Prezadas leitoras, caros leitores —

O brasileiro anseia por uma trégua. E, enquanto os políticos menos radicais até falam de pacificação, a perspectiva de alguma calma parece fora do horizonte. As eleições para as presidências da Câmara e do Senado tinham tudo para ser o que de mais eletrizante a semana ofereceria e podiam ser uma virada de página para o recomeço. Mas é de Brasil que estamos tratando. E os roteiristas não desistem nunca — de nos surpreender.

Pois foi do mesmo Senado que saiu a denúncia de que Jair Bolsonaro esteve em uma reunião em que se tramou um dos lances golpistas em dezembro. Gravíssima. No encontro, ainda estavam o ex-deputado Daniel Silveira, preso ontem, e o denunciante, o senador Marcos do Val. Versões voaram por Brasília num vai-e-vem suspeito e desconfortável. Um retorno à normalidade política enquanto o golpismo não for punido é improvável e, quiçá, indesejável. É desse clima de conflagração que a Edição de Sábado vai tratar.

Em águas mais serenas, vamos contar como esportes menos prestigiados pela imprensa, como as regatas da Ocean Race, estão criando seus próprios canais de comunicação no ambiente digital pra dar visibilidade a seus patrocinadores. E conferir a nova série da Netflix em que acadêmicos de renome falam sobre a História da humanidade para uma entrevistadora pouco convencional.

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Senador envolve Bolsonaro em conversas por golpe de Estado

Em 9 de dezembro do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado Daniel Silveira (PTB-SP) tentaram aliciar o senador Marcos do Val (Podemos-ES) em um plano para prender o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, e impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A revelação, registrada em áudio, foi feita pelo próprio senador. O plano, segundo Val, consistia em ele gravar uma conversa com Moraes e arrancar dele alguma declaração que indicasse parcialidade na condução das eleições. O equipamento de escuta seria fornecido pela Abin e pelo GSI. Com a gravação, Bolsonaro interviria no TSE e se perpetuaria na presidência. O senador afirmou ter procurado Moraes e denunciado a trama, mas, como se recusou a depor pessoalmente, o ministro disse não poder tomar providências. (Veja)

O relato de Marcos do Val pode dar contexto à minuta de um decreto golpista encontrado pela Polícia Federal na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Segundo o documento, seria decretado “estado de Emergência no TSE” para impedir a posse de Lula. A gravação que o senador deveria obter seria a justificativa para a ação. (Globo)

Tão logo ficou clara a dimensão da denúncia de Val, a cúpula bolsonarista traçou uma estratégia, como revelou Luciana Lima: jogar a responsabilidade nas largas costas de Daniel Silveira. (Meio)

Pois é.... O senador mudou sua versão após receber telefonemas de Flávio e de Eduardo Bolsonaro. À Veja, ele disse e a revista gravou, que a reunião foi agendada pelo presidente. Após as conversas com os filhos do presidente, passou a dizer que a iniciativa fora do deputado e que este apresentara os detalhes do plano, embora mantivesse que isso aconteceu na presença de Jair Bolsonaro. Do Val também voltou atrás na ideia de renunciar ao mandato. (Estadão)

O senador e filho Zero Um Flávio Bolsonaro (PL-RJ) argumentou, em discurso no Senado, que a conversa relatada por Marcos do Val “não configura crime”. “Ainda que fosse verdade — porque eu não sei se é — conversar sobre isso não é um crime. Executar isso seria”, disse. (g1)

Já Daniel Silveira foi acordado pela PF em sua casa de Petrópolis, Região Serrana do estado do Rio. Ele voltou a ser preso por ordem de Alexandre de Moraes, mas a decisão não tem relação com as denúncias de Val. A justificativa foi o descumprimento sistemático de ordens do Supremo, danificando a tornozeleira eletrônica que deveria usar, abrindo novas contas em redes sociais e reiterando os ataques às instituições. (UOL)

Em depoimento ontem à Polícia Federal, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto afirmou ter usado de uma metáfora quando, em entrevista ao Globo, disse haver propostas golpistas “na casa de todo mundo” no governo Bolsonaro. Ele havia dado a declaração para minimizar a minuta encontrada pela PF na casa de Anderson Torres. (g1)

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O presidente Lula acusou Bolsonaro de envolvimento direto nos atos golpistas de 8 de janeiro e de genocídio contra os ianomâmi. “Esse cidadão preparou o golpe. Eles queriam fazer aquela bagunça no dia 1º de janeiro, mas perceberam que não dava porque tinha muita polícia e muita gente na rua. Eu tenho certeza de que o Bolsonaro participou ativamente disso e ainda está tentando participar”, disse Lula, em entrevista à RedeTV exibida na noite de ontem (íntegra). O presidente ainda abriu uma brecha para, contrariando o que prometera na campanha, concorrer à reeleição em 2026. “Se chegar num momento, tiver uma situação delicada e eu estiver com a saúde, porque também só posso ser candidato se eu tiver com saúde perfeita, mas com saúde perfeita, 81 de idade, energia de 40 e tesão de 30 [aí posso ser candidato]". (RedeTV)

Cresce dentro de PP, Republicanos e até do PL, partidos que apoiaram a candidatura de Bolsonaro, a insatisfação de parlamentares que gostariam de aderir ao governo Lula. Ainda minoritários nas legendas, eles sonham em emplacar indicados para cargos no segundo escalão do Executivo ou mesmo em conseguir um ministério até o fim do ano. (Poder360)

Recém-saída do Senado, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, se reuniu ontem com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e disse que a reforma tributária, apontada por ele como prioridade, deve ser concluída em seis meses nas duas Casas do Congresso. Segundo ela, o processo está começando agora. “Temos de dar o tempo deles [os novos parlamentares]. O importante é que a reforma tributária caminhe”, afirmou. (Folha)

Humor artificial

Tony de Marco

ChatGPT

Cultura

A TV brasileira e o jornalismo perderam ontem um de seus maiores ícones com a morte da repórter Glória Maria, vítima de um câncer que se originou no pulmão e atingiu seu cérebro. Desde que estreou como repórter na TV Globo, em 1971, ela se notabilizou não só pelas reportagens e entrevistas, mas pelas barreiras que foi quebrando ao longo de cinco décadas. Filha de um alfaiate e de uma dona de casa, a carioca Glória Maria Matta da Silva se formou jornalista conciliando os estudos com o trabalho de telefonista. Em 1970 entrou para a Globo como radioescuta e, um ano depois, estreou como repórter cobrindo o desabamento do elevado da avenida Paulo de Frontin. Era uma mulher preta na tela fazendo jornalismo com seriedade e servindo de inspiração para meninas pretas de todo o país. Foi a primeira repórter a entrar ao vivo e a cores no Jornal Nacional, no longínquo 1977 — ela e o cinegrafista tiveram de fazer a entrada de joelhos, usando os faróis do carro como iluminação. Três décadas depois, fez a primeira transmissão em HD da televisão brasileira. Visitou mais de cem países a trabalho, principalmente para o Fantástico e o Globo Repórter, último programa de que participou. Entrevistou de líderes mundiais a celebridades pop, encarou a doença com o otimismo de sempre a até o fim inspirou meninas pretas a também desafiarem limites. (g1)

Glória Maria foi pioneira também em coragem. Em 1970, tornou-se a primeira repórter a recorrer à Lei Afonso Arinos, que criminalizava o racismo, após ser impedida de entrar pela porta da frente em um estabelecimento. João Figueiredo, último general-presidente da ditadura militar, tinha horror a ela. “‘Tira aquela ‘neguinha da Globo daqui’. E eu passei todo o governo Figueiredo ouvindo [isso]”, contou a própria jornalista. (Metrópoles)

A jornalista deixa duas filhas, Maria, de 15 anos, e Laura, de 14. Ela adotou as meninas, irmãs biológicas, após conhecê-las em 2009, quando fazia trabalho voluntário em uma ONG. “Eu nunca tinha pensado em ter filhos até que vi as duas pela primeira vez e tive certeza de que elas eram minhas filhas. Isso é uma coisa que não sei explicar”, lembrou. (UOL)

Flávia Oliveira: “Toda jovem, toda menina, toda mulher negra brasileira que um dia, a partir dos anos 1970 do século 20, imaginou ser jornalista, teve Glória Maria como referência. É um dia de luto e, ao mesmo tempo, de gratidão. Glória Maria foi corajosa ao ousar ser um corpo negro feminino no jornalismo de televisão. Não é trivial. Não é trivial ser uma mulher negra no Brasil.” (Globo)

Para ler com calma. A União de Rugby de Gales (WRU, em inglês) provocou uma polêmica ao banir oficialmente dos estádios a canção Delilah, gravada em 1965 pelo galês Tom Jones e tradicionalmente cantada a plenos pulmões pelos torcedores. O motivo é que a letra descreve um feminicídio. “Para fins de contexto, aproximadamente duas mulheres são mortas a cada semana [em Gales] por parceiros ou ex-parceiros. Está na hora de cantarmos sobre outra coisa”, publicou no Twitter Richard Lewis, chefe de polícia da maior região do país, defendendo a medida. (BBC)

A produção do festival The Town, responsável também pelo Rock In Rio, anunciou ontem que o cantor americano Bruno Mars será a atração de encerramento do evento, que acontecerá nos dias 2, 3, 7, 9 e 10 de setembro no autódromo de Interlagos, em São Paulo. (UOL)

Viver

O governo Bolsonaro sabia da falta de alimentos para os povos ianomâmis, pelo menos desde 2021. Ofícios encaminhados pelo governo de Roraima ao Poder Executivo, e que a Agência Brasil teve acesso, pediam o envio de oito mil cestas básicas para aqueles indígenas, além das que foram destinadas às famílias de cidades que decretaram estado de emergência por causa das fortes chuvas que atingiram o estado naquele ano. Segundo o coordenador da Defesa Civil do estado, o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, chefiado na época pela atual senadora Damares Alves, disse que não teria como ajudar e que repassou os pedidos a outros órgãos do governo federal. (Agência Brasil)

O Tribunal de Contas da União (TCU) está investigando se os R$ 45,1 milhões declarados pelo governo Bolsonaro para transporte aéreo e compra de alimentos para os ianomâmis foram realmente utilizados para esse fim. Os gastos são referentes a despesas do Ministério da Saúde e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) entre 2019 e 2022. A investigação atende a uma representação do senador Jorge Kajuru (PSB-GO), que afirma ser “antagônicos” o valor das despesas informadas e o atual cenário da população indígena, que passa por uma crise humanitária. (Estadão)

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O cometa C/2022 E3 (ZTF), também conhecido como “cometa verde”, volta a passar próximo ao planeta Terra desde sua última aparição há 50 mil anos e pode ser visto do Brasil durante todo este mês. As imagens registradas chamam a atenção pelo tom esverdeado no céu durante seu surgimento ao redor do mundo. Veja as primeiras imagens. (Olhar Digital)

Meio em vídeo. Você já xingou alguém nas redes sociais? “Eu já”, admite Mariliz Pereira Jorge. “E a última vez em que eu fiz isso me dei conta de que estava na hora de sair. Será que você não está indo pelo mesmo caminho?” Confira na coluna De Tédio a Gente Não Morre. (YouTube)

Cotidiano Digital

A Google e a Apple estão sendo novamente pressionadas para banir o TikTok de suas lojas de aplicativos nos Estados Unidos. Quem pediu a proibição da plataforma de vídeos curtos, desta vez, foi o senador democrata Michael Bennet, em carta endereçada às principais lideranças das duas big techs, em que cita preocupações com a segurança nacional. Ele diz temer que o governo da China utilize as leis locais para forçar a ByteDance, dona do app, a fornecer dados dos usuários norte-americanos. (TecMundo)

As ações da Meta dispararam 20% após a empresa divulgar o balanço de 2022 e Mark Zuckerberg conversar com investidores. O executivo prometeu tornar a infraestrutura da Meta mais enxuta - 11 mil colaboradores já foram demitidos -, reduzindo o número de camadas de gerência. E novas dispensas não estão descartadas. Nos aplicativos legados da Meta, o foco deverá continuar no motor de descoberta por inteligência artificial e nos Reels. (Terra)

A Alphabet, dona do Google, divulgou o balanço financeiro referente ao ano de 2022 e o lucro líquido total foi de US$ 59,9 bilhões, com uma queda de 21,1% em relação ao ano anterior. Na Apple, o balanço referente aos três últimos meses do ano passado também apontou uma piora: queda de 5% na receita em comparação com o ano anterior, o que não acontecia desde 2019. Enquanto a Amazon prevê que seu lucro operacional pode continuar caindo, diante de restrições de gastos de consumidores e clientes da sua divisão de computação em nuvem, ainda que a receita do último trimestre de 2022 tenha superado as expectativas. (Poder 360, Globo e Folha))

Meio em vídeo. Galaxy Unpack 2023, o primeiro evento presencial da Samsung após três anos de pandemia, vem trazendo a nova linha de celulares da gigante coreana. Apesar do foco ser as novidades tecnológicas com relação a processamento, câmera e memória, um dos maiores destaques dos tops de linha tem a ver com uma mudança de mentalidade da empresa: a sustentabilidade. Confira o que dizem Pedro Doria e Cora Rónai. (YouTube)

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