Prezadas leitoras, caros leitores —

Quem acompanhou a política nestas duas semanas, sem tirar o olho da CPI da Covid, percebeu o óbvio. Mentiu-se. Mentiu-se muito — e mentiu-se de forma escancarada. Mentiras que podiam ser facilmente demonstradas por documentos, por vídeos, por postagens nas redes. O cúmulo talvez tenha sido do general Eduardo Pazuello que, quando confrontado com a verdade, argumentou. O presidente Jair Bolsonaro é um “agente político” e, por conta, não se pode cobrar dele a verdade quando fala nas redes sociais.

Um ministro bolsonarista declarou que o presidente mente e que isto é normal.

Para muitos, parece desfaçatez. Talvez natural num presidente que foi alçado ao governo espalhando fake news, mas ainda assim inacreditável. O que não é intuitivo, porém, é que este é exatamente o segredo político de Bolsonaro. O truque que faz sua mágica funcionar — a dele, a de Donald Trump, a de Vladimir Putin e de inúmeros populistas autoritários de sua geração. Não é propriamente a mentira, mas que tipo de mentira, o jeito de manifestá-la. É isto que dá a eles todos credibilidade.

É preciso coragem e uma boa dose de irresponsabilidade para ser um político deste corte. O que os neopopulistas fazem, porém, é se manifestar exatamente como uma pessoa preconceituosa, que não tem paciência para argumentos. Manifestam um senso comum, aquele que em geral se sente menosprezado quando suas ideias são questionadas sem que tenha como contra-argumentar.

Todo o discurso do Bolsonarismo é para reafirmar o senso comum. E é por isso que, mesmo quando seus eleitores mais fiéis sabem que ele está exagerando, o resultado é um aumento de credibilidade. Ele reflete suas crenças. É, portanto, um homem “com coragem de dizer o que pensa”.

Um espelho.

Como lidar com este paradigma, como desmontar o populismo no que ele é mais forte — a mentira? O que quem estuda isso já compreende do fenômeno? Este é o tema da Edição deste Sábado do Meio. Uma das perguntas primordiais do tempo.

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— Os editores

Pazuello mentiu 15 vezes, afirma Renan

Em seu segundo dia de depoimentos na CPI da Pandemia, o general Eduardo Pazuello mostrou consistência com seu desempenho da véspera. Ou seja, mentiu. Desta vez, porém, os senadores estavam melhor preparados. O relator Renan Calheiros (MDB-AL) apontou nada menos que 15 “afirmações falsas” do ex-ministro da Saúde. (Globo)

O general foi flagrado em pelo menos uma contradição grave. Na véspera, ele dissera que Jair Bolsonaro não tinha ingerência sobre as decisões do ministério no combate à pandemia. Ontem, Pazuello admitiu que o presidente decidiu não intervir no Amazonas durante a crise do oxigênio. Segundo o general, o governador Wilson Lima (PSC) disse não haver necessidade de ajuda, o que foi desmentido mais tarde pelo governo do estado. (Estadão)

Houve até um momento de ironia. Ao tentar explicar o motivo para o aplicativo TrateCov, do Ministério da Saúde, recomendava cloroquina até para bebês, Pazuello disse que a plataforma havia sido hackeada. O presidente Omar Aziz ironizou a resposta: “O hacker é tão bom que conseguiu colocar o programa em uma matéria extensa na TV Brasil”. (Veja)

Confira a checagem das declarações de Pazuello à CPI no segundo dia de depoimentos. (Aos Fatos)

Vera Magalhães: “O resumo da ópera da parte relevante do segundo dia de depoimento de Eduardo Pazuello é que a interrupção da oitiva na noite de quarta-feira serviu para que o G7, maioria da CPI da Covid, se reorganizasse, estudasse os assuntos que estava deixando sem contraposição e apontasse, finalmente, as mentiras, contradições, lacunas e sofismas do general.” (Globo)

Em sua live semanal, porém, Bolsonaro disse que seu ex-ministro deu um depoimento “muito bom” e classificou o trabalho da comissão como “vexame”. (CNN Brasil)

Em documentos enviados à CPI, a Pfizer mostra que, entre agosto e setembro do ano passado, enviou dez e-mails pedindo um posicionamento sobre a oferta de vacinas, sem obter respostas. (Folha)

As redes sociais entraram no embate da CPI. Renan Calheiros, inclusive, abriu espaço para a “pergunta do internauta”. Há perfis do Twitter e grupos do Telegram que municiam senadores com evidências que desmentem depoentes. Mas quem está por trás deles? (Núcleo)

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Um dia após ser alvo de uma operação da Polícia Federal por suspeita de facilitar contrabando de madeira ilegal, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, recebeu um afago do chefe. Jair Bolsonaro o classificou como “um excepcional ministro” que enfrenta dificuldades junto a “setores aparelhados do MP” e “xiitas ambientais”. (Globo)

Aliados de Bolsonaro, porém, acham que Salles deveria se afastar temporariamente do ministério durante as investigações. (G1)

Meio em vídeo. Uma semana, duas histórias gigantes. Duas histórias que revelam tudo o que precisamos para entender o que é o governo Jair Bolsonaro. Uma é o caso em que a Polícia Federal investiga o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. A outra é o depoimento em que o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, diz que é normal o presidente mentir na internet. As duas histórias se encontram. Confira o Ponto de Partida no YouTube.

Após ter diversas de suas postagens e de apoiadores removidas de redes sociais, Bolsonaro prepara um decreto estabelecendo que esse tipo de ação só poderá ser feita mediante decisão judicial em casos específicos, como violações do ECA. Juristas avaliam que a medida é inconstitucional. (Folha)

Pedro Doria: “A Constituição prevê dois casos para decretos: mexer na organização de funcionamento da administração federal — sem aumentar gastos — e extinguir órgãos, funções ou cargos públicos. Não há decreto possível que interfira em como empresas privadas funcionam. Enquanto as redes fazem um teatro de que controlam, governantes populistas fazem o teatro de que ficam indignados ‘com a censura’ das multinacionais. O decreto é isto. Teatro.” (Globo)

Autoexilado na Espanha devido a ameaças, o ex-deputado Jean Wyllys anunciou ontem que está trocando o PSOL pelo PT. Segundo ele, “Lula é o único capaz de tirar Bolsonaro do poder”. (Veja)

Já o presidente confirmou que está sendo sondado para voltar ao PP a fim de disputar a reeleição. “É um grande partido”, disse Bolsonaro. (Poder360)

Coluna do Estadão: “Sonho edulcorado dos partidos para ser candidata a presidente ou ocupar o posto de vice em uma chapa presidencial, Luiza Trajano descartou a hipótese e disse estar ‘torcendo muito para que a gente tenha alguém que possa diminuir essa polaridade’. A ‘torcida’ dela na direção da terceira via é um balde de água fria no PT, que trabalha para ter a empresária ao lado de Lula.” (Estadão)

Entrou em vigor na noite de ontem um cessar-fogo “mútuo e simultâneo” entre Israel e o grupo palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza. Hostilidades iniciadas no dia 10 custaram a vida de 232 palestinos e 12 israelenses. A trégua foi mediada pelo Egito, que tem fronteira com os dois lados do conflito. (G1)

A Perseverança encontra o Deus do Fogo

Tony de Marco

Perseverance-versus-Zhurong
Fatos históricos registrados no blockchain. As animações do Meio estão no Open Sea.

Destrave sua gestão

Destrave sua gestão

Quando a demanda sobe, crescem as expectativas de lucro. No entanto, a alta pode acarretar em maiores custos de produção, como pagamento de horas extras e estoques vazios, e assim neutralizar o lucro. Os altos e baixos de demanda trazem custos que podem levar uma empresa a fechar as portas caso não esteja preparada. Então, como lidar com essa variabilidade? Para responder à pergunta, pesquisadores escreveram um artigo em que apresentam o "portfolio approach". Com o “portfolio approach”, os executivos enxergam não só seus consumidores como elementos de um conjunto agregado de demanda, mas também enxergam a própria empresa como parte do portfolio de clientes de outra empresa.

As companhias formam uma cadeia de produção que pode ser afetada por má gestão, conduta ou reclamações de fornecedores. Para evitar abalos, a ferramenta Ambipar ajuda uma empresa a saber se a contratada possui licenças, autorizações e alvarás exigidos, e se os seus colaboradores estão devidamente capacitados, equipados e com exames médicos em dia.

Entre os elos que formam a cadeia passam os produtos, cuja circulação é organizada pela parte de logística. A fim de melhorar o transporte de seus produtos entre São Paulo e Bahia, a Basf, empresa alemã do setor químico, quer selecionar três projetos que possam, usando inteligência artificial, melhorar o transporte de carga no país.

Viver

A Secretaria de Saúde do Maranhão confirmou nesta quinta-feira os primeiros seis casos no Brasil da B.1.617.2, a variante indiana do Sars-Cov-2. Todos os infectados são tripulantes do navio de bandeira de Hong Kong Shandong da Zhi, fretado pela Vale para transportar minério de ferro do porto de São Luís. Segundo o governo maranhense, cerca de cem pessoas tiveram contato com os tripulantes infectados. Elas serão testadas e monitoradas. (UOL)

O Shandong da Zhi partiu da Malásia e fez uma escala na África do Sul, onde surgiu outra variante grave do vírus, antes de chegar ao Brasil. (G1)

Entenda o que são as novas variantes do Sars-Cov-2 e os riscos que elas representam. (Folha)

Há motivo para alívio, porém. A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que as vacinas já aprovadas são eficazes contra “todas as variantes do coronavírus”. O estudo, porém, não incluiu a CoronaVac nem a russa Sputnik V. (Globo)

E o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, confirmou ontem, em reunião virtual com governadores, que lotes de insumo farmacêutico ativo (IFA) – tanto para CoronaVac quanto para a vacina da AstraZeneca – serão despachados para o Brasil nos próximos dias, o que permitirá a retomada da produção dos dois imunizantes. (Poder360)

Ontem o Brasil registrou 2.527 mortes por Covid-19, mas o número foi inflado porque a Secretaria de Saúde do Piauí fez uma revisão de óbitos nos últimos meses, acrescentando 107 óbitos. Desde o início da pandemia, 444.391 pessoas perderam a vida. A média móvel diária de mortes em uma semana subiu para 1.971, com uma queda de 9% em relação aos 14 dias anteriores. Isso, porém, indica uma nova estabilização dos óbitos. (G1)

A Argentina anunciou um novo lockdown de nove dias para tentar conter uma nova onda da pandemia, que está matando quase 500 pessoas por dia. (Poder360)

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A BBC se desculpou publicamente e reconheceu que seu então repórter Martin Bashir usou de fraudes e mentiras para obter a célebre entrevista com a princesa Diana em 1995. Bashir apresentou ao irmão dela extratos bancários falsos para dar a entender que a princesa vinha sendo espionada por agentes do governo. (Folha)

A crise migratória que atinge o norte da África produziu mais uma imagem dramática. Um adolescente que nadou da fronteira do Marrocos ao enclave espanhol de Ceuta usando garrafas pet para flutuar entra em desespero ao ver soldados na praia. Um vídeo o mostra tentando escalar um muro e sendo capturado. Diariamente a Espanha devolve centenas desses migrantes ilegais ao Marrocos. (G1)

Cultura

A cantora Rita Lee, de 73 anos, anunciou ontem por meio de uma nota em sua conta no Instagram que descobriu um tumor no pulmão esquerdo. Ela está em casa e, segundo sua assessoria, vai iniciar os tratamentos de imuno e radioterapia. (G1)

A partir de hoje nossa agenda cultural está com novo formato, com dicas de destaque e um espaço exclusivo para a programação completa.

O Instituto Italiano de Cultura de São Paulo e o Belas Artes à la Carte inauguram hoje o Cineclube Italiano, que até dezembro exibirá sete filmes inéditos do país de forma gratuita. Veja a programação.

No sábado, a curadora Heloisa Espada discute a exposição Arquivo Peter Scheier, que abre no mesmo dia no Instituto Moreira Salles do Rio, em live com os pesquisadores Igor Simões e Michelle Sommer.

A ópera está de volta ao palco do Theatro São Pedro, que transmite um duplo programa francês no domingo. Sócrates, de Erik Satie, e O Marinheiro Pobre, de Darius Milhaud, terão regência de Gabriel Rhein-Schirato e encenação de Caetano Vilela.

Clique aqui para ver todo o conteúdo da agenda cultural.

Dublagens, mesmo quando são consideradas muito boas, como as brasileiras, podem estragar um filme. Depois de se enfurecer com versões dubladas de seu filme O Sequestro do Ônibus 657 (2015), o cineasta Scott Mann ajudou a fundar a Flawless AI, uma startup cuja ferramenta recria a sincronização labial do ator na tela com o idioma em que está sendo dublado. A Flawless AI está agora trabalhando com produtores e estúdios para integrar a tecnologia na pós-produção. (Estadão)

Cotidiano Digital

O Google I/O, evento do Google com desenvolvedores, acabou ontem. A empresa anunciou algumas novidades, como a curiosa opção “ver em 3D”, que projeta astros do esporte no espaço captado pela câmera do celular. Do Brasil, por enquanto, somente a skatista Letícia Bufoni.

Na parte de privacidade, o novo gerenciador de senhas, que permite importar senhas entre gerenciadores e faz alertas de senhas comprometidas, além de uma função no Chrome que cria uma senha única para cada login. Outra mudança é que será mais fácil desativar o rastreamento de localização do Google, aquele que indica a última vez que você visitou determinado local.

No sistema operacional Android 12, uma novidade de design é a combinação entre as tonalidades predominantes do fundo de tela com o resto da interface. Outra é o formato retangular dos aplicativos de configurações, que são círculos em sistemas anteriores. Já mudanças em privacidade de dados dão mais controle aos usuários, com o Privacy Dashboard, que mostra o que cada aplicativo acessou ao longo do tempo. (UOL Tilt)

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