Prezadas leitoras, caros leitores —

A palavra da semana foi genocida. Se a aplicação do termo é correta ou não, do ponto de vista da tipificação legal, é um debate para juristas. Mas, conforme o Brasil entra no pior momento da pandemia é inevitável que tenhamos de encarar fatos. O presidente Jair Bolsonaro se recusou a comprar vacinas quando ainda era cedo para garantir o estoque para rápida imunização dos brasileiros. Ele insiste em defender um tratamento precoce que, de acordo com os cientistas que testaram em exames clínicos, não têm qualquer eficácia. Bolsonaro boicota a política de isolamento social que inclina para baixo o número de casos.

Não precisava ter morrido um número tão grande de pessoas. E, com Donald Trump fora do jogo, é difícil encontrar no mundo um chefe de Estado com o discurso que faz o presidente brasileiro. Bolsonaro é único.

Em um vídeo faz uns meses, argumentamos que já era possível classificar Jair Bolsonaro como o pior presidente da história brasileira. Mas este argumento merece ser melhor elaborado e é isto que faremos na edição deste próximo sábado.

Sua manutenção na presidência, é consenso entre nós cá no Meio, representa um perigo real para a vida de muitos brasileiros. Por este motivo: nunca houve presidente pior. Nunca. Nem dentre os ditadores, nem na República Oligárquica, quanto mais entre os democraticamente eleitos.

No sábado explicaremos por quê.

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— Os editores

Bolsonaro vai ao STF contra isolamento

Embora uma pesquisa do Datafolha indique que as medidas restritivas contra a propagação da Covid-19 têm o apoio de 71% da população, o presidente Jair Bolsonaro disse ter entrado com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir que governadores e prefeitos as adotem. Em sua live semanal, ele comparou os toques de recolher ao estado de sítio, que só o presidente pode decretar. (Folha)

Ao mesmo tempo, Bolsonaro convidou para uma reunião na quarta-feira os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), do STF, Luiz Fux, do STJ, Humberto Martins e do TCU, Ana Arraes, alguns governadores e o procurador-geral da República, Augusto Aras. A informação de que 52% dos brasileiros consideram a atuação do governo federal na pandemia ruim ou péssima teria convencido Bolsonaro a criar uma comissão para traçar alguma estratégia comum. (Poder360)

Mas o STF decidiu que não vai integrar essa comissão. Fux submeteu ao Plenário o convite, e os ministros decidiram por unanimidade que o Supremo não pode participar da elaboração de estratégias porque poderá ser chamado a julgar a constitucionalidade delas. Fux pode participar de reuniões para discutir a crise, decidiram seus pares, mas sem a definição de políticas específicas. (Folha)

Sem uma coordenação nacional, estados e municípios seguem implantando medidas próprias de isolamento. No Rio, o prefeito Eduardo Paes (DEM) mudou radicalmente de postura e promete anunciar ainda hoje medidas drásticas. Barreiras sanitárias e veto ao turismo estão na pauta. O Espírito Santo está inteiro em quarentena desde ontem. Já no Rio Grande do Sul, a despeito do recorde de mortes, o governador Eduardo Leite (PSDB) fala em retomar o sistema que permite aos municípios flexibilizarem as restrições. (Globo)

A prefeitura de São Paulo ontem anunciou a antecipação de cinco feriados municipais de 26 de março a 1° de abril, emendando com a Sexta-Feira Santa. Na prática, a cidade ficará parada por dez dias. (Folha)

Enquanto isso o Brasil se aproxima dos 300 mil mortos pela Covid-19. Já são 287.795 óbitos, contando os 2.659 registrados ontem, levando a um novo recorde da média móvel de mortes em sete dias: 2.096. Ah, isso não inclui o Rio Grande do Norte, que não divulgou seus números da quinta-feira. (G1)

Entre as novas mortes está a do senador Major Olímpio (PSL-SP), de 58 anos, líder do partido no Senado e integrante da chamada “bancada da segurança”. A família anunciou que ele teve morte cerebral. Olímpio estava internado desde o dia 5 na UTI de um hospital em São Paulo. Foi terceiro senador a morrer de Covid, após Arolde de Oliveira (PSD-RJ) e José Maranhão (MDB-PB). (Poder360)

Em seu último discurso, Olímpio atribuiu as mortes por Covid ao “negacionismo com que foi tratada a pandemia” e defendeu uma CPI para investigar a atuação do governo federal. (Globo)

Painel: “Em misto de comoção e revolta, senadores recorriam a uma expressão para se referir à morte cerebral de Olímpio: a gota d’água que faz transbordar o copo de Jair Bolsonaro. Para eles, o ocorrido deve aumentar a pressão sobre Rodrigo Pacheco pela CPI da Pandemia. Apesar do clima de consternação, caciques experientes do Congresso ainda são céticos. Dizem que sem mobilização nas ruas, a situação de Bolsonaro permanece a mesma.” (Folha)

Mas as pessoas não estão morrendo somente nas UTIs, estão morrendo à espera delas. Foi o que aconteceu com o ex-governador de Goiás, Helenês Cândido, de 86 anos. Ele aguardou três dias por uma vaga até conseguir, mas morreu na ambulância. (Poder360)

E a cidade de São Paulo anunciou a primeira morte na fila por uma UTI. Renan Ribeiro Cardoso, de apenas 22 anos, aguardava uma vaga de terapia intensiva havia 46 horas. O óbito aconteceu no dia 13, mas só foi divulgado hoje pelo prefeito Bruno Covas (PSDB). (Folha)

A Europa já começa a retomar a aplicação da vacina de Oxford/AstraZeneca após a Agência Europeia de Medicamentos descartar a relação do imunizante com casos de coágulos e trombose. (G1)

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Sob o governo Bolsonaro, os inquéritos da Polícia Federal com Base na Lei de Segurança Nacional cresceram 285%, na comparação com os mesmos períodos sob Dilma Rousseff e Michel Temer. Tramitam no Congresso 23 propostas de alteração ou extinção da LSN, criada em 1983, ainda na ditadura militar. (Estadão)

Em Brasília, um grupo de cinco jovens foi preso com base na LSN por estender na Praça dos Três Poderes uma faixa em que Bolsonaro era chamado de genocida e aparecia pintando a cruz vermelha de um hospital para que se tornasse uma suástica. (G1)

A utilização cada vez maior desse entulho autoritário preocupa especialistas, que veem risco de abuso do Executivo e do Supremo Tribunal Federal. Foi com base nela que o ministro Alexandre Moraes decretou a prisão, depois confirmada pelo Plenário do STF e pela Câmara, do deputado Alexandre Moraes (PSL-RJ). (Folha)

Por conta disso, o ministro do STF Gilmar Mendes estuda antecipar o julgamento de duas ações, uma do PTB e outra do PSB, que contestam a constitucionalidade da lei. (Estadão)

A Justiça do Rio suspendeu liminarmente a investigação aberta pela Polícia Civil contra o youtuber Felipe Neto com base na LSN por ter chamado o presidente Jair Bolsonaro de “genocida” sob o argumento de que só a PF tem atribuição para investigar um suposto crime contra a ordem política e social. (UOL)

Meio em vídeo. O uso indiscriminado da LSN mostra que é preciso estar atento ao que se escreve nas redes sociais. No Pedro+Cora desta semana, Pedro Doria e Cora Rónai falam sobre os desdobramentos do caso Felipe Neto e recebem o Chico Brito Cruz, coordenador do InternetLab, centro independente de pesquisa nas áreas de direito e tecnologia, para um papo sobre liberdade de expressão e a LSN. Confira no Youtube e no Spotify.

Mas é possível chamar Bolsonaro de genocida? O termo já foi usado por Gilmar Mendes para se referir à política do governo. Para o criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, a atuação do Executivo na pandemia classifica, sim, um genocídio. (Migalhas)

Mais Meio em vídeo. Há dois assuntos sobre os quais precisamos falar com urgência. Um é genocídio. O outro é impeachment. Porque não importa muito, politicamente, se o presidente Jair Bolsonaro se enquadra na definição legal de genocida. No momento em que ele tentou calar aqueles que o acusaram de sê-lo, ele levantou o debate. E Bolsonaro é, sim, responsável por um número grande de mortes na pandemia. O impeachment é necessário. Confira o Ponto de Partida no Youtube.

Presidente Mimimi

Tony de Marco

Mimimi

Viver

Para ler com calma. Como é possível que um país consiga enviar um robô a Marte, mas não garanta água potável à população numa emergência climática ou saúde pública básica numa pandemia? Uma ampla reportagem do Washington Post mostra como, à sombra de sua suposta excepcionalidade, os EUA deixaram de fazer investimentos básicos e priorizaram a riqueza pessoal e o individualismo. O resultado é uma infraestrutura sucateada e a maior disparidade social entre os países desenvolvidos.  (Washington Post)

Cultura

Confira a agenda cultural da semana.

Amanhã, o Festival Dobradinhas +, versão digital do Festival Dobradinhas e Outros Tais, promove o encontro de 12 cantores da cena contemporânea como Dora Morelenbaum, Luiza Brina e Diogo Gomes. São quatro shows gratuitos e exclusivos de 40 minutos no Youtube a partir das 15h.

Como parte do Cultura Inglesa Festival, Sidney Santiago Kuanza apresenta hoje e amanhã a peça Help, ambientada na Jamaica e com participação dos atores James Turpin (Bacurau) e Mawusi Tulani (Todos os Mortos). Ainda hoje, o Coletivo Binário inicia a temporada online do espetáculo 180 Dias de Inverno, com dramaturgia de Antônio Hildebrando baseada em texto de Nuno Ramos. Por fim, direto do Centro de Artes UFF, a peça Eu, Moby Dick apresenta a releitura de Pedro Kosovski para o clássico de Herman Melville.

A escritora Lygia Fagundes Telles é a homenageada da Festa Literária Internacional da Mantiqueira (FLIMA), que acontece ao longo do fim de semana e hoje apresenta um sarau de “poesia, voz e violão” da cantora e poeta Letrux.

Nessa semana, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro disponibilizou cinco de suas exposições recentes para tour virtual, incluindo Hélio Oiticica: A Dança na Minha Experiência e Irmãos Campana – 35 Revoluções. Outra boa exposição que ganhou as redes é a 15ª Bienal Naïfs do Brasil, mostra do Sesc Piracicaba com curadoria de Renata Felinto e Ana Avelar sobre o tema Ideias para Adiar o Fim da Arte.

Dezessete anos depois desde a última apresentação, o veterano dos palcos Elias Andreato retorna com o espetáculo Van Gogh, agora online, neste domingo sob a direção de Márcia Abujamra. Na segunda, é a vez do Núcleo Teatro de Imersão transpor a peça As Palavras da Nossa Casa, escrita por Adriana Câmara a partir de filmes de Ingmar Bergman, para o ambiente virtual.

Na terça, o festival Na Trilha de Jards Macalé exibe filmes com a participação ou trilha do músico, do clássico O Amuleto de Ogum, de Nelson Pereira dos Santos, ao documentário Jards, de Eryk Rocha. Na abertura, o cantor faz um show costurado por sua história no cinema.

Os cantores Giovani Cidreira e Luiza Lian estão no line-up do Marte Festival, que começa na quinta com uma programação que une arte e tecnologia.

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Cotidiano Digital

Jair Bolsonaro vetou integralmente projeto que previa assegurar internet grátis a alunos e professores da rede pública. (G1)

Os investigadores do Departamento de Justiça dos EUA estão de olho no plano do Google de bloquear as ferramentas de rastreamento na web. Recentemente a empresa anunciou que não vai mais permitir que sites usem cookies de terceiros para rastrear as atividades de cada usuário. No entanto, os reguladores começaram a questionar se a mudança é realmente para fins de privacidade, como a big tech alega, ou se na verdade abrirá brecha para ela mesma coletar dados com cookies e prejudicar seus concorrentes menores. Embora essa investigação possa não levar a uma ação legal, há uma chance de que o governo se junte ao processo antitruste de vários estados americanos contra as políticas de publicidade online da empresa.

Foram revelados os controles de realidade virtual do PlayStation 5. Em formato de esfera, o visual é bem diferente do controle VR do PlayStation 4 semelhante à uma varinha. Vêm com as mesmas funcionalidades do Dual Sense, controle do PS5 que traz novos gatilhos adaptativos com tensão variável de acordo com o jogo. Traz outras novidades como também uma tecnologia que promete detectar os dedos dos jogadores mesmo quando não pressionam nenhum botão. Apesar do anúncio, ainda não foi divulgada uma data de lançamento.

Por falar em VR… O Facebook anunciou que está desenvolvendo uma pulseira de realidade aumentada. Ao captar sinais cerebrais, o dispositivo pode interpretar pequenos movimentos dos dedos como, por exemplo, digitar em um teclado ou clicar em um botão só vistos por meio de óculos VR. Ainda deve demorar anos para chegar ao público, mas o anúncio marca o próximo passo do Facebook para enfrentar a Apple no mundo virtual. A sua concorrente deve lançar até o começo de 2022 o seu headset de VR.

Meio em vídeo. Com a onda de vazamentos de dados pessoais, se tornou fundamental entender como as organizações e empresas armazenam e quais informações têm acesso. No #MeioDigital desta semana, o editor Pedro Doria explica a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em vigor desde de agosto de 2020, e como ela beneficia empresas, consumidores e usuários com mais segurança. Assista.

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