Senado e Araújo em guerra aberta

Com a cabeça a prêmio, o chanceler Ernesto Araújo pagou para ver e partiu para o ataque contra o Senado. No Twitter, o ministro afirmou que a senadora Kátia Abreu (PP-TO) o visitou do Itamaraty e disse que ele seria “o rei do Senado” se fizesse um “gesto em relação do 5G”. O gesto, segundo Araújo, seria adotar uma posição favorável à China, país com o qual o chanceler acumula atritos. (Poder360)

Lauro Jardim: “Kátia Abreu disse aos senadores que Araújo mentiu ao sugerir que ela o pressionou a fazer um ‘gesto em relação ao 5G’. A senadora quer que a Casa tome uma ‘medida séria’ contra o chanceler. A senadora disse ainda que há uma ação orquestrada nas redes bolsonaristas para espalhar que Arthur Lira e os senadores foram comprados pela chinesa Huawei. ‘Vagabundo’, ‘psicopata’ e ‘mentiroso’ foram alguns dos adjetivos dirigidos ontem ao chanceler.” (Globo)

Pois é... O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), respondeu duro. “A tentativa do ministro de desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge todo o Senado Federal. E justamente em um momento que estamos buscando unir, somar, pacificar as relações entre os Poderes”, afirmou. “Essa constante desagregação é um grande desserviço ao País.” (Twitter)

Leonardo Sakamoto: “Em mais uma pressão pela substituição do chanceler Ernesto Araújo, a oposição ao governo apresentou, nesta sexta, um projeto de resolução do Senado para sustar todas as sabatinas com chefes de missões diplomáticas. Senadores são responsáveis por aprovar a nomeação de embaixadores feitas pelo presidente da República. Com a proposta, elas ficariam suspensas enquanto o atual ministro das Relações Exteriores estiver no cargo.” (UOL)

Gerson Camarotti e Guilherme Mazui: “Interlocutores de Jair Bolsonaro avaliam que Ernesto Araújo tenta se vitimizar e encontrar uma saída honrosa perante a ala ideológica da base do governo ao tentar associar a pressão por sua demissão a um lobby em relação ao 5G. Aliados do governo viram no gesto um movimento desesperado do chanceler.” (G1)

E o Meio errou. Na edição de sexta-feira, o chanceler Ernesto Araújo foi erroneamente chamado de Eduardo Araújo.

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O azedume nas relações entre o Centrão e Jair Bolsonaro não é um fenômeno político em sua origem, é econômico. O movimento foi resultado de nove encontros que os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tiveram com grandes empresários, representantes de bancos e do mercado financeiro. O objetivo imediato do setor econômico é derrubar dois ministros: Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Salles (Meio Ambiente). Para os empresários, é necessário “controlar o presidente” e reverter a imagem “nefasta” do Brasil no exterior. (Estadão)

Entre os agentes do mercado que não disfarçam a insatisfação com Bolsonaro está Luis Stuhlberger, gestor do festejado Fundo Verde e um dos signatários da carta de economistas pedindo mudanças na condução do país. Decepcionado, ele diz que votou no presidente em 2018, mas que ele “não vai ter mais” seu voto. (Estadão)

Já Bolsonaro tenta ganhar tempo e não ceder às pressões do Centrão e do meio empresarial e financeiro. Além da pressão sobre Salles e Araújo, os parlamentares reclamam do distanciamento do governo, até mesmo de ministros oriundos de partidos da base. (Folha)

Mas não são só os empresários que estão descontentes. Militares da reserva, com anuência dos da ativa, articulam apoio a um nome de “terceira via” para 2022. Por um lado, consideram o retorno do PT ao Planalto um “retrocesso inaceitável”. Por outro, consideram que Bolsonaro não honrou o próprio discurso e que “o Brasil está sem rumo”. (Globo)

Vinícius Torres Freire: “Agora é a vez de o centrão tentar tutelar Bolsonaro, um plano que vinha sendo articulado desde o início de março. De modo improvisado ou acidental, o movimento da ‘carta’ de economistas, financistas e empresários e a manobra do centrão confluíram. Por afinidades eletivas, como diria um velho sociólogo, criou-se uma reação maior a Bolsonaro. A tutela pouco limita seu poder de destruição e seu projeto de tirania; sem oposição não se cria alternativa de poder. Oposição quer dizer: líderes, confrontos, articulações sociais, ideias.” (Folha)

Reconquistar a confiança do PIB não é problema exclusivo de Jair Bolsonaro. Seu provável adversário em 2022, o ex-presidente Lula enfrenta o mesmo drama e mandou um recado em seu discurso há duas semanas: “Não tenham medo de mim”. Em 2002, o recado veio junto com a Carta ao Povo Brasileiro, em que se comprometia com uma política econômica austera. Só que hoje os autores daquele texto acreditam que não seja possível repetir o resultado, dadas as mudanças no cenário político e econômico em duas décadas. (Folha)

O policial militar Weslei Soares foi morto a tiros por colegas no início da noite de ontem, em frente ao Farol da Barra, em Salvador. Weslei chegou ao lugar após ser perseguido, carregava um fuzil automático com o qual fez dezenas de disparos para o ar na região turística, e trazia o rosto pintado de verde para camuflagem. Houve tentativas de negociação, mas o rapaz alternava entre picos de lucidez e de loucura — segundo a PM baiana teve um surto psicótico. Foi morto pelo Bope quando voltou a arma para os outros soldados e fez que ia atirar. Durante a tarde, Weslei chegou a lançar ao mar os produtos vendidos por ambulantes e mais de uma bicicleta de trabalhadores. (Correio da Bahia)

Um vídeo amador mostra que Weslei só foi atingido após atirar contra os policiais. As imagens podem chocar. (G1)

Então... Durante a madrugada, as redes bolsonaristas começaram a incitar. As deputadas Bia Kicis e Carla Zambelli afirmam que o surto ocorreu porque Weslei não queria controlar o fluxo de pessoas pelas medidas de isolamento social. Mas ignoram que ele agiu contra trabalhadores. (Twitter)

Viver

Após uma interrupção provocada por uma mudança mal sucedida no registro de mortes por Covid-19, a média móvel de óbitos retomou triste a sequência de recordes. No domingo chegou a 2.598, terceiro recorde consecutivo, com 1.605 mortos. O total desde o início da pandemia chega a 312.299. Vinte estados e o DF estão com alta nas mortes: CE, MS, SP, TO, RS, RN, MG, PE, AL, ES, PR, RJ, SC, SE, MT, RO, AP, BA, PI, MA.

Quando se fala em medidas de isolamento, o principal objetivo é evitar o colapso dos sistemas de saúde. Exatamente o que está acontecendo. Somente este ano, 38% dos mortos por Covid-19 em hospitais não chegaram às UTIs – 28 mil pessoas. Para as famílias desses brasileiros sobra a dor e a certeza de que o sistema falhou com elas. Mesmo quem consegue entrar na UTI enfrenta maus prognósticos. Em cada dez paciente que precisam ser intubados, somente dois sobrevivem. (Globo)

Painel: “No pior momento da pandemia de Covid-19, o conselho de secretarias municipais de Saúde debateu na sexta um modelo de triagem para definir quais pacientes terão tratamento convencional e quais receberão atendimento paliativo em casos de colapso hospitalar. A médica Lara Kretzer afirmou na reunião que o ideal seria não precisar fazer uma escolha que, ao extremo, pode significar decidir quem vive e quem morre, mas que é obrigação ética estar preparado para isso.” (Folha)

E a defesa dos lockdowns ganhou um exemplo a mais. A cidade paulista de Araraquara, cuja rede de saúde entrou em colapso em fevereiro, proibiu a circulação de veículos e pessoas mesmo durante o dia entre 21 de fevereiro e 21 de março. Agora, vê o número de casos de Covid cair 58%, enquanto o estado tem alta de 40%, e já abre leitos para pacientes de outras regiões. (Estadão)

A Fiocruz recebeu neste domingo insumos para produzir 12 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca. Com o material para seis milhões de doses recebido na quinta-feira e o lote para outros cinco milhões esperado para esta semana, a fundação diz ter matéria-prima para entregar ao Ministério da Saúde as doses previstas para abril e parte de maio. (UOL)

Já a aprovação da vacina russa Sputnik V segue emperrada. A Anvisa suspendeu o prazo de sete dias para analisar o pedido de uso emergencial do imunizante, alegando que faltam “documentos considerados importantes” na solicitação. (Poder360)

E Anvisa também pediu mais informações sobre a Vasamune, vacina financiada pelo governo federal e desenvolvida pela USP de Ribeirão Preto em parceria com o laboratório brasileiro Farmacore. Na quinta-feira, os responsáveis pelo imunizante pediram autorização à agência para iniciar testes em seres humanos. (G1)

Ancelmo Gois: “O Ministério da Saúde decidiu vacinar para a Covid-19 todas as pessoas, acima dos 18 anos, com HIV. A medida vai beneficiar cerca de 700 mil brasileiros.” (Globo)

Enquanto isso... A União Europeia endureceu a conversa com a AstraZeneca e ameaça proibir a exportação de vacinas produzidas pelo laboratório no continente. A empresa é acusada de não cumprir os contratos com o bloco, fornecendo apenas 30% das vacinas prometidas. (Veja)

E o Reino Unido pretende aplicar uma terceira dose de vacinas em idosos e profissionais de saúde por conta das variantes do Sars-Cov-2. (Poder360)

Romper a barreira de acesso à educação é mais difícil no Brasil. Essa é a conclusão de um estudo Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social sobre desigualdade na educação em diversos países. Em cada dez brasileiro cujos pais não completaram o ensino médio, seis (58,3%) também não irão concluí-lo. Entre as famílias 20% mais pobres, esse percentual salta para 80,8%. Nos EUA, são 29,2%. A falta de mobilidade educacional no Brasil é um dos fatores que perpetuam a desigualdade de renda no país. (Folha)

Cultura

Cerca de cinco mil pessoas se aglomeraram na cidade espanhola de Barcelona para um show da banda de pop rock Love of Lesbian (clipe de El Sur no Youtube). Mas não foi um gesto de desrespeito ao distanciamento, e sim uma experiência autorizada pelo governo. Todos na plateia usavam máscaras e haviam conseguido resultado negativo em testes de Covid, ambos incluídos no preço do ingresso. O objetivo é avaliar a segurança desse tipo de evento e, se for o caso, criar um protocolo para a retomada dos shows presenciais na Europa. (G1)

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Três décadas depois de assustar o mundo e abiscoitar seu Oscar de Melhor Ator como Hannibal Lecter em O Silêncio dos Inocentes, Anthony Hopkins está de novo na briga pela estatueta, mas num papel que desperta empatia, não medo. Em Meu Pai, ele vive Anthony, um homem de 83 anos (sua idade real) que convive com a demência. Duas atrizes vivem sua única filha, enfatizando a confusão mental do pai. O filme estreia em abril nas plataformas de streaming. (Folha)

Cotidiano Digital

Os chineses querem abrir mais uma frente de competição com os americanos: satélites de internet de alta velocidade. O plano StarNet da China é lançar 10 mil satélites nos próximos cinco a 10 anos. Esse é o mercado da Space X, que lidera com seu serviço Starlink e já tem realizado testes com usuários nos EUA, Canadá e Reino Unido. A Amazon também tem investido em sua própria frota de satélites com o Projeto Kuiper. Segundo especialistas, a China está atrasada em banda larga via satélite, mas se implantar a mesma estratégia que fez com a Huawei de oferecer equipamentos mais baratos e confiáveis no exterior, pode se tornar um competidor de peso para os americanos.

Por falar na China… Com o maior mercado do mundo, o país começou a construir uma arena de e-sports em Shangai. A obra custará US$ 898,2 milhões e terá uma área de 500 mil metros quadrados, com um hotel anexo para as equipes. A ideia é  posicionar a cidade como um centro global de e-sports. No ano passado, Shangai sediou o Campeonato Mundial League of Legends, um dos maiores eventos do calendário de e-sports. (Época Negócios)

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