O Meio utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência. Ao navegar você concorda com tais termos. Saiba mais.

As notícias mais importantes do dia, de graça

Edição de Sábado

Assine para ter acesso básico ao site e receber a News do Meio.

Edição de Sábado: Senhor Coragem

Foto: Alice Vergueiro/Acervo pessoal

Tem um caso que me angustia mais que todos. Heleny Telles Guariba. Ela era artista de teatro, era socióloga. E ela entrou para a VPR, Vanguarda Popular Revolucionária. Foi presa. Heleny acabou se envolvendo com um rapaz da VAR-Palmares, uma organização próxima da VPR, que era o José Olavo Leite Ribeiro. Me tornei advogado do Zé Olavo, contratado pelo pai dele, e o Zé me pediu para defender também sua companheira. Eles se conheceram na clandestinidade, namoraram com nomes de guerra [Luci e Alcides]. A prisão dela foi relaxada. Ela era um encanto de pessoa. Eu era pombo-correio e levava cartinhas para o Zé Olavo, que seguia preso. A imposição era de que, nas cartas, não se falasse de política, só se fizesse amor. Alguns meses depois, eu estava na auditoria, e o procurador Durval Airton Moura Araújo, que era muito simpático, mas era um filho da puta, me falou que havia pedido a prisão de Heleny novamente. “Estou convencido de que ela voltou para a subversão“, ele disse. Telefonei para Heleny e disse que precisava falar com ela, com urgência. Falei para nos encontrarmos às oito em ponto. A palavra “ponto” significa encontro na linguagem subversiva. Ela sabia onde eu estava morando. Eu estava em casa com minha mulher, meus filhos, meus sogros. Oito em ponto eu desci. Havia uma Veraneio na porta — e todos os carros do DOI-Codi eram Veraneio. Aquele estava encomendado para nós. Seríamos presos. Quando eu olho, Heleny vem pela calçada e estava de cabelos vermelhos. Ela devia mesmo ter voltado pra clandestinidade. Eu dei um abraço nela e falei em seu ouvido: “Heleny, os homens estão aí. É possível que sejamos presos”. Ela quis ir embora. Pedi que tivesse calma. E que me telefonasse a cada três dias, ofereci dinheiro. Ela começou a chorar. Virou as costas e saiu correndo. Passou pelo Arena para conversar com o Gianfrancesco Guarnieri. Foi para o Rio, encontrou com Paulo de Tarso Celestino, da ALN, do Marighella. Heleny foi presa no Rio e levada para a Casa da Morte, em Petrópolis. Lá, ela foi morta.

Edição de Sábado: Nada será como antes

Foto: Yan Boechat

O antigo blindado americano sacoleja como se não tivesse amortecedores enquanto cruza uma pequena ravina nas vastas planícies do deserto sírio. Dentro dele, quatro soldados das forças especiais do YPG, a milícia curda apoiada pela coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, estão atentos, ainda que pareçam tranquilos. Têm os rostos cobertos por balaclavas e o corpo protegido por coletes à prova de bala capazes de resistir aos disparos de rifles automáticos, como os quase onipresentes AK-47.

Edição de Sábado: Erguem-se os muros

“Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial”, cantava Caetano Veloso na abertura do álbum Circuladô, lançado em 1991. O que a nova ordem mundial preconizava, nos anos 1990, era um movimento de abertura, de mercados, de fronteiras, de povos e, se esticar um pouco a corda, de costumes. O protecionismo estava dando lugar a novas configurações, blocos de países interligados para cooperar econômica e politicamente começavam a ser formados. Mercosul em 1991, União Europeia em 1993, o Nafta em 1994.

Edição de Sábado: O presidente, o general e o juiz

A descrição da Polícia Federal sobre a tocaia feita por militares ao ministro Alexandre de Moraes reavivou histórias de tempos sombrios na cabeça do ministro Celso de Mello, aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF). Caso a intentona, que incluía a caçada e até o assassinato do magistrado, não tivesse sido abortada pelos “kids pretos” do Exército, Moraes não seria o primeiro ministro da Corte a sofrer um sequestro de militares. E Mello fez questão de relembrar a história num artigo publicado na página do STF. Era necessário demonstrar o grave significado dos fatos identificados pela PF após a derrota de Jair Bolsonaro nas urnas. Uma história cheia de pontos comuns.

Edição de Sábado: Eu, pornô

Ontem enviei um desenho em tamanho real da minha amada e peço que a copie com o maior cuidado e a transforme em realidade. Preste atenção nas dimensões de sua cabeça e pescoço, à caixa torácica, à anca e aos membros. Atente-se com carinho aos contornos do corpo, à linha do pescoço, às costas, à curva da barriga. Permita que meus sentidos se deleitem nos lugares onde as camadas de gordura ou músculo cedem a uma cobertura de pele mais fina. {...} O ponto de tudo isso, para mim, é uma experiência em que eu possa me abraçar.

Edição de Sábado: O Estado sou eu!

Maior, melhor, incrível, magnífico, histórico, sem precedentes, extraordinário, fantástico. É vasto o vocabulário de superlativos e adjetivos do ex e próximo presidente dos Estados Unidos, Donald J. Trump. Essas e muitas outras expressões autocongratulatórias figuraram em seu discurso da vitória, na noite de terça-feira, dia 5 de novembro. Foi mesmo uma vitória notável. Condenado e conhecido, ainda assim ele varreu os sete estados-pêndulo e, na fúria de seu triunfo, garantiu maioria no Senado e deve levar a Câmara para o seu lado também. Trump começou sua fala com a afirmação de que o seu movimento, o Maga, ou Make America Great Again, “francamente”, deve ser “o maior movimento político de todos os tempos”. Não mencionou o Partido Republicano uma única vez. Nem precisaria. Trump já tragou o que um dia foi um partido para seu movimento — que, como ele e todos a seu redor sabem, é ele mesmo. Permitiu que orbitassem em torno de si, naquele palco, algumas figuras, presencial ou nominalmente: JD Vance, seu vice; Elon Musk, seu fiador; Dana White e Joe Rogan, seus brothers. E encerrou os vinte e tantos minutos de fala com o que jurou que será seu lema: “Promessas feitas, promessas mantidas”.

Edição de Sábado: Se Trump perder

George Washington, primeiro presidente dos Estados Unidos, foi eleito duas vezes sem candidato adversário. Mas, desde 1796, quando John Adams derrotou Thomas Jefferson, as eleições presidenciais no país despertavam uma e somente uma pergunta: quem vencerá? Uma guerra civil e dois conflitos mundiais não impediram que os pleitos de 1864, 1918 e 1944 transcorressem normalmente, e mesmo a polêmica eleição de 2000 foi encerrada dentro dos ritos democráticos. Tudo mudou em 2020, quando, derrotado nas urnas, o presidente Donald Trump tentou manobrar para mudar o resultado, culminando com uma inimaginável invasão do Capitólio por uma turba em 6 de janeiro do ano seguinte, a fim de evitar que o Congresso homologasse a vitória de Joe Biden.

Edição de Sábado: Que esquerda é essa?

Pouco mais de uma semana depois do primeiro turno, Fernando Haddad, o ministro da Fazenda de Lula, sentou-se diante da jornalista Monica Bergamo para uma longa entrevista e, com a sobriedade habitual, tentou justificar o resultado ruim das urnas para a esquerda enquanto o governo federal apresenta bons números na economia. Haddad carrega em si quase todo o dilema — e talvez parte das respostas — que vive seu campo ideológico. É, ao mesmo tempo, alguém que acredita em muitas ideias basilares do pensamento fundador da esquerda, mas que busca atualizá-las para os tempos modernos. Não é um exercício fácil. Os que são mais apegados a diretrizes tradicionais acusam essa postura do ministro de ser atucanada, quase uma traição.

Edição de Sábado: A Maratona de João

Foto: Sérgio Lima/Poder 360

No início, a oposição na Câmara Municipal de Recife sabia como irritar o prefeito João Campos. Apelava regularmente ao apelido de “príncipe”. A alcunha não agradava o herdeiro de Eduardo Campos, membro da dinastia política que remonta ao bisavô do prefeito, Miguel Arraes, governador de Pernambuco por três mandatos, deputado federal, estadual e que também já sentou na cadeira ocupada hoje pelo neto no Palácio Capibaribe, sede do governo municipal. A linhagem política cruza fronteiras. Da região do Crato, no Ceará, veio Bárbara de Alencar, heroína da Revolução Pernambucana e da Confederação do Equador, primeira mulher presa política do Brasil. A irmã dela, Inácia Pereira de Alencar, era tataravó de Arraes.

Edição de Sábado: Por dentro das pesquisas

Sexta-feira à noite, dois dias antes da eleição. Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo, posta em sua conta no Instagram um laudo com uma suposta internação de Guilherme Boulos (PSOL) por uso de drogas. Àquela altura, os dois candidatos e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) seguiam em um empate tríplice nas pesquisas de intenção de votos. O tiro saiu pela culatra. Os desmentidos sobre o laudo começaram a aparecer pouco tempo depois de o post ser publicado. Parecia jogo dos 7 erros. Boulos aparecia em fotos e vídeos na data em que estava internado, o número do RG do candidato do PSOL estava com um número a mais, o nome da clínica estava errado, havia erros gramaticais, o médico nunca havia trabalhado naquela clínica, a filha desse médico, morto em 2022, afirmou que aquela não era a assinatura dele. Nesta semana, o óbvio foi atestado pela perícia: o laudo era falso. O estrago estava feito.

Já é assinante? Faça login.

Assine para ter acesso ao site e receba a News do Meio