O Meio utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência. Ao navegar você concorda com tais termos. Saiba mais.
Assine para ter acesso básico ao site e receber a News do Meio.

Edição de sábado: A cabeça militar

“Nunca na história deste país” já virou um clichê, quase uma anedota, na política. Mas o que o Brasil testemunhou no início desta semana foi, de fato, tão histórico quanto inédito. Diante do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, um magistrado civil, oficiais da mais alta patente das Forças Armadas depuseram, vários na condição de réus, no processo sobre o plano de golpe de Estado após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022. E a semana terminou com o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do então presidente e delator no processo, tendo de explicar à Justiça o motivo para sua família deixar o país.

Os acusados, claro, negaram a intenção de ruptura do Estado Democrático de Direito, mas suas respostas revelam uma visão no mínimo peculiar no trato com a democracia. O general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, negou ter orientado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para produzir relatórios com informações falsas sobre as eleições dizendo que “não havia clima”, como se o “clima” justificasse um crime. O próprio Bolsonaro afirmou que a minuta golpista que mostrou aos comandantes militares era apenas “uns considerandos sem cabeçalho nem fecho” e chamou de “uns malucos” seus apoiadores que pediam intervenção militar.

Setores dentro das Forças Armadas esperam que o julgamento e a provável condenação da maioria dos réus separem as condutas “dos CPFs” da instituição militar. Mas, em entrevista exclusiva ao Meio, a cientista política Adriana Marques, professora e pesquisadora do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da UFRJ e autora de Missão Haiti e Forças Armadas na Segurança Pública, afirma que os militares brasileiros têm uma visão simplista de seu papel na democracia e uma enorme resistência ao controle pela sociedade civil.

Confira os trechos principais da entrevista.

O que os depoimentos dos militares ao STF nos dizem da noção que as Forças Armadas têm do próprio papel numa democracia?

Fica evidente que esses militares têm uma visão muito limitada e simplista da democracia e de qual deve ser o papel deles nela. Tem uma história que ilustra bem essa limitação. Em 1997, durante o governo [do presidente americano Bill] Clinton, foi criado o Centro William J. Perry para Estudos de Defesa Hemisférica, dentro da Universidade de Defesa Nacional dos EUA. O objetivo era tratar a defesa dentro de uma nova abordagem pós-Guerra Fria e levar uma visão de democracia para as Forças Armadas da América Latina. Dois professores, um americano e um brasileiro, montaram um curso para as escolas militares do continente. Quando apresentaram às autoridades brasileiras, a reação foi: “Não, aqui não pode ser desse jeito”.

Por quê?

O curso foi criado em cima de quatro princípios das relações civis militares que estão conectados com teoria democrática. E estamos falando de democracia liberal. Não é comunismo, não. O primeiro é supremacia civil, ou seja, numa democracia os militares não podem intervir na política. O segundo é exatamente a subordinação militar à política, quer dizer, as autoridades políticas determinam qual deve ser o papel das Forças Armadas. O terceiro é a neutralidade política. As Forças Armadas não podem ser partidárias, não podem tomar partido político, têm de cumprir as suas funções independentemente de quem estiver no governo. Por último, o controle civil. Os militares vão implementar a política pública de defesa que é desenhada pelo poder civil e comandada por um ministro da Defesa civil.

Mas não é isso que se presume haver no Brasil pós-redemocratização?

Em tese, isso é o que que existe em toda democracia liberal. É uma política de Defesa, não é revanchismo, não é vingança.

Então por que a resistência?

Porque os militares acham que não pode ser dito nesses termos. Eles têm pavor do termo “controle civil”, pavor. Alegam que é uma maneira minimizar o trabalho que fazem, que não precisam ser controlados, que não respondem a governos, e sim à Constituição etc. Mas voltando ao meu caso. Em 2023 eu dei uma palestra para militares do Comando do Exército num curso feito em parceria entre a Escola Superior de Guerra (ESG) e o Centro Perry e botei esses quatro pilares em um dos slides. Sem brincadeira, fui tratada igual a Marina [Silva] naquela comissão do Senado.

Com aquela agressividade?

Sim. Um oficial se levantou e disse que a família dele era perseguida desde 1989 por conta desse ideia de civis comandarem a política de defesa. Depois de dizer isso, foi cumprimentado pelos colegas. Aí eu falei de Constituição, de pluralismo político, mas não adiantou nada. Depois que eles viram aqueles quatro princípios, ficaram apavorados. Agora, como você sustenta uma democracia quando os militares da ativa se recusam e são reativos a princípios básicos dessa democracia liberal?

E por que essa visão persiste?

Porque nunca foi trabalhado, nunca foi objeto de discussão. Não foi pelos governos de centro-direita nem pelos governos de centro-esquerda que comandaram o país do fim da ditadura até o início do processo de erosão democrática, lá pelo governo Temer. Bolsonaro, nem se fala. Mas é isso, os governos da Nova República, quando tínhamos uma democracia funcional, não enfrentaram essas questões da mentalidade militar. Optaram pela acomodação.

Quando se fala em acomodação, pensa-se logo em anistia. Existe entre os militares a expectativa de que isso se repita?

Eles tinham, não sei se ainda têm. Quanto tomaram a decisão de aderir à intentona golpista, tinham certeza de que seriam anistiados caso fracassassem. Isso fica muito evidente nas falas do senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) [general da reserva e vice-presidente no governo Bolsonaro]. Ele é autor do projeto de lei 5.064, que anistia os condenados pelos crimes de 8 de janeiro de 2023 e pode ser usado para beneficiar as autoridades acusadas de tentativa de golpe. Um dos argumentos é exatamente esse: todo mundo que tentou dar um golpe ao longo da República e fracassou foi anistiado. Por que não anistiar agora? Quer dizer, justo quando chegou na vez deles, vão mudar a regra? Que maldade. Por que isso? (risos)

A senhora entrevistou os generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto, réus no STF, sobre missões de paz da ONU da qual participaram, no Haiti e no Timor Leste, respectivamente. Essas experiências os impactaram de alguma forma?

Uma coisa curiosa que você deve ter reparado nos depoimentos é que tanto o Heleno quanto o Braga Netto afirmaram: “Nós somos democráticos” e deram como exemplo exatamente a própria atuação nas missões de paz. Uma das vezes em que o Heleno foi cortado pelo próprio advogado foi quando ele começou a falar: “Inclusive, quando eu estava no Haiti...” para dizer como organizou as eleições lá. Já o Braga Netto disse: “Imagina, eu ameaçar a democracia? Eu fiquei numa brigada australiana por dez meses defendendo a democracia”. Quando ele serviu em uma das missões da ONU no Timor Leste foi justamente para organizar as primeiras eleições livres no país independente. Eles são militares cuja formação aconteceu durante a ditadura, mas que viveram suas carreiras já no regime democrático. Tiveram contato com esses protocolos do que um militar pode ou não fazer numa democracia, não só no Brasil, mas em organismos internacionais. Tiveram papéis importantes nas ações da ONU.

E como interpretam isso?

Interpretam como uma experiência de gestão que não era de atividades tipicamente militares. Organizar uma eleição não é uma tarefa militar. Mas eles a desempenhavam porque essa era a natureza das missões das quais estavam participando. E, obviamente, não faziam isso com autonomia. Havia os diretores das agências, os chefes das missões, que eram funcionários da ONU, não militares. Mas, quando eles voltaram para o Brasil com esse aprendizado, ficaram muito à vontade, nunca houve muita supervisão, monitoramento dessas atividades militares mais de perto. Daí acham muito natural. “Ah, eu organizei uma eleição no Haiti sendo militar da ativa, por que não posso organizar aqui? Qual a diferença?”

Mas isso não aconteceu com militares dos outros países, certo?

De forma alguma. Havia generais americanos, franceses, britânicos e outros nessas missões, desempenhando as mesmas tarefas. A diferença é que, ao voltarem para seus países, eles retomaram atividades estritamente militares, não foram chamados pelo equivalente ao TSE para participar de comissão de transparência das eleições. No máximo, ao passarem para a reserva, vão fundar ou trabalhar em um think tank sobre assuntos relacionados às missões que desempenharam na ativa. Não têm qualquer ingerência sobre assuntos civis. Já os brasileiros voltaram com essa mentalidade de “já fizemos, deu tudo certo”. “Tem tanto trabalho aqui, vamos botar os militares para fazer.” E é um pensamento antigo. Há uma pesquisa da professora de Sociologia Maria Alice Rezende e do cientista político Eduardo Raposo sobre as profissões mais recorrentes entre ministros brasileiros ao longo do século 20, e as duas que mais apareceram foram advogados e militares. É curioso pensar isso dentro de uma sociedade civil.

Duas bases da estrutura militar são a disciplina e a hierarquia. Como foi possível que Bolsonaro, um capitão indisciplinado, exercesse essa influência sobre generais, a ponto de levá-los a tramar uma ruptura institucional?

A verdade é que os generais de quatro estrelas é que se vincularam ao projeto político do Bolsonaro. Se nos lembrarmos da trajetória dele, entre se formar na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em 1977 e ir para a reserva em 1988, foram só 11 anos no Exército. Ou seja, foi mais político do que militar. Ele era muito malvisto na caserna até o começo da crise política, com os protestos de 2013. Quem vai dar mais espaço para Bolsonaro é, na verdade, o general Eduardo Villas Bôas [comandante do Exército entre 2015 e 2019]. Aliás, o comando desse general nos ajuda a entender a erosão da democracia. Bolsonaro como deputado era funcional para as Forças Armadas, uma espécie de office boy, de despachante dos interesses militares no Congresso. Mas era visto nos quartéis com desconfiança. Consideravam o ex-capitão muito temperamental, muito burro, pouco confiável. Ouvi de vários oficiais que, de vez em quando, tinham de “dar uma enquadrada nele”.

O que mudou?

Bolsonaro começa a fazer campanha em 2014, e o general Villas Bôas assume o comando do Exército em 2015, no segundo mandato de Dilma. Aos poucos a campanha dele ganha tração, ganha destaque entre essa geração de militares que considerava todos os políticos corruptos e incapazes de governar, enquanto eles eram competentes, honestos, acima do bem e do mal. Aí de repente tem um candidato que vai falar a língua deles, vai defender o projeto de país que que eles têm, a visão deles. Foi ali uma confluência de interesses, somada ao fato de que a turma que estudou com Bolsonaro na Aman foi chegando às quatro estrelas. Luiz Eduardo Ramos [ex-secretário-geral da Presidência], Edson Pujol [ex-comandante do Exército], o pai do Mauro Cid, todos estudaram com ele. O general Santos Cruz era seu amigo. Todos tiveram um papel importante na campanha e no governo.

Esses laços pessoais e essa “família militar” insular influem na visão deles sobre a sociedade civil e a democracia?

Esse é um ponto fundamental. Na década de 1970 o [cientista político americano] Alfred Stepan fez um levantamento na Aman sobre a origem social dos militares e constatou que a maioria era de classe média. Representava os anseios da classe média como um todo. Em meados dos anos 1990, [o antropólogo] Celso Castro atualizou esse estudo no livro O Espírito Militar e identificou um elevado grau de endogamia, ou seja, militares se casavam com filhas de militares e seus filhos seguiam a carreira militar. Foi um processo que se intensificou nos últimos anos da ditadura, e é a geração dos generais que participaram do governo Bolsonaro. Uma geração mais distanciada da sociedade civil. E nos depoimentos ao STF, como o dos generais Freire Gomes e Júlio César Arruda [ex-comandantes do Exército], a gente vê um insulamento dentro do insulamento. Dentro da “grande família militar” você tem as bolhas das Armas e da especialização. O Mauro Cid viveu a vida dele na bolha das Forças Especiais, de onde vieram Arruda e Freire Gomes. Então eles diziam: “Conheço o pai do Cid desde a juventude. Frequentávamos a casa, é uma pessoa muito correta”.

É o único mundo que eles conhecem...

O general Villas Bôas deu um depoimento lapidar ao Celso Castro contando que teve contato com civis pela primeira vez aos 49 anos ao fazer um curso na ESG. Olha o grau de isolamento em que esse senhor vivia para chegar aos 49 anos de idade e nunca ter convivido com o mundo cá fora. Foi só aí que ele descobriu esse bicho de zoológico chamado “civil” e teve de conviver com essas pessoas. Outro exemplo importante foi uma conversa do general Tomás Paiva com subordinados em janeiro de 2023, quando ele era comandante do Exército e não sabia que estava sendo gravado. Ele disse: “Nós somos todos da bolha fardada, da bolha militarista, da bolha de direita, conservadora”.

Não foi sempre assim?

Não. Isso é algo que se viu nas Forças Armadas do período da ditadura para cá. Antes, falando da década de 1950, da criação da Petrobras, o pluralismo que se via na sociedade estava refletido nos militares. Não havia controle civil, mas tinha pluralismo político, tinha gente que era mais nacionalista, tinha comunista, tinha conservador, gente mais de extrema direita, tinha de tudo ali. E esse pluralismo acabou durante a ditadura. Hoje há essa concentração em um pensamento autoritário de direita. Foi nesse caldo que pessoas como general Heleno e o Villas Bôas foram alimentadas. E há o anticomunismo como mobilizador político do militar, daí o general Tomás falar em ser da “bolha de direita”.

Alguns militares têm a esperança de que o julgamento no STF separe a conduta “dos CPFs” da instituição. É possível?

Acho que esse julgamento está sendo a maior lição de democracia que os militares brasileiros já receberam. A que não tiveram nos bancos escolares. E estão recebendo do Xandão, que é um constitucionalista conservador que acredita naqueles quatro princípios dos quais eu falei antes. Os que pautam o que militares podem ou não fazer em Estado Democrático de Direito.

Essa lição vai ser incorporada?

Na verdade essa é uma tarefa do governo, da classe política, da sociedade, da imprensa livre... Isso é a cultura democrática. É preciso entender duas coisas diferentes. A instituição militar nunca vai ser democrática. Nunca. Como você disse, ela é baseada em hierarquia e disciplina. Outra coisa é essa instituição ocupar um papel legítimo dentro de uma democracia. E o interessante é que toda essa teoria das relações entre civis e militares na sociedade democrática tem uma base conservadora. Quem falou disso pela primeira vez foi [o pensador e político britânico] Edmund Burke, tido como fundador do conservadorismo político, na época da Revolução Francesa, em 1792. Ele viu o que estava acontecendo na França e achava um absurdo os militares se revoltarem e se envolverem com a política. Os revolucionários têm isso em mente. Você não faz uma revolução sem armas. Já no século 20 o cientista político conservador americano Samuel Huntington, leitor de Burke, pega toda essa discussão que existia na Europa, especialmente no Reino Unido, e organiza esses princípios no livro O Soldado e o Estado, de 1957. Ou seja, é um pensamento conservador.

Não por aqui.

O problema é que no Brasil e na América Latina em geral esses princípios são tidos como coisas de comunista. E o mais doido é que os comunistas não defendem a separação entre militares e política, pelo contrário. A ideia é disseminar o pensamento revolucionário nas Forças Armadas.

Muitas dúvidas e uma certeza sobre a guerra entre Israel e Irã

Irã e Israel estão em guerra. Já não há mais subterfúgios para definir a conflituosa relação entre os dois países que disputam a hegemonia regional há algumas décadas. O ataque israelense a alvos ligados ao programa nuclear iraniano pôs fim a uma era de confrontos indiretos entre os dois países, quase sempre marcada por ações de seus aliados e operações cobertas pelas sombras do eufemismo militar. Agora, Irã e Israel vão se enfrentar de forma aberta e direta, com objetivos nem sempre tão claros e com consequências difíceis de serem previstas a curto, médio e longo prazos. O Oriente Médio, uma vez mais, está em chamas.

O ataque israelense está baseado na premissa de que o Irã estaria muito perto de conseguir a tecnologia e o material necessário para a construção de uma bomba nuclear. De acordo com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o objetivo da missão é evitar que Israel fosse vítima de um holocausto como o vivido pelos judeus na Segunda Guerra Mundial, com a diferença de que, desta vez, haveria um “holocausto atômico”.

Essa é uma premissa contestada até pelo principal aliado de Israel no mundo, os Estados Unidos. Apesar de estar claro que o Irã vem enriquecendo urânio a níveis muito superiores aos necessários para abastecer usinas nucleares, não há consenso nem mesmo entre a inteligência americana de que o país teria planos concretos para construir uma bomba nuclear. Em março deste ano, Tulsi Gabbard, a diretora de Inteligência Nacional da CIA, afirmou em uma audiência no Congresso americano que o Irã não estava construindo uma bomba atômica. Nesta semana, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) divulgou um longo relatório afirmando que não era possível concluir se as operações nucleares iranianas eram exclusivamente civis. O estudo, de 22 páginas, não conclui, no entanto, que o Irã está próximo de construir uma bomba, mas atesta que os aiatolás têm se tornado mais e mais relutantes em permitir a fiscalização de suas instalações.

Ao longo das primeiras horas da sexta-feira, aviões israelenses, assim como drones que já estavam em território iraniano, iniciaram o maior ataque militar de Israel contra o Irã em todos os tempos. O saldo inicial foi positivo para Israel, mas não há garantias de que o Estado judeu tenha atingido seu objetivo principal. Além de conseguir assassinar os principais comandantes militares iranianos, Israel também afirma ter matado ao menos seis dos principais cientistas atômicos do Irã. As forças israelenses ainda atacaram alvos ligados ao programa nuclear iraniano, como os estratégicos centros de enriquecimento de urânio de Natanz e Fordow.

Ao que tudo indica, as defesas iranianas foram incapazes de conter os ataques, que envolveram cerca de 200 caças israelenses, os quais teriam atingido ao menos 100 alvos. De acordo com o Ministério da Defesa israelense, nenhuma das aeronaves foi perdida no ataque inicial. Ao longo da sexta-feira, novas investidas contra bases militares convencionais foram registradas, dando a impressão de que Israel havia conseguido neutralizar as unidades de defesa e operar com absoluta superioridade aérea nos céus iranianos. Mesmo assim, até o final da noite de ontem, não havia indícios de que os israelenses haviam tido sucesso em danificar ou obliterar o coração do programa nuclear do Irã.

De acordo com o diretor-geral da AIEA, o argentino Rafael Grossi, houve o registro de danos nas estruturas iranianas de enriquecimento de urânio que estão no solo em Natanz, com algum grau de contaminação atômica. Mas, segundo ele, não havia registro de contaminação ou aumento dos níveis atômicos no subsolo. A grosso modo, isso significa que Israel não conseguiu nem destruir os equipamentos essenciais para a produção de material para a construção de uma bomba nuclear, nem os 400 quilos de urânio enriquecido a 60% de pureza que se acredita que o Irã possua. Na prática, ao menos nesta primeira fase, houve muito barulho e pouca efetividade nos objetivos primários declarados por Israel.

Razões subterrâneas

Isso se explica por uma combinação de fatores bem conhecidos tanto pela inteligência israelense como pela maior parte dos analistas militares que acompanham de perto as tensões crescentes no Oriente Médio nos últimos anos. O primeiro deles é a maneira como o Irã protege seus centros de enriquecimento de urânio. Natanz, o mais famoso deles, está localizado na província de Isfahan e protegido em um bunker de relativa segurança, enfiado em um buraco de 50 metros de profundidade e coberto por espessas camadas de concreto.

Fordow, o verdadeiro coração do programa nuclear iraniano, está ainda mais protegida. As centrífugas de enriquecimento de urânio estão escondidas no interior de uma montanha, a mais de 100 metros de profundidade. Nem mesmo os Estados Unidos teriam armamento convencional para destruir uma instalação dessas sem a necessidade de enviar tropas ou agentes sabotadores.

Israel, muito menos. O arsenal de bombas disponível ao Estado judeu não tem capacidade, na teoria, para penetrar nem mesmo em Natanz, a menos protegida instalação militar iraniana. Mesmo que tivesse em seu poder a GBU-57/B, conhecida como a mãe de todas as bombas, Israel ainda necessitaria de um bombardeiro B-2 Spirit, o único capaz de carregar uma bomba tão pesada e usado exclusivamente pelas forças armadas americanas. A princípio, os Estados Unidos afirmaram não ter tido nenhuma participação nos ataques.

Se Israel sabia que não conseguiria atingir o ponto nevrálgico do programa nuclear iraniano, por que ainda assim optou por atacar abertamente o Irã e se envolver em mais uma guerra, com um adversário bem mais desafiador que o Hezbollah ou o Hamas, grupos usados pelos aiatolás para atacar o país de forma indireta a partir de Gaza e do Líbano? Não há resposta clara, e os fatores para essa decisão, por certo, são múltiplos.

Do ponto de vista militar, o cenário é positivo para Israel. Após a queda de Bashar al-Assad na Síria e o esfacelamento do Hezbollah no Líbano, o Irã se viu incapaz de atacar Israel a curta distância. Além disso, os ataques israelenses ao Irã em outubro do ano passado conseguiram neutralizar parte de suas defesas e parte de sua capacidade de produzir e lançar mísseis balísticos de médio alcance, como os que atingiram Tel Aviv na noite de ontem. Desde o fim da guerra entre Irã e Iraque, o regime dos aiatolás jamais esteve tão fragilizado e isolado como agora.

Sob o ponto de vista político, um novo confronto coberto pela ideia de uma ameaça existencial é muito positivo para Benjamin Netanyahu, que vive em permanente corda bamba no poder, ameaçado a todo momento pelos partidos de extrema-direita. Há apenas três dias, a oposição israelense apresentou uma proposta no Parlamento para dissolver o governo atual, que ganhou apoio, ainda que superficial, dos partidos de extrema-direita que sustentam o governo de Netanyahu. Para eles, o governo não fez força o suficiente para aprovar uma lei que isenta os judeus ultraortodoxos de servirem nas forças armadas.

O fator Trump

Por último, o ataque israelense coloca fim às chances de que o acordo nuclear entre Estados Unidos e Irã seja retomado. E aí talvez esteja, de fato, o grande objetivo israelense nos ataques que promoveu de forma unilateral contra o Irã. Netanyahu sempre foi um crítico das tentativas da comunidade internacional de realizar um acordo para permitir que o Irã mantivesse seu programa nuclear para fins civis, com o compromisso de não avançar para a criação de uma arma nuclear. Em 2015, Barack Obama assinou um acordo com o Irã que permitia que o país seguisse enriquecendo urânio a 3% de pureza, o necessário para gerar energia em suas usinas nucleares. Em contrapartida, o Irã se comprometia a abrir todas as instalações para fiscalização da comunidade internacional por meio especialistas da AIEA.

Dados da agência atômica mostram que o acordo estava funcionando. A partir de 2006, o Irã reduziu sensivelmente o volume de enriquecimento de urânio e nunca ultrapassou o limite de 3%. Netanyahu continuou com as críticas a Teerã durante esses anos de vigência do acordo, reiterando que o Mossad tinha informações de que os iranianos estavam próximos de conseguir a bomba, o que ameaçava a existência de Israel.

Com a chegada de Donald Trump ao poder em 2017, tudo mudou. Já no seu segundo ano na Casa Branca, Trump rompeu o acordo unilateralmente. Logo, os volumes de enriquecimento de urânio no Irã voltaram a crescer. Mas não só isso. A partir de 2022, os níveis de pureza passaram a crescer exponencialmente, chegando a 60%. E, a cada ano, o Irã vem ampliando as dificuldades para que haja uma fiscalização ampla de suas operações nucleares. Grossi afirmou ainda nesta semana que o Irã não acatou algumas de suas obrigações no tratado de não proliferação de armas atômicas pela primeira vez em 20 anos.

Estima-se que o Irã hoje tenha até 400 quilos de urânio enriquecido com níveis de pureza de 60%. Para obter material nuclear necessário para a construção de uma bomba atômica, é preciso que o urânio tenha, no mínimo, 90% de pureza. Há um consenso entre a comunidade internacional, e mesmo entre os cientistas da AIEA, de que o país asiático está tentando, ao menos, desenvolver tecnologia que o permita chegar a esse nível de enriquecimento e estaria a um ou dois anos de ter a capacidade de construir um artefato nuclear. Desde que Trump rompeu o acordo, o Irã renovou seus investimentos e, segundo a própria Agência Internacional de Energia Atômica, o país está construindo uma terceira estrutura subterrânea para ampliar sua capacidade de produção nuclear.

Ao voltar à Casa Branca, Trump parece ter reconhecido que havia cometido um erro estratégico ao romper o acordo celebrado por Obama. Desde o início de seu segundo mandato, o presidente americano abriu negociações com Teerã na tentativa de chegar a um novo acordo. Apesar de as negociações estarem difíceis, as conversas seguiam. Amanhã, por exemplo, estava marcada mais uma rodada de negociações entre o enviado da Casa Branca para o Oriente Médio, Steven Witkoff, e representantes de Teerã em Mascate, no Omã.

Já era quase madrugada de sábado no Golfo quando o Irã anunciou que todas as negociações para um novo acordo nuclear estavam suspensas por tempo indeterminado. Há ainda o temor de que o país anuncie sua saída do Tratado de Não Proliferação de Armas Atômicas, do qual faz parte desde 1970.

O novo cenário levanta muitas dúvidas — e uma certeza. Ainda não está clara qual a capacidade de reação do Irã aos ataques que sofreu. Ontem, o país retaliou pela primeira vez disparando algumas dezenas de mísseis balísticos. Quase todos foram interceptados pelo sistema de defesa antiaérea de Israel, o Domo de Ferro. Mas alguns atingiram seus alvos. Ao menos 40 pessoas ficaram feridas, principalmente em áreas no entorno de Tel Aviv. É pouco diante da escalada israelense, e é bastante provável que o Irã não consiga ir muito além disso.

Mas há pouca gente que duvide de que o país dos aiatolás agora irá, de fato, buscar uma bomba atômica para chamar de sua. Encurralado, enfraquecido e isolado, são grandes as chances de o país agora tentar acelerar sua produção de urânio e transformá-la em uma bomba. Ao invés de destruir o programa nuclear iraniano, ao que parece, Netanyahu conseguiu contratar um confronto atômico no Oriente Médio para o futuro.

O que quer e o que pode esta língua

“A resposta é comprida, você pegou um professor para entrevistar”, diz com bom humor Caetano W. Galindo algumas vezes durante a nossa conversa. Professor universitário, tradutor, escritor de ficção nos mais diferentes formatos, da poesia à dramaturgia, Galindo serve à palavra. Maneja como poucos a língua portuguesa tanto ao pesquisá-la ao longo do tempo quanto ao empregá-la criativamente. Acaba de lançar dois livros. O primeiro, uma paquete — pequeno livro de brochura, de produção mais rápida e econômica — com o poema As Cidades, saiu pela editora Círculo de Poemas. E o segundo, Ana Lívia e Outras Mulheres, com trabalhos feitos para o teatro com Cia. BR166, foi editado pela Cobogó.

A despeito de sua obra publicada, essencialmente Galindo se vê como professor. “Faço isso há quase 30 anos, é o que paga os boletos, o que estrutura a minha vida.” Galindo chegou ao curso de Letras sem muito planejamento. Ele estudava música no conservatório e teve uma lesão. “Decidi fazer Letras quase irresponsavelmente, porque o curso é um negócio muito grande, você estuda teoria linguística do século 18, literatura medieval, literatura portuguesa, eu fiz francês, então você aprende um idioma novo, aprende literatura, teoria literária, teoria linguística, vários tipos de análise linguística. E, durante a graduação, não consegui escolher um lugar.”

A luz de como se posicionar profissionalmente veio no mestrado, feito na área da linguística histórica. “Devo dizer que eu tive uma conversa muito venal com a minha orientadora de iniciação científica e ela me disse basicamente assim: ‘Se você quiser fazer um concurso, faz linguística histórica, porque não tem ninguém estudando esse negócio’. Dois anos depois eu era professor da Federal do Paraná, então devo tudo essa conversa. Mas nunca consegui ser 100% fiel a isso. E sempre mantive esses outros interesses. E à medida que fui migrando para os estudos da tradução na universidade, em que a área foi ganhando corpo, isso foi ficando possível. Daí eu passei a traduzir literatura, passei a voltar a pensar em escrever literatura, que era uma coisa que eu tinha deixado meio para trás, ainda antes de entrar na universidade.”

Traduções de peso

Como tradutor, Galindo encarou textos que tinham traduções anteriores muito emblemáticas, como é o caso de O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger, feita para a Todavia, ou dos poemas de T. S. Eliot, feita para a Companhia das Letras. Contudo, é possível argumentar que a tradução mais importante de Galindo seja a do monumental Ulysses, de James Joyce, feita para a Companhia das Letras. Perguntei como ele lidou com a sombra da tradução de Antônio Houaiss, a primeira feita desse texto complicadíssimo de Joyce. “Eu era mais jovem e mais irresponsável. Então, essa parte não chegou a me pegar. Primeiro, porque eu comecei a fazer a tradução sem a perspectiva de publicar, para a minha tese de doutorado. Segundo, porque a tradução do Houaiss estava distante. Eu nunca li a tradução do começo ao fim, por exemplo. Quando eu comecei a traduzir, fiquei numa pira de cotejar, olhar as soluções dele, mas eu percebi que se fosse fazer isso até o final, iria levar uns 30 anos para traduzir o livro. Respeito demais o trabalho dele, especialmente levando em consideração que foi feito num tempo em que era quase como escrever em pergaminho. Não tinha internet, não tinha fontes de consulta, o número de traduções para outras línguas era muito reduzido.”

O monólogo de Molly Bloom, um dos trechos mais emblemáticos do livro de Joyce, é um dos textos que integram o livro Ana Lívia e Outras Mulheres. “A Bete [Coelho] falou comigo quando foi montar Molly Bloom, porque ela queria usar o meu texto. Ela poderia ter só falado com a editora, mas resolveu dar esse passo além, um gesto generoso. Aí eu acompanhei, ajudei, dei palpites durante a montagem e chega esse momento em que a Bete me diz: ‘Eu quero que você escreva uma peça para mim’. Eu aceito e depois paro para ver onde é que eu fui me meter.”

A relação com o teatro, entretanto, vinha de antes, a partir de um contato de Felipe Hirsch, diretor carioca que também construiu boa parte da sua obra em Curitiba. Como brinca Galindo, “como nós dois temos a alma curitibana, isso garantiu que a gente não se encontrasse durante todos os anos em que ele esteve aqui”. Ambos têm a mesma idade e circularam pelos mesmos lugares sem terem se conhecido. “Quando ele começou a fazer a Língua Brasileira, percebeu que precisava falar com alguém da área e tinha visto alguma coisa minha no YouTube. Ele sabia que eu existia por amigos comuns, me procurou e convidou para fazer uma consultoria para a peça. A partir dali, bateu um santo legal e a gente já está no quinto projeto, um atrás do outro.”

Hirsch já virou uma constante na vida de Galindo, que fez muitos dos projetos escrevendo com Guilherme Gontijo, em processos colaborativos. “A gente escreve 200% do que aparece no palco. Ele pede 90 ideias e usa uma, um processo que poderia ser muito irritante para algumas pessoas, mas que acho fascinante, porque são sempre desafios esquisitos. Tipo ‘eu quero 40 cenas de 1 minuto que aconteçam durante uma peça de teatro na plateia ou nos bastidores’. Nesse dia eu estava aplicando prova e fiquei no celular escrevendo 40 cenas no celular. O Felipe não usou nenhuma delas. Aliás, essa ideia toda foi jogada fora. Mas é muito bacana participar dessa coisa meio fervilhante, que vai redundar num negócio completamente distante do que você tinha podido imaginar e que só vai ficar nítido no dia da estreia.”

O outro livro que chega agora às livrarias é As Cidades, um exercício fascinante, livremente inspirado na poesia de Kenneth Goldsmith, que também foi traduzido por Galindo. A história é muito interessante. A partir da lista de todos os municípios brasileiros, Galindo selecionou e ordenou as cidades de maneira poética, usando seus nomes em poemas que são distribuídos por letras em cada página. Ou seja, uma página de cidades que começam com a letra a, seguida por outra com cidades que têm início pela letra b e assim por diante. Um projeto que começa como uma encomenda para o mundo físico.

“Primeiro teve o prompt, que foi a história da exposição no Museu da Língua Portuguesa. A Daniela [Thomas] me faz esse pedido e decido preencher essa parede com essa lista de palavras. E esse prompt depois frutifica de uns jeitos loucos. A gente gravou a lista de palavras com 30 pessoas em lugares diferentes do Brasil e usa essa gravação no elevador doo museu. A gente meio que pirou com esse resultado.” Quando Daniela fez o pedido, Galindo estava diante do computador e de presto abriu a Wikipedia, que já dava uma lista alfabetizada dos municípios brasileiros. “Passei uma hora de insana felicidade de criança na caixa de areia e, quando eu acabei aquilo, aconteceu um negócio que eu não recomendo. Eu achei aquilo muito genial e comecei a mandar no WhatsApp para todas as pessoas que mereciam e não mereciam receber.”

Para Galindo, semelhante à tradução, em que a voz não é sua, embora sempre haja vestígios dela, esse projeto de certa maneira borra a autoria. Daí a similaridade com o projeto poético de Goldsmith. “Com esse poema maluco das cidades, eu acabei chegando meio nesse mesmo lugar. Ficava encantado com aquilo quase como se não fosse eu que tivesse feito. Eu dizia: ‘Olha que troço lindo isso aqui que eu achei’. Tipo uma criança que acha uma pedrinha na praia. Mas é um projeto menos rigoroso conceitualmente. O projeto interessante goldsmithanamente seria publicar a lista inteira dos municípios. O projeto dele é de total apagamento da consciência criadora, o meu vem meio da vida do tradutor, eu quero dar uma sumida, mas ao mesmo tempo quero deixar com a minha cara.” Assim, algumas regras foram criadas para a exclusão de palavras. Foram tiradas da lista todas as que tivessem lândia ou pólis, as que tivessem nomes de santos, nomes de pessoas e nomes compostos, embora para esta última haja exceções como o uso da bela Breu Branco.

Não poderia terminar essa conversa sem perguntar ao autor de Latim em Pó se é válida uma defesa da língua brasileira. Para Galindo essa não é a questão. “Se o livro tinha um projeto de ação era o de tomar posse da nossa relação com a língua, de os brasileiros pararem de aceitar e de reproduzir um discurso de que nós somos maus usuários de uma língua que é superior a nós, de que nós somos usuários imperfeitos, de que a gente estraga a nossa língua, suja o patrimônio que a gente herdou. E aceitar que as coisas inequivocamente racializadas no português, negras, indígenas, não são em nada inferiores às versões europeias da língua e têm paralelos em tudo quanto é língua europeia por aí. Às vezes, elas são o que de mais autêntico e de mais interessante a gente tem.”

Para ele, o que houve foi que durante anos precisamos decorar regras e padrões linguísticos que ninguém mais usa há 200 anos, que não fazem sentido para nós. “O doido é que a gente aceitou de cabeça baixa e se dobra a esses modelos. A essa norma que não vem de lugar nenhum, que é uma coisa abstrata, definida por ninguém. É impressionante o poder desses mecanismos, desse poder difuso que existe na negociação da norma linguística. Só que a gente tem que chegar àquele momento de dizer: ‘Cara, nós somos 200 milhões’.”

Em que pesem os generais e o Irã, os assinantes do Meio preferiram a arquitetura e a fé, além de prestigiarem nossos programas no YouTube. Confira as notas mais clicadas esta semana:

1. ArchDaily: Primeira torre residencial de Taiwan tem design modular planejado digitalmente.

2. g1: Com base em dados do IBGE, mapa interativo mostra a proporção das diferentes religiões em cada cidade do Brasil.

3. Meio: Ponto de Partida - Pedro Doria comenta as estratégias de defesa ventiladas no depoimento de Jair Bolsonaro ao STF.

4. Meio: De Tédio a Gente Não Morre - Mariliz Pereira Jorge fala sobre o momento em que a causa some e o ativista vira celebridade - com post, polêmica e passaporte carimbado.

5. Meio: Ponto de Partida -  O visual caipira, que nunca foi real, começa a ser cancelado. Veja o que pensa Pedro Doria.

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.

Já é assinante premium? Clique aqui.

Este é um conteúdo Premium do Meio.

Escolha um dos nossos planos para ter acesso!

Premium

  • News do Meio mais cedo
  • Edição de Sábado
  • Descontos nos Cursos do Meio
  • 3 dispositivos
  • Acesso ao acervo de Cursos do Meio*
ou

De R$ 180 por R$ 150 no Plano Anual

Premium + Cursos

  • News do Meio mais cedo
  • Edição de Sábado
  • Descontos nos Cursos do Meio
  • 3 dispositivos
  • Acesso ao acervo de Cursos do Meio*
ou

De R$ 840 por R$ 700 no Plano Anual

*Acesso a todos os cursos publicados até o semestre anterior a data de aquisição do plano. Não inclui cursos em andamento.

Quer saber mais sobre os benefícios da assinatura Premium? Clique aqui.