Ecos do extremismo

Não há como dourar a pílula: o que aconteceu em Brasília no domingo foi um ato de extremismo violento, de terrorismo. O objetivo claro era a ruptura da ordem democrática. E se há alguém que não hesita em nomear os processos de radicalização da direita é a pesquisadora Michele Prado. Ela monitora e estuda os extremistas há tempo suficiente para identificar naquele grupo os padrões de radicalização que vê acontecendo pelo mundo. Nesta entrevista, Michele descreve como essas pessoas foram capturadas e transformadas em agentes propagadores de teorias conspiratórias que, com o tempo, convertem-se em pretextos para a busca de um governo autocrático — por meio da violência. Agora, cá estamos, três dias depois, assustados com a possibilidade de novos ataques.

Autora de Tempestade Ideológica, Michele também escreveu Red Pill — Radicalização e Extremismo, em nome de “Deus”, dos “homens” e da “liberdade”, em pré-venda. Essa outra pílula, igualmente simbólica e muito usada nas “câmaras de eco digitais” da extrema direita, é como um “grande guarda-chuva para diversas teorias conspiratórias e pode ser o início de um processo de radicalização online para uma visão de mundo extremista e reacionária”. Michele alerta que o extremismo é descentralizado, horizontal. Embora tenha em Jair Bolsonaro um líder, pode prescindir dele por não considerá-lo extremo o bastante. A pesquisadora conclama o Brasil a lidar com o extremismo, violento ou não, de forma sistemática e multisetorial. Confira os principais trechos da conversa.

Quem eram aquelas pessoas na linha de frente do ataque em Brasília?
O que aconteceu domingo algo era previsível, vem sendo alertado. Antes da invasão, alertei sobre o “Festa da Selma“, código que eles estavam usando. E abre um flanco muito perigoso, a longo prazo, porque extremistas violentos podem passar a considerar que a sede do poder, a sede da democracia brasileira já não é mais invulnerável. Quero chamar atenção para o fato de que estamos passando por um fenômeno em que não existe uma hierarquia centralizada. Existem líderes de influência, que promovem o discurso de ódio, a desconfiança nas instituições democráticas, até que as pessoas chegam a rejeitar a democracia liberal. Esse processo de radicalização costumava ser longo, está sendo encurtado por causa das redes. No domingo, tivemos pessoas comuns que se radicalizaram ao longo do tempo, de todos os estados brasileiros, com alguma predominância do Centro-Oeste — isso já estava muito presente quando monitorávamos os grupos —, idosos e jovens, várias classes sociais e, principalmente, vários tipos de influências de correntes diferentes da extrema direita e da direita radical. Nem toda direita brasileira é a far-right, que junta os espectros da direita radical e da extrema direita. A far-right não é uniforme, assim como a própria direita brasileira não é uniforme.

Como é a composição da direita brasileira?
Ela tem conservadores, tem muito da influência da alt-right, integralistas católicos, dominionistas, fundamentalistas cristãos. Tem pessoas que pedem por um Estado secular e outras por um Estado submetido ao poder da igreja, espiritual. Há quem defenda o livre mercado, outros que rejeitam o liberalismo. E, nesse ponto, também é muito semelhante ao que vimos acontecer nos Estados Unidos, na invasão ao Capitólio. As investigações e os relatórios de centros de pesquisa do extremismo e de contraterrorismo indicavam exatamente essa falta de uniformidade na massa radicalizada que chegou ao extremo de optar pela violência, como se a violência fosse uma solução legítima para suas demandas. E pedindo golpe, intervenção militar. Aqueles extremistas que invadiram o Capitólio vinham de 46 estados diferentes. A faixa etária foi dos 8 aos 80 anos. Havia muitos militares ou veteranos, ex-militares envolvidos. E também não tinha uma organização centralizada. Não é hierárquico, é horizontal. Essa é uma das principais características do extremismo de direita. Principalmente o extremismo violento e o terrorismo doméstico de extrema direita. Você não tem uma hierarquia e não há quase nunca uma filiação formal a um grupo terrorista ou com uma organização extremista. É fluido. Há muitas pessoas que se radicalizaram que saíram do anonimato por meio das redes, das plataformas. E elas foram aumentando essa radicalização, criando um público, e a cada vez que elas postam algo radical, ganham muitos likes e muitos PIX, porque também tem a parte financeira do negócio do extremismo. Ela vira uma espécie de líder. Então, são vários pequenos líderes.

Mas há os financiadores.
Claro que há empresários que financiam. Provavelmente, políticos também. Mas também vamos encontrar muita doação voluntária dessas pessoas que estão capturadas dentro dessas câmaras de eco, nas quais elas estão sendo radicalizadas para um sistema de crença excludente, desumanizante, extremista e de violência. Mesmo sendo um grupo sem hierarquia, ele consegue se organizar. E aqui entramos no papel da internet, que é fundamental nesses episódios e na radicalização em si. Apesar de não haver uma liderança, todas essas câmaras de eco são interligadas. Há uma horizontalidade, mas é como se fosse uma teia, se pensarmos em termos visuais. Uma ideia para que se faça uma manifestação em tal local surge num determinado grupo, com um determinado influenciador, que tem muitos seguidores. Ela vai se disseminando para outros espaços. Não é muito difícil organizar uma manifestação hoje ou um ato utilizando a internet, porque você consegue alcançar um público mil vezes maior do que quando tínhamos os perímetros físicos pra nos limitar. Quando falamos, por exemplo, de atentados de extremismo violento ideologicamente motivado em escolas, eles fazem o planejamento dentro de servidores como o Discord, que reúne muito jovens jogando videogame. Eles conseguem se comunicar com pessoas no mundo inteiro, pegam instruções, copiam manifestos de outros terroristas, como o daqui da Bahia, o adolescente de 14 anos que matou uma garota cadeirante, e trouxe trechos de manifestos de outros terroristas de extrema direita fora do Brasil.

O que mobiliza essas pessoas a permanecer envolvidas nessa teia?
Essas pessoas radicalizadas estabeleceram um sistema de crença extremista e de pensamento conspiratório, se sentem como agentes que vão salvar a humanidade. Na cabeça delas, estão fazendo o bem. E estão se sentindo participantes da política. São agentes, produtores de informação, não mais só consumidores. Essa é outra característica da era pós-digital. E essas pessoas extremamente mobilizadas farão o possível para conseguir recrutar mais pessoas para suas ideias e conseguir mobilizar mais e mais pessoas, inclusive para tornar possível financeiramente seus objetivos.

E um dos objetivos principais — isso a gente precisa deixar claro — é a ruptura da ordem democrática. Esse é o objetivo principal desde sempre do bolsonarismo e de grande parte dessa nova direita brasileira.

Ainda assim, foi apenas uma parcela dessa extrema direita que foi para os acampamentos e que tentou um golpe em Brasília. O que motiva esse empurrão para a violência?
Não, não foi toda a extrema direita brasileira que acampou. É uma minoria que chega ao extremismo violento e ao terrorismo. E a gente usa justamente esse termo “empurrar” nos estudos de extremismo. Aí entram também fatores individuais e só com uma análise mais aprofundada do perfil de cada uma dessas pessoas vamos poder afirmar o que levou cada uma delas a fazer essa travessia para a violência. Mas existem sinais. A pessoa começa a repetir com muita frequência teorias conspiratórias como marxismo cultural, nova ordem mundial, grande substituição, nas quais eles colocam um grupo como bode expiatório e produtor dos males da sociedade. Aquele grupo passa a ser enxergado como inimigo e essa pessoa começa a ter uma fixação muito forte nisso. Quando ela glorifica muito o armamento e a violência, é um outro sinal. E quando um único assunto é o foco, por exemplo, só fala sobre migração, contra mulheres, contra negros, é outro ponto muito preocupante, porque essa pessoa vai entrando na toca do coelho, como dizemos, na qual ela vai passar aos poucos a acreditar que a única solução para suas demandas é a violência. E que seria preferível um governo autocrático, contanto que suas demandas sejam atendidas. A mentalidade conspiratória é um dos sinais mais evidentes.

Você mencionou que esse processo de radicalização está acelerado.
Sim, há pesquisas que indicam que houve uma queda no período no qual as pessoas se radicalizam. Antes da internet, a média era de cinco anos consumindo conteúdo extremista. Cinco anos. Com a internet, hoje a média está em torno de três a 18 meses. Ou seja, em um ano e meio já temos uma pessoa radicalizada. Muitos ataques de terrorismo doméstico nos EUA, de extrema-direita, que aconteceram nos últimos dois anos indicam justamente isso. Muitos desses jovens se radicalizaram agora na pandemia. Um estudo que saiu recentemente, feito pelo Ministério da Justiça do Reino Unido, mostrou que, entre 2019 e 2021, 92% dos condenados por terrorismo doméstico e extremismo violento por lá passaram pelo processo de radicalização online.

Se não há um grande líder no extremismo da direita, qual o papel de um presidente dessa ideologia na disseminação dessas ideias?
Quando há um líder extremista no poder, ele legitima a crença extremista, amplifica os conceitos extremistas para um público muito mais amplo, inclusive mundial, porque é um líder, é um representante do país, um chefe do Executivo, e as pessoas que estão na ponta, os cidadãos que recebem essa mensagem veem o presidente como uma autoridade moral. E nós temos o conceito do terrorismo estocástico, que é incentivar a violência sem falar explicitamente que você está incentivando a violência. Mas aquelas pessoas recebem a mensagem, passam a acreditar que precisam responder aquele chamado. Bolsonaro nunca falou diretamente “Entrem aqui, invadam”. Mas ele mandou centenas de sinais nos últimos quatro anos, indicando que a ruptura era necessária. Quando ele deixou de aceitar a derrota eleitoral para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não fez nenhum tipo de declaração sinalizando uma transmissão pacífica de poder, mandou mais um sinal da teoria conspiratória de que as eleições são fraudadas e de que o povo deveria tomar as rédeas e invadir o Congresso, responder o STF e o TSE. Então, Jair Bolsonaro é um dos principais responsáveis, com certeza absoluta. Os filhos dele, idem. Muitos parlamentares da base bolsonarista e também de outros partidos, como o Novo, são responsáveis pelo que aconteceu. Muitos influenciadores. E eu gostaria de ressaltar aqui o papel da imprensa nesse processo, especialmente aquelas que estão abrigando agentes malignos, que espalham desinformação e conceitos extremistas e teorias conspiratórias diariamente. A Jovem Pan é um exemplo. A Gazeta do Povo é outro.

A derrota de Bolsonaro funcionou como um estopim. Mas também poderia, como interpretou o governo federal, ter servido para desmobilizar os extremistas?
Não, essa interpretação foi um equívoco. Estou há anos tentando alertar as pessoas que a saída do Bolsonaro não iria significar o fim da extrema direita no Brasil. Ela já está estabelecida. É de se supor que se um um líder que emite tantos sinais, que legitima, não está mais em posição de fazê-lo, os seus seguidores talvez recuassem. Mas isso só acontece quando há decepção com o líder. Esse é um dos preditores para aquela pessoa que está radicalizada virar a chave e tentar se afastar do movimento. Só que nem todos têm a decepção com o líder. A maior parte não tem. Essas pessoas estão capturadas em câmaras de eco digitais onde essas crenças estão sendo reforçadas o tempo inteiro. Elas não têm mais contato com a opinião dissonante. São mais de 300 influenciadores com mais de 50 mil seguidores. Alguns deles têm mais de 1 milhão de seguidores, com canais em várias plataformas: Telegram, WhatsApp, no Gettr, no Gab, Twitch, além das plataformas tradicionais. Você não desmobiliza um movimento dessa magnitude de um dia para o outro só porque tirou Bolsonaro. E, além do mais, Bolsonaro é um avatar.

Como assim?
Ele é um avatar desse amálgama de correntes extremistas e radicais de direita que formaram a nova direita brasileira. Foi escolhido. Mais adiante, eles vão tentar escolher um outro líder, talvez ainda mais extremista, porque podem considerar que Bolsonaro não fez o que deveria fazer, não foi extremo suficiente. Basta você ler o que uma certa facção de olavetes reproduz. Gente como o Abraham Weintraub ou Silvio Grimaldo, braço direito do Olavo de Carvalho. E eles continuam trabalhando na mobilização extremista. Hoje mesmo (terça-feira, dia 10) o nome de Olavo de Carvalho foi para os trending topics do Twitter de novo. Aliás, há ainda uma situação que potencializa a radicalização: a compra do Twitter pelo Elon Musk. Ele reabilitou milhares de contas de de extremistas. Alguns estavam banidos havia anos. Ele está reabilitando neonazistas, supremacistas brancos. Influenciadores da extrema direita aqui no Brasil estão em contato direto com Musk. É muito frequente eles marcarem o Musk e ele responder. Ainda hoje, peguei três marcando. Algumas plataformas não estão colaborando. O Twitter é uma delas.

Estivemos muito perto de uma adesão institucional de forças de segurança ao ato terrorista de domingo. Isso é uma diferença do que aconteceu no Capitólio.
As Forças Armadas dos EUA têm um papel institucional muito forte, estabelecido, que não se imiscui com o poder político de turno. Então, elas foram fundamentais para evitar o pior. No Brasil, temos essa mistura acontecendo desde o primeiro dia de mandato. Estava muito claro o desenho desde 2019, conforme começou a se lotear o governo com militares de alto e baixo escalão. Essa militarização não começou em 2020, tampouco em 2022. E deputados e senadores não fizeram o papel deles, que era reclamar, tentar impedir, investigar, pedir uma comissão. Nem o Ministério Público. Muitas instituições falharam. Em 2019, alertei que o Brasil já era democracia mais militarizada do mundo, acima das Filipinas. É função de congressistas, dos agentes institucionais impedir isso. O que aconteceu nos últimos dois meses é inadmissível. Os quartéis deixaram permanecer em suas portas manifestações extremistas. E por que extremistas? Porque desde o início era verbalmente explícito que pediam um golpe militar, uma ruptura da ordem democrática. Não adianta tergiversar. Dizer que eram só manifestantes pacíficos. Nunca foram. A partir do momento que estão pedindo uma intervenção militar, já se coloca o rompimento da ordem democrática em jogo e também o uso da força policial para garantir esse objetivo. E as instituições, de novo, falharam. Especialmente as Forças Armadas, mas os governos de cada estado também. Não temos a dimensão do tamanho da infiltração de crenças da extrema direita nas forças militares. Venho insistindo há tempos que não há um monitoramento disso. O Fórum de Segurança Pública fez uma pesquisa excelente sobre a democracia dentro das polícias. Mas é insuficiente.

Em que medida as prisões e a reação institucional pós-domingo pode diminuir o extremismo?
Pode acontecer. Isso aconteceu nos Estados Unidos, depois que quase mil pessoas foram investigadas, algumas estão sendo condenadas. Houve uma desmobilização. Mas aí eles passaram para uma outra estratégia, local, de cooptar conselhos escolares, conselhos municipais, governos locais. A federação dos Estados Unidos é bastante diferente do Brasil, mas provavelmente vamos ver algo parecido acontecer nas próximas eleições municipais por aqui. Ainda assim, pode haver uma desmobilização, porque a punição da lei é reativa. Então, se os extremistas forem categorizados em crimes de dentro da Lei Antiterrorismo… Não sei se vai ser. Deveria, mas não sou jurista. Se eles forem punidos na Lei Antiterrorismo, isso com certeza diminui o potencial de as pessoas se aventurarem no extremismo violento e no terrorismo doméstico. Agora, vai também acontecer de ter aqueles que vão se mobilizar ainda mais. É uma minoria. Mas existe um movimento, um estilo específico, uma ideologia que é o aceleracionismo de extrema direita. Seria você produzir o caos para conseguir causar a ruptura social e chegar às suas demandas. Dentro do aceleracionismo, há desde conspiracionistas, a milícias antigovernamentais até neonazistas. Eles se aproveitam desses momentos para produzir mais caos, até provocar uma guerra civil.

Muitos deles já pedem guerra civil abertamente no Brasil. Há uma constelação de alvos potenciais: jornalistas, órgãos de imprensa, políticos, personalidades públicas, grupos minoritários e alvos de infraestrutura.

De que forma a violência política, caso não haja um golpe bem sucedido, pode desestabilizar o Brasil?
As pessoas precisam entender que o extremismo não é abstrato. Temos o extremismo violento e o não violento, e os dois podem chegar ao cotidiano das pessoas. O extremismo não violento chega, por exemplo, na forma de políticas públicas. Há exclusão de grupos minoritários, perseguição contra a imprensa, o legalismo autocrático, em que se utiliza a própria Constituição para minar a democracia liberal. E o extremismo violento também pode chegar. Um casal de pessoas da comunidade LGBTQIA+ são impedidos de adentrar determinado local, utilizar determinado serviço, eles podem ser agredidos, isso tudo é extremismo violento. Se o extremismo chega, por exemplo, nas corporações militares, vemos o reflexo nas abordagens das polícias. As pessoas têm uma noção equivocada de que o extremismo de direita é somente aquele cara com a suástica desenhada na testa. Há muito tempo o extremismo de direita não é mais isso. Desde o pós-guerra, neonazistas vêm tentando “lavar” suas ações, para tornar o extremismo mais palatável, e as pessoas não perceberem e serem capturadas. Há doutores de Harvard cooptados, disseminando o conteúdo da extrema direita, teoria conspiratória, antissemita, que exclui pessoas… É um tubo de radicalização para se poder chegar ao neofascismo.

Uma pesquisa mostrou que 38% dos entrevistados achavam que a invasão em Brasília foi total ou parcialmente justificada. É esse o tamanho do extremismo de direita no Brasil?
Quarenta por cento, com certeza. E nesses números ainda há uma parcela que não está sendo capturada, que tem vergonha de admitir publicamente. Isso demonstra também o alcance, a disseminação dos conteúdos de desinformação, das teorias conspiratórias. Como se reverte isso? É um processo a longo prazo, não tem varinha de condão. Precisa de uma abordagem multisetorial. Governo, academia, sociedade civil, representantes, líderes comunitários, líderes religiosos, líderes esportistas, escolas, professores, imprensa. Precisamos começar a produzir contra-narrativas eficazes, persuasivas, resgatar de volta essas pessoas para o campo democrático. Precisamos urgentemente de um centro de estudo e pesquisa do extremismo no Brasil. De dados públicos, centralizados, perfis de radicalização. Precisamos informar a sociedade com uma linguagem acessível sobre o que é o extremismo, quais são as correntes, o perigo que esse extremismo representa para a sociedade. Onde estão as células terroristas, neonazistas, qual é a categorização, a metodologia que está sendo utilizada para classificar essas células. Não adianta só falar “tem 250 células de neonazismo no Brasil”. Nos EUA, existe o Pirus (Profiles of Individual Radicalization in the United States), que é um perfil de radicalização individual criado por um consórcio do estudo do extremismo. Você entra e vê o perfil, não os nomes, mas todos os marcadores, consegue estudar o assunto com muito mais embasamento. Por fim, precisamos chegar nas escolas, nos professores, explicar como reconhecer sinais de radicalização. Pais e mães também. Não estamos lidando só com um problema político. O processo de radicalização online de jovens não está no subterrâneo. E isso vai resultar em mais massacres em escolas, mais extremismo violento de jovens. É muito grave.

Não há como dourar a pílula: o que aconteceu em Brasília no domingo foi um ato de extremismo violento, de terrorismo. O objetivo claro era a ruptura da ordem democrática. E se há alguém que não hesita em nomear os processos de radicalização da direita é a pesquisadora Michele Prado. Ela monitora e estuda os extremistas há tempo suficiente para identificar naquele grupo os padrões de radicalização que vê acontecendo pelo mundo. Nesta entrevista, Michele descreve como essas pessoas foram capturadas e transformadas em agentes propagadores de teorias conspiratórias que, com o tempo, convertem-se em pretextos para a busca de um governo autocrático — por meio da violência. Agora, cá estamos, três dias depois, assustados com a possibilidade de novos ataques.

Autora de Tempestade Ideológica, Michele também escreveu Red Pill — Radicalização e Extremismo, em nome de “Deus”, dos “homens” e da “liberdade”, em pré-venda. Essa outra pílula, igualmente simbólica e muito usada nas “câmaras de eco digitais” da extrema direita, é como um “grande guarda-chuva para diversas teorias conspiratórias e pode ser o início de um processo de radicalização online para uma visão de mundo extremista e reacionária”. Michele alerta que o extremismo é descentralizado, horizontal. Embora tenha em Jair Bolsonaro um líder, pode prescindir dele por não considerá-lo extremo o bastante. A pesquisadora conclama o Brasil a lidar com o extremismo, violento ou não, de forma sistemática e multisetorial. Confira os principais trechos da conversa.

Quem eram aquelas pessoas na linha de frente do ataque em Brasília?
O que aconteceu domingo algo era previsível, vem sendo alertado. Antes da invasão, alertei sobre o “Festa da Selma“, código que eles estavam usando. E abre um flanco muito perigoso, a longo prazo, porque extremistas violentos podem passar a considerar que a sede do poder, a sede da democracia brasileira já não é mais invulnerável. Quero chamar atenção para o fato de que estamos passando por um fenômeno em que não existe uma hierarquia centralizada. Existem líderes de influência, que promovem o discurso de ódio, a desconfiança nas instituições democráticas, até que as pessoas chegam a rejeitar a democracia liberal. Esse processo de radicalização costumava ser longo, está sendo encurtado por causa das redes. No domingo, tivemos pessoas comuns que se radicalizaram ao longo do tempo, de todos os estados brasileiros, com alguma predominância do Centro-Oeste — isso já estava muito presente quando monitorávamos os grupos —, idosos e jovens, várias classes sociais e, principalmente, vários tipos de influências de correntes diferentes da extrema direita e da direita radical. Nem toda direita brasileira é a far-right, que junta os espectros da direita radical e da extrema direita. A far-right não é uniforme, assim como a própria direita brasileira não é uniforme.

Como é a composição da direita brasileira?
Ela tem conservadores, tem muito da influência da alt-right, integralistas católicos, dominionistas, fundamentalistas cristãos. Tem pessoas que pedem por um Estado secular e outras por um Estado submetido ao poder da igreja, espiritual. Há quem defenda o livre mercado, outros que rejeitam o liberalismo. E, nesse ponto, também é muito semelhante ao que vimos acontecer nos Estados Unidos, na invasão ao Capitólio. As investigações e os relatórios de centros de pesquisa do extremismo e de contraterrorismo indicavam exatamente essa falta de uniformidade na massa radicalizada que chegou ao extremo de optar pela violência, como se a violência fosse uma solução legítima para suas demandas. E pedindo golpe, intervenção militar. Aqueles extremistas que invadiram o Capitólio vinham de 46 estados diferentes. A faixa etária foi dos 8 aos 80 anos. Havia muitos militares ou veteranos, ex-militares envolvidos. E também não tinha uma organização centralizada. Não é hierárquico, é horizontal. Essa é uma das principais características do extremismo de direita. Principalmente o extremismo violento e o terrorismo doméstico de extrema direita. Você não tem uma hierarquia e não há quase nunca uma filiação formal a um grupo terrorista ou com uma organização extremista. É fluido. Há muitas pessoas que se radicalizaram que saíram do anonimato por meio das redes, das plataformas. E elas foram aumentando essa radicalização, criando um público, e a cada vez que elas postam algo radical, ganham muitos likes e muitos PIX, porque também tem a parte financeira do negócio do extremismo. Ela vira uma espécie de líder. Então, são vários pequenos líderes.

Mas há os financiadores.
Claro que há empresários que financiam. Provavelmente, políticos também. Mas também vamos encontrar muita doação voluntária dessas pessoas que estão capturadas dentro dessas câmaras de eco, nas quais elas estão sendo radicalizadas para um sistema de crença excludente, desumanizante, extremista e de violência. Mesmo sendo um grupo sem hierarquia, ele consegue se organizar. E aqui entramos no papel da internet, que é fundamental nesses episódios e na radicalização em si. Apesar de não haver uma liderança, todas essas câmaras de eco são interligadas. Há uma horizontalidade, mas é como se fosse uma teia, se pensarmos em termos visuais. Uma ideia para que se faça uma manifestação em tal local surge num determinado grupo, com um determinado influenciador, que tem muitos seguidores. Ela vai se disseminando para outros espaços. Não é muito difícil organizar uma manifestação hoje ou um ato utilizando a internet, porque você consegue alcançar um público mil vezes maior do que quando tínhamos os perímetros físicos pra nos limitar. Quando falamos, por exemplo, de atentados de extremismo violento ideologicamente motivado em escolas, eles fazem o planejamento dentro de servidores como o Discord, que reúne muito jovens jogando videogame. Eles conseguem se comunicar com pessoas no mundo inteiro, pegam instruções, copiam manifestos de outros terroristas, como o daqui da Bahia, o adolescente de 14 anos que matou uma garota cadeirante, e trouxe trechos de manifestos de outros terroristas de extrema direita fora do Brasil.

O que mobiliza essas pessoas a permanecer envolvidas nessa teia?
Essas pessoas radicalizadas estabeleceram um sistema de crença extremista e de pensamento conspiratório, se sentem como agentes que vão salvar a humanidade. Na cabeça delas, estão fazendo o bem. E estão se sentindo participantes da política. São agentes, produtores de informação, não mais só consumidores. Essa é outra característica da era pós-digital. E essas pessoas extremamente mobilizadas farão o possível para conseguir recrutar mais pessoas para suas ideias e conseguir mobilizar mais e mais pessoas, inclusive para tornar possível financeiramente seus objetivos.

E um dos objetivos principais — isso a gente precisa deixar claro — é a ruptura da ordem democrática. Esse é o objetivo principal desde sempre do bolsonarismo e de grande parte dessa nova direita brasileira.

Ainda assim, foi apenas uma parcela dessa extrema direita que foi para os acampamentos e que tentou um golpe em Brasília. O que motiva esse empurrão para a violência?
Não, não foi toda a extrema direita brasileira que acampou. É uma minoria que chega ao extremismo violento e ao terrorismo. E a gente usa justamente esse termo “empurrar” nos estudos de extremismo. Aí entram também fatores individuais e só com uma análise mais aprofundada do perfil de cada uma dessas pessoas vamos poder afirmar o que levou cada uma delas a fazer essa travessia para a violência. Mas existem sinais. A pessoa começa a repetir com muita frequência teorias conspiratórias como marxismo cultural, nova ordem mundial, grande substituição, nas quais eles colocam um grupo como bode expiatório e produtor dos males da sociedade. Aquele grupo passa a ser enxergado como inimigo e essa pessoa começa a ter uma fixação muito forte nisso. Quando ela glorifica muito o armamento e a violência, é um outro sinal. E quando um único assunto é o foco, por exemplo, só fala sobre migração, contra mulheres, contra negros, é outro ponto muito preocupante, porque essa pessoa vai entrando na toca do coelho, como dizemos, na qual ela vai passar aos poucos a acreditar que a única solução para suas demandas é a violência. E que seria preferível um governo autocrático, contanto que suas demandas sejam atendidas. A mentalidade conspiratória é um dos sinais mais evidentes.

Você mencionou que esse processo de radicalização está acelerado.
Sim, há pesquisas que indicam que houve uma queda no período no qual as pessoas se radicalizam. Antes da internet, a média era de cinco anos consumindo conteúdo extremista. Cinco anos. Com a internet, hoje a média está em torno de três a 18 meses. Ou seja, em um ano e meio já temos uma pessoa radicalizada. Muitos ataques de terrorismo doméstico nos EUA, de extrema-direita, que aconteceram nos últimos dois anos indicam justamente isso. Muitos desses jovens se radicalizaram agora na pandemia. Um estudo que saiu recentemente, feito pelo Ministério da Justiça do Reino Unido, mostrou que, entre 2019 e 2021, 92% dos condenados por terrorismo doméstico e extremismo violento por lá passaram pelo processo de radicalização online.

Se não há um grande líder no extremismo da direita, qual o papel de um presidente dessa ideologia na disseminação dessas ideias?
Quando há um líder extremista no poder, ele legitima a crença extremista, amplifica os conceitos extremistas para um público muito mais amplo, inclusive mundial, porque é um líder, é um representante do país, um chefe do Executivo, e as pessoas que estão na ponta, os cidadãos que recebem essa mensagem veem o presidente como uma autoridade moral. E nós temos o conceito do terrorismo estocástico, que é incentivar a violência sem falar explicitamente que você está incentivando a violência. Mas aquelas pessoas recebem a mensagem, passam a acreditar que precisam responder aquele chamado. Bolsonaro nunca falou diretamente “Entrem aqui, invadam”. Mas ele mandou centenas de sinais nos últimos quatro anos, indicando que a ruptura era necessária. Quando ele deixou de aceitar a derrota eleitoral para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não fez nenhum tipo de declaração sinalizando uma transmissão pacífica de poder, mandou mais um sinal da teoria conspiratória de que as eleições são fraudadas e de que o povo deveria tomar as rédeas e invadir o Congresso, responder o STF e o TSE. Então, Jair Bolsonaro é um dos principais responsáveis, com certeza absoluta. Os filhos dele, idem. Muitos parlamentares da base bolsonarista e também de outros partidos, como o Novo, são responsáveis pelo que aconteceu. Muitos influenciadores. E eu gostaria de ressaltar aqui o papel da imprensa nesse processo, especialmente aquelas que estão abrigando agentes malignos, que espalham desinformação e conceitos extremistas e teorias conspiratórias diariamente. A Jovem Pan é um exemplo. A Gazeta do Povo é outro.

A derrota de Bolsonaro funcionou como um estopim. Mas também poderia, como interpretou o governo federal, ter servido para desmobilizar os extremistas?
Não, essa interpretação foi um equívoco. Estou há anos tentando alertar as pessoas que a saída do Bolsonaro não iria significar o fim da extrema direita no Brasil. Ela já está estabelecida. É de se supor que se um um líder que emite tantos sinais, que legitima, não está mais em posição de fazê-lo, os seus seguidores talvez recuassem. Mas isso só acontece quando há decepção com o líder. Esse é um dos preditores para aquela pessoa que está radicalizada virar a chave e tentar se afastar do movimento. Só que nem todos têm a decepção com o líder. A maior parte não tem. Essas pessoas estão capturadas em câmaras de eco digitais onde essas crenças estão sendo reforçadas o tempo inteiro. Elas não têm mais contato com a opinião dissonante. São mais de 300 influenciadores com mais de 50 mil seguidores. Alguns deles têm mais de 1 milhão de seguidores, com canais em várias plataformas: Telegram, WhatsApp, no Gettr, no Gab, Twitch, além das plataformas tradicionais. Você não desmobiliza um movimento dessa magnitude de um dia para o outro só porque tirou Bolsonaro. E, além do mais, Bolsonaro é um avatar.

Como assim?
Ele é um avatar desse amálgama de correntes extremistas e radicais de direita que formaram a nova direita brasileira. Foi escolhido. Mais adiante, eles vão tentar escolher um outro líder, talvez ainda mais extremista, porque podem considerar que Bolsonaro não fez o que deveria fazer, não foi extremo suficiente. Basta você ler o que uma certa facção de olavetes reproduz. Gente como o Abraham Weintraub ou Silvio Grimaldo, braço direito do Olavo de Carvalho. E eles continuam trabalhando na mobilização extremista. Hoje mesmo (terça-feira, dia 10) o nome de Olavo de Carvalho foi para os trending topics do Twitter de novo. Aliás, há ainda uma situação que potencializa a radicalização: a compra do Twitter pelo Elon Musk. Ele reabilitou milhares de contas de de extremistas. Alguns estavam banidos havia anos. Ele está reabilitando neonazistas, supremacistas brancos. Influenciadores da extrema direita aqui no Brasil estão em contato direto com Musk. É muito frequente eles marcarem o Musk e ele responder. Ainda hoje, peguei três marcando. Algumas plataformas não estão colaborando. O Twitter é uma delas.

Estivemos muito perto de uma adesão institucional de forças de segurança ao ato terrorista de domingo. Isso é uma diferença do que aconteceu no Capitólio.
As Forças Armadas dos EUA têm um papel institucional muito forte, estabelecido, que não se imiscui com o poder político de turno. Então, elas foram fundamentais para evitar o pior. No Brasil, temos essa mistura acontecendo desde o primeiro dia de mandato. Estava muito claro o desenho desde 2019, conforme começou a se lotear o governo com militares de alto e baixo escalão. Essa militarização não começou em 2020, tampouco em 2022. E deputados e senadores não fizeram o papel deles, que era reclamar, tentar impedir, investigar, pedir uma comissão. Nem o Ministério Público. Muitas instituições falharam. Em 2019, alertei que o Brasil já era democracia mais militarizada do mundo, acima das Filipinas. É função de congressistas, dos agentes institucionais impedir isso. O que aconteceu nos últimos dois meses é inadmissível. Os quartéis deixaram permanecer em suas portas manifestações extremistas. E por que extremistas? Porque desde o início era verbalmente explícito que pediam um golpe militar, uma ruptura da ordem democrática. Não adianta tergiversar. Dizer que eram só manifestantes pacíficos. Nunca foram. A partir do momento que estão pedindo uma intervenção militar, já se coloca o rompimento da ordem democrática em jogo e também o uso da força policial para garantir esse objetivo. E as instituições, de novo, falharam. Especialmente as Forças Armadas, mas os governos de cada estado também. Não temos a dimensão do tamanho da infiltração de crenças da extrema direita nas forças militares. Venho insistindo há tempos que não há um monitoramento disso. O Fórum de Segurança Pública fez uma pesquisa excelente sobre a democracia dentro das polícias. Mas é insuficiente.

Em que medida as prisões e a reação institucional pós-domingo pode diminuir o extremismo?
Pode acontecer. Isso aconteceu nos Estados Unidos, depois que quase mil pessoas foram investigadas, algumas estão sendo condenadas. Houve uma desmobilização. Mas aí eles passaram para uma outra estratégia, local, de cooptar conselhos escolares, conselhos municipais, governos locais. A federação dos Estados Unidos é bastante diferente do Brasil, mas provavelmente vamos ver algo parecido acontecer nas próximas eleições municipais por aqui. Ainda assim, pode haver uma desmobilização, porque a punição da lei é reativa. Então, se os extremistas forem categorizados em crimes de dentro da Lei Antiterrorismo… Não sei se vai ser. Deveria, mas não sou jurista. Se eles forem punidos na Lei Antiterrorismo, isso com certeza diminui o potencial de as pessoas se aventurarem no extremismo violento e no terrorismo doméstico. Agora, vai também acontecer de ter aqueles que vão se mobilizar ainda mais. É uma minoria. Mas existe um movimento, um estilo específico, uma ideologia que é o aceleracionismo de extrema direita. Seria você produzir o caos para conseguir causar a ruptura social e chegar às suas demandas. Dentro do aceleracionismo, há desde conspiracionistas, a milícias antigovernamentais até neonazistas. Eles se aproveitam desses momentos para produzir mais caos, até provocar uma guerra civil.

Muitos deles já pedem guerra civil abertamente no Brasil. Há uma constelação de alvos potenciais: jornalistas, órgãos de imprensa, políticos, personalidades públicas, grupos minoritários e alvos de infraestrutura.

De que forma a violência política, caso não haja um golpe bem sucedido, pode desestabilizar o Brasil?
As pessoas precisam entender que o extremismo não é abstrato. Temos o extremismo violento e o não violento, e os dois podem chegar ao cotidiano das pessoas. O extremismo não violento chega, por exemplo, na forma de políticas públicas. Há exclusão de grupos minoritários, perseguição contra a imprensa, o legalismo autocrático, em que se utiliza a própria Constituição para minar a democracia liberal. E o extremismo violento também pode chegar. Um casal de pessoas da comunidade LGBTQIA+ são impedidos de adentrar determinado local, utilizar determinado serviço, eles podem ser agredidos, isso tudo é extremismo violento. Se o extremismo chega, por exemplo, nas corporações militares, vemos o reflexo nas abordagens das polícias. As pessoas têm uma noção equivocada de que o extremismo de direita é somente aquele cara com a suástica desenhada na testa. Há muito tempo o extremismo de direita não é mais isso. Desde o pós-guerra, neonazistas vêm tentando “lavar” suas ações, para tornar o extremismo mais palatável, e as pessoas não perceberem e serem capturadas. Há doutores de Harvard cooptados, disseminando o conteúdo da extrema direita, teoria conspiratória, antissemita, que exclui pessoas… É um tubo de radicalização para se poder chegar ao neofascismo.

Uma pesquisa mostrou que 38% dos entrevistados achavam que a invasão em Brasília foi total ou parcialmente justificada. É esse o tamanho do extremismo de direita no Brasil?
Quarenta por cento, com certeza. E nesses números ainda há uma parcela que não está sendo capturada, que tem vergonha de admitir publicamente. Isso demonstra também o alcance, a disseminação dos conteúdos de desinformação, das teorias conspiratórias. Como se reverte isso? É um processo a longo prazo, não tem varinha de condão. Precisa de uma abordagem multisetorial. Governo, academia, sociedade civil, representantes, líderes comunitários, líderes religiosos, líderes esportistas, escolas, professores, imprensa. Precisamos começar a produzir contra-narrativas eficazes, persuasivas, resgatar de volta essas pessoas para o campo democrático. Precisamos urgentemente de um centro de estudo e pesquisa do extremismo no Brasil. De dados públicos, centralizados, perfis de radicalização. Precisamos informar a sociedade com uma linguagem acessível sobre o que é o extremismo, quais são as correntes, o perigo que esse extremismo representa para a sociedade. Onde estão as células terroristas, neonazistas, qual é a categorização, a metodologia que está sendo utilizada para classificar essas células. Não adianta só falar “tem 250 células de neonazismo no Brasil”. Nos EUA, existe o Pirus (Profiles of Individual Radicalization in the United States), que é um perfil de radicalização individual criado por um consórcio do estudo do extremismo. Você entra e vê o perfil, não os nomes, mas todos os marcadores, consegue estudar o assunto com muito mais embasamento. Por fim, precisamos chegar nas escolas, nos professores, explicar como reconhecer sinais de radicalização. Pais e mães também. Não estamos lidando só com um problema político. O processo de radicalização online de jovens não está no subterrâneo. E isso vai resultar em mais massacres em escolas, mais extremismo violento de jovens. É muito grave.

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O que querem os evangélicos

27/03/24 • 11:00

A cada nova sondagem de popularidade do governo Lula, conforme sua aprovação cai, a pressão por uma comunicação mais efetiva aumenta. Um segmento em particular vem consistentemente reduzindo sua nota para o petista: o evangélico. E, novamente, cobra-se o presidente e seus articuladores para que a conversa com esse campo seja mais fluida e permanente. Acontece que há alguns erros nas premissas dessa cobrança. O primeiro é acreditar que quando se fala com um líder evangélico, se fala com todos os fiéis. Nada poderia ser mais distante da realidade. “É inerente ao campo evangélico a fragmentação, a subdivisão”, explica Carô Evangelista, cientista política e diretora executiva do Instituto de Estudos da Religião, o Iser. Uma parcela expressiva dos evangélicos se declara “sem denominação”, justamente porque trafega entre uma igreja e outra, sem vínculo formal. Em seguida, no Censo de 2010, vem a categoria “outros”, que engloba milhares de denominações independentes. Alcançar esses pastores de igrejas pequenas e médias seria um dos caminhos possíveis de penetração na rede de comunicação antiprogressista que se formou nesse campo.

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