Prezadas leitoras, caros leitores —

O Meio nasceu com um manifesto. Esta semana nós o atualizamos.

Um veículo jornalístico não pode, não deve, seguir a lógica da militância num partido. A militância, e os últimos anos deixaram isto claro, é pela democracia. No mundo ideal, no nosso mundo ideal, existe uma esquerda e uma direita dispostas ao diálogo. Quando uma está no poder produz avanços e atrapalha umas coisas. Quando a outra chega ao poder, conserta o que foi atrapalhado, produz outros avanços e atrapalha outras coisas. Democracia funciona quando há alternância de grupos políticos capazes de diálogo. É a alternância que faz a máquina funcionar.

Entender a natureza cíclica da democracia não é de forma alguma ficar em cima do muro. É considerar que todo governo vai fazer bobagem e todo governo vai produzir avanços. Isto, claro, se estiver do lado da democracia. É considerar que nenhum governo é inimigo se estiver do lado da democracia. Mas também que todo governo precisa de crítica.

Esta é a base dos valores em que o Meio acredita.

Quando nascemos, a presidente Dilma havia acabado de sofrer um impeachment. Alguns dos jornais brasileiros ainda viviam um debate interno sobre se seu melhor material não deveria ser guardado para as edições impressas. A maioria das pessoas não tinha conta na Netflix, muita gente nunca tinha ouvido falar em Spotify. A rede social que todo mundo usava era o Facebook, fora uma meia dúzia no Twitter. O Instagram existia, mas era nicho, uma rede social para publicar fotos. Fotos sempre quadradas. Não havia TikTok, não se falava em algoritmo, a expressão fake news não era corrente. Quando a gente nasceu, Hillary Clinton era tida como certa a próxima presidente americana.

Tudo mudou muito. É por isso que precisamos rever nosso manifesto.

Nessa nova versão, os valores são os mesmos, o que muda são as ênfases. Talvez seja da natureza deste mundo digital, em que a maneira de nos comunicarmos muda tanto de cinco em cinco anos, as plataformas que usamos, os aparelhos que manipulamos, talvez seja da natureza desse mundo que de tempos em tempos a gente precise olhar novamente para o manifesto. Para preservar os mesmos valores mas conferir as ênfases.

Veja a apresentação do manifesto no Ponto de Partida’ e leia a íntegra em nosso site.

— Os editores.

Com voto de Campos Neto, Copom corta juros em 0,5 ponto

O dia começou com Lula atacando o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao afirmar a jornalistas estrangeiros que ele “não entende de Brasil”. Mas terminou com o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciando o primeiro corte na taxa básica de juros em três anos. A decisão não foi unânime. Cinco votos — incluindo o de desempate do próprio Campos Neto e os dos diretores escolhidos por Lula, Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Ailton Aquino (Fiscalização) — levaram ao corte de 0,5 ponto percentual na Selic, passando de 13,75% para 13,25% ao ano. Outros quatro diretores queriam uma redução menor, de 0,25 ponto percentual. O corte era esperado pelo mercado, mas ficou acima da média das expectativas. A redução se deve à melhora do quadro inflacionário e das expectativas, que deram confiança para começar um ciclo gradual de política monetária, segundo o Copom. De forma unânime, o comitê, indicou que, “em se confirmando cenário esperado”, haverá novos cortes de 0,50 nas próximas reuniões. De março de 2021 a agosto de 2022, o BC elevou os juros em 11,75 pontos percentuais, no ciclo de alta mais agressivo desde a criação do regime de metas de inflação, em 1999. A Selic ficou estacionada em 13,75% por 12 meses. (Valor)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, elogiou a decisão do Copom e disse que esse é só o “começo de um trabalho longo”. Afirmou também que a redução da Selic é fruto de “muito diálogo” e que há um compromisso “com o combate à inflação”, bem como com a responsabilidade fiscal. “Já enviei uma mensagem ao presidente do BC e ficamos de conversar. Temos um caminho longo de parceira pela frente e vamos continuar correndo para aproximar os projetos de desenvolvimento para o Brasil.” Outros membros do governo, como a ministra do Planejamento, Simone Tebet, também elogiaram a medida. (Poder360)

Analistas de mercado, em geral, também consideram a decisão do Copom correta, mas com visões distintas. Alguns avaliam que o ciclo de corte deve ser curto, sem chegar a um patamar expansionista. Outros veem a redução dos juros num ritmo mais forte, levando a Selic a um patamar neutro. (Bloomberg Línea)

Fernando Canzian: “Confrontando a autonomia do Banco Central desde que assumiu a Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu o que queria: o início do processo de queda da Selic, reduzida em 0,5% nesta quarta para 13,25% ao ano. Mas caberá ao seu governo prover as condições para que a queda nas próximas reuniões do Copom seja sustentada, sem que o descontrole atual das contas públicas siga colocando em risco a estabilização dos preços e da economia como um todo.” (Folha)

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Tentativa frustrada de invadir urna eletrônica e invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça para expedição de falsos mandados de soltura. Pior: para expedir, também, um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Essa foi a trama que levou a Polícia Federal, por ordem do próprio Moraes, a deflagrar ontem a Operação 3FA, com a prisão de Walter Delgatti Neto, conhecido como hacker da “Vaza Jato”, e busca e apreensão em quatro endereços da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), com autorização para recolher passaportes, armas, celulares e bens acima de R$ 10 mil. Os crimes investigados são invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. Segundo depoimento do hacker à PF em junho, que motivou a ação de ontem, Zambelli fez contato em setembro passado para que ele “invadisse a urna eletrônica, ou qualquer sistema da Justiça, para demonstrar a fragilidade do sistema judicial pátrio”. Jair Bolsonaro também foi mencionado por Delgatti. Ele relatou que se encontrou com o então presidente no Palácio da Alvorada e foi questionado se, “munido do código fonte, conseguiria invadir a urna eletrônica”. O hacker não conseguiu “mesmo após diversas tentativas”. Em coletiva após a operação, Zambelli tentou blindar o ex-presidente. Sobre a invasão do sistema do CNJ, Delgatti afirmou que Bolsonaro “não teve qualquer relação”. (Estadão)

Ainda ontem, João Leão (PP-BA), relator da denúncia de Duarte Júnior (PSB-MA) contra Zambelli no Conselho de Ética da Câmara, votou a favor da continuidade do processo, que pode levar à cassação da deputada. Zambelli foi denunciada por “ter extrapolado as prerrogativas parlamentares” ao xingar o deputado. O relatório ainda precisa ser votado pelo Conselho de Ética. (UOL)

Desde o episódio em que saiu armada atrás de um jornalista negro na véspera do segundo turno de 2022, Zambelli ganhou a antipatia de parte dos integrantes do PL, que consideraram que ela prejudicou a campanha de Bolsonaro. Ela está sem apoio na cúpula do partido e foi abandonada até por seus pares na câmara. Durante sua coletiva na manhã de ontem, dos 99 deputados do PL, só nove estavam ao seu lado, conta a Coluna do Estadão. Nenhum deles de São Paulo. O ex-presidente e seu filho Eduardo, eleito por SP, ficaram em silêncio. (Estadão)

O ministro Cristiano Zanin toma posse hoje no Supremo Tribunal Federal já com a mesa cheia. Ele herda 520 processos do antecessor, Ricardo Lewandowski, entre eles o que analisa as omissões do governo Bolsonaro durante a pandemia. (g1)

A Câmara instalou ontem uma comissão para dar andamento à polêmica PEC da Anistia. A proposta anula punições aos partidos por crimes eleitorais como propaganda irregular ou abusiva em campanhas e descumprimento da cota de gênero e raça nos pleitos. A comissão é o último passo antes que a PEC vá a Plenário para duas votações. (UOL)

Meio em vídeo. No Conversas com o Meio desta semana, Luciana Lima entrevista Ricardo Berzoini, personagem de destaque nos governos petistas. Ao longo dos 14 anos de Lula e Dilma Rousseff, ele foi ministro do Trabalho, das Comunicações, da Previdência Social, além de ter ocupado as secretarias de Relações Institucionais e de Governo. Nesta conversa, ele avaliou as perspectivas do PT para os próximos anos e como o atual governo vem lidando com as pressões do Planalto. (YouTube)

Viver

O ministro do STF Alexandre de Moraes votou ontem a favor da descriminalização do porte de maconha em julgamento sobre posse de drogas para uso pessoal. Até o momento, o placar da votação está em 4 a 0 pela despenalização. Em seu voto, Moraes defendeu que deve ser considerado usuário quem portar entre 25 e 60 gramas da erva ou seis plantas fêmeas. Para ser declarado tráfico, devem ser considerados outros critérios, como a diversidade de entorpecentes; a apreensão de instrumentos, como balança de precisão ou cadernos de anotação; ou local da apreensão. Após o voto, o relator, ministro Gilmar Mendes, pediu a suspensão do julgamento, que ainda não tem data para ser retomado. (Metrópoles)

Duas novas mortes causadas por policiais foram confirmadas ontem pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo, na Baixada Santista. No total, 16 óbitos foram contabilizados pelo órgão desde que a PM iniciou a Operação Escudo, no litoral paulista, após o assassinato de um soldado da Rota por criminosos do Guarujá, na quinta-feira passada. A Ouvidoria das Polícias está recebendo denúncias de excessos cometidos pelos agentes em patrulhamento nas regiões periféricas. O Ministério Público também acompanha as baixas e pede que a operação seja interrompida imediatamente. (g1)

Enquanto isso... No Rio de Janeiro, uma ação das polícias civil e militar, em busca de líderes do Comando Vermelho, deixou dez mortos e outros cinco feridos no Complexo da Penha, na Zona Norte. (g1)

Panelinha no Meio. Sopa na sobremesa? Por que não? Com leite, baunilha e cubinhos de mamão se faz uma sopa de capim-santo com papaia que fica pronta em instantes. Você termina de comer o prato principal, dá uma fugidinha na cozinha e traz uma sobremesa fresquinha.

Não deu. Mesmo precisando da vitória, a Seleção Brasileira jogou mal e apenas empatou sem gols com a Jamaica pela última rodada da fase de grupos da Copa feminina. O resultado deixou o Brasil em terceiro no grupo, atrás da França e das próprias jamaicanas. É a terceira Copa em que a Canarinho cai na primeira fase em nove edições do torneio, a exemplo de 1991 e 1995. A queda representou também o fim da linha para a rainha Marta na competição, a sexta de sua carreira. (Lance e Globo)

Cultura

Mesmo com a maioria das salas ainda ocupadas pela boneca existencialista, há boas opções de estreias nos cinemas. Ligando Porto Alegre à Croácia, Depois de Ser Cinza (trailer), primeiro longa de ficção de Eduardo Wannmacher, mostra dois brasileiros lidando com seus traumas no país europeu. Premiado no Festival de Berlim, Disco Boy — Choque Entre Mundos (trailer) exibe a ebulição social na África e a contínua influência europeia no continente. E para quem quer pipoca, adrenalina e inverossimilhança, Jason Statham volta aos mares com Megatubarão 2 (trailer).

Confira a programação completa nos cinemas da sua cidade. (AdoroCinema)

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Caetano sempre teve uma ligação com o samba, que, afinal, nasceu lá na Bahia. Mas essa união foi sacramentada pelo álbum Xande Canta Caetano, do sambista Xande de Pilares (Spotify), que chega amanhã às plataformas. Os dois são amigos, e a ideia partiu do próprio compositor, em cujo estúdio doméstico as dez músicas foram gravadas. “É bacana quando a pessoa que você admira te admira também. Não é natural estar com Caetano nem com artista nenhum da geração dele. Respeito muito os meus professores”, diz Xande. “Estou comovido até agora. Todo o repertório foi escolhido com sabedoria. Fico honrado, grato e encantado”, responde Caetano. (Globo)

Comemorando 40 anos, a Bienal do Livro anunciou sua programação, que inclui nomes como Julia Quinn, autora de Bridgerton, para quem será realizado um baile de máscaras; Conceição Evaristo e Ailton Krenak. O Café Literário, uma das mais tradicionais atrações do evento, terá programas como o Páginas no Palco, com performances, leituras e monólogos de artistas consagrados. A Bienal acontece de 1º a 10 de setembro no Riocentro, e os ingressos já estão à venda no site oficial. (g1)

Cotidiano Digital

O governo da China publicou ontem um projeto com regras mais severas para limitar o uso de celulares por crianças e adolescentes. O objetivo da regulamentação é reduzir o vício em internet no país. A Agência Chinesa de Ciberespaço quer que os provedores de dispositivos inteligentes introduzam programas que impeçam crianças de acessar a internet em dispositivos móveis de acordo com as regras, no chamado “modo menor”. Usuários de 16 a 18 anos teriam permissão para duas horas por dia, crianças de 8 a 16 anos teriam uma hora, enquanto crianças menores de 8 anos teriam apenas oito minutos. Todos os dispositivos no “modo menor” — independentemente da idade da criança — serão proibidos de acessar a internet entre 22h e 6h. O cumprimento das regras ficará sob responsabilidade das plataformas digitais, mas algumas dessas restrições podem ser desativadas manualmente pelos pais. (The Verge)

E a Meta lançou ontem sua ferramenta de inteligência artificial (IA) de código aberto AudioCraft, que ajudará usuários a criar música e áudio com base em requisições de texto. A ferramenta de IA vem com três modelos, AudioGen, EnCodec e MusicGen e funciona para música, som, compressão e geração. Um dos modelos, o MusicGen é treinado usando música de propriedade da companhia e especificamente licenciada. O objetivo é evitar preocupações sobre o uso da IA e direitos autorais. (Época Negócios)

Assinantes do antigo Twitter Blue, agora X Blue, podem ocultar o selo azul de verificação. Antes um sinal de distinção e garantia de identidade no Twitter, o selo de verificação do X é um dos recursos exclusivos para quem assina a versão premium. Mas, segundo o Núcleo Jornalismo, o pagamento da assinatura para obter o selo e as constantes confusões em torno da verificação fizeram com que o recurso perdesse seu valor. Por conta disso, o selo azul teria virado até motivo de vergonha para alguns usuários que precisam ou querem assinar o X Blue, o que talvez explique esse novo “recurso”. Entretanto, segundo o comunicado da rede social, o selo ainda pode aparecer em alguns lugares da plataforma e certos recursos podem não estar disponíveis caso o selo esteja oculto. (Núcleo Jornalismo)

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