Prezadas leitoras, caros leitores —

No próximo domingo os chilenos vão às urnas escolher em segundo turno seu presidente.

De um lado, um político de esquerda que vem há tempos caminhando para o centro; de outro, um representante da extrema-direita, entusiasta da sangrenta ditadura de Augusto Pinochet. E a aguardá-los, um Congresso em que nenhum dos dois terá maioria.

Os problemas não são poucos, a desigualdade social é profunda e o descontentamento popular explodiu nos protestos de 2019.

Falando assim nos lembra muito cá outro país nosso conhecido, um certo Florão d’América, mas as semelhanças são enganadoras.

Cada um a seu modo, o esquerdista Gabriel Boric e o ultradireitista José Antonio Kast representam uma renovação na política chilena. Pela primeira vez desde 1990, quando o país voltou a ter eleições livres, a Concertación, grupo de centro-esquerda de comandou o processo, não está no segundo turno das eleições, assim como seu rival, a Renovação Nacional.

O resultado é imprevisível. As pesquisas apontam empate técnico, mas, num país onde o voto é facultativo, elas têm quase a mesma precisão de leitura em borras de café. Ganhará quem melhor mobilizar suas bases.

Paralelamente, uma Constituição está sendo escrita numa assembleia de predominância independente e esquerdista.

O que é esse Chile que vai às urnas? Como um país governado há décadas por moderados chegou a uma eleição tão polarizada? Que arranjo nacional pode emergir do pleito e o que ele pode nos dizer sobre o Brasil e outras nações do continente?

Isso é o que Meio vai explicar na edição especial deste sábado.

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— Os editores

Bolsonaro ameaça técnicos da Anvisa por vacina infantil

O presidente Jair Bolsonaro quer expor publicamente o nome dos técnicos da Anvisa responsáveis por liberar a versão pediátrica da vacina da Pfizer para crianças de cinco a 11 anos. “Queremos divulgar o nome dessas pessoas”, ameaçou durante sua live semanal. A direção da Anvisa já foi alvo de ameaças, que estão sendo investigadas pela Polícia Federal. A Anvisa liberou ontem a vacina infantil, mas ainda não há data para o início da imunização. As crianças dependem agora de o Ministério da Saúde adquirir doses, as ampolas infantis são diferentes, para inclusão no Programa Nacional de Imunização contra a Covid. (Metrópoles)

Pois é... Apesar da liberação, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, informou que não será possível iniciar a vacinação de crianças ainda este ano. Ele disse que o caso ainda vai ser avaliado pela câmara técnica do ministério. (UOL)

Entidades médicas comemoraram a decisão da Anvisa, classificada como “extremamente importante” pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Entretanto, médicos explicam que os pais devem estar atentos a detalhes importantes no momento da vacinação. Por ter composição, dosagem e intervalos diferentes dos imunizantes dos adultos, as vacinas pediátricas da Pfizer vêm em frascos de cor laranja. O ideal, dizem os especialistas, é que as crianças sejam imunizadas em um ambiente separado. (CNN Brasil)

Aliás... O diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, diz que a violência antivacina está em “viés crescente” e que é necessário discuti-la “antes que ameaças se concretizem”. Ele ressaltou que decisões como a liberação de vacinas para determinado grupo vão sempre atender a critérios técnicos. (g1)

Enquanto isso... A prefeitura de São Paulo informou que a variante ômicron do coronavírus já está circulando de forma comunitária na cidade. Sete pessoas foram contaminadas por um idoso que não teve contato com pessoas provenientes do exterior. (Folha)

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Dentro de poucos anos, professores brasileiros terão de lidar com a profusão de alunos chamados Miguel e Helena em sala de aula. Esses foram os dois nomes mais comuns registrados em 2021, segundo dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen) apurados nos 7.658 Cartórios de Registro Civil do país. Embora as listas sejam dominadas por nomes habituais, chamou a atenção Gael, que nem entrava no top 50 de 2019 e agora ocupa a terceira posição entre os nomes masculinos. (g1)

Mas cuidado ao registrar seus filhos. As consequências, como mostra o Porta dos Fundos, podem ser terríveis. (YouTube)

Quem olha o estorninho, um pássaro tão bonitinho, não imagina se tratar de uma praga que, segundo o Ibama já está invadindo o Brasil. De acordo com o órgão, os bandos da ave já ocupam pelo menos cinco municípios gaúchos na fronteira com o Uruguai. Altamente agressivos e vorazes, os estorninhos destroem plantações, espalham doenças, expulsam espécies nativas e causam grande desequilíbrio ambiental. Ah, eles também conseguem imitar sons complexos, como a fala humana — com frequência, palavrões. (UOL)

É só uma lembrancinha...

Marcelo Martinez

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Política

O presidente Jair Bolsonaro agiu de forma “direta e relevante” para espalhar desinformação sobre o sistema eleitoral brasileiro. Essa é a conclusão de um relatório entregue pela Polícia Federal ao STF. De acordo com a delegada Denisse Ribeiro, responsável pelo documento, Bolsonaro aderiu “a um padrão de atuação já empregado por integrantes de governos de outros países”. O relatório da PF faz parte de um inquérito sobre disseminação de notícias falsas, sob a responsabilidade do ministro Alexandre Moraes, alvo constante de ataques do presidente. (g1)

Um dia depois de a Polícia Federal executar mandados de busca e apreensão contra o ex-ministro e pré-candidato Ciro Gomes (PDT) e seus irmãos, o presidente Jair Bolsonaro usou sua live semanal para ironizar o incidente. “Tiveram uma visita ontem, né. Estão me acusando. Não tenho como interferir na PF. Não existe isso aí. A PF faz operações. Essa operação começou em 2017, não foi comigo”, disse ele. (Poder360)

Atacado por Bolsonaro, Ciro foi defendido por um grupo de juristas que inclui advogados, professores e ex-ministros da Justiça. Em nota, eles disseram que o presidente tem procurado “aparelhar as instituições de Estado” e criticaram o “uso descabido do sistema judicial como forma de perseguição política”. (Globo)

Mais uma pesquisa, agora do Datafolha, indica que, se as eleições acontecessem hoje, o ex-presidente Lula (PT) venceria já no primeiro turno. Ele tem 48% das intenções de votos, mais que o dobro dos 22% do presidente Jair Bolsonaro (PL). Em seguida aparecem Sérgio Moro (Podemos) com 9%, Ciro Gomes (PDT) com 7% e João Doria (PSDB) com 4%. Lula tem mais do que a soma dos adversários — esta é a conta que define a vitória em primeiro turno. O ex-presidente tem melhor desempenho entre os mais jovens, mais pobres e menos escolarizados. Um dado importante é que Lula vence Bolsonaro até entre os evangélicos (39% a 33%), grupo fundamental na eleição do presidente em 2018.  (Folha)

Bruno Boghossian: “A estreia de Sergio Moro na corrida presidencial não produziu o terremoto que seus apoiadores esperavam. Ao contrário, os primeiros números depois de sua largada consolidam a liderança de Lula e realçam fragilidades do ex-juiz e da candidatura de Jair Bolsonaro.” (Folha)

Meio em vídeo. Andam tumultuados os últimos dias do ano. Polícia Federal à porta de Ciro Gomes. Alckmin deixando o ninho tucano. Sérgio Moro como agente da CIA? Quem afinal tem legitimidade, na eleição do ano que vem, para dizer que é democrata e limpo? Confira no Ponto de Partida. (YouTube)

Disposto a sair da rabeira das pesquisas e se viabilizar como candidato de terceira via, o governador paulista João Doria (PSDB) apresentou ontem os quatro primeiros nomes do comitê econômico de sua campanha. Além do ex-presidente do BC Henrique Meirelles, ele anunciou as economistas Ana Carla Abrão, Zeina Latif e Vanessa Rahal Canado. Para explicar o funcionamento da equipe, ele ironizou o ministro da Economia, Paulo Guedes: “O Brasil já entendeu que a gasolina do posto Ipiranga acabou. Não teremos um posto Ipiranga, teremos uma usina de talentos econômicos.” Os quatro ressaltaram diversas vezes a preocupação com o aspecto social das propostas que serão elaboradas. Faz sentido, já que o desemprego e o avanço da miséria são apontados pelos eleitores como suas maiores preocupações. (Folha)

Os princípios ou o bolso? Esse dilema está infernizando a bancada evangélica no Congresso. Ontem a Câmara aprovou, por 293 votos a 138, a urgência no projeto que legaliza os cassinos e outros jogos de azar no Brasil. Com isso, o texto não terá de passar por comissões, indo direto ao Plenário. O assunto é anátema para a bancada religiosa, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pôs na mesa uma carta poderosa. Ele quer amarrar a liberação da jogatina à aprovação da PEC que isenta templos de pagar IPTU em imóveis alugados. Hoje eles já não pagam em imóveis próprios. (UOL)

Numa cerimônia de apenas 15 minutos, André Mendonça tomou posse ontem no Supremo Tribunal Federal. Em seu discurso, o ex-ministro da Justiça se comprometeu a “consolidar a democracia e esses valores e garantias e direitos que já estão estabelecidos e que vierem a ser estabelecidos no texto da nossa Constituição”. O presidente Jair Bolsonaro, o vice Hamilton Mourão e os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) participaram da posse. Após a cerimônia, o novo ministro esteve em um culto evangélico com Bolsonaro em Brasília, onde foi recebido com aplausos. (Poder360)

Em que pese o discurso de posse, a expectativa dentro do Supremo é de que Mendonça será um ministro lavajatista, conservador em costumes e alinhado com o governo em assuntos de economia. (Folha)

Cultura

Primeiro grande sucesso de um Beatle após o fim do grupo, a canção My Sweet Lord (Spotify), lançada por George Harrison (1943-2001) em 1970, ganhou um vídeo oficial (YouTube), com roteiro e direção de Lance Bangs e produção-executiva de Dhani Harrison, filho do músico. Não se trata de uma apresentação com músicos, mas de um filme satírico conceitual em que dois agentes são encarregados de “buscar aquilo que não pode ser visto”, numa referência à espiritualidade de que trata a canção. Uma das diversões é identificar as dezenas de participações especiais, como o também ex-Beatle Ringo Starr, a atriz Rosanna Arquette, o cineasta Taika Waititi e o gênio das paródias Weird Al Yankovic. (Estadão)

E como hoje é sexta-feira, a gente merece, My Sweet Lord tocada ao vivo por George Harrison no lendário Concerto para Bangladesh, em 1970. (YouTube)

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Duas vezes vencedor do Prêmio Jabuti, o economista Eduardo Gianetti da Fonseca, de 64 anos, foi eleito ontem para a cadeira 2 da Academia Brasileira de Letras, a última das cinco que vagaram ao longo da pandemia. Foram necessárias duas votações para Gianetti vencesse o escritor Gabriel Chalita e o advogado Sergio Bermudes. O novo imortal é mineiro de Belo Horizonte, lecionou na Universidade de Cambridge e tem uma longa bibliografia de teoria econômica. Foi o responsável pelos programas econômicos das campanhas presidenciais de Marina Silva em 2010, 2014 e 2018. (Globo)

Ao contrário das outras escolhas recentes da ABL, esta teve ares de campanha eleitoral, no mau sentido. Apoiador de Gianetti, o editor Pedro Corrêa do Lago teria feito acusações pesadas de assédio contra Chalita. “É a primeira vez que eu vejo uma campanha tão suja como essa”, disse o imortal Carlos Nejar, de 82 anos. (Veja)

Já não é de hoje que a escritora J.K. Rowling, que encantou o mundo com a série Harry Potter, vem comprando briga, inclusive com os fãs de suas obras, por conta de posturas e comentários transfóbicos em redes sociais. Seu último post polêmico, envolvendo a reportagem de um jornal conservador inglês sobre classificação de crimes, provocou reações de anônimos e de celebridades. Uma delas foi ninguém menos que Lynda Carter, a eterna Mulher Maravilha (perdão Gal Gadot). Sem citar a escritora, a atriz deu seu recado no Twitter: “Você não precisa ser trans para entender a importância de respeitar as pessoas trans e afirmar suas identidades. A vida é muito curta. Não consigo imaginar o sentido de alguém usar sua fama e recursos para diminuir os outros.”

Cotidiano Digital

O mercado global de NFTs, os tokens não fungíveis, atingiu US$ 22 bilhões (R$ 125 bilhões) em 2021, transformando imagens e artes digitais em grandes ativos de investimento, segundo dados da empresa DappRadar. Em 2020, a compra e a venda de NFTs movimentaram US$ 100 milhões. O NFT mais valioso vendido este ano foi “The First 5000 Days”, uma colagem digital da Beeple, nome usado pelo artista digital americano Mike Winkelmann. A arte digital foi leiloada por US$ 69,3 milhões em março, tornando-se uma das peças de arte mais valiosas de todos os tempos vendida por um artista vivo. Outro NFT da Beeple, “Human One”, foi vendido por US$ 29 milhões. (The Guardian)

Na mesma semana em que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) formou maioria para reconhecer o vínculo empregatício entre Uber e motoristas, o iFood assinou uma carta conjunta com entregadores do aplicativo afirmando que vai reforçar medidas de transparência sobre bloqueios e suspensões de trabalhadores na plataforma e que avalia implantar um reajuste anual. A decisão veio depois de um fórum com entregadores. (Folha)

O TikTok anunciou ontem que fará ajustes em seu algoritmo. O objetivo é interromper “padrões repetitivos” dos vídeos e permitir que as pessoas escolham temas que não desejam visualizar na página “Para Você” (“For You”, para quem usa o app em inglês). (g1)

E nesta semana aconteceu a primeira edição do TikTok Awards, premiação com os melhores criadores do ano na rede social. Confira os vencedores. (Estadão)

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