Prezadas leitoras, caros leitores —

Há algumas semanas um acontecimento vem se repetido incontáveis vezes no Rio ou em São Paulo, em Nova York, na Califórnia, em diversas cidades da Europa. É um desentendimento. Um desentendimento profundo, em alguns casos doloroso, conforme judeus progressistas e seus amigos gentios percebem-se separados por uma compreensão muito distinta a respeito do que acontece hoje em Israel e na Faixa de Gaza.

Mas o que está acontecendo? Não é a primeira vez que o conflito entre Israel e Palestina vem ao foco do noticiário mas, desta vez, o desencontro se tornou muito mais agudo. Dois grupos, ambos progressistas, estão enxergando realidades em todo distintas.

O ambiente de debate digital provocou transformações importantes nas ideologias nos últimos dez anos. À direita, a guinada autoritária e populista vem sendo amplamente estudada e comentada. Mas também na esquerda houve mudanças grandes na maneira de enxergar como a sociedade se organiza.

Não são mudanças que ameaçam o regime democrático. Mas são mudanças que organizam de tal forma a percepção do mundo que tornaram a conversa sobre o Oriente Médio inviável. A busca por compreender como esta fenda se abriu no mundo progressista é o tema do texto escrito pelo editor-chefe do Meio, Pedro Doria, na edição de Sábado.

Para analisar qual o papel que a ONU pode ter no conflito frente a um Conselho de Segurança paralisado por vetos e às tensões na relação com Israel, conversamos com Marcelo Valença, professor de política internacional do programa de pós-graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval. E, como algum alívio é necessário, nossas impressões sobre o álbum duplo que celebra os 80 anos do grande Edu Lobo.

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— Os Editores.

Aliados buscam preservar a imagem de Haddad

O questionamento da meta fiscal de déficit zero em 2024 pelo presidente Lula expôs o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que ficou claramente incomodado. Agora, mesmo que o objetivo para o ano que vem seja de fato alterado, é preciso afastar a ideia de isolamento do chefe da equipe econômica. Aliados de Lula fazem uma operação para preservar a imagem de Haddad. Enquanto a Casa Civil estuda enviar uma mensagem ao Congresso para concretizar a mudança, uma parte do governo busca uma solução menos desgastante para o ministro. De um lado, o chefe da Casa Civil, Rui Costa, tem se mostrado a favor de encaminhar a mensagem modificativa, argumentando que cabe ao presidente a condução da política econômica. A alternativa seria uma costura para alteração da meta pelo próprio Congresso. Já o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, tem defendido a manutenção da meta de déficit zero até que o Congresso aprove as medidas de aumento da arrecadação. Só depois, a meta seria reavaliada. Padilha tem afirmado que é importante defender a economia brasileira e, com isso, Haddad. Mas ele sabe que quem manda é o presidente. Por isso, não descarta a hipótese de envio de uma mensagem modificativa. (Folha)

A nova meta fiscal, com previsão de ficar em torno de déficit de 0,5%, pode ser apresentada por emenda ao Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO). Essa apresentação seria feita por aliados do governo um dia antes do prazo final, no próximo dia 16, conta Gerson Camarotti. Segundo fontes, isso evitaria uma “saia justa” para Haddad. Essas fontes afirmam que o objetivo do governo com a revisão da meta não é aumentar o gasto público, mas diminuir o contingenciamento de recursos no ano que vem. (g1)

Para o pesquisador associado da FGV/Ibre Armando Castelar, a mudança na indica uma “virada de fase” no governo, e aconteceu antes do que se esperava. “Obviamente, sinaliza que a política vai ter mais peso do que a política econômica daqui para frente e menos apetite por medidas de disciplina fiscal, o que é complicado numa situação que já não era confortável”, avalia. (Estadão)

Malu Gaspar: “Uma liderança envolvida nas articulações para resolver o impasse da meta me disse que o governo pode colocar o déficit que quiser — 0,25%, 0,50% ou 0,75%, não importa —, e o Congresso aprova. O que os parlamentares não aceitarão é o Palácio do Planalto querer manter a fachada de responsabilidade fiscal à custa das emendas [parlamentares]”. (Globo)

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O novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA) foi estimado em até 27%. Mas as modificações no texto da reforma tributária no Senado devem aumentar sua alíquota-base em meio ponto percentual, afirmou ontem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Não chega a 28%. Como ampliaram as exceções, amplia em cerca de meio ponto. Essa estimativa demos à equipe técnica do Senado. Estamos dando transparência em tudo”, disse, acrescentando que, em relação à carga tributária atual, haverá queda para a maioria dos setores. “Vamos concluir uma tarefa histórica, depois de 40 anos. Ela é perfeita? Nada é perfeito. Mas à luz do que temos, o salto de qualidade é inestimável”, disse. Segundo Haddad, o texto foi analisado “ponto por ponto” e haverá “uma maioria boa no Senado e que vai ser possível promulgar a emenda constitucional ainda este ano”. O governo precisa de 49 votos para aprovação no Senado, mas, para garantir uma folga, trabalhará com até 60 votos. (Globo)

O relator da reforma tributária no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM), não revela o placar, mas afirma que já há votos suficientes para aprovar a proposta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e no plenário do Senado. “Vamos trabalhar muito ainda até a reunião da CCJ, na terça-feira. A expectativa é de termos uma aprovação expressiva na CCJ. E a ideia é, no dia 8, deliberar no plenário em primeiro turno. No dia 9, em segundo turno.” (Folha)

Uma semana depois de iniciar as operações terrestres, as Forças de Defesa de Israel (FDI) anunciaram ontem que cercaram a Cidade de Gaza. De acordo com os militares, os soldados travam combates cara a cara com o Hamas e ao menos 130 terroristas foram mortos ontem, enquanto as baixas entre as forças terrestres de Israel nessa primeira semana chegam a 19. Em seu canal no Telegram, o grupo terrorista confirmou os choques com as forças israelenses. Segundo o Hamas, Israel está tentando cortar a Faixa de Gaza ao meio, separando o Norte, onde ficam os principais redutos militares do Hamas, do Sul, para onde a maior parte da população civil fugiu. O principal objetivo militar da incursão, segundo os israelenses, é desmantelar a infraestrutura usada pelo Hamas nos atentados de 7 de outubro. Para isso, tropas blindadas e de infantaria, contam com auxílio aéreo e naval. Em meio ao avanço militar, aumenta a pressão internacional por uma pausa para aumentar a entrada de ajuda humanitária na região e melhorar o atendimento aos feridos. Mas o porta-voz militar israelense Daniel Hagari afirmou que o termo cessar-fogo “não está sobre a mesa no momento”. (Estadão e Times of Israel)

“Inexiste previsão do dia de retirada dos brasileiros de Gaza.” A afirmação é do embaixador do Brasil em Israel, Fred Mayer, que disse a Matheus Leitão que o Itamaraty está em “compasso de espera”. Das 576 pessoas autorizadas a atravessar a fronteira ontem, 400 são dos Estados Unidos. Segundo a embaixada do Brasil na Cisjordânia, 34 pessoas pediram a ajuda para deixar a região. (Veja)

O vice-chanceler alemão Robert Habeck, do Partido Verde, considerou necessário fazer um pronunciamento à nação, afirmando que, na Alemanha, antissemitismo não será tolerado. Nem da direita — nem da esquerda. (X)

Meio em vídeo. A morte do premiê israelense Yitzhak Rabin é considerada também a morte da esperança de uma reconciliação com os palestinos. Para entender um pouco como chegamos a 2023, vale voltar lá na década de 1990. Em De Tédio a Gente Não Morre, Mariliz Pereira Jorge sugere o filme “O Último Dia de Yitzhak Rabin”, feito em 2015, mas que só agora chega aos cinemas no Brasil. (YouTube)

Now and Then

Tony de Marco

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Viver

Dias depois de afirmar que não haveria Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em seu governo, o presidente Lula assinou, na quarta-feira, decreto desse tipo para combater o crime organizado em portos e aeroportos do Rio de Janeiro e de São Paulo. A medida é válida até maio de 2024 e se aplica aos portos de Rio de Janeiro, Itaguaí (RJ) e Santos (SP), e aos aeroportos de Guarulhos (SP) e Galeão (RJ). Um comitê coordenado pelos ministérios da Justiça e Segurança Pública e da Defesa supervisionará as operações. Cerca de 3,7 mil militares de Exército, Marinha e Aeronáutica serão mobilizados. Segundo o ministro da Justiça, Flávio Dino, as Forças Armadas intensificarão as atividades nas fronteiras, com foco em áreas do Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Força Nacional também reforçarão as operações nesses estados. (g1)

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Estudo com a coautoria de James Hansen, renomado cientista que alertou sobre as mudanças climáticas na década de 1980, revela uma aceleração no aquecimento global. Publicado na revista Oxford Open Climate Change e elaborado por 17 cientistas, o levantamento indica que o aquecimento global pode ultrapassar os níveis pré-industriais em 1,5°C já na década de 2020 e em 2°C até 2050, superando estimativas anteriores. A pesquisa enfatiza a urgência de ações drásticas para mudar esse cenário. (CNN e Oxford Academic)

Enquanto isso... o Papa Francisco confirmou que estará na Conferência do Clima da ONU (COP28), que ocorrerá entre 30 de novembro e 12 de dezembro em Dubai. Será a primeira participação de um pontífice desde a primeira edição do evento, em 1995. (Folha)

Uma pesquisa da Universidade da Califórnia revelou que os gatos têm cerca de 276 expressões faciais diferentes que usam para se comunicar uns com os outros. Os pesquisadores descobriram que algumas expressões dos felinos têm semelhanças com as dos humanos, possivelmente adquiridas ao longo de 10 mil anos vivendo conosco. Eles não sabem o que os gatos querem dizer, mas esperam que o estudo ajude os donos de animais e abrigos a entender melhor a comunicação entre gatos. (BBC)

Cultura

A “sala secreta” de Michelangelo será aberta ao público pela primeira vez na Itália no próximo dia 15. Situada abaixo das Capelas dos Médici, em Florença, o pequeno espaço contém esboços do artista, famoso por obras como o teto da Capela Sistina e sua escultura de Davi. O local exibe desenhos de Michelangelo descobertos durante trabalhos de restauração em 1975. Os esboços foram feitos em um corredor apertado, que era usado para armazenar carvão. Os esboços são considerados preparativos para obras futuras, oferecendo um vislumbre único do processo criativo do artista. A visitação será permitida a um número limitado de pessoas até 30 de março. (CNN)

O CEO da HBO, Casey Bloys, pediu desculpas por criar perfis falsos nas redes sociais para rebater críticas a programas da emissora. Em evento para promover a programação do grupo, ele admitiu ter tomado a decisão errada de usar contas falsas no Twitter, atual X, para responder a críticos. “Estava trabalhando de casa e passando um tempo doentio no Twitter, tive uma ideia muito, muito burra para descarregar minha frustração.” O caso veio à tona após um ex-funcionário processar Bloys por assédio moral. (Folha)

E a HBO revelou a data de retorno de suas séries. House of The Dragon, com oito episódios, tem estreia prevista para o meio de 2024. Já a segunda temporada de The Last of Us e as terceiras de Euphoria e White Lotus devem estrear em 2025. (Metrópoles)

Começa hoje no Rio a edição de 18 anos do Festival Multiplicidade, que, fazendo jus ao nome, traz mais de 800 artistas distribuídos em quatro eventos ao longo do mês. Neste fim de semana, o Ultrassonidos mostra pela segunda vez a combinação entre a música moderna feita no Brasil e em nossos vizinhos da América Latina. De 8 a 12, é a vez do Multiplicidade propriamente dito, com o tema É Ontem e uma seleção de conteúdos de sua trajetória. E, de 8 a 26, acontecem a exposição NFT.Rio, com a colaboração de algumas das mais importantes coleções de arte digital do mundo, e a Exposição 2050 + Studio Krya, com obras físicas e digitais de artistas da favela e do asfalto.

Cotidiano Digital

Cerca de 25 meninas, entre 14 e 16 anos, tiveram falsos nudes criados via inteligência artificial (IA) por colegas de classe, que compartilharam as imagens nas redes sociais. O tradicional Colégio Santo Agostinho, na Barra da Tijuca, no Rio, apura o caso, que está sendo investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. A mãe de uma das meninas afirma que elas estão tendo crises de ansiedade, enquanto os responsáveis pelas imagens seguem sem punição. Um deles teria afirmado que não seria punido “porque é branco e rico”. Esse não é o primeiro caso do tipo. Em setembro, na Espanha, mais de 20 meninas foram vítimas de falsos nudes criados por IA. A prática ilegal também vitimou adolescentes de uma escola em Nova Jersey (EUA). (Globo, CNN e WSJ)

Meio em vídeo. Como evitar a falsificação das imagens nas redes? Como lidar com esse problema, que será cada vez mais comum? Confira o que pensam Pedro Doria e Cora Rónai no Pedro+Cora. (YouTube)

E os resultados da Apple no quarto trimestre surpreenderam as expectativas do mercado com o aumento nas vendas do iPhone. As vendas do quarto trimestre fiscal encerrado em 30 de setembro caíram cerca de 1%, atingindo US$ 89,50 bilhões, com quase US$ 1 bilhão acima do esperado pelos analistas. Já o lucro líquido foi de US$ 22,95 bilhões, valor 10,7% superior ao resultado do mesmo período do ano passado. (CNN)

No julgamento antitruste EUA x Google, uma rara lista de pesquisas mais lucrativas da big tech foi tornada pública. Restrita a uma semana de setembro de 2018, a lista contém os 20 principais termos classificados por receita. O Google gera receita com anúncios em pesquisas, com custos por clique variando conforme a consulta. Naquele ano, as principais pesquisas estavam relacionadas ao lançamento do iPhone 8, seguros de carros, voos baratos e faculdades online. A lista revela como empresas gastam para se “autoanunciar” e se manter acima dos concorrentes. Os valores exatos permanecem confidenciais. (The Verge)

Pesquisadores alertam que chatbots têm dificuldade de discernir comandos legítimos de seus usuários dos feitos por terceiros, com objetivos maliciosos. Devido à sua tendência à “ingenuidade”, esses programas de inteligência artificial (IA) são suscetíveis a uma “injeção de comandos” em linguagem natural, em vez de em códigos, tornando os chatbots potenciais alvos para hackers que tentam enganar o sistema para ações maliciosas. Isso pode acontecer inclusive com ferramentas de IA que realizam tarefas como ler arquivos ou escrever e-mails. (Washington Post)

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