Prezadas leitoras, caros leitores —

Na Câmara, um presidente conservador de um partido com tradição fisiológica, alvo de investigações na Justiça, mas exercendo controle sobre uma folgada maioria de deputados das mais diversas legendas. No Planalto, um governo petista eleito por exígua maioria tendo de negociar suas pautas com legisladores de outro espectro político e fome de recursos públicos. Tudo isso tendo como pano de fundo um país que emergiu das eleições presidenciais ainda mais polarizado.

Não são poucos os que comparam a situação de Lula (PT) e de Arthur Lira (PP-AL) com a tumultuada relação de Dilma Rousseff (PT) e Eduardo Cunha (então MDB-RJ), que culminou no impeachment dela e na cassação dele. As semelhanças e diferenças entre esses dois cenários, separados por sete anos e pelos estilos e habilidades de seus personagens, são o tema da Edição de Sábado do Meio.

Mas não é só isso. Vamos falar de um medo que assombra nove entre dez usuários de smartphones. Você comenta com familiares ou colegas de trabalho sobre determinado produto ou marca, e pouco tempo depois ele, como mágica, surge em um anúncio na tela. Afinal, os nossos celulares são capazes de ouvir o que falamos? Qual é o limite para as empresas que coletam os nossos dados para direcionar anúncios? E ainda trazemos um panorama do que dizem urbanistas e especialistas sobre o novo Plano Diretor de São Paulo. Qual cara terá, para bem ou para mal, a maior metrópole do país?

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— Os Editores

Cármen Lúcia, a algoz de Bolsonaro

Apenas um voto, provavelmente da ministra Cármen Lúcia. É o que falta para Jair Bolsonaro ser condenado à inelegibilidade por oito anos por atacar o sistema eleitoral em reunião com embaixadores em julho passado. Ontem, na terceira sessão do julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foram proferidos mais três votos — dois pela inelegibilidade, seguindo o relator, e um contrário —, deixando o placar em 3 a 1. Já o vice da chapa, general Braga Netto, soma 4 votos por sua absolvição. A sessão será retomada hoje com os votos de Cármen, Kassio Nunes Marques e Alexandre de Moraes. Ontem, o ministro Raul Araújo votou contra a inelegibilidade e rejeitou a inclusão da “minuta do golpe” na ação. Em fevereiro, no entanto, ele foi a favor de juntá-la ao processo. Araújo minimizou as condutas de Bolsonaro e argumentou que o ex-presidente apenas “expôs sua posição política sobre temas abertos ao diálogo público”. Em seguida, o ministro Floriano de Azevedo Marques Neto votou pela condenação, rebatendo os argumentos de Araújo. Para ele, Bolsonaro decidiu “desafiar frontal e cabalmente o Judiciário” e colocou em risco a normalidade e a legitimidade das eleições. Já André Ramos Tavares atribuiu ao ex-presidente uma “tática eleitoral contra a democracia”. E afirmou que o julgamento se debruça sobre uma “estratégia política” de disseminação de fake news, que ganhou uma “etiqueta ideológica”. (Folha)

“Não acabou o jogo ainda, tá?” Apesar do placar adverso, o ex-presidente segue acreditando que pode ser absolvido por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. “Eu já vi o Palmeiras 3 e Vasco 0 no primeiro tempo e no segundo foi 4 a 3 para o Vasco”, afirmou. “Num julgamento justo, como disse o ministro André Mendonça [do Supremo Tribunal Federal], é 7 a 0. Nem 7 a 0. Não devia nem ser recebida a representação do PDT.” (Metrópoles)

A divergência aberta possibilita eventuais recursos da defesa de Bolsonaro ao TSE e ao STF. Advogados do ex-presidente já sinalizaram que pretendem recorrer de uma eventual decisão pela inelegibilidade. Para isso, será preciso analisar os detalhes da decisão da Corte Eleitoral, o chamado acórdão. (g1)

Eliane Cantanhêde: “Assim como o advogado de Bolsonaro, Tarcísio Vieira de Carvalho, o ministro [Raul] Araújo apenas confirmou o que os não terraplanistas já sabiam, pelo enredo, falas públicas, indícios, manifestações, minutas, mensagens de celular e cooptação de militares: o ex-presidente é indefensável.” (Estadão)

Bela Megale: “O PL, partido de Jair Bolsonaro, tem um roteiro traçado para o ex-presidente com sua provável inelegibilidade e avalia que essa condição pode potencializá-lo como cabo eleitoral. Há, porém, o temor de que o capitão ‘jogue a toalha’ e se recolha após o Tribunal Superior Eleitoral sacramentar a cassação de seus direitos políticos”. (Globo)

Meio em vídeo. O TSE tinha a obrigação de julgar Bolsonaro antes da eleição, cassar o presidente e cancelar a sua candidatura. Teve tempo para isso, afirma Mariliz Pereira Jorge na coluna De Tédio a Gente Não Morre. Muita gente acredita que é apenas o começo, que ele ainda vai encarar a Justiça em outras situações, mas a jornalista é bastante cética sobre Bolsonaro ser julgado por outras infrações, olhando para este cenário atual em que as acusações contra políticos têm sido engavetadas. (YouTube)

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Depois de 24 anos, o governo decidiu atualizar o sistema de meta de inflação. Em vez de estabelecer um percentual a ser atingido de janeiro a dezembro de cada ano, a partir de 2025, o alvo será perseguido em um período móvel a ser definido pelo Banco Central. O usual é adotar 24 meses. O anúncio foi feito ontem pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet. Segundo Haddad, a mudança - “fundamental para o país” e uma “modernização necessária” - foi uma “decisão de governo”. O Conselho Monetário Nacional (CMN) - formado por Haddad, Tebet e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto - foi apenas comunicado. Apesar disso, Haddad destacou a concordância de Campos Neto, citando declarações dele de que a meta contínua seria mais “eficiente”. A escolha de 2025 coincide com o fim do mandato de Campos Neto. Até lá, o CMN continua assegurando metas anuais de inflação. Seguindo a regra atual, o colegiado fixou o objetivo de 2026: 3% com tolerância de 1,5 ponto para mais ou menos, como de 2024 e 2025. A meta de 2023 foi mantida em 3,25%. (Folha)

Entenda como funciona a meta contínua de inflação. (UOL)

O regime contínuo só a partir de 2025 e a manutenção da meta de inflação em 3% nos próximos dois anos foram recebidos com alívio por analistas. A atualização do sistema já era esperada, mas temia-se a elevação do alvo de inflação devido a pressões de Lula. Segundo especialistas, esse cenário favorece a queda dos juros já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em agosto. Haddad também tem a mesma expectativa: “Cortes robustos na taxa de juros podem ser praticados a partir de agosto sem nenhum risco de desancoragem. Porque as trajetórias estão dadas. Temos todas as razões para acreditar que vem um ciclo consistente de cortes dessas taxas.” (Globo)

Lula voltou a defender a ditadura da Venezuela. “A Venezuela tem mais eleições do que o Brasil. O conceito de democracia é relativo para você e para mim”, disse o presidente em entrevista à Rádio Gaúcha. Apesar disso, afirmou que gosta de democracia e a exerce com plenitude. “O mundo inteiro sabe que a governança do PT é exemplo de exercício da democracia”, afirmou, destacando que “o que não está correto é a interferência de um país dentro de outro”. “Quem quiser derrotar o (Nicolás) Maduro, derrote nas próximas eleições e assuma o poder. Vamos lá fiscalizar. Se não tiver eleição honesta, a gente fala.” (Estadão)

“Um [Vladimir] Putin mais fraco é uma ameaça maior. Temos que estar atentos às consequências”, afirmou ontem Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia, sobre o cenário pós-motim liderado pelos mercenários do Grupo Wagner. “Até agora, víamos a Rússia como uma ameaça porque era uma grande força e uma força que foi usada na Ucrânia. Agora temos que ver a Rússia como um risco pela ótica da instabilidade interna.” (Globo)

Thomas Friedman: “No curto prazo, se Putin for derrubado, podemos acabar com alguém pior. Como você se sentiria se Prigozhin estivesse no Kremlin nesta manhã, comandando o arsenal nuclear da Rússia? (...) Se Putin vencer, o povo russo perderá. Mas se ele perder e for substituído pela desordem, o mundo inteiro perderá”. (New York Times)

Melhores lances do julgamento

Tony de Marco & Spacca

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Viver

Cientistas encontraram a existência de ondas gravitacionais que criam ruídos de baixa frequência reverberando pelo Universo. Essas ondas provavelmente são o eco de pares de buracos negros supermassivos, que geram ondulações no espaço-tempo enquanto colidem e se fundem. A descoberta ocorreu quando os astrofísicos estudavam o comportamento de pulsares, estrelas que giram rapidamente. Esses sons podem ajudar a entender como o Universo alcançou sua estrutura atual. (New York Times)

No Brasil, o Supremo Tribunal Federal começou a julgar ontem a tese de “legítima defesa da honra” em casos de feminicídio no tribunal do júri. O artifício jurídico tem sido usado por homens desde o período colonial, quando a lei da época permitia que a esposa fosse morta ao ser flagrada em adultério. Esse dispositivo não foi incorporado pela Constituição de 1988 e a alegação em tribunais já estava suspensa desde 2021 pelo STF. Agora, os ministros passam a julgar o mérito da ação apresentada pelo PDT, que classificou a tese como “nefasta, horrenda e anacrônica”. (g1)

A Suprema Corte americana declarou inconstitucionais as ações afirmativas para a entrada de alunos negros e latinos em universidades. Por seis votos a três, os juízes decidiram que as universidades de Harvard e da Carolina do Norte não podem admitir novos estudantes com base em raça, o que, segundo seus críticos, prejudica candidatos brancos e asiáticos. Em 1978, a Corte havia estabelecido que as instituições de ensino superior não podiam adotar um sistema de cotas raciais, mas permitia usar raça como um dos critérios no processo seletivo. Segundo dados federais, o número de alunos não brancos entre as oito melhores universidades americanas aumentou 55% entre 2010 e 2021. (g1)

Cultura

Artistas pretos e indígenas de diversas nacionalidades e uma forte presença de criadores trans. Essa é a marca na lista, divulgada ontem, de 120 artistas que participarão da 35ª Bienal de São Paulo. “O que aparece [na seleção] é a procura de artistas que trabalham com as urgências do hoje, que lidam com as grandes demandas do agora”, diz Grada Kilomba, uma das curadoras da exposição, que acontece de 6 de setembro a 10 de dezembro. (Folha)

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A cantora Madonna já está em casa, após quase uma semana internada devido a uma infecção bacteriana grave. A artista de 64 anos chegou a ficar em uma UTI, como contou seu empresário, Guy Oseary, e os médicos ainda não determinaram como ela foi infectada. Madonna foi levada de ambulância para sua mansão no Centro de Nova York e segue em observação. Os shows da turnê Celebration, que começaria em duas semanas no Canadá, foram adiados, sem previsão de nova agenda. (BBC)

Por aqui, Herbert Vianna, de 62 anos, vocalista e guitarrista dos Paralamas do Sucesso, foi internado com pneumonia em um hospital da Zona Sul do Rio, conta Ancelmo Gois. Segundo os médicos, ele está lúcido e respondendo ao tratamento. (Globo)

“A estupidez insiste sempre”, dizia o escritor e filósofo francês Albert Camus. A vítima da vez é o cantor Djavan (Spotify), que movimentou as redes sociais por supostamente usar linguagem neutra em um cartaz de seu show em Barcelona, na Espanha, no próximo dia 3. “Últimes entrades”, dizia um destaque na peça publicitária. Primeiro, militantes LGBTQIA+ elogiaram a “coragem” do artista por adotar a linguagem sem gênero; em seguida, críticos o atacaram por querer “aparecer” e “lacrar”. O que nenhum dos lados atentou é que “últimes entrades” é só “últimas entradas” em catalão, idioma falado naquela região espanhola. (g1)

Cotidiano Digital

O primeiro voo comercial ao espaço da Virgin Galactic, empresa de turismo espacial fundada pelo bilionário Richard Branson, foi realizado ontem com sucesso. A missão Galactic 01 decolou pouco depois do meio-dia (horário de Brasília), da base Spaceport America no Novo México, nos EUA, e às 12h45 já havia pousado em segurança. O voo foi do tipo suborbital, até a fronteira do espaço, a 85 km de altitude. Estavam a bordo seis pessoas, quatro pesquisadores dentro da nave e dois pilotos do transportador. Com propósito científico, a missão teve entre os experimentos analisar o comportamento de líquidos em um ambiente sem gravidade e a reação corporal dos passageiros. (UOL)

A OpenAI, dona do ChatGPT, foi processada por supostamente roubar informações pessoais para treinar a inteligência artificial (IA) do chatbot. O processo é coletivo e foi aberto por meio de escritório de advocacia da Califórnia, nos EUA. Os autores, no entanto, não quiseram se identificar por temerem represálias. Eles alegam que a IA do ChatGPT violou os direitos autorais e a privacidade de muitos usuários ao utilizar dados públicos da internet para treinar o modelo. Ao Washington Post, um dos sócios do escritório, Ryan Clarkson, disse que a empresa quer representar “pessoas reais cujas informações foram roubadas e desviadas comercialmente para criar essa tecnologia muito poderosa”. Além de indenizações, o processo pede que a Justiça suspenda o acesso comercial e o desenvolvimento adicional de produtos da OpenAI. (Núcleo Jornalismo e Washington Post)

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