Spotify e a treta da semana

Essa semana o Spotify divulgou os resultados do segundo trimestre: um prejuízo de 356 milhões de euros, um pouco pior do que o esperado pelo mercado. Apesar do número ruim, foi um período de crescimento. O total de usuários mensais da plataforma subiu 29% para 299 milhões, sendo 138 milhões de assinantes da versão premium. O faturamento total da empresa subiu para 1,89 bilhões de euros, puxado pelo crescimento das assinaturas, que mais do que compensou a queda de 21% na venda de publicidade — 131 milhões de euros. O principal fator para o prejuízo foi que a valorização de cerca de 80% das ações, este ano, gerou um súbito aumento nos encargos sociais devidos na Suécia, por conta da remuneração via opções de ações para parte de seus funcionários.

Leia: A carta para os acionistas com os resultados financeiros do Spotify.

Mas a treta da semana ficou por conta de uma entrevista que Daniel Ek, CEO do Spotify, deu para o site Music Ally, na qual falou sobre as frequentes críticas de artistas sobre o quanto recebem por suas músicas estarem no serviço.

“Existe uma falácia nesta narrativa, combinada com o fato de que, obviamente, alguns artistas que costumavam ir bem no passado não necessariamente serão bem sucedidos no futuro. Não funciona mais gravar um disco uma vez a cada 3 ou 4 anos e acreditar que isso é suficiente. Os artistas de sucesso hoje já perceberam que o jogo é de criar engajamento contínuo com seus fãs. É preciso se dar ao trabalho, é sobre a forma como se conta a história sobre o álbum, e manter um diálogo constante. Minha impressão é de que os artistas que não estão se dando bem no mundo do streaming são predominantemente aqueles que querem continuar a lançar música da mesma forma como faziam antigamente. Claro, é sobre o descontentamento que sai mais coisa publicada. É raro ver um artista falar que está contente com o dinheiro que está fazendo no streaming. Já em privado ouço isso com frequência. E, pelos dados que temos, não há dúvidas, cada vez mais artistas estão conseguindo viver apenas do que ganham no streaming.”

A grita foi imediata… David Crosby, do Crosby, Still and Nash, chamou Ek de seu merdinha avarento em um tweet. Damon Krukowski, baterista de uma banda de rock independente canadense, que fez um certo sucesso na virada dos anos 80 para 90, reclamou em um fio também no Twitter:

“O Galaxie 500 não lançou nada nos últimos 20 anos e temos mais de um milhão de streams por mês. Quanto ganhamos por esse milhão de streams a cada mês? Que bom que perguntou! Aproximadamente US$ 3.800. Dividido pelos 3 membros da banda dá US$ 1.266,67. Antes dos impostos. Mais ou menos o equivalente a US$ 7,50 por hora. O que seria preciso para ganhar no Spotify uma renda digna de US$ 15 por hora? 657.895 streams por mês. Por pessoa. (se você tem uma banda, é bom começar a multiplicar). Então, Daniel Ek, você pergunta por que nunca ouviu um artista falar publicamente que está satisfeito com o que ganham do streaming? Vamos lá, todos juntos: PORQUE NÃO É O SUFICIENTE. O Spotify precisa aumentar o quanto paga de royalties.”

Bob Lefsetz, uma das vozes mais ácidas da indústria musical, retrucou em sua newsletter fazendo algumas contas:

“Nunca subestime os velhos que controlam a velha mídia e perpetuam o mito de que o streaming é o demônio e que, se o Spotify fosse mais igualitário, eles estariam cheios de dinheiro. Semana passada o hit número um do streaming foi a música Popstar do DJ Khaled com Drake. Foi tocada mais de 25 milhões de vezes gerando US$ 172 mil dólares. 25 milhões de streams parece muito, mas a música mais tocada de todos os tempos no Spotify, Shape of You, de Ed Sherran, foi ouvida mais de 2,5 bilhões de vezes. Fazendo as contas, essa música já gerou para seu autor mais de US$ 17 milhões. UMA ÚNICA MÚSICA! É bastante dinheiro. E Ed Sheeran tem também a música número 8, com 1,5 bilhões de streams, a 12 e a 16. Vá somando! A centésima música mais tocada de todos os tempos no Spotify tem 992 milhões de streams, então quando sua música é ouvida poucos milhões de vezes e você acredita que deveria estar fazendo milhões de dólares, você está errado. Pra começo de conversa, talvez você não seja tão grande quanto pensa que é. Foram-se os dias dos Top 40, hoje são os Top 43 mil. Sim, hoje o top 10% do que é ouvido é dividido por 43 mil artistas diferentes, comparado com 30 mil um ano atrás. De novo, talvez você não seja tão grande quanto pensa que é. O jogo mudou. Como mudou quando o single foi substituído pelo álbum. Mais uma vez, porque a indústria da música deve ficar no passado enquanto todas as outras indústrias não têm essa escolha? O que faz artistas serem tão especiais que eles nunca precisem se adaptar à mudanças em seu modelo de negócios? Ignore qualquer pessoa que diga que o streaming é o inimigo. O Spotify AUMENTOU o faturamento da indústria da música. E o mais provável é que sem ele, David Crosby, sua música não estaria nem mais sendo vendida.”

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24/04/24 • 11:00

Em seu café da manhã com jornalistas, na terça-feira desta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que a extrema direita nasceu, no Brasil, em 2013. Ele vê nas Jornadas de Junho daquele ano a explosão do caos em que o país foi mergulhado a partir dali. Mais de dez anos passados, Lula ainda não compreendeu que não era o bolsonarismo que estava nas ruas brasileiras naquele momento. E, no entanto, seu diagnóstico não está de todo errado. Porque algo aconteceu, sim, em 2013. O que aconteceu está diretamente ligado ao caos em que o Brasil mergulhou e explica muito do desacerto político que vivemos não só em Brasília mas em toda a sociedade. Em 2013, Twitter e Facebook instalaram algoritmos para determinar o que vemos ao entrar nas duas redes sociais.

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