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Edição de Sábado: Senhor Coragem

Foto: Alice Vergueiro/Acervo pessoal

Tem um caso que me angustia mais que todos. Heleny Telles Guariba. Ela era artista de teatro, era socióloga. E ela entrou para a VPR, Vanguarda Popular Revolucionária. Foi presa. Heleny acabou se envolvendo com um rapaz da VAR-Palmares, uma organização próxima da VPR, que era o José Olavo Leite Ribeiro. Me tornei advogado do Zé Olavo, contratado pelo pai dele, e o Zé me pediu para defender também sua companheira. Eles se conheceram na clandestinidade, namoraram com nomes de guerra [Luci e Alcides]. A prisão dela foi relaxada. Ela era um encanto de pessoa. Eu era pombo-correio e levava cartinhas para o Zé Olavo, que seguia preso. A imposição era de que, nas cartas, não se falasse de política, só se fizesse amor. Alguns meses depois, eu estava na auditoria, e o procurador Durval Airton Moura Araújo, que era muito simpático, mas era um filho da puta, me falou que havia pedido a prisão de Heleny novamente. “Estou convencido de que ela voltou para a subversão“, ele disse. Telefonei para Heleny e disse que precisava falar com ela, com urgência. Falei para nos encontrarmos às oito em ponto. A palavra “ponto” significa encontro na linguagem subversiva. Ela sabia onde eu estava morando. Eu estava em casa com minha mulher, meus filhos, meus sogros. Oito em ponto eu desci. Havia uma Veraneio na porta — e todos os carros do DOI-Codi eram Veraneio. Aquele estava encomendado para nós. Seríamos presos. Quando eu olho, Heleny vem pela calçada e estava de cabelos vermelhos. Ela devia mesmo ter voltado pra clandestinidade. Eu dei um abraço nela e falei em seu ouvido: “Heleny, os homens estão aí. É possível que sejamos presos”. Ela quis ir embora. Pedi que tivesse calma. E que me telefonasse a cada três dias, ofereci dinheiro. Ela começou a chorar. Virou as costas e saiu correndo. Passou pelo Arena para conversar com o Gianfrancesco Guarnieri. Foi para o Rio, encontrou com Paulo de Tarso Celestino, da ALN, do Marighella. Heleny foi presa no Rio e levada para a Casa da Morte, em Petrópolis. Lá, ela foi morta.

José Carlos Dias está sentado em uma confortável poltrona em seu amplo apartamento em São Paulo. Reconta esse episódio e sua vida com uma oratória mista de advogado e poeta, dois de seus ofícios. Tem na memória nomes completos como quem escreve um livro checado mil vezes. Talvez por estar, de fato, com tudo tão fresco na cabeça quanto as páginas da biografia que lançaria naquela noite: Democracia e Liberdade, dos jornalistas Ricardo Carvalho, já falecido, e Otávio Dias, este um de seus filhos. Zé Carlos, como todos o chamam, está com 85 anos e passou as últimas seis décadas com a sua história imbricada na do Brasil. Foi escolhido orador de sua turma de Direito no Largo São Francisco, tendo discursado, ainda em 1963, diante do próprio presidente João Goulart, que o parabenizou gentilmente. A cerimônia de diplomação foi em 1964, já sob a recém-instalada ditadura militar. Os colegas pediram que Zé Carlos maneirasse no segundo discurso. Ele se recusou. Decretou que aquela era a turma “despedinte da democracia” e foi aplaudido de pé.

Em 1969, AI-5 implantado, Zé Carlos, até então um criminalista de casos mais banais, é chamado a defender seu primeiro preso político, um rapaz chamado José Mentor, que depois viria a ser deputado federal pelo PT. Envolvido com a militância estudantil mas não com o Partido Comunista, Mentor não queria ser representado por um advogado ligado ao partidão. Zé Carlos, por sua vez, embora não fosse um militante político, não tinha qualquer problema em cumprir sua missão maior, a de prestar atendimento técnico a quase qualquer réu que o procurasse. Em seu segundo caso de preso político, reverteu uma condenação a 30 anos de prisão para uma completa absolvição. Sua fama se espalhou. E ele acabou por defender mais de 500 presos políticos.

“Eu defendia as pessoas dando o melhor em termos técnicos. Mas isso não significa que eu me identificasse com o conteúdo dos depoimentos. Sempre digo que certas causas eu não consigo defender. Nunca consegui defender o Esquadrão da Morte. Me foi pedido que eu defendesse Paulo Salim Maluf, mas eu não o defenderia porque politicamente me opunha a ele. E ele tem direito de defesa, de uma boa defesa." O período da ditadura era, evidentemente, um de exceção. Os casos políticos foram todos remetidos à Justiça Militar. Era a defesa técnica de Zé Carlos que garantia, para os que chegavam a julgamento e não eram mortos ou sequestrados e desapareciam, algum tipo de direito. “É claro que isso exigia um esforço muito grande. E coragem.”

Na minha terceira prisão, eu era presidente da Comissão Justiça e Paz e estava participando da greve do ABC. Estávamos com Fernando Henrique, Franco Montoro, juntos, caminhando, ali para tentar evitar violência contra os operários. E eu soube que o Lula estava para ser preso. Fui à casa dele. Frei Betto estava lá. Eu disse ao Lula que podíamos sair juntos e provavelmente seríamos todos presos. Ou eu conversaria com o Tuma para tentar evitar a prisão. Fui para casa e, no dia seguinte, toca o telefone e me avisam que Lula havia sido preso. Decidi impetrar o habeas corpus. Me arrumei e pedi para a Margarida, minha primeira mulher, telefonar para Dom Paulo para avisar da prisão de Lula e para Mário Sérgio Duarte Garcia, que era o presidente da OAB e meu amigo. A moça que trabalhava lá em casa era muito esperta e relatou que tinha algo estranho do lado de fora de casa, gente de terno num sábado. “Margarida, vou levar o passaporte.” Todos os meus clientes faziam isso. Quando sabiam que seriam presos, levavam passaporte e escova de dente. Peguei o carro e, quando estava na Praça Panamericana, veio um pessoal de metralhadora. Me fizeram dirigir. Perguntei se íamos ao Dops ou ao DOI-Codi. “Dops”, um deles respondeu. Quando chegamos, tinha umas 20 pessoas presas, alguns clientes meus. Fui levado à sala onde o Lula estava. Pedi para que levassem o Dalmo [Dallari], que também estava preso, lá pra sala. Logo, chegou o [também advogado] Airton Soares, me chamando para ir embora. Ele não tinha percebido. Aí, o Lula diz: “ô Airton, porra, pára de encher o saco, não tá vendo que o homem tá em cana!”. Recentemente, eu comentei isso com o Lula. Ele disse que se lembra. Ele estava calmo naquele momento e eu também, relativamente. A minha grande angústia era estar preso junto com clientes, porque não conseguia defendê-los. Eu tive medo nesse dia.

Não só nesse. Recorrendo à máxima de que a coragem não é a ausência do medo, mas instrumento para enfrentá-lo, Zé Carlos remete a outros dois momentos em que precisou da virtude. Um foi quando recebeu telefonemas ameaçando seus filhos de sequestro. Outro foi depois de mais um discurso seu — dessa vez, num júri.

Entre as centenas de seus clientes, esteve o jornalista Rodolfo Konder. Amigo próximo de Vladimir Herzog, esteve preso com ele e foi testemunha ocular de sua tortura, além de vítima também. Treze dias depois de Vlado ser assassinado, Konder depôs por quatro horas numa sala do escritório de Zé Carlos, no icônico Edifício Itália. Testemunharam o depoimento, entre outros, o advogado Hélio Bicudo e o padre Caetano Zolin. “Uma coisa bonita é que alguém perguntou ao padre onde ele guardaria esse documento. Ele não poderia ser tornado público enquanto Konder estivesse no Brasil. O padre falou que colocaria num lugar onde ninguém desconfiaria. E escondeu no sacrário, embaixo do cálice.”

O relato de Konder é brutal. Traz detalhes da crueldade a que eram submetidos os presos políticos e foi peça central para provar que Vlado, obviamente, não se suicidou. No julgamento de Konder, com a Auditoria Militar apinhada de agentes do regime, Zé Carlos leu a íntegra do documento. Palavra a palavra. Os militares ouviram de cabeça baixa. Konder foi absolvido. Mas antes de entrar na sala secreta, o juiz auditor chamou Zé Carlos e disse: “doutor, o senhor deve sair daqui com muito cuidado. Peça aos seus colegas que te acompanhem, porque tem muitos agentes do DOI-Codi presentes”. O advogado ficou surpreso com o gesto. “Esse foi mais um momento em que tive medo.”

Um dos aspectos que esses dois episódios, de Lula e Konder, têm em comum é que eles revelam a proximidade de Zé Carlos com o movimento fundamental da ala progressista da Igreja Católica na defesa dos perseguidos politicamente. A Comissão Justiça e Paz que o advogado presidiu foi a que deu origem ao documento Brasil: Nunca Mais, primeiro compilado sistematizado dos abusos e crimes dos militares na ditadura. E foi fruto da atuação combativa e persistente de Dom Paulo Evaristo Arns, com quem Zé Carlos construiu uma amizade profunda.

A semente da Comissão Justiça e Paz brotou na Comissão Nacional da Verdade, órgão oficial do governo Dilma Rousseff, que funcionou a partir de 2012. O relatório final foi entregue no dia 10 de dezembro de 2014, não coincidentemente Dia dos Direitos Humanos. Zé Carlos Dias foi um dos conselheiros. Durante os trabalhos, teve a chance de interrogar o coronel Paulo Malhães, um dos algozes da Casa da Morte.

O interrogatório todo é quase intragável, mas não para Zé Carlos e sua firmeza. À certa altura, dá-se o seguinte diálogo:
— O senhor não nega a existência de tortura.
– Não, eu mesmo quando comecei a minha vida nessas informações eu mesmo cheguei a fazer tortura, não quero mentir para o senhor.
— E depois parou?
— Sim, quando eu evoluí. Eu digo que eu sofri uma evolução.
— Quantos morreram nessa casa de conveniência [Casa de Petrópolis]?
— É muito difícil.
— Muito difícil o que?
— Dizer quantos, nem porque morreram.
— Morreram. Vários morreram. (...)
— O senhor me faz uma pergunta difícil de ser respondida.
— Mas o senhor não está aqui para responder pergunta fácil, é para responder pergunta difícil mesmo.
— Mas é uma pergunta que não envolve só a minha pessoa.
— Mas o senhor está aqui, coronel, com a possibilidade de dizer a verdade integral, para o seu bem também. Isso vai lhe fazer bem, porque o senhor vai entrar na história como uma pessoa que teve a coragem de dizer a verdade. Não é verdade?
— Mas eu tenho uma restrição à verdade.
— Qual é?
— Quando eu comecei minhas palavras, eu disse que a verdade é feita de branco e preto, e no momento eu vejo uma verdade ou só de branco ou só de preto, porque...
— Eu quero uma verdade de branco e preto, uma verdade transparente.
— Mas essa verdade tem que ser formada, ela não pode ser só...
— Coronel, quantas pessoas morreram na casa de conveniência, que o senhor saiba?
— Não posso precisar ao senhor.

Malhães acabou se abrindo e contando todas as torturas que eles praticavam. E veja o que é a vaidade. Ele havia dito que queria depor em sessão secreta. Mas aí perguntei se ele permitia a presença da imprensa. E ele permitiu. Malhães confirmou a morte da Heleny. Eles arrancavam os dedos, os dentes, jogavam os corpos no mar. Muitos foram levados para uma usina no Espírito Santo. Um mês depois do depoimento, Malhães foi morto. Foi queima de arquivo. Quando eu soube da morte da Heleny, eu fui à casa da dona Anita, mãe do Zé Olavo. Havia vários parentes ali, todos esperando o meu retorno para eu dar notícia. Quando dei a notícia da morte dela, senti que a dor do desaparecimento foi substituída pelo luto. Era uma dor mais tranquila, menos desesperada. A Comissão Nacional da Verdade tem a função de canalizar as informações e transmitir à sociedade civil o que é a ditadura, o que é a violência. É para dizer “jovens, vocês tomem cuidado, o risco de entrar numa ditadura é muito grande. Temos de lutar é pela democracia. Esse foi o trabalho que a Comissão da Verdade fez e esse é o trabalho que ainda hoje estamos fazendo com a Comissão Arns.

Quando completou 80 anos, Zé Carlos pretendia se aposentar. Havia cumprido muitos papéis. Foi secretário de Justiça de Montoro, promovendo um processo de humanização carcerária em São Paulo — o que, infelizmente, não se ampliou. Foi ministro da Justiça de FHC por nove meses. Voltou para a advocacia. Na Comissão Nacional da Verdade, apresentou, com a equipe, 29 recomendações. Apenas duas delas foram adotadas. Uma foi a revogação da Lei da Segurança Nacional, curiosamente aprovada em 2021 e sancionada por Jair Bolsonaro. A outra foi a adoção das audiências de custódia, mecanismo fundamental para garantia de direitos, embora carente de aperfeiçoamentos. A que pede a revisão da Lei de Anistia para quem violou gravemente direitos humanos, no entanto, segue no limbo.

Mas em 2018, ao assistir a ascensão de Bolsonaro, um amante da tortura e da ditadura, à presidência da República, viu-se compelido a seguir na luta. Ao lado de seu companheiro de tantas batalhas, Paulo Sérgio Pinheiro, e de outros intermináveis combatentes pela democracia, criou a Comissão Arns, que presidiu até 2022. Em 2024, nos 60 anos do golpe, Zé Carlos assiste ao noticiário sobre os planos revelados pelo inquérito da Polícia Federal, com uma convicção: “O perigo não passou. O perigo continua”. Instado a responder se sente desesperançoso ao se ver tendo de tratar de ameaça de golpe militar a essa altura, Zé Carlos parece não computar a pergunta. É como se, em seu vasto vocabulário, não coubesse esse termo. “Nós temos que estar presentes e lutar, a sociedade civil, a imprensa. O fato de nós estarmos aqui mostra que nós estamos preocupados.”

A sua biografia é salpicada de poemas seus. Ao lado da aconchegante poltrona, estão dois livros de poesias que ele escreveu — um deles, de 1957, conta com ilustrações de Tarsila do Amaral. Zé Carlos planeja, para 2025, publicar mais um. Encerra a entrevista ao Meio declamando um de seus favoritos, Meus Guardados, que está na biografia e pendurado no arquivo de seus casos como advogado. Eis os versos finais:

Se da liberdade deixar de ser apóstolo
se meus segredos guardados estiver a devassar,
que a morte me surpreenda ainda vacilando
antes que a vida me imponham a suportar.

Preservação da memória

Karol Przyjemski nasceu em Varsóvia em dois de novembro de 1895. Na capital polonesa, cresceu e passou a ganhar o pão como pintor. Assim o fez até os 46 anos, quando foi arrastado de seu cotidiano pelos nazistas. Chegou ao campo de concentração de Auschwitz em 16 de outubro de 1941, mas não ficou muito ali. Foram apenas dois meses e 23 dias até o prisioneiro número 21743 ser assassinado. Para Stefan Kusznir, demorou menos ainda. O fazendeiro de Lviv foi levado aos 28 anos. Desde a foto que registrou sua chegada a Auschwitz, com cabelo raspado, uniforme listrado e sobrancelhas grossas levemente arqueadas, até a execução, passaram-se apenas 1 mês e 27 dias. Outra fotografia, a de Izrael Bojos, impressiona. Um hematoma escuro, denso, circula os olhos firmes e inchados e se estende até a fronte. Bojos, um açougueiro de 38 anos, deixou de existir em 30 de outubro de 1941. Irena Fiedorowicz sobreviveu até 2 de dezembro de 1942. Neste mesmo dia, trens partiram de Hrodna, Westerbork e Radom com 1889 prisioneiros a bordo, que logo seguiriam o destino de Przyjemski, Kusznir, Bojos e Fiedorowicz.

O fim de suas vidas, agora, encontra eco no site victims.auschwitz.org, a nova iniciativa do Memorial e Museu de Auschwitz-Birkenau. Lançada no final de novembro, a plataforma reúne os dados de 265.702 vítimas e 1.187 transportes, que as levaram ao maior campo de extermínio da Alemanha de Adolf Hitler. Através dessa ferramenta, é possível realizar uma busca individualizada por cada pessoa, acessando informações como a foto de identificação, tirada logo após sua chegada durante o processo de seleção e registro; número de prisioneiro; datas de nascimento, deportação e execução; além do histórico detalhado de cada transporte. Embora nem todos os dados estejam disponíveis para todas as vítimas, devido à falta de documentação, muitas delas possuem registros completos. Em relação aos transportes, a plataforma revela não apenas o número de deportados, mas também quantos foram assassinados imediatamente após a seleção. Os dados, extraídos de uma análise meticulosa de quase um milhão de documentos, ainda ganham forma por meio de um mapa interativo, dando dimensão à imensidão da tragédia.

O esforço de tornar essas histórias acessíveis e compreensíveis ao público não é em vão. “A SS despojou as vítimas de sua humanidade, mas também — ao destruir as evidências dos crimes — visava apagar suas identidades. Para as autoridades do campo, as vítimas eram apenas números. Para nós, cada uma dessas pessoas tem seu próprio nome, rosto e história”, explicou Piotr Cywi?ski, diretor do museu, ao anunciar a plataforma. Em Auschwitz, mais de um milhão foram assassinados.“É um memorial construído passo a passo para honrar a memória das vítimas, que não apenas nos permite ver as pessoas individualmente, mas também — ao mostrar o sistema de transportes — revela a imensa escala do terror imposto pela Alemanha nazista”, completou.

Em 27 de janeiro, quando se completar o 80º aniversário da libertação de Auschwitz, o mundo será novamente lembrado da importância de preservar a memória dessas vítimas. Memória. Esse termo se destaca nas palavras de Piotr Cywi?ski. Essencial para que o horror do passado não seja apagado, tampouco repetido, como explica o historiador Yehuda Bauer, um dos maiores estudiosos do Holocausto. Em seus escritos, Bauer assume que lembrar o Holocausto é uma obrigação — dever de preservar a dignidade das vítimas e impedir a banalização do mal. Nesse contexto, aponta que a única maneira de garantir que os erros do passado não se percam nas brumas do tempo é… a construção de uma memória coletiva sólida, alicerçada em fontes confiáveis e constantemente renovada. E o novo instrumento do Memorial de Auschwitz não é o único a desempenhar esse papel online. Conheça algumas plataformas que se destacam pela excelência na experiência do usuário e pelo compromisso com a preservação da história:

Enciclopédia do Holocausto:
Publicada pelo Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, a ferramenta funciona como uma verdadeira enciclopédia digital do Holocausto. Nela, é possível realizar buscas por termos específicos e tags relacionadas à Alemanha nazista, além de acessar artigos aprofundados que oferecem informações detalhadas sobre esse período histórico.

Memorial da Resistência de São Paulo:
Da Europa à América Latina, o Memorial da Resistência de São Paulo, situado no prédio que até 1983 abrigou o Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops), preserva a memória das violações de direitos humanos durante a Ditadura Militar brasileira (1964-1985), quando foi responsável pela perseguição, tortura e desaparecimento de opositores políticos. O acervo do memorial inclui documentos, fotos, vídeos e depoimentos que revelam tanto a brutalidade da repressão quanto às formas de resistência, como as ações de grupos guerrilheiros e movimentos sociais. Desde a pandemia de Covid-19, o museu passou a disponibilizar parte de seu acervo digitalmente, ampliando o acesso global à história da repressão e da luta pela democracia, além de promover a educação sobre a importância da preservação da memória histórica e da defesa dos direitos humanos.

Armazém Memória:
Fundado pelo pesquisador Marcelo Zelic, um dos principais responsáveis pelos estudos sobre as violações contra os povos indígenas realizados pela Comissão Nacional da Verdade, o Armazém Memória é um portal virtual colaborativo dedicado à preservação e catalogação de documentos, mapas, artigos, vídeos e outros materiais relacionados aos direitos humanos, com ênfase nos direitos indígenas. Seu objetivo é ampliar o acesso à memória histórica do Brasil, promovendo a divulgação e o resgate de informações essenciais para a compreensão das lutas e das injustiças enfrentadas pelas comunidades indígenas ao longo da história.

Museu da Memória e dos Direitos Humanos do Chile:
Em um esforço de reconciliação nacional, o Chile fundou, em 2010, o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, com o objetivo de confrontar o passado traumático vivido sob o regime militar de Augusto Pinochet. A plataforma online do museu oferece uma experiência interativa, permitindo a consulta de dados precisos sobre as vítimas mortas e desaparecidas durante a ditadura.

O sertão baiano no encanto do cinema fantástico

Não é todo dia que o sertão baiano se torna palco de uma cidade cinematográfica inspirada no País das Maravilhas. A releitura nordestina do clássico de Lewis Carroll toma forma sob o sol quente e a terra vermelha da caatinga do distrito de Pradoso, zona rural de Vitória da Conquista.

Após o sucesso de Alice dos Anjos, o primeiro longa-metragem infantojuvenil escrito e dirigido pelo cineasta Daniel Leite Almeida, Alice Lembra é sequência que fará parte de uma trilogia.
Em uma nova jornada pelo fantástico País das Macaúbas, Alice, agora uma pré-adolescente com 13 anos de idade, precisará lutar contra uma doença que acomete seus amigos, a Síndrome do Esquecimento, e uma tentativa de golpe de Estado na chamada Cidade Modelo, a capital do país encantado que ela precisará desbravar.

O primeiro filme não passou despercebido: venceu seis candangos no 54º Festival de Brasília e foi finalista do 22º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. A obra surpreende ao retratar de forma lúdica a vida sertaneja, dando visibilidade e protagonismo à cultura popular e aos povos tradicionais do interior da Bahia.

Para o diretor Daniel Leite Almeida, a trilogia é um estudo sobre identidades. Se no primeiro filme Alice buscava compreender quem era no contexto coletivo, Alice Lembra se aprofunda na memória e na ancestralidade.

“A identidade coletiva não responde à totalidade daquilo que somos. Então, eu percebi que, além de sujeitos sociais e coletivos, nós somos sujeitos individuais, com as nossas subjetividades, e somos sujeitos carregados de memória e ancestralidade. Cada uma dessas identidades — a coletiva, a individual e a ancestral — estão intrinsecamente ligadas. E aí eu quis abordar isso em três filmes, de modo que cada um trouxesse enquanto tema central uma dessas três identidades, que, no caso de Alice Lembra, é a identidade ancestral”, explica o cineasta.

O clima nos bastidores é um misto de encantamento e aprendizado. Para muitos, é a primeira experiência em uma produção dessa magnitude. Figurinos teatrais e maquiagens elaboradas ajudam atores e figurantes a mergulhar no universo criativo do filme, que celebra e fortalece a história de um povo historicamente às margens da sociedade.

“É um jeito muito bonito de contar história, trazer essa referências que são tão importantes para quem é da região de uma forma mágica, né? Mística. Eu brinco que é uma coisa meio nordeste mágico. Então é muito bonito ver uma produção desse tamanho tomando forma com pessoas daqui”, compartilha a atriz Thainan Varges, que interpreta uma das formigas, que representam a classe operária no filme.

Terra natal do cineasta Glauber Rocha, Vitória da Conquista possui um setor audiovisual em expansão, mas ainda enfrenta desafios estruturais. A produção de Alice dos Anjos foi um marco, oferecendo oportunidades para profissionais locais e reafirmando o potencial da região.

Referências da cena artística regional também fazem parte do longa, como o compositor e maestro João Omar, responsável pela trilha sonora, ao lado do artista tupinambá Rômulo Guajupiá. Atores e atrizes locais como Ricardo Fraga, Dayse Maria e Neto Cajado, retornam aos seus personagens do primeiro filme da trilogia.

Muitos dos novos profissionais de cinema e audiovisual de Vitória da Conquista tiveram sua primeira experiência prática em um set de filmagem participando das produções da trilogia Alice. Essa vivência revelou não apenas os bastidores da criação cinematográfica, mas também o poder transformador de contar histórias locais. A obra inspira esses talentos a acreditarem no potencial de suas narrativas e no valor singular de sua cultura. Para a comunidade, é profundamente gratificante se ver representada na tela, reconhecendo suas tradições, lutas e belezas em produções que ultrapassam fronteiras e conquistam novos públicos.

Não perca a aula inaugural do curso IA: Novos Modos de Usar

Quer saber como uma festa de aniversário de Elon Musk acelerou a corrida da Inteligência Artificial e pode ter mudado os rumos da história da humanidade? Então assista à aula inaugural do curso IA: Novos Modos de Usar, apresentada por Pedro Doria. Uma aula histórica, que conta em detalhes o surgimento da OpenAI e a disputa de gigantes pelo mercado de inteligência artificial. Depois, se interessar, pode comprar o curso que vai ensinar você a utilizar a IA para turbinar sua criatividade e produtividade.

As imagens reinaram nos últimos dias, mas teve também cultura, comida e o grande hit deste Meio, o Ponto de Partida. Confira os mais clicados da semana:

1. Empire: Uma seleção das 20 melhores séries de 2024, para ir preparando a maratona de final de ano.

2. Globo: De esquilo preso a louva-a-deus dançarina, conheça os vencedores do concurso das fotos mais engraçadas da vida selvagem.

3. Nasa: Olhando pelo espaço, uma compilação das melhores imagens científicas feitas na Estação Espacial Internacional neste ano.

4.  Panelinha: Um úmido e perfumado lombo assado com tomate e ervas.

5.  Meio: No Ponto de Partida, Pedro Doria pergunta: quem será o próximo presidente?

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