE. Mas pode ser um bom negócio para o deputado. Na Justiça Eleitoral, ele seria punido somente com a perda do mandato; na Câmara, perderia também os direitos políticos por oito anos.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, acabou prejudicando a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) ao demitir por improbidade administrativa Glauco Octaviano Guerra – ele já está aposentado, mas vai perder o benefício com a medida. Glauco e outros quatro auditores da Receita Federal foram investigados por improbidade administrativa e alegavam que seus dados bancários e fiscais haviam sido acessados ilegalmente. A defesa do senador se sustenta na mesma tese, que perde força com a punição imposta por Guedes. (Folha)

O ministro do STF Edson Fachin aceitou nesta quinta-feira uma ação da defesa do ex-presidente Lula contra o uso pela Lava-Jato de provas envidas pela Suíça de forma supostamente irregular. O caso em questão se refere a doações feitas pela Odebrecht ao Instituto Lula que, segundo o MP, seriam na verdade pagamento de propina. Conversas vazadas entre integrantes da força-tarefa da Lava-Jato indicam que as provas foram obtidas fora dos canais oficiais de cooperação, o que as tornaria inválidas. O processo fica parado até que a ação seja julgada. (UOL)

E não para de crescer a presença militar no governo. O presidente Bolsonaro pretende demitir o empresário Fabio Wajngarten do comando da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência. Seu substituto deve ser o atual chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, almirante Flávio Rocha. A mudança teria sido articulada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, a quem a Secom é subordinada. (Folha)

Cultura

É sexta-feira, e retomamos a programação cultural. Confira.

Alessandra Negrini estreia em formato solo hoje em A Árvore, híbrido de teatro e cinema baseado em texto de Silvia Gomez e que integra a programação online do Teatro Faap. O espetáculo, centrado nas transformações do corpo de uma mulher em vegetal, tem direção de Ester Laccava e João Wainer.

Até 5 de abril, o festival de arte contemporânea e experimental Pink Umbrellas SP reúne duplas de artistas de diferentes áreas para criar novas obras em vídeo. Acompanhe a programação.

Em concerto hoje à noite, Neil Thomson conduz a Osesp em obras de Monteverdi e Vivaldi, entre outros, com a participação da solista Fabíola Alves na flauta piccolo.

O Balé da Cidade de São Paulo retorna ao palco do Municipal e realiza a estreia mundial de coreografias de Marisa Bucoff e Clébio Oliveira. A Casa será transmitida amanhã; Transe, no domingo, sempre pelo YouTube.

Nesse sábado, o pintor Carlos Bracher realiza um retrato à distância do estilista Ronaldo Fraga. A ação será transmitida em tempo real pelo Ateliê Casa Bracher.

Em edição virtual, o festival Sons da Rua começa na terça com diferentes atividades ligadas à cultura hip hop. O show de encerramento, na quinta, terá a participação dos MCs Xamã e BK'.

Obras de Schubert, Bottesini e Beethoven integram o concerto de abertura da temporada da Filarmônica de Minas Gerais na quinta, que será transmitido ao vivo. A regência é de Fabio Mechetti.

No mesmo dia, o SLAM BR – Campeonato Brasileiro de Poesia Falada reúne os campeões e campeãs de edições anteriores, além de convidados especiais, em batalhas de rimas e oficinas de formação.

Entre fevereiro e abril, o Sesc Ipiranga apresenta o projeto Revistaria, que promove o encontro de publicações focadas em literatura de diferentes regiões do país. Na próxima quinta, a conversa transmitida online é entre representantes das revistas Mallarmargens, Agulha e Acrobata.

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Que Paul McCartney compôs (oficialmente em parceria com John Lennon) algumas das maiores canções do século 20, é público e notório. Mas é também um prolífico escritor, principalmente de literatura infantil e poesia. E finalmente ele vai lançar sua autobiografia, mas sem se afastar demais de seu talento maior. Em The Lyrics: 1956 to the Present (As Letras: 1956 ao Presente), que chega às livrarias e novembro, Sir Paul vai contar seus 78 anos tendo como fio condutor as letras de suas canções. (Folha)

Cotidiano Digital

Com o sucesso do Clubhouse, o Facebook já começou a desenvolver o seu próprio app de áudio. A big tech tem um histórico de copiar seus competidores — só ver os Stories e o Reels do Instagram, uma cópia do Snapchat e TikTok, respectivamente. Mas o Facebook não é o único: o Twitter também começou a testar um produto, chamado Spaces, que oferece uma função semelhante de bate-papo com áudio. (New York Times)

Pois é… Com mais de 10 milhões de usuários e uma avaliação de mercado de US$ 1 bilhão, o Clubhouse já tem gerado um novo ecossistema ao seu redor. Diversas novas plataformas e apps estão surgindo para aproveitar o boom do app e oferecer novas funcionalidades, como Ask Clubhouse, um site que ajuda os moderadores a organizarem as perguntas dos ouvintes. Ou o Clubpad que oferece trilhas sonoras. Todas essas novidades podem futuramente ser incluídas no app. Esse movimento é comum no mercado. As hashtags do Twitter, por exemplo, foram criadas externamente por um usuário para organizar os grupos e discussões da rede social. Com o sucesso, o Twitter acabou adotando. (Wired)

A Anatel aprovou ontem o edital do leilão do 5G. A operação deverá começar pelas principais capitais a partir de julho de 2022. A infraestrutura não poderá aproveitar as faixas de frequência já usadas pelo 4G como queriam algumas operadoras. Também foi incluída a criação de uma rede privativa para o governo federal. O texto vai seguir para avaliação do TCU e, só então, o leilão poderá ser realizado, esperado para acontecer no 1º semestre. (Poder360)

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