Prezadas leitoras, caros leitores —

Chegamos a um ponto chave do governo de Jair Bolsonaro. Nas últimas semanas, o presidente vem incitando violência. Especula impunemente sobre a possibilidade de romper a Constituição. Fala que, para ele, este é um jogo de vitória ou morte. O temor de invasão do Palácio do Supremo, em Brasília, é grande. A possibilidade de insubordinação de policiais militares assusta governadores — uma pesquisa Atlas, publicada ainda ontem, dá conta que 30% dos PMs declaram que vão às ruas no 7S bolsonarista.

Se o fizerem, mesmo à paisana, estarão quebrando a lei. Chegamos a este ponto: o presidente pede a policiais que quebrem a lei. E parte deles atende.

Não temos como prever o que acontecerá. Mas, cá no Meio, seguimos atentos e trabalhando.

Normalmente, num feriado como o de amanhã, a newsletter não circularia. Mas vamos circular em edição extraordinária, com o noticiário político mais aprofundado.

Durante o dia 7, no Twitter, no YouTube, no Instagram e no Kwai, estaremos presentes com análises e curadoria do mais importante no noticiário.

E, às 19h de terça-feira, o Conversas com o Meio será ao vivo. Uma live do editor Pedro Doria com o cientista político Christian Lynch, analisando o dia.

A função do jornalismo numa democracia é informar. Nós informaremos.

— Os editores.

País em suspenso, tensão política no máximo

Jair Bolsonaro depende do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) para ter viabilidade eleitoral em 2022. E tanto o Supremo quando o Centrão, grupo que dá apoio ao governo no Legislativo, alertam que a pregação golpista nos atos convocados para amanhã pode fechar essa porta. O STF, por exemplo, é crucial para o parcelamento de precatórios, que viabilizaria um programa assistencial federal. Já a base no Congresso avalia que a retórica radical tem impacto negativo sobre a economia, alimentando a queda de popularidade do presidente. Partidos do Centrão já discutem abertamente o desembarque do governo. (Folha)

Governista na Câmara e oposicionista fora dela, o PSDB leva essa divisão para a reação aos atos bolsonaristas. O diretório paulista, sob as bênçãos discretas do governador João Doria, decidiu aderir à contramanifestação da esquerda amanhã no Vale do Anhangabaú. Doria a princípio era contra esse ato, temendo violência, mas foi derrotado na Justiça. Já o governador gaúcho Eduardo Leite foi numa linha mais tucana tradicional, condenando todas as manifestações. (Veja)

Não é só o meio político. Em mais um sinal de que o capital quer distância dos discursos de ruptura, desabou a adesão do varejo à Semana Brasil, uma campanha do governo para estimular promoções no comércio durante o feriado da Independência, informa o Painel SA. Em 2019, três mil empresas se inscreveram; este ano, pouco mais de 200. (Folha)

Enquanto isso... Bolsonaro investe para turbinar as manifestações divulgando vídeos com convocações e convidando seus ministros para os atos. É provável que somente aqueles mais alinhados ideologicamente com o governo aceitem. Ciro Nogueira (Casa Civil) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo), representantes do Centrão no Planalto, já declinaram. (CNN Brasil)

Mas mesmo entre os grupos tradicionalmente mais fechados com o presidente há mobilização contra os atos de amanhã. O grupo evangélico Movimento Batista por Princípios está exortando fiéis a não participarem das manifestações bolsonaristas. Eles acham incoerente que pastores “expressem sua solidariedade a uma manifestação de claro apoio a iniciativas autoritárias e pouco democráticas do atual presidente da República”. (UOL)

Thomas Traumann: “Se existe um roteiro para as ações de Bolsonaro para o dia 7, a pergunta natural é ‘o que acontece no dia 8?’. A resposta depende de como as oposições reagirem Em condições normais, a ideia de um presidente como Jair Bolsonaro derrubando ministros do Supremo seria capaz de juntar os maiores adversários. Se as oposições não souberem, Bolsonaro sabe o que quer fazer a partir de 8 de setembro.” (Veja)

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Os governadores estão de olhos em suas polícias militares e nos atos de apoio a Jair Bolsonaro marcados para amanhã. Apreensivos. Cada um a sua maneira, estão trabalhando para evitar a participação de PMs da ativa nas manifestações. Ceará e Rio Grande do Norte, que foram alvos de greves nas polícias, estão concedendo promoções para driblar o congelamento de salários e diminuir a insatisfação na tropa – mesma estratégia adotada pelo Distrito Federal. No Espírito Santo, o governo colocou toda a PM em prontidão no dia 7. Quem não estiver de serviço ou no quartel, será considerado desertor. (Estadão)

A preocupação não é infundada. Uma pesquisa online do Instituto Atlas Intelligence indica que três em cada dez policiais militares pretendem participar dos atos pró-governo. O regulamento das PMs proíbe expressamente que pessoas da ativa participem de atos políticos. Para o ex-governador Paulo Hartung, que enfrentou um motim da PM no Espírito Santo em 2017, os estados têm ferramentas para conter a insubordinação policial. (Globo)

Mônica Bergamo: “Uma carta assinada por ex-presidentes, ex-premiês e parlamentares de 26 países afirma que os protestos convocados por Jair Bolsonaro (sem partido) para o dia 7 de Setembro são ‘uma insurreição’ que ‘colocará em risco a democracia no Brasil’. Entre os mais de 150 signatários estão os ex-presidentes do Paraguai Fernando Lugo, da Colômbia Ernesto Samper, do Equador Rafael Correa, da Espanha José Luis Rodríguez Zapatero e o vice-presidente do Parlamento do Mercosul, Oscar Laborde.” (Folha)

Celso Rocha de Barros: “Nesta terça-feira os golpistas de Bolsonaro farão uma manifestação para tentar convencer os quartéis de que um golpe seria popular. É quase impossível que as manifestações não encham. É, de longe, a manifestação fascista que passou mais tempo sendo planejada. A passeata desta terça foi convocada do centro do poder para destruir os limites que a democracia lhe impõe. Se isso for suficiente para convencer as Forças Armadas, então já teve golpe.” (Folha)

Autorizado pelo ministro do STF Alexandre Moraes, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, foi transferido ontem para um hospital particular na Zona Oeste do Rio. O político de 68 anos, que cumpre prisão preventiva por incitar atos antidemocráticos, tem uma infecção urinária. Pela decisão de Moraes, Jefferson será monitorado por tornozeleira eletrônica e não pode receber visita nem acessar a internet. (G1)

Um tem o dinheiro; o outro, a capilaridade e os quadros. PSL e DEM estão avançando nas negociações para se fundirem numa única legenda, diante da perspectiva de o Senado rejeitar a volta das coligações em eleições proporcionais. Ex-nanico inflado pela onda bolsonarista em 2018, o PSL tem 53 deputados, empatado com o PT como maior bancada na Câmara. Pelo menos a metade deve deixar a legenda, mas ela conserva a gorda fatia do Fundo Eleitoral. Já o DEM tem 28 deputados, mas uma ampla estrutura nacional e nomes com potencial para disputar o Planalto, como o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta. (Globo)

Viver

A ação de fiscais da Anvisa levou à suspensão ontem da partida na Arena Corinthians entre Brasil e Argentina pelas eliminatórias da Copa de 2022. Ao entrarem no Brasil, quatro jogadores argentinos - Emiliano Martínez, Buendía, Cristian Romero e Lo Celso – prestaram informações falsas, omitindo que estiveram recentemente na Inglaterra. Pelas regras sanitárias brasileiras, eles teriam de cumprir quarentena. Ao identificar a fraude, a Anvisa determinou o isolamento dos quatro a deportação deles pela Polícia Federal. Agentes da PF foram até a concentração argentina, mas a delegação já havia saído. No estádio, a Argentina não permitiu que os policiais e fiscais da Anvisa entrassem no vestiário. Estes, então, interromperam a partida, que acabou suspensa pelo árbitro. (Metrópoles)

Em nota, a Anvisa reiterou que o objetivo era impedir que os quatro jogadores em situação irregular entrassem em campo, não suspender a partida, e que todos os envolvidos foram avisados no sábado, desfazendo o discurso da CBF de que foi pega de surpresa. (Poder360)

Entenda em cinco tópicos como e por que o jogo foi suspenso. (CNN Brasil)

A Conmebol deu a entender que tinha um acordo com o governo federal para que os jogadores atuassem. Entretanto, o Ministério da Saúde divulgou nota respaldando a atuação da Anvisa. (UOL)

A CPI da Pandemia quer convocar representantes da CBF para saber se alguma autoridade brasileira permitiu a entrada dos jogadores em campo à revelia da Anvisa. (G1)

Pois é... A decisão final sobre remarcar o jogo ou punir a Argentina cabe à Fifa. Mas não deve ocorrer tão cedo, observa Lauro Jardim. Ambos os países já estão classificados para a Copa. (Globo)

Como não poderia deixar de ser, a Internet veio abaixo com os memes do incidente, enquanto a imprensa argentina reclamava. (Poder360)

A Secretaria da Saúde de São Paulo informou ontem que quatro milhões de doses da CoronaVac que faziam parte de um lote suspenso pela Avisa já haviam sido aplicados. A agência suspendeu no sábado o uso de 25 lotes com 17 milhões de doses da vacina chinesa. A medida vale por 90 dias. O próprio Instituto Butantan comunicou à Anvisa que essas doses foram fabricadas em um laboratório que não havia passado por inspeção da autoridade sanitária brasileira. (CNN Brasil)

A variante delta, originária da Índia, já e responsável por 89% dos novos casos de Covid-19 analisados no Estado do Rio. Petrópolis, cidade da Região Serrana, confirmou três mortes devidas a essa cepa, mais transmissível. (Globo)

Neste domingo foram registrados 257 óbitos por conta da Covid-19 no Brasil, elevando o total a 583.570 desde o início da pandemia. A média móvel de mortes em sete dias foi de 606, a mais baixa desde 7 de dezembro. (G1)

A área explorada para extração de madeira na Amazônia entre agosto de 2019 e julho do ano passado equivale a aproximadamente três vezes a cidade de São Paulo, 464.759 hectares. Pelo menos 11% desse total estavam em locais protegidos por lei, como terras indígenas e Parques Nacionais. O levantamento foi feito pela Rede Simex, formada por Imazon, Idesam, Imaflora e ICV (Instituto Centro de Vida). (Folha)

Um show de fogos de artifício e uma mensagem de esperança marcaram o encerramento dos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Foi uma edição notável para o Brasil, que igualou sua melhor colocação no quadro de medalhas, sétimo lugar em Londres 2012, e quebrou o recorde de medalhas de ouro, 22, contra 21 também na capital inglesa. Mas os jogos terminaram com um gosto amargo para Thiago Paulino, que perdeu a medalha de ouro conquistada no arremesso de peso F57. Em nota, o Comitê Paralímpico Internacional explicou que ele cometeu uma irregularidade em seus dois arremessos. (UOL)

Cultura

O dilema ao se adaptar uma obra muito grande e complexa é ser fiel ao original e alienar o público “não iniciado” ou simplificá-la e enfurecer os fãs que deram a ela o status de clássico. Segundo os críticos, ao adaptar Duna, a epopeia de Frank Herbert, Denis Villeneuve fez a primeira opção. Apresentado no Festival de Veneza, o filme (trailer no YouTube) recebeu a maioria de avaliações positivas, mas com destaque para a estética. A narrativa, dizem as resenhas, deve afastar quem não conhece a fundo a obra de Herbert. Duna estreia na HBO Max no dia 22 de outubro. (Estadão)

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O descaso do governo brasileiro com a Cultura é mensurável. Entre 2011 e 2021, o orçamento do governo federal para o setor caiu 46,8%, de R$ 3,33 bilhões para R$ 1,77 bilhão — com os valores corrigidos pela inflação. A fatia da Cultura cresceu até 2013; de 2014 em diante, foi apenas queda. Proporcionalmente, o maior corte foi na Funarte (56,7%), seguida do Iphan (56,6%), que sofreu a maior garfada em valores absolutos. Além da previsão orçamentária, a execução (o que foi efetivamente gasto) teve queda semelhante. (Globo)

Cotidiano Digital

Com a divisão das fronteiras da Índia após o fim da colonização britânica, em 1947, milhões de famílias deixaram suas casas em meio à divisão religiosa entre muçulmanos e hindus. Na época, muitas pessoas morreram nos violentos protestos que acompanharam esse processo que deu origem ao Paquistão. Agora, 70 anos depois, o Projeto Dastaan está ajudando sobreviventes a rever seus vilarejos com o uso da Realidade Virtual. Com um óculos de R. V., idosos podem ver suas mesquitas, escolas e casas de infância. Um dos convidados para o projeto foi Iqballuddin Ahmad, que migrou da Índia para o Paquistão quando tinha 10 anos, durante o processo de divisão do território. Veja o vídeo. (BBC News Brasil)

Meio em vídeo. O governo chinês mudou o limite de tempo semanal para os menores de idade no país. Agora, os jovens só poderão jogar no máximo uma hora por dia entre sextas e domingos. Com a justificativa de combater o vício da população mais nova, a decisão das autoridades gerou questionamentos: será que é possível ter esse controle? Essa responsabilidade cabe somente aos pais dos jovens? Pedro Doria e Cora Rónai discutem os cuidados com a dependência de aparatos digitais na sociedade moderna. Confira no YouTube.

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