Prezadas leitoras, caros leitores —

Democracia, como tudo nessa vida, se aprimora praticando. Desde 1985, fim da ditadura militar, estamos aprimorando a nossa entre trancos e barrancos. Tivemos oito eleições presidenciais, dois impeachments, escândalos ostensivos ou discretos, dependendo do ímpeto do procurador-geral da República em exercício… Mas seguimos em frente.

Pelo lado normativo e operacional, desenvolvemos um dos mais eficientes processos eleitorais do mundo. Há 25 anos usamos um sistema de urnas eletrônicas em constante aprimoramento. Votamos num dia e vamos dormir sabendo quem elegemos. Nesse período, nem uma única suspeita de fraude foi confirmada, e a única contestação de resultado, feita por Aécio Neves (PSDB) em 2014, revelou-se mera picuinha.

No campo da legislação, o avanço foi mais lento. O Legislativo e o Executivo são eleitos pelas regras vigentes. Mudá-las pode custar-lhes a permanência no poder, daí a resistência a fazer alterações. E é compreensível, embora não aceitável.

E nem sempre a culpa é deles. Em 2006, o Supremo Tribunal Federal considerou inconstitucional, por unanimidade, a lei que estabelecia a cláusula de barreira, medida que permitiria uma organização mínima da estrutura partidária brasileira.

Mas o fato é que avançamos. E eis que, em 2021, todos esses avanços estão sob ataque. Embora a adoção do voto impresso tenha sido sepultada no Congresso, uma série de projetos propõe alterar para muito pior nossa legislação eleitoral.

Esse momento dramático e decisivo da nossa democracia é o tema de nossa edição deste sábado, que, como é sabido, vai somente para os nossos assinantes premium.

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— Os editores

Supremo se pinta para a guerra

Foi de surpresa. Ao encerrar na tarde de ontem a sessão no Supremo Tribunal Federal, o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, fez um discurso duro, em tom ríspido e sem esconder a irritação, dirigido ao presidente Jair Bolsonaro. “O Presidente da República tem reiterado ofensas e ataques de inverdades a integrantes desta Corte, em especial os Ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes”, afirmou. “Além disso, Sua Excelência mantém a divulgação de interpretações equivocadas de decisões do Plenário, bem como insiste em colocar sob suspeição a higidez do processo eleitoral brasileiro.” Fux falou por alguns poucos minutos, não mais. “Diante dessas circunstâncias, o Supremo Tribunal Federal informa que está cancelada a reunião outrora anunciada entre os Chefes de Poder, entre eles o Presidente da República. O pressuposto do diálogo entre os Poderes é o respeito mútuo entre as instituições e seus integrantes.” Assista à íntegra do discurso. (G1)

Na quarta-feira, Moraes aceitou a notícia-crime enviada pelo TSE, presidido por Barroso, e incluiu Bolsonaro no inquérito das fake news por conta de seus ataques infundados ao sistema de votação brasileiro. Ontem, Bolsonaro atacou Moraes dizendo que “a hora dele vai chegar”. (Poder360)

Em resposta, Bolsonaro vacilou no tom em sua live de quintas, que ficou por vezes na defensiva, noutras agressivo. “Daí vem a imprensa, imprensa esta que lamentavelmente o ministro Fux se alimenta dela para fazer uma nota. Ora, prezado ministro Fux, se o senhor se basear na imprensa brasileira, o senhor está desinformado.” (UOL)

Lauro Jardim: “Depois do pronunciamento em que cancelou a reunião entre os três Poderes, motivado pelos ataques de Jair Bolsonaro ao STF, Luiz Fux ligou para Augusto Aras e marcou um encontro entre os dois para hoje. São três os assuntos: os ataques de Bolsonaro ao Supremo, os ataques de Bolsonaro ao Supremo e os ataques de Bolsonaro ao Supremo.”

Tales Faria: “Bolsonaro fez toda sua carreira política jogando truco, e muitas vezes blefando aos berros. Mas a verdade é que ele sempre acaba recuando quando é enfrentado por um oponente que se mostra de fato mais forte. Já os ministros do Supremo jogam pôquer. Quando enxergam um blefe, pagam para ver, mesmo que silenciosamente. Pois bem, chegou a hora de o presidente da República recuar novamente, ou colocar suas cartas na mesa. Nas duas hipóteses, o mais provável é que ele acabe derrotado. Agora, ou mais tarde.” (UOL)

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Numa das mais expressivas derrotas do governo Bolsonaro na Câmara, a comissão especial que analisava a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do voto impresso rejeitou por 23 votos a 11 o parecer do relator Filipe Barros (PSL-PR), favorável à mudança. Agora, um novo relator será escolhido e deve propor o arquivamento da proposta, que será votado hoje. Integrantes da base governista, PSL, PP, Republicanos, PTB e Podemos orientaram voto em favor do voto impresso. PT, PL, PSD, MDB, DEM, PSDB, PSB, Solidariedade, PSOL, PV e Rede foram contra. Cidadania e Novo não quiseram assumir uma posição e liberaram as bancadas. (Globo)

Mesmo com a derrota esmagadora na comissão, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro, aventa a possibilidade de levar a PEC ao plenário da Câmara. Ele afirma que as comissões são opinativas, não terminativas, e que o Regimento permite levar a plenário pautas rejeitadas em comissões. A oposição admite que a possibilidade existe, mas acha improvável que o governo consiga amealhar 308 votos em dois turnos para aprovar uma mudança na Constituição rejeitada pelos partidos. (Folha)

Meio em vídeo. Voto impresso funciona? A resposta dá para dizer de bate-pronto: não. O voto impresso, em verdade, aumenta, facilita e barateia a possibilidade de fraude. Mesmo que a premissa do presidente Jair Bolsonaro estivesse correta e a urna eletrônica fosse fraudável, o voto impresso só aumentaria a insegurança. E não é difícil compreender por quê. Confira o Ponto de Partida no YouTube.

Diante da dificuldade de aprovar na Câmara a proposta do “distritão”, a relatora Renata Abreu (Pode-SP) passou a discutir uma outra proposta também encarada como retrocesso. A volta das coligações em eleições proporcionais. Até 2017, quando essas coligações foram proibidas, partidos inexpressivos podiam se escorar no cociente eleitoral de legendas maiores para conseguir suplências ou mesmo vagas no Legislativo. Nas eleições de 2020, eles tiveram que contar somente com a própria musculatura. Junto com a cláusula de barreira, o fim das coligações proporcionais é apontado como crucial para reduzir a fragmentação partidária e melhorar a governabilidade. (G1)

A reprovação do governo Bolsonaro caiu 4%, ainda dentro da margem de erro, segundo levantamento do PoderData, passando de 62% para 58%. A variação coincidiu com o recesso da CPI da Pandemia, que produz um noticiário fortemente negativo para o governo. A aprovação teve uma elevação mais tímida, de 32% para 34%. A avaliação negativa do governo é generalizada em praticamente todos os cortes. Somente na região Sul o número de pessoas que consideram o governo ruim ou péssimo e as que acham ótimo e bom é igual, 41%. (Poder 360)

Olimpíada da Quarentena

Tony de Marco & Daniel Kondo

Olimpandemia
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Viver

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) suspendeu provisoriamente Tandara, jogadora da Seleção de vôlei feminino, por “potencial violação da regra antidopagem”. O resultado positivo saiu de um teste feito em 7 de julho, quando a equipe ainda estava no Brasil. Tandara retorna ao Brasil hoje e não participa do confronto contra a Coreia do Sul, pela semifinal olímpica, que ocorre logo mais às 9h. (Globo Esporte)

Pelo regulamento dos esportes coletivos, uma equipe só é punida com anulação de resultados quando duas ou mais atletas forem flagradas no antidoping. (ESPN)

Então… A suspeita de Tandara é por conta de um remédio utilizado para controle do ciclo menstrual. Tandara foi pega de surpresa pela notícia. (Globo)

Hoje à noite o Brasil pode levar mais uma medalha, a partir das 21h45, quando Isaquias Queiroz competirá na canoagem uma das duas baterias da semifinal dos mil metros. (Globo Esporte)

E anote aí: a final do futebol masculino ocorre amanhã, às 8h30. Brasil e Espanha. (CBF)

Aliás… Às 2h45 de sábado, Hebert Conceição luta com o ucraniano Oleksandr Khyzniak pelo ouro no boxe dos pesos médios. E, no domingo, Bia Ferreira disputa o ouro do peso leve contra a irlandesa Kellie Anne Harrington, às 2h. Não importa o resultado, já será a maior conquista olímpica do boxe feminino brasileiro. (El País)

Foi uma longa carreira — 21 anos ao todo. Mas Lionel Messi não é mais jogador do FC Barcelona, equipe pela qual compete desde que veio da Argentina para a Catalunha, aos 13. O divórcio ocorre porque o clube não tem como arcar com o valor pedido pelo jogador. “O Barça agradece de todo o coração ao jogador o seu contributo para a valorização da instituição e deseja-lhe o melhor na sua vida pessoal e profissional.” (Lance)

O consórcio de governadores do Nordeste anunciou ontem a suspensão do contrato para a compra da vacina russa Sputnik V. Firmado em março, o acordo previa a compra de 37 milhões de doses, mas esbarrou em entraves impostos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, restrições à importação e à não inclusão do imunizante no Programa Nacional de Imunização. (Poder360)

Mas vacinar é preciso. Segundo dados do Ministério da Saúde, entre janeiro e julho deste ano, 94% das mortes no Mato Grosso, por exemplo, atingiram pessoas que não haviam sido imunizadas. (UOL)

O governo de São Paulo ameaça ir à Justiça para receber 228 mil doses da vacina da Pfizer prometidas pelo Ministério da Saúde. A Pasta diz que reteve os imunizantes para compensar doses da CoronaVac que o estado guardou, mas a retenção ameaça a vacinação de adolescentes prometida pelo governador João Doria. Até o momento, a Pfizer é a única vacina liberada pela Anvisa para aplicação em pessoas de 12 a 17 anos. (Estadão)

Não dá para baixar a guarda. No Rio de Janeiro, 45% das amostras de vírus analisadas na capital correspondem à temida variante delta, originária da Índia. No estado, o percentual é de 26%. A tendência é que a delta se torne a cepa dominante, como aconteceu no Reino Unido e nos EUA. Ela é mais transmissível, e estudos avaliam se é mais letal. (Folha)

E a Fiocruz deu um alerta. O número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), geralmente associada à Covid-19, interrompeu a curva de queda pela primeira vez desde maio. Nas últimas três semanas, inclusive, foi identificado um sinal “moderado de crescimento”. (Globo)

Após mais de 200 dias o Brasil voltou a ter uma média móvel de mortes por Covid-19 em sete dias abaixo de 900. Com os 1.086 óbitos registrados na quinta-feira, a média ficou em 882, a mais baixa desde 8 de janeiro. No total, 560.801 vidas foram ceifadas pela pandemia no país. (G1)

Um novo estudo reforçou a tese de que marcas vermelhas e pretas numa caverna na Espanha são, na verdade, arte produzida por neandertais, uma outra espécie humana, há 60 mil anos, muito antes de os homens modernos chegarem à Europa. A datação mais detalhada revelou ainda que algumas das pinturas foram feitas com milhares de anos de diferença, mostrando que, além de terem capacidade de representação artística, os neandertais usavam essa arte para marcar sua presença em locais ao longo de ciclos migratórios. (BBC)

Cultura

Pela primeira vez em seis décadas os Rolling Stones vão se apresentar sem a batida segura de Charlie Watts. O baterista de 80 anos está se recuperando de uma cirurgia de emergência e será substituído por Steve Jordan no restante da turnê americana. O próprio Watts comunicou o afastamento temporário nas redes sociais e ainda brincou: “Pela primeira vez o meu tempo estava errado.” A natureza da cirurgia não foi divulgada. (Globo)

E se você acha que Charlie Watts já nasceu com 80 anos, confira esta reportagem de 1964, quando ele tinha, o quê, uns 75? (Youtube).

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Filha e sobrinha de empregadas domésticas negras, Conceição Evaristo se reconheceu quando, menina nos anos 1960, leu Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, de Carolina Maria de Jesus (1914-1977). “A gente lia Carolina sendo Carolina”, lembra. Hoje uma das mais respeitadas escritoras brasileiras, Conceição integra o conselho editorial que está compilando e lançando textos inéditos de Carolina, ressaltando a atualidade e a força da obra de uma mulher negra com apenas dois anos de estudo formal. “É uma justiça que chega tardiamente. Era necessário que ela estivesse presente. Essa homenagem, os livros… Seria tão bom se isso tivesse acontecido em vida”, diz Conceição. (Estadão)

Quando são boas, música e poesia fazem uma combinação imbatível. É o que o quarteto MEB (Música Extemporânea Brasileira) oferece com Canção do Anjo (YouTube), primeiro single de seu segundo álbum, Cabeça Doce. Com música de Zé Luiz Rinaldi sobre a tradução de Olga Savary para o poema El Regresso, de Federico García Lorca, o single está disponível a partir de hoje nas plataformas de streaming.

Gilberto Gil confirmou ontem sua candidatura a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Fernanda Montenegro, ainda extraoficialmente, também está no páreo. (Folha)

A veterana do canto lírico Eliane Coelho sobe hoje ao palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro para interpretar o Pierrot Lunaire, ópera atonal de Arnold Schoenberg, em montagem com regência de Priscila Bomfim e encenação de Julianna Santos.

No domingo, a cantora Fafá de Belém comemora o aniversário de 65 anos com uma live do show Humana, seguida de bate-papo com o público.

Confira aqui a agenda completa

Cotidiano Digital

Os QR Codes voltaram com tudo durante a pandemia. Restaurantes os adotaram em massa, algumas cadeias de varejo até os acrescentaram às suas caixas registradoras, e anunciantes os espalharam por suas embalagens, promoções em outdoors e comerciais de TV. Mas a sua difusão também tem levantado um debate sobre privacidade. Esses códigos permitem que alguns restaurantes criem um bancos de dados sobre os históricos de pedidos de seus fregueses e suas informações de contato. Enquanto em cadeias de varejo, em breve os consumidores poderão se ver confrontados por ofertas e incentivos personalizados incluídos em sistemas de pagamento via QR Code. Com essas vantagens, os comerciantes já não querem abandonar a tecnologia pós-pandemia. (New York Times)

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