Prezadas leitoras, caros leitores —

Mais do que deixar as imagens dos corpos desnudos e inanes falarem por si, a Edição de Sábado vai buscar dar voz à dor dos ianomâmi. Nomes, significados e expressão a um suplício impingido pelos brancos nos últimos quatro anos. Há décadas. Séculos.

É uma relação desigual e opressiva que frequentemente passa pelas mãos pesadas dos militares. Revisitar o que se descobriu ter sido feito com os indígenas durante a ditadura militar e ladear com os descalabros atuais é uma maneira de mapear esse padrão de atuação do Estado brasileiro. E buscar reparos.

Não é coincidência que as digitais das Forças Armadas estejam também numa atuação que, como vamos lembrar, quase inviabilizou uma das maiores obras-primas da cultura popular brasileira: “O Bem-Amado”, de Dias Gomes, que completa 50 anos. E, numa lufada de civilidade, olhar para Amsterdam, a cidade que aprendeu a lucrar com os carros e gastar com ciclistas e pedestres.

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— Os editores.

Dino prepara emenda à Constituição antigolpes

O ministro da Justiça, Flávio Dino, apresentou ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um conjunto de medidas que devem compor uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para combater e evitar atos golpistas como os que aconteceram em 8 de janeiro. Apelidada de “pacote da democracia”, ela inclui a criação de uma guarda nacional submetida à União para proteger prédios de órgãos públicos em Brasília e a divisão da segurança pública da capital entre os governos federal e distrital, que hoje tem toda a responsabilidade. O pacote também regulamenta a retirada de conteúdo golpista de redes sociais e aumenta as penas para crimes contra a democracia. O que entrará ou não na PEC, porém, será uma decisão de Lula. (g1)

A crise provocada pelos atos terroristas do dia 8 deve antecipar uma mudança importante entre os militares. Até março o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes deve deixar o Comando Militar do Planalto (CMP), o que não estava previsto no cronograma de troca de movimentações no Exército. Ele assumiu o CMP em abril de 2022 e, por praxe, deveria ficar dois anos no posto. Aliados do presidente Lula avaliam que Dutra foi leniente com os golpistas acampados diante do QG do Exército, de onde partiram para invadir as sedes dos Três Poderes. (Globo)

Os ataques bolsonaristas ao Congresso, ao STF e ao Palácio do Planalto já custaram à União pelo menos R$ 40 milhões, segundo avaliação do ministro Flávio Dino. Esse é o dinheiro gasto até agora na recuperação do patrimônio destruído e em ações contra desinformação nas redes sociais sobre os atentados. Dino informou ainda que o relatório a ser apresentado hoje pelo interventor federal Ricardo Cappelli vai mostrar que não houve “planejamento para atuação policial” no dia 8, a despeito da movimentação golpista ter se intensificado dias antes. (Poder360)

Meio em vídeo. Ao saber que a irmã tinha participado das invasões em Brasília no dia 8 de janeiro, um servidor público decidiu denunciá-la ao Ministério da Justiça. Ele espera que ela seja presa e indiciada. Parece excessivo, mas pode ser um pedido de socorro diante da radicalização que acontece no país. Qual o papel do governo para deter o extremismo que toma conta do Brasil, indaga Mariliz Pereira Jorge na coluna De Tédio a Gente Não Morre. (YouTube)

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Enquanto o país digere o atos golpistas e se choca com a tragédia ianomâmi, a vida política continua. Na próxima quarta-feira tomam posse os deputados e senadores escolhidos em outubro, e serão eleitos os presidentes das duas Casas. Na Câmara, é tida como certa a reeleição de Arthur Lira (PP-AL), e ele já prepara a conta a ser apresentada ao Executivo. Lira quer manter seu apadrinhado Marcelo Andrade Moreira Pinto no comando da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) e garantir um ministério para seu grupo político. Do contrário, dizem aliados, pretende cruzar os braços para as pautas de interesse do governo. Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), jantou ontem com Lula, que apoia sua reeleição contra o candidato bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN). (Poder360)

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro voltou ontem dos EUA sem o marido. Ela desembarcou em Brasília no início da noite acompanhada de seu maquiador Augustin Fernandez. Michelle havia viajado para Orlando, na Flórida, com o marido e a filha Laura no dia 30, véspera de terminar o mandato de Jair Bolsonaro. O ex-presidente ainda não tem data prevista para voltar ao país. (Metrópoles)

Para ler com calma. São grandes as chances de a Justiça tornar Jair Bolsonaro inelegível em uma das investigações das quais é alvo, mas, como conta Guilherme Amado, isso é lamentado por parte da esquerda. Na avaliação de aliados de Lula, o ideal é que o candidato governista em 2026 enfrente um Bolsonaro combalido e não um outro nome que aglutine o eleitorado de direita, como o governador de Minas, Romeu Zema (Novo). (Metrópoles)

Campo minado

Tony de Marco

Campo-Minado

Viver

O Supremo Tribunal Federal (STF) comunicou ontem ter encontrado indícios de prestação de informações falsas e descumprimento de decisões judiciais sobre a situação do povo ianomâmi pelo governo Bolsonaro. A Corte disse que vai apurar as suspeitas de ilegalidade e punir os responsáveis. Desde 2020, o STF profere decisões em favor do povo indígena, como medidas para criação de barreiras sanitárias e a expulsão de invasores das terras ianomâmi. O governo teria informado que realizou ações de vigilância alimentar e nutricional, além do enfrentamento da malária e operações de repressão ao garimpo ilegal junto à comunidade. Segundo o Supremo, as ações não seguiram planejamento aprovado pela Corte e ocorreram com deficiências. (O Globo)

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) acionou a Procuradoria-Geral da República pedindo que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a então ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos e senadora eleita Damares Alves (Republicanos/DF) e ex-dirigentes da Funai sejam investigados por supostos crimes de genocídio dos ianomâmi e improbidade administrativa. (Folha)

Os ianomâmi representam apenas 0,013% da população brasileira, mas tiveram 9,3% dos casos de malária no país em 2022. Dos 123.151 registros da doença, 11.530 foram em território dessa etnia. Com o agravamento da crise humanitária, o Ministério da Saúde decretou na semana passada emergência de saúde pública na terra indígena, que também sofre com o garimpo ilegal e casos de desnutrição severa. (Folha)

Em entrevista à CNN Brasil, o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), disse que a situação dos povos ianomâmi “não é surpresa”, mas responsabilizou o governo federal pela crise de saúde e desnutrição do povo indígena em seu estado. “O cuidado e tutela dos indígenas é do governo federal, é da Funai. A proteção ambiental é do Ibama. A reserva tem que ser cuidada pela Polícia Federal e Exército”, afirmou. Segundo ele, as crianças indígenas atendidas pelo estado não apresentam os mesmos problemas de saúde. (CNN Brasil)

Pois é… Uma das rotas mais utilizadas por garimpeiros para invadir o território ianomâmi fica próxima a um batalhão do Exército em Surucucu, uma das comunidades com maior número de pessoas desnutridas e crianças mortas. Procuradores da República do Ministério Público Federal de Roraima acusam de omissão o Ministério da Defesa e as Forças Armadas por não combaterem as invasões. Um funcionário do Ibama disse ao Globo que a ação dos soldados do batalhão poderia conter os garimpeiros, mas não receberam nenhuma ordem direta do comando das Forças Armadas. O procurador Alisson Marugal ouviu da própria corporação que não haveria operação sem antes determinação do Ministério da Defesa. (Globo)

Dois relatórios produzidos pela inteligência da Funai em 2019 mostram que havia uma relação próxima entre integrantes do Exército e o garimpo ilegal em Roraima. Os documentos apontam garimpeiros parentes de militares do Sétimo Batalhão de Infantaria da Selva (BIS), que também vazava informações sobre combate ao garimpo ilegal na região e cobrava propina para permitir a circulação de ouro e drogas no local. (Folha)

O Ministério da Saúde anunciou ontem que começará a vacinar a população com o reforço da vacina bivalente da Pfizer contra a covid-19 em 27 de fevereiro. O público-alvo são os grupos mais expostos à doença e que tomaram pelo menos duas doses da vacina monovalente. A bivalente é uma atualização das primeiras versões dos imunizantes que protege também das subvariantes ômicron. A pasta informou ainda que vai transferir R$ 600 milhões a estados e municípios para a realização de mutirões de cirurgias eletivas (agendadas), exames e consultas. A redução dessas filas de espera é uma das prioridades para os cem primeiros dias do governo Lula. (g1)

O governo Bolsonaro deixou vencer e incinerou 370 mil doses da vacina da AstraZeneca contra a covid-19, informou ontem o atual diretor do Departamento de Imunizações do Ministério da Saúde, Eder Gatti. Ele ainda afirma ter encontrado risco de desabastecimento das vacinas contra poliomielite, hepatite B, tríplice viral e BCG. (Estadão)

Luisa Stefani e Rafa Matos entraram para a história do tênis na noite de ontem como a primeira dupla mista inteiramente brasileira a vencer um torneio do Grand Slam. Eles conquistaram o título do Australian Open derrotando os experientes Sania Mirza e Rohan Bopanna por 2 sets a 0, parciais 7/6 (2) e 6/2. (Globo Esporte)

Cultura

“As palavras são as únicas vitoriosas.” O fim do livro Victory City não é apenas a conclusão de sua protagonista, uma poeta abençoada pelos deuses, mas um manifesto de seu autor, Salman Rushdie. Este é o primeiro romance publicado pelo escritor de 75 anos após a tentativa de assassinato cometida em agosto do ano passado por um americano simpatizante da ditadura islâmica do Irã. O texto foi concluído antes do crime e teve trechos divulgados em dezembro. Mesmo tendo perdido a visão em um olho e os movimentos de um dos braços no atentado a faca, Rushdie segue, segundo amigos, planejando projetos literários. (Estadão)

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Ninguém segura Onze e sua turma. Stranger Things, a série sensação da Netflix foi o programa mais assistido em plataformas de streaming em 2022, segundo o Top 15 geral da consultoria Nielsen. Foram nada menos que 52 bilhões de minutos que assinantes dedicaram aos 34 episódios da série, seguida de longe por NCIS, exibida pela Netflix nos EUA e pela Globoplay no Brasil, que teve 38,1 bilhões de minutos assistidos. Stranger Things liderou também a lista das produções originais das plataformas, neste caso, seguida de Ozark, mais uma da Netflix, com 31,1 bilhões de minutos. Entre os filmes via streaming, a liderança foi da Disney+, que teve 11 produções entre as 15 mais assistidas, com Encanto no topo, com 27,4 bilhões de minutos. (LostRemote)

Os fãs de Taylor Swift amanheceram hoje com um motivo para sorrir. Ela lançou durante a madrugada um vídeo (YouTube) para a canção Lavender Haze, faixa de seu mais recente trabalho, Midnights (Spotify). O álbum vem sendo um fenômeno de vendas (físicas e online), e chegou a ter faixas em todas as dez primeira posições da parada Hot 100 da revista Billboard. (Omelete)

Ser gente boa é bom negócio. Que o diga o grupo americano Foo Fighters, do simpático Dave Grohl, convidado para substituir o Pantera nos festivais Rock Am Ring e Rock Im Park, que acontecem na Alemanha em junho. A mudança na escalação aconteceu por pressão do público, devido a manifestações racistas e nazistas de Phil Anselmo, vocalista do Pantera. (Rolling Stone)

Cotidiano Digital

Meio em vídeo. Pedro Doria e Cora Rónai têm hoje um convidado especial: Rodrigo Baggio, um pioneiro quando o assunto é inclusão e empoderamento digital. São mais de 28 anos levando tecnologia e inovação para pessoas de baixa renda e grupos minoritários. Quer conhecer mais sobre esse trabalho? Acompanhe a conversa e conheça o projeto RECODE. (YouTube)

O WhatsApp lançou Comunidades no Brasil, que permite a criação de redes com até 50 grupos com o limite de cinco mil participantes. A novidade foi anunciada em abril de 2022, mas postergada devido ao período eleitoral. O administrador cria as comunidades com grupos que tratam de um tema em comum e, apenas ele, consegue mandar mensagem para todos os grupos, além de moderar conteúdo abusivo. (TecMundo)

Duas diferentes pesquisas concluíram que, no TikTok, conteúdos impróprios passam ilesos pela moderação e até são recomendados. Foram identificados vídeos enaltecendo autores de massacres com milhões de visualizações. E, também, observou-se que o serviço recomenda conteúdo sobre distúrbios alimentares e conduta autolesiva em apenas 30 minutos de uso. O TikTok contestou essa conclusão. O Twitter também expõe conteúdo pornográfico sem nenhum alerta ou tarja a partir de uma simples busca. (Núcleo Jor e Folha)

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