Prezadas leitoras, caros leitores —

Eis que entramos em 2022, o ano no qual, esperamos, muito do que há de ruim em nosso cotidiano termine. E nas primeiras posições da lista, claro, está a pandemia da covid-19, que já ceifou quase 620 mil brasileiros.

Não é uma expectativa infundada. A despeito da postura negacionista e omissa do governo brasileiro, exposta aos elementos pela CPI da Pandemia, a vacinação avançou pelo país. Consequentemente, ao longo do segundo semestre do ano passado, as curvas de novos casos e mortes começaram a cair. O luto pelos que perdemos e as sequelas dos sobreviventes ainda estavam presentes, mas muita gente já pensava no retorno à normalidade.

Até que, no fim de novembro, cientistas da África do Sul identificaram uma nova variante do coronavírus, a ômicron. Em menos de dois meses, a nova cepa se tornou dominante, inclusive no Brasil, e vem provocando repetidos recordes diários de infecções globais.

Será que nossa esperança de nos livrarmos da (ou ao menos convivermos civilizadamente com a) covid-19 este ano foram por água abaixo?

Meio ouviu um dos mais respeitados pesquisadores brasileiros sobre a doença para saber o que esperar da pandemia, modelo 2022, e traz as respostas na Edição Especial de Sábado.

(Alerta de spoiler: nossas chances são boas)

Mas o Meio de sábado tem muito mais. Mergulhamos na revolução que a cannabis vem provocando na medicina e no debate político que isso implica. E ainda contamos a história de uma jovem brasileira que, no apagar das luzes de 2021, tornou-se uma vitoriosa pioneira no esporte.

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— Os editores

Bolsonaro intensifica ataque à Anvisa e às vacinas

Um dia depois de o Ministério da Saúde ter incluído as crianças de cinco a 11 anos no Programa Nacional de Imunização (PNI) contra covid-19, o presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar de forma virulenta tanto a vacina infantil quanto a Anvisa, que a liberou no dia 16 de novembro. Em sua live semanal, ele reafirmou que não vai vacinar a filha Laura, de 11 anos, citando efeitos colaterais raros e previstos na bula. Ele acusou a Anvisa de ser “dona da verdade”. “Anvisa agora virou... Não vou comparar com um Poder aqui no Brasil, mas virou outro Poder”, disse. (UOL)

Mais cedo em entrevista a uma emissora de rádio, Bolsonaro já havia atacado a agência questionando “o interesse da Anvisa” em liberar as vacinas em crianças. Em outro ponto, ele disse “desconhecer” mortes por covid-19 de pessoas entre cinco e 11 anos, embora o Ministério da Saúde registre pelo menos 300 óbitos nessa faixa etária desde o início da pandemia, cerca de uma criança morta a cada dois dias. (Metrópoles)

E Bolsonaro terá mais motivos para se irritar. Documentos enviados pelo Ministério da Saúde ao Supremo Tribunal Federal (STF) mostram que o contrato com a Pfizer prevê a compra de vacinas para crianças de zero a quatro anos tão logo a imunização dessa faixa etária seja liberada pela Anvisa. O laboratório americano já informou que pretende pedir a autorização da agência. (Folha)

Outro dissabor para quem defende o negacionismo foi a divulgação ontem das diretrizes do Exército para o combate à pandemia nos quartéis. O documento, assinado pelo comandante da Arma, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, traz 52 determinações, incluindo a necessidade de vacinação para o retorno ao trabalho presencial, uso de máscaras e proibição de militares divulgarem notícias falsas sobre a covid-19. (g1)

A orientação é importante, pois, conforme dados obtidos com base na Lei de Acesso à Informação, somente 121,2 mil integrantes do Exército (56,3% do efetivo) tinham sido completamente vacinados. (Metrópoles)

E o Brasil registrou ontem sua primeira morte causada pela variante ômicron. A vítima, que vivia em Aparecida de Goiânia, era um homem de 68 anos que havia tomado três doses de vacina, mas tinha comorbidades sérias: doença pulmonar obstrutiva crônica e hipertensão arterial. A ômicron já é a cepa dominante do sars-cov-2 no Brasil, responsável 58,33% dos novos casos sequenciados. Ao comentar a morte, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que ela não muda a estratégia da Pasta. (UOL)

Um sinal de que a ômicron é mais contagiosa foi o total de 45.717 novos casos de covid-19 registrados ontem no Brasil, o maior desde 18 de setembro do ano passado. A média móvel em sete dias subiu 477% em relação ao período anterior, embora entrem casos represados pelo apagão de dados do Ministério da Saúde. Contrastando com o número de casos, a média móvel de mortes, 101, caiu 10%, o que indica estabilidade. Foram 171 óbitos contabilizados ontem. No Rio, a Secretaria Municipal de Saúde diz que a variante já é responsável por 98,1% dos novos casos. (g1)

O aumento no número de casos tem impacto direto sobre o sistema hospitalar, seja pela maior procura por atendimento ou pelo afastamento de profissionais contaminados. Prefeitos de duas mil cidades em todo o país se organizaram para pedir ao Ministério da Saúde apoio na estruturação do atendimento ambulatorial, compra de testes rápidos de Covid-19 e de remédios antigripais. (Globo)

Enquanto isso... A prefeitura de São Paulo foi mais uma a cancelar o carnaval de rua em 2022 por conta do aumento de casos de covid-19 – na quarta-feira, os blocos paulistanos desistiram de fazer a festa este ano. O desfile de escolas de samba, porém, está mantido. Além de São Paulo, 12 capitais cancelaram o carnaval de rua: Campo Grande, Cuiabá, Teresina, Belém, Fortaleza, Salvador, Rio de Janeiro, Florianópolis e Curitiba, São Luís, Recife e Maceió. (CNN Brasil)

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O Brasil está a meses de perder a capacidade de acompanhar o desmatamento em um de seus biomas mais importantes, o Cerrado. Por falta de verba, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desmobilizou as equipes de pesquisadores que monitoram esse ecossistema, e os dados só poderão ser medidos até abril. Daí em diante, o país ficará às cegas em relação à “floresta invertida”. E não é algo que aconteceu de uma hora para outra. Em setembro o Inpe já havia alertado que os recursos para esse monitoramento estavam acabando. Para se ter uma ideia, o Cerrado concentra oito nascentes das 12 bacias hidrográficas relevantes para a geração de energia e consumo humano no país. Segundo os últimos dados do Inpe, divulgados em dezembro, o bioma perdeu 8.531,44 km² de vegetação nativa entre agosto de 2020 e julho de 2021, um aumento de 7,9% em relação ao período anterior. (g1)

Birra

Spacca

Meio Spacca ATUAL

Política

O governo já começou a batalha para manter o controle sobre a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, considerada a mais importante da Casa e hoje presidida pela ultrabolsonarista Bia Kicis (PSL-DF). O mandato dela termina em março, e havia um acordo para que fosse substituída pelo também governista Vitor Hugo (PSL-GO). Porém o PSL espera até lá ver homologada sua fusão com o DEM no União Brasil e quer um nome com o novo perfil à frente da CCJ. Para o governo, perder a comissão significa um entrave à pauta conservadora no ano eleitoral. (Globo)

A avaliação do presidente Jair Bolsonaro, tanto para bem quanto para mal, tem se mantido estável, segundo pesquisa divulgada ontem pelo PoderData. Para 57% dos entrevistados, o trabalho presidente é ruim ou péssimo, o mesmo número da pesquisa anterior, enquanto a avaliação “ótimo e bom” foi de 23% para 24%, dentro da margem de erro. A rejeição a Bolsonaro é majoritária em todos os cortes de pesquisa, mas fica abaixo de 50% nas regiões Sul (43%) e Norte (48%). O desempenho do governo é reprovado por 61% e aprovado por 31%, com variações também dentro da margem de erro. (Poder360)

“Não haverá retomada do crescimento sem um aperfeiçoamento das instituições.” Essa foi uma das bases do artigo do ex-presidente do BC Afonso Celso Pastore, conselheiro econômico de Sérgio Moro (Podemos), no último artigo da série sobre a visão dos presidenciáveis sobre economia. Pastore criticou tanto a política de confronto de Bolsonaro quanto o “capitalismo de compadrio” dos governos petistas. Como os articulistas anteriores, defendeu a redução das desigualdades, investimentos em educação e sustentabilidade. Mas foi o primeiro a apresentar propostas específicas. “Um exemplo está no campo tributário, com uma reforma sobre os impostos e sobre bens e serviços, unificando-os em um IVA único cobrado no destino e com créditos liquidados em dinheiro. Nosso sistema tributário precisa ser aperfeiçoado eliminando a regressividade na incidência.” (Folha)

Do “neoliberalismo fracassado” à “amnésia petista”, confira as críticas aos artigos dos conselheiros de economia dos candidatos. (Folha)

Meio em vídeo. Em ano eleitoral, a gente precisa se perguntar: como foi que chegamos até aqui. É hora de tentar rever a história brasileira de 2013 para cá. É história recente, ainda presente, ainda contestada, ainda motivo de briga. Mas precisamos começar a explorá-la. Se não entendermos onde erramos coletivamente, a eleição deste ano não será suficiente para resolver o Brasil. Confira no Ponto de Partida. (Youtube)

“Mentiroso”, “perdedor” e “ameaça contínua à democracia”. Esses foram alguns dos adjetivos usados pelo presidente dos EUA, Joe Biden, para falar da responsabilidade de Donald Trump pelo ataque de uma turba ao prédio do Congresso, que completou um ano ontem. “Para dizer o obvio, há um ano, neste local sagrado, a democracia foi atacada. A nossa Constituição enfrentou a sua maior ameaça”, disse Biden, acrescentando que a polícia salvou o Estado de Direito e que “nós, o povo, aguentamos e prevalecemos”. Trump, que continua controlando boa parte do Partido Republicano, chamou de “teatro político” o pronunciamento de Biden. (g1)

Cultura

No início dos 1970, uma geração de jovens cineastas que incluiu Francis Ford Coppola, Steven Spielberg e Martin Scorsese virou ao avesso a forma de se fazer cinema nos Estados Unidos. Um dos expoentes desse grupo, Peter Bogdanovich, morreu na madrugada de ontem, aos 82 anos. Ele tinha apenas 31 quando lançou, em 1971, sua obra-prima, A Última Sessão de Cinema (trailer), que lhe valeu a indicação ao Oscar de melhor direção. Rodado em preto e branco, o longa contava a história de um grupo de jovens numa cidadezinha texana dos anos 1950. Os EUA se identificaram com a trama e se apaixonaram pela protagonista, a até então modelo Cybill Shepherd. Bogdanovich também, a ponto de ter um caso com ela e largar a esposa. Emendou em seguida dois outros sucessos, Essa Pequena É Uma Parada (trailer) e Lua de Papel (trailer), mas uma sequência de fracassos e a má reação do público a seu romance com Shepherd jogaram sua carreira num ostracismo do qual levou décadas para se recuperar. Trabalhou também como ator, com destaque para sua participação na série A Família Soprano. As filhas do cineasta não divulgaram a causa da morte. (Hollywood Reporter)

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Não é só nos Estados Unidos que o recrudescimento da covid-19 está adiando eventos culturais importantes. Pelo menos dois festivais de música aqui no Brasil já foram afetados. No Rio, o Universo Spanta, que aconteceria de hoje até domingo será remarcado. Ney Matogrosso, Ivete Sangalo e Zeca Pagodinho e outros artistas estavam na programação. Já quem esperava ouvir os acordes de Toquinho, a voz de Nienke de Heer e as batidas de MC Versa na décima edição do Floria Jazz Festival vai esperar mais um pouco. A produção cancelou os shows, agendados para os dias 14, 15 e 16 deste mês e irá reagendá-los quando as condições sanitárias o permitirem. (Folha)

Parece a trama de um livro policial, mas é verdade. Durante pelo menos cinco anos, o italiano Filippo Bernardini, que trabalhava na prestigiada editora americana Simon & Schuster, usou mais de 40 e-mails e domínios fraudulentos para enganar escritores, empresários e editores a fim de obter manuscritos ainda não publicados. A canadense Margaret Atwood, autora do célebre Conto da Aia, foi uma das pessoas a cair no conto do editor. Bernardini foi preso pelo FBI na quarta-feira. Seu esquema era tão complexo que as autoridades achavam se tratar de uma quadrilha. (Estadão)

Cotidiano Digital

“Siga aquele carro preto. Digo, branco. Quer dizer, prata.” Se depender da BMW, a vida dos personagens de filmes policiais vai ficar muito mais complicada. A montadora alemã apresentou na Consumer Electronics Show (CES) 2022 um novo recurso que permite mudar a cor do veículo com o apertar de um botão (vídeo). O efeito é obtido graças a um envoltório adaptado aos contornos do BMW iX e no futuro deve estar presente em todos os veículos da empresa, com o objetivo de permitir uma personalização mais detalhada do exterior e até do interior dos carros. A tecnologia, aliás, é a E ink, mesma usada nas telas do Kindle. (Motor Show)

Mas nem só de carros-camaleão vive a CES. A palavra de ordem é “interoperabilidade”, quem vem a ser a capacidade de diversos componentes – inclusive de diferentes fabricantes – atuarem em conjunto dentro de um sistema, no caso uma casa inteligente de fato. Produtos como lâmpadas com câmeras, sistemas de alarmes, cortinas de abertura automática de acordo com a luminosidade e, claro, os cada vez mais populares robôs que aspiram pó e passam pano (sem piadas, por favor) vão “conversar” entre si para tornar mais eficiente o funcionamento doméstico. (The Verge)

Após cinco anos de funcionamento, o Uber Eats vai acabar. O serviço de entrega de restaurantes dura apenas até o dia 7 de março, e os parceiros devem ser comunicados formalmente na próxima semana. A mudança faz parte de uma estratégia global do Uber de foco em negócios mais lucrativos. A empresa vai continuar fazendo delivery no Brasil, porém com foco no Cornershop, que faz entregas de supermercados; no UberFlash, que transporta pacotes; e no UberDirect, que atua no ramo B2B. (Brazil Journal)

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