Meio milhão de mortos, centenas de milhares nas ruas

Em março do ano passado, nem nos nossos piores pesadelos poderíamos imaginar algo assim, mas aconteceu. No sábado, o Brasil superou a marca de 500 mil mortos por Covid-19. Neste domingo, com 1.050 novos óbitos, chegamos ao total de 501.918. Meio milhão de pessoas com suas histórias e seus sonhos abreviados. E ainda não está próximo o fim. Segundo o médico Miguel Nicolelis, que previu a marca dos 500 mil neste semestre, a tendência é de que o Brasil ultrapasse os EUA no número de mortos devido ao ritmo lento da vacinação. A média móvel em sete dias, 2.063, é 24% maior que a dos 14 dias anteriores. (Globo)

O morticínio da Covid-19 é uma tragédia nacional, mas representa também 500 mil tragédias pessoais. Muitas famílias perderam seus arrimos, e sem eles viram sua renda cair a zero. “Não está fácil, tem sempre uma pendência, uma conta atrasada”, conta Júlia Rita Martins, que perdeu o marido e o filho, este vítima de outra doença. Mais importante do que o impacto econômico é a perda emocional de órfãos que precisam assimilar a tragédia. (Folha)

Dos 22 ministros que integram o governo federal, somente três manifestaram pesar pelas mortes e solidariedade às famílias: Marcelo Queiroga, da Saúde, Tereza Cristina, da Agricultura, e Gilson Machado, do Turismo. Os presidentes da Câmara, do Senado, do STF e do STJ também fizeram manifestações de pesar. Do presidente da República, nem uma palavra. (Poder360)

Não é normal a falta de reação do presidente da República — e não era assim. Acompanhe a reação dos antecessores de Bolsonaro perante tragédias nacionais. (Folha)

E agora? Veja o que preveem os especialistas para pandemia daqui para a frente. (G1)

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O luto brasileiro não foi silencioso. No mesmo sábado em que passamos dos 500 mil mortos, centenas de milhares de pessoas, numa contagem conservadora, tomaram as ruas de 25 capitais, de Brasília e de outras 118 cidades brasileiras exigindo vacinas para todos e o impeachment de Jair Bolsonaro. Em São Paulo, nove quarteirões da Avenida Paulista foram tomados, enquanto, no Rio, a multidão ocupou toda a extensão da Avenida Presidente Vargas. (G1)

Confira fotos e vídeos das manifestações. (UOL)

Um fenômeno novo e importante nos protestos de sábado foi a presença de ex-eleitores de Bolsonaro. Os motivos que os levaram a votar no presidente foram diversos, mas, para a maioria, a gestão da pandemia motivou o arrependimento. Um deles, um empresário que preferiu não dar o nome para evitar “problemas na família”, disse que outros arrependidos teriam aderido se as manifestações não tivessem sido “convocadas pelo pessoal da esquerda”. (Folha)

E esse é o problema que os organizadores dos protestos encaram: como atrair o centro ou mesmo a direita não-bolsonarista. Para estes, há três empecilhos: o caráter eleitoral que veem nos protestos, a divergência em pautas econômicas e o fato de que muitos partidos desse campo têm integrantes que apoiam o governo, o que complica a adesão a um movimento por impeachment. (Folha)

Calado sobre as 500 mil mortes, Bolsonaro reagiu com ironia às manifestações, publicando no Twitter um vídeo de nove pessoas protestando contra ele sob a chuva em Paranaguá (PR). Não publicou, claro, imagem de qualquer uma das capitais. (Poder360)

Igor Gielow: “A rua dá sinais de que veio para ficar no panorama brasileiro com a renovada jornada de protestos contra Jair Bolsonaro. O fato de os atos terem coincidido com a macabra efeméride dos 500 mil mortos da Covid-19 no Brasil apenas ampliou o simbolismo deste sábado.” (Folha)

A médica Nise Yamaguchi decidiu processar o senador Otto Alencar (PSD-BA), integrante da CPI da Pandemia, e o presidente da Comissão, Omar Aziz (PSD-AM), por danos morais. Ela afirma que os senadores a humilharam e foram misóginos em seu depoimento. Alencar, em especial, lhe fez uma série de perguntas básicas sobre infectologia, que ela não soube responder, e a interrompeu continuamente. O presidente da Comissão, diz ela, foi cúmplice ao não contê-lo. Ela quer indenização de R$ 320 mil. (Folha)

Aziz negou que tenha havido misoginia e afirmou que a médica mentiu em seu depoimento. “Ela nos disse que foi a Brasília três vezes e a CPI detectou que ela foi 13 vezes, das quais oito ela pagou com dinheiro vivo. Ela tem muito mais a explicar do que eu. Eu estou tranquilo”, disse. (UOL)

Enquanto isso... A CPI já identificou 38 informações falsas ou distorcidas dadas durante depoimentos, a maioria pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. As contradições e mentiras de integrantes do governo, dizem membros da comissão, indicam uma estratégia para blindar Bolsonaro nos depoimentos. (Globo)

Aprovado a toque de caixa pela Câmara, o projeto que dificulta a punição de maus gestores públicos está agora no Senado. Uma curiosidade. Em cada quatro senadores, um responde a processo ou tem condenações por improbidade administrativa. Caso a lei retroaja, como defendem advogados, vai beneficiar esses parlamentares. (Estadão)

A primeira instância da Justiça Eleitoral peruana rejeitou o recurso da candidata derrotada Keiko Fujimori para invalidar cerca de 200 mil votos – quase cinco vezes a vantagem do vitorioso Pedro Castillo. A candidata conservadora insiste que houve fraude eleitoral, sem apresentar provas e já disse que vai recorrer ao equivalente peruano ao TSE. (Globo)

Viver

O Brasil recebeu neste domingo o primeiro lote de vacinas da Pfizer entregues pelo consórcio Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde (OMS). São 842 mil doses produzidas na Bélgica. Cerca de outros 42 milhões de doses devem ser enviados pela Covax ao Brasil até o fim do ano. (CNN Brasil)

Ontem aconteceu a vacinação em massa na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, mais um teste do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para analisar a eficiência da vacina da AstraZeneca na imunização coletiva. Todos os moradores adultos foram vacinados. Apesar de fazer parte da segunda maior cidade do país, Paquetá é uma ilha bucólica, sem circulação de carros e acessível apenas por barcas, o que facilita no isolamento. O prefeito Eduardo Paes já anunciou um carnaval fora de época na ilha após a vacinação. (Folha)

Cerca de 62% dos indígenas na Amazônia já foram imunizados com duas doses contra a Covid-19, segundo o Ministério da Saúde. Parece uma boa notícia, mas o número é abaixo da média nacional de 72% de duas doses em povos tradicionais. Grupos, especialmente no Acre e no Pará, resistem à imunização, principalmente devido à disseminação de notícias falsas e de negacionismo de cunho religioso. (G1)

E a China ultrapassou a marca de um bilhão de doses de vacina aplicados. Isso representa mais de um terço dos 2,5 bilhões de doses aplicados no mundo. O governo chinês, porém, não informou quantas foram as segundas doses. (UOL)

Para quase três milhões de alunos carentes, o ensino remoto imposto pela pandemia não representa apenas deficiência na educação. Significa fome. Em todo o país, 667 redes municipais não conseguem garantir entrega de alimentação a esses estudantes, que faziam suas refeições na escola. (Globo)

Na busca pelo criminoso Lázaro Barbosa, policiais goianos estariam cometendo arbitrariedades contra templos de religiões de matriz africana, dizem líderes. Segundo eles, os agentes invadiram seguidamente e com truculência terreiros sem mandados judiciais, vasculhando telefones e computadores e tentando estabelecer uma ligação entre os locais de culto e o assassino. (UOL)

Enquanto isso, Lázaro continua a despistar a força-tarefa de mais de 200 homens. Achá-lo não vai ser simples. Jorcilei Rosa Sales, que cresceu com o criminoso no sertão baiano e trabalhou com ele em Goiás, diz que, para Lázaro, a mata da região “é como um quintal”. (Metrópoles)

A mudança de comando nos Estados Unidos deve deixar o Brasil isolado em mais um tema: a saúde sexual. A sessão de hoje do Conselho de Direitos Humanos da ONU deve defender o direito à saúde sexual e reprodutiva como “parte integrante do direito à saúde”, com o apoio de Joe Biden, numa guinada em relação à postura ultraconservadora do governo Trump, aplicada no Brasil e defendida por Jair Bolsonaro. (UOL)

Moradores do Japão poderão assistir aos Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados do ano passado para 23 de julho deste ano. Os estádios e arenas, porém, terão somente 50% da capacidade, até o limite de 10 mil pessoas. Torcedores estrangeiros continuam barrados. (New York Times)

Cultura

O documentário A Última Floresta, de Luiz Bolognesi, ganhou o prêmio do público na 71ª edição do Festival de Berlim. O filme trata da luta dos yanomamis contra a ação de garimpeiros ilegais na Amazônia e foi escrito pelo próprio Bolognesi e pelo xamã Davi Kopenawa. O tema é mais atual que nunca, com os recentes ataques desses criminosos a aldeias e até a policiais. (Globo)

Não é só no cinema que artistas e criadores indígenas vêm ganhando espaço. A Bienal de São Paulo terá este ano cinco brasileiros e quatro representantes de povos nativos de outros países das Américas. A cultura indígena sempre influenciou a arte moderna, mas agora ela chega sem intermediários. (Folha)

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Poucas histórias de amor marcaram tanto os anos 1960 quanto a do filme Um Homem, Uma Mulher, que, em 1966, rendeu a Palma de Ouro em Cannes a seu diretor, Claude Lelouch. Em 1986, o cineasta retomou a história do casal de viúvos em Um Homem, Uma Mulher: 20 anos depois. Eis que agora Lelouch, de 83 anos, retoma seus personagens em Os Melhores Anos de uma Vida. A inspiração para o longa veio na exibição da versão restaurada do original. O diretor conta que ao ver a cumplicidade nos olhares de Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant, intérpretes do casal, percebeu que “aquela história ainda não estava acabada”. (Estadão)

Não raro as letras são tão parte da mensagem quanto as palavras que elas formam. Há 21 anos a revista Tupigrafia, única no país dedicada ao tema e aclamada por especialistas de todo o mundo, ajuda a desvendar esse mundo de formas, curvas, ângulos e serifas. A arte de J.Carlos, Millôr Fernandes e Eugenio Hirsch, entre outros, já passou por suas páginas. Agora, a revista terá sua primeira antologia internacional, com textos em inglês. A campanha de financiamento no Kickstarter está na reta final e oferece condições especiais para brasileiros.

Cotidiano Digital

Pela primeira vez em oito anos, Mark Zuckerberg ficou de fora da lista dos 100 CEOs mais importantes. O ranking é medido pela aprovação dos funcionários de cada empresa. A popularidade do fundador do Facebook caiu em especial nos últimos meses de 2020 e no início deste ano, quando a big tech estava sendo pressionada pelo seu papel na eleição presidencial dos EUA e na onda de desinformação em torno da pandemia. Zuckerberg obteve uma classificação de 88%, superior à média de 73% de aprovação dos CEOs em geral, mas abaixo de outros grandes nomes como Satya Nadella, da Microsoft, que obteve 97% e Tim Cook, da Apple, 95%. (Globo)

Para ler com calma… Há anos, a visão dentro da Amazon é de que funcionário com anos de empresa acaba querendo receber aumento e com o tempo, fica menos entusiasmado com o trabalho. Como resultado, reportagem do New York Times mostra que a big tech incentivou a rotatividade de funcionários dos centros de distribuição, além de monitoração constante. Depois de três anos no emprego, não recebiam mais aumentos automáticos e a empresa oferecia bônus às pessoas que pediam demissão. Também oferecia mobilidade ascendente limitada, preferindo contratar pessoas de fora. Esses problemas se tornaram ainda mais evidentes durante a pandemia: com a alta demanda, a empresa chegou a exigir que funcionários internados voltassem a trabalhar.

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