Lula discursa e Bolsonaro veste carapuça — ou máscara

O ex-presidente Lula discursou ontem pela primeira vez desde que recuperou direitos políticos plenos. “Se tem um brasileiro que tem razão de ter muitas e profundas mágoas sou eu”, afirmou logo no início. “Não tenho.” O líder petista falou por uma hora e 23 minutos no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Evitou o tema candidatura. “Em 2022, o partido vai discutir se vai ter candidato, se vai ter frente ampla”, determinou — e apontou para conversas além da esquerda. “Se você colocar os problemas do povo brasileiro na conversa com os setores conservadores”, determinou, “pode produzir efeitos extraordinários.” Do palco, fez o elogio de seu governo, mas não o de sua sucessora, Dilma Rousseff, sugerindo o provável discurso de campanha. E bateu duro na Lava Jato. “Tenho certeza de que Moro deve estar sofrendo mais do que sofri”, disse, “Dallagnol deve estar sofrendo mais do que sofri, porque sabem que cometeram um erro.” Bateu mais no atual governo, e o fez pelo contraste. “Vou tomar minha vacina”, contou o ex-presidente, de 75 anos. “Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente. Tome vacina, porque é uma das coisas que pode livrar você do Covid. Mas, mesmo tomando vacina, você precisa continuar fazendo o isolamento, usando máscara e utilizando álcool em gel.” Foi, nas redes, sua declaração mais celebrada. (G1 e Valor)

Confira os cinco principais “recados” passados por Lula em seu discurso. (Globo)

De um petista graúdo a Lauro Jardim: “Ele deveria ter centrado mais na união nacional, mas posso entender: ele ainda está muito machucado com esse processo todo.” (Globo)

Principal alvo do discurso, o presidente Jair Bolsonaro reagiu dizendo que o petista já está em campanha. “Para ele, tudo é fácil, tudo pode ser resolvido”, disse. Bolsonaro também acredita que Lula está “comemorando cedo demais”, pois a decisão de Edson Fachin que anulou os processos contra ele pode ser revista pelo plenário do STF. (Estadão)

Já o vice-presidente Hamilton Mourão reafirmou que o povo é soberano. “Se o povo quiser a volta do Lula, paciência”, disse Mourão, completando, porém: “Acho difícil, viu, acho difícil.” (Folha)

Igor Gielow: “O discurso de volta ao palco político de Lula foi acompanhado com atenção pelos militares. Tanto entre oficiais da ativa quanto da reserva, as queixas foram várias, antevendo o que chamam de dificuldades para 2022. A principal foi a crítica direta ao general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército que em abril de 2018 pressionou o STF a não conceder um habeas corpus que evitaria a prisão do petista.” (Folha)

Francisco Leali: “No círculo político, espraiou-se a crença de que nada mais confortável para Bolsonaro do que ter no segundo turno um candidato do PT. Essa tese partia do princípio de que Lula não podia se candidatar. O tom do discurso do petista mostra a Bolsonaro por que se deve temer o que se deseja. Se o presidente cogitou ter Lula como oponente em 2022, o pronunciamento indica que a disputa será mais difícil do que poderia pensar.” (Globo)

Fernando Schüler: “A entrada de Lula e a crispação política criam um efeito de fuga do centro político. Nesse plano arriscamos enveredar em uma disputa de rejeições: o antipetismo contra o antibolsonarismo. O sinal de alerta soou para o centro. Em 2018, Alckmin, Meirelles e Amoêdo somaram menos de 10% dos votos. É apenas uma lembrança. O centro político não tem, no atual cenário, outra tarefa a não ser buscar um candidato de consenso e um programa capaz de se colocar consistentemente como alternativa a Lula e a Bolsonaro.” (Folha)

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Embora não assumida, a reação mais notável ao discurso de Lula foi a guinada em 180 graus de Bolsonaro e sua família em relação à prevenção da Covid-19. Menos de 15 dias depois de criticar publicamente o uso de máscaras, o presidente apareceu usando a proteção, assim como os demais participantes da solenidade, ao sancionar a lei que permite a compra de vacinas da Pfizer e da Janssen. Nesta galeria de fotos é possível constatar a mudança de postura. (Folha)

Gerson Camarotti: “Um sinal claro de que a família presidencial passou recibo foi a mensagem do senador Flávio Bolsonaro nas redes sociais — replicada pelo ministro Fábio Faria (Comunicações) e por aliados bolsonaristas — logo depois do discurso de Lula. O filho do presidente pediu aos seguidores que compartilhassem uma foto de Bolsonaro com a inscrição ‘Nossa arma é a vacina’.” (G1)

Pois é... Flávio ainda pediu as seguidores no app Telegram que espalhassem esta mesma foto do pai pró-vacina. Hoje desafeto do clã presidencial, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) resgatou uma antiga postagem de Flávio contrariando o que agora o senador defende. (Globo)

Mas alguns Bolsonaros não mudam. Ao criticar a imprensa pela cobertura da mudança de postura do presidente, o filho Zero Três, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), mandou que os jornalistas enfiassem as máscaras “no rabo”. (Folha)

Vera Magalhães: “Uma das facetas mais evidentes da personalidade política de Bolsonaro é a covardia extrema. O medo saltava aos seus olhos mesmo de máscara nesta quarta-feira. Visivelmente desconfortável por ter sido forçado a ostentar o acessório contra o qual investe há um ano, por puro capricho negacionista e por absoluta falta de empatia e de senso de emergência diante do flagelo da pandemia, o presidente mostrou que a máscara, ali, era uma carapuça.” (Globo)

E como sempre é preciso rir, o humorista Marcelo Adnet personificou Lula discursando, Bolsonaro reagindo e até Sérgio Moro pedindo apoio. (Twitter)

Os seguidos recordes na média móvel de óbitos já nos permitiam prever, mas constatar que ontem foram registradas 2.349 mortes por Covid-19 é um choque. Pela primeira vez desde a chegada do Sars-Cov-2 ao Brasil, em março do ano passado, a barreira dos 2 mil mortos diários foi rompida – e não foi por uma pequena margem. E não faz diferença Goiás ter computado ontem os óbitos de terça-feira, pois o Distrito Federal deixou de divulgar seus mortos na quarta. Já são 270.917 vítimas fatais, e a média móvel em sete dias, claro, foi recorde de novo, 1.645, com alta de 43% em relação ao período anterior. (G1)

E pela primeira vez na segunda onda, a média móvel de mortes no Brasil ultrapassou a dos Estados Unidos, país com maior número absoluto de casos e de vítimas fatais. Na terça-feira, a média de sete dias no Brasil havia ficado em 1.572, enquanto a americana fora de 1.566. (Globo)

Apenas duas capitais, Macapá (AP) e Maceió (AL), estão com a ocupação de leitos de UTI para Covid-19 abaixo de 80%. Em outras 16, a ocupação já passa de 90%, sendo que Porto Alegre (RS) está em 102%, com pacientes graves atendidos em espaços improvisados. (Folha)

Diante dessa situação, governadores de 20 estados e do Distrito Federal firmaram nesta quarta um pacto para adotar medidas restritivas conjuntas e ampliar a vacinação e a abertura de leitos para pacientes com Covid-19. O grupo também propôs a criação de um comitê com representantes dos três poderes e de especialistas. Apenas os governadores de AM, PR, RJ, RO, RR e SC não aderiram. (Poder360)

Enquanto isso, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, reduziu pela quarta vez a previsão de vacinas para março. Agora é algo entre 22 a 25 milhões – praticamente a metade da previsão inicial. (UOL)

A deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), investigada no STF por atos antidemocráticos, foi eleita presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Outras nove comissões tiveram os presidentes escolhidos. Hoje serão as 15 restantes. (Poder360)

Meio na Twitch. Como será o segundo turno das eleições presidenciais de 2022? Nós ainda não sabemos, mas Tony de Marco imagina e vai mostrar na charge animada de sexta-feira. E você pode vê-lo criando a charge ao vivo hoje, às 15h, pela PixotoscoTV.

Embratel

Tech no próximo nível

Para muitos, a pandemia acelerou a adoção de ferramentas digitais. Por outro lado, também agravou a desigualdade no acesso à internet no Brasil. E com a exclusão digital e a disparidade no acesso à educação, o risco de os filhos não conseguirem ter renda superior à dos seus pais quando adultos aumenta. Levantamento mostra que 55% dos filhos de pais sem instrução não acessam a rede. A fatia cai para 4,9% quando os pais concluem a universidade. (Globo)

Pois é… Não é suficiente apenas investir em infraestrutura digital. A baixa escolaridade também limita, por exemplo, o avanço da tecnologia em áreas rurais da América Latina. Em uma escala de 0 a 6 para as habilidades digitais da população, o Brasil (3,1) ainda está distante de Israel (5,5) e Arábia Saudita (5,3), líderes do ranking. (Valor)

Shangai inaugurou a maior loja autônoma do mundo. Com mais de 370 metros quadrados, o mercado tem um sistema diferente das lojas autônomas da Amazon Go, onde as pessoas precisam ler um QR Code ao entrar na loja. Os clientes são identificados ao escanear seu cartão na entrada ou o aplicativo da AiFi, que ficam salvos no sistema. Por meio de mais de 200 câmeras pela loja, o app detecta quando o cliente pega um produto para levar, e automaticamente o inclui no carrinho de compras digital. Quando ele sai, o pagamento é efetuado direto no smartphone, e o recibo é enviado. (Época Negócios)

Com a inteligência artificial avançando nos negócios, a inteligência de decisão (ID) vai se tornando essencial. A ID é uma evolução do Business Intelligence (BI). Enquanto esta última permite às organizações acharem um rumo para as decisões, a primeira integra tecnologias, como IA e machine learning, para fornecer contexto, previsões e recomendações para quando (e onde) o tomador de decisão precisar. A Inteligência de Decisão promete se popularizar nos negócios: a consultoria Gartner prevê que até 2023, mais de um terço de grandes organizações terão analistas usando essa abordagem nas operações e processos. Conheça exemplos práticos.

Viver

Adepta do criacionismo, do “Escola Sem Partido” e de uma base curricular sob a “perspectiva cristã”. Esse é o perfil da professora Sandra Lima Vasconcelos Ramos, nomeada pelo ministro da Educação, o pastor Milton Ribeiro, para a chefia do órgão responsável pela coordenação de materiais didáticos do MEC. (Globo)

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Morreu no Rio de Janeiro, aos 100 anos, o jornalista Hélio Fernandes. Após dirigir redações na revista Cruzeiro e no jornal A Noite, comprou, em 1962, a Tribuna da Imprensa — jornal fundado por Carlos Lacerda, um dos articuladores do golpe de 1964. Embora tenha publicado artigo comemorando a deposição do presidente João Goulart, a Tribuna acabou se tornando um dos veículos mais perseguidos pela ditadura militar. Fernandes comandou pessoalmente a redação até 2008, quando o diário deixou de circular em bancas. Segundo a família, o jornalista morreu durante a madrugada de causas naturais. (UOL)

Panelinha no Meio. Uma das formas de economizar na alimentação é aproveitar os produtos “da época”, que estão no auge da safra e mais baratos. Um desses é a versátil abóbora, que trazemos numa das formas favoritas do brasileiro: o doce de abóbora em pasta. São poucos ingredientes e o resultado é maravilhoso, especialmente acompanhado de um queijo branco.

Cultura

Finalmente uma boa notícia para os fãs de Renato Russo. Giuliano Manfredini, filho do vocalista da Legião Urbana, autorizou a produção de um documentário sobre o pai. A produção vai ter acesso a mais de seis mil peças do acervo pessoal do cantor, cuja morte completa 25 anos em outubro. (Globo)

E é hoje o centenário de nascimento de Astor Piazzolla (1921-1992), o argentino que, com seu bandoneón e seu experimentalismo, comandou uma revolução musical e modernizou o tango. Para homenageá-lo, uma versão ao vivo de Libertango, mostrando que sua fusão de estilos não conhecia limites (YouTube). (Folha)

Cotidiano Digital

A Huawei ficará de fora da rede exclusiva de comunicação do governo, que deve ser montada no Distrito Federal. Essa medida foi exigida como contrapartida para as teles implementarem o 5G no Brasil. Segundo o ministro das Comunicações, Fábio Faria, a chinesa não atende aos requisitos estabelecidos pelo governo. Mas a empresa estará liberada para atuar nas redes privadas pelo país. Enquanto a rede do governo ficará nas mãos das operadoras vencedoras do leilão, previsto para julho. (Globo)

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