STF dá tempo para políticos se mexerem

No início da tarde de ontem, a ministra Cármen Lúcia achou por bem adiar a análise do recurso em que o presidente Michel Temer pedia a suspensão do inquérito contra si. Os advogados de Temer queriam interromper a investigação até que houvesse perícia do áudio de sua conversa com o empresário Joesley Batista. A presidente do Supremo decidiu que não faria sentido o plenário se posicionar sem antes receber o laudo do Instituto Nacional de Criminalística. O inquérito segue, ao menos, até que uma perícia oficial ocorra. Na sequência, os advogados do presidente mudaram sua estratégia. Retiraram o pedido de suspensão. Oficialmente, o argumento da defesa é que o objetivo — que se fizesse uma perícia — foi alcançado. No entanto, o objetivo real era outro: interromper o inquérito ao menos por um tempo. (Globo)

É um xadrez delicado. Uma coisa é o plenário do STF definir que a investigação prossegue (ou não) sem o laudo da perícia. Uma decisão de prosseguir com base num relatório que valide a gravação, porém, teria o peso de uma condenação. Ou, como escreve Maiá Menezes, editora-adjunta de Política do Globo, “a análise do pedido do Planalto poderia significar para Temer a antecipação de uma sentença”.

O adiamento definido por Cármen Lúcia também dá tempo a todos. O pedido de suspensão feito por Temer punha o Supremo contra a parede. Os ministros seriam obrigados a tomar, na quarta-feira, uma decisão difícil. Caso suspendessem o inquérito, estariam dizendo que há dúvidas a respeito dos métodos de trabalho da Procuradoria-Geral da República, além de questionar um dos seus, Edson Fachin, que havia pedido a investigação. Caso decidissem prosseguir, imporiam risco ao mandato do presidente da República. É uma decisão delicada demais para ser tomada por um colegiado no qual os consensos não são fáceis de costurar. Como lembra Igor Gielow, diretor da sucursal de Brasília da Folha, também Temer ganha tempo para reconstruir sua base política.

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O perito Ricardo Molina, contratado pelos advogados de Temer, fez uma longa apresentação de sua análise inicial da gravação. “Há inúmeras descontinuidades, mascaramentos por ruído, longos trechos ininteligíveis ou de inteligibilidade duvidosa”, afirmou. Ele a considera “imprestável” como prova. Pressionado por um repórter, afirmou que o nível de ruído é tal que editar sem deixar rastros torna-se muito fácil. “O mais provável é a extração de trechos, porque isso é muito fácil.” Molina diz estar convencido de que houve manipulação, mas não é este seu argumento. É impossível provar a manipulação dada a baixa qualidade do áudio. E, por isso, ele deveria ser descartado num tribunal.

Claudio Lamachia, presidente da OAB: “Mesmo que o áudio tivesse alguma edição, as duas declarações públicas de Temer confirmam o teor do diálogo. E isso que é indiscutível. A decisão da OAB levou mais em consideração o fato de o presidente ter escutado tudo que escutou e não ter feito nada em relação a isso, do que propriamente o conteúdo integral.”

Míriam Leitão: “Em nome do ajuste fiscal e da desejada retomada do crescimento, é possível fingir que o Brasil não ouviu o que foi conversado no porão do Jaburu? Não. A economia não pode dominar a cena como uma ditadora diante da qual tudo tem que ser imolado. Principalmente os princípios.” (Globo)

A perícia do Instituto Nacional de Criminalística vai demorar. (Globo)

São conhecidos 38 minutos da gravação original. A afirmação é de Maurício Lima, editor da coluna Radar, da Veja: Joesley Batista teria retirado pelo menos um trecho no qual os dois falam de suas mulheres.

Temer publicou artigo no Estadão de hoje: “O que me é imputado? Receber um empresário à noite no Palácio do Jaburu? Todos os que me conhecem sabem que trabalho até altas horas da noite, além de acordar cedo. É normal o presidente da República receber grandes empresários. E o faz tal como recebe políticos, médicos, engenheiros, trabalhadores, e assim por diante. Não poderia saber de antemão que um empresário desse porte fosse um criminoso.” (Estadão)

Trecho da gravação entre Joesley e Temer: “Não te viram?”, pergunta o presidente. “Não, fui chegando, eles viram a placa do carro, abriram, eu entrei”, responde o empresário. Ao que o presidente comenta: “Melhor, então.

A cúpula do PSDB está em busca de um presidente que pudesse ser eleito pelo Congresso. Segundo a repórter decana Vera Rosa, os nomes da ministra Cármen Lúcia e do deputado Rodrigo Maia estão descartados. A juíza não é filiada a um partido, o que violaria as exigências legais mais rígidas. Maia é investigado na Lava Jato. Uma dificuldade na negociação é que seu principal aliado, o DEM, considera Maia o “candidato natural”. Os nomes de Fernando Henrique e de Tasso Jereissati encontram fiadores entre os tucanos. O do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também. A articulação entre PSDB e DEM é feita com muita cautela para não melindrar o PMDB. O que faz do ex-ministro Nelson Jobim — peemedebista — um candidato forte que poderia unir os três partidos. (Estadão)

Lydia Medeiros, outra das decanas do jornalismo político, tem apuração muito similar. Entre os articuladores que buscam um nome estão José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Romero Jucá e Renan Calheiros. Tasso Jereissati já se apresentou, pelo PSDB. E, Rodrigo Maia, pelo DEM. PMDB tem simpatia por Nelson Jobim e Gilmar Mendes. “Temer já teria concordado com a ideia”, ela segue, “e opções como indulto ou pedido de asilo foram discutidas nas últimas horas.” (Globo)

O nome de Jobim, aliás, é um dos favoritos também de Lula, informa Ricardo Noblat. O ex-presidente chega hoje a Brasília para trabalhar nesta articulação. (Globo)

Enquanto isso... o ministro Luís Roberto Barroso liberou para julgamento uma ação que envolve a briga entre eleições diretas e indiretas. (Folha)

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recorreu ao plenário do STF: quer a prisão preventiva do senador Aécio Neves e do deputado Rodrigo Rocha Loures. Argumenta que os dois foram pegos em “flagrante por crime inafiançável”. Aécio pedindo dinheiro, e Loures levando uma mala de dinheiro.

E, no Paraná, a Lava Jato denunciou Lula por corrupção e lavagem de dinheiro. Desta vez, referente ao sítio de Atibaia, no interior de São Paulo. A propina teria sido paga por Odebrecht e OAS. (Estadão)

Michel Temer:Ingenuidade. Fui ingênuo ao receber uma pessoa naquele momento.” (Folha)

Aécio Neves: “Lamento sinceramente minha ingenuidade — a que ponto chegamos, ter de lamentar a boa-fé! Não sabia que na minha frente estava um criminoso sem escrúpulos.” (Folha)

Ricardo Molina: “Aí a Procuradoria é ingênua, sim, e incompetente. Aquilo é coisa de leigo, de quem não sabe mexer em áudio. Se colocá-los na minha frente, eles vão começar a gaguejar.” (Globo)

Um risco: a Medida Provisória 763, que autorizou os saques das contas inativas do FGTS, expira em 1º de junho. Câmara e Senado precisam aprová-la. Se o voto não ocorrer até lá, quem nasceu entre setembro e novembro não poderá pegar o dinheiro. (Globo)

A Polícia Federal cumpre agora de manhã mandados de prisão contra os ex-governadores do Distrito Federal José Roberto Arruda e Agnelo Queiroz, além do ex-vice governador Tadeu Filippeli.

Viver

Um explosão, ontem, ao fim de um show da cantora pop Ariana Grande fez 22 mortos e pelo menos 50 feridos, em Manchester, na Inglaterra. A polícia trata o caso como atentado terrorista e suspeita que o autor seja um homem-bomba. Ouviu-se o estrondo às 22h35 (18h35 em Brasília), quando adolescentes e crianças, principal público da cantora, já deixavam a Manchester Arena. É o ataque mais mortal do Reino Unido em uma década

O G1 reúne imagens e depoimentos de quem viveu o horror em Manchester.

Um dia depois da megaoperação da polícia na cracolândia, no centro de São Paulo, João Doria mandou a Guarda Civil Metropolitana para as principais ruas da região: agora, quem por ali circula, passa por revista. O objetivo é controlar a volta de barracas, lonas e afins que serviam de abrigo para os usuários. Eles, por sua vez, se espalharam por ruas do entorno, como mostra esta galeria de fotos da região. (Folha e Estadão)

A vida dos dependentes, aliás, parece assunto menor para as autoridades. Doria, provável candidato à presidência, disputa o protagonismo da ação com o governador Geraldo Alckmin. Para Pedro Abramovay, diretor para a América Latina na Open Society Foundation, “o populismo imperou na ação na cracolândia”. Em post no Facebook, ele continua: “Certamente não importam as fotos, os vídeos, os depoimentos dos usuários. Aqueles que são excluídos entres os excluídos. Afinal, esses nunca importam.”

“Fui tratada como um lixo, um nada.” Vivian Muller, usuária de crack, teve a casa invadida pela polícia paulistana. Morava na cracolândia, numa pensão ilegal, que tem outros 40 quartos. Nem todos os moradores são usuários de drogas. Eles também relatam a truculência policial.

Após um dia de descanso, o Giro d'Italia, uma das três grandes voltas do ciclismo, entra hoje em sua última semana. O holandês Tom Dumoulin, especialista em provas contra o relógio, está liderando a competição. Agora, o pelotão vai atravessar os Alpes, com subidas duríssimas — especialidade do colombiano Nairo Quintana, que está 2'41" atrás do líder e venceu o Giro de 2014. A disputa termina na corrida festiva até Roma, no domingo. A ESPN transmite as provas a partir das 9h10.

Cultura

A volta de Twin Peaks, 26 anos depois da série original, foi observada com lupa pela crítica. A primeira, afinal, foi um sucesso retumbante. Pois sua continuação, a julgar pelas avaliações, pode repetir o feito. No Rotten Tomatoes, que compila críticas profissionais de todo o mundo, a nova Twin Peaks teve aprovação de 88%. O New York Times está entre os que gostaram - definiu-a como “potencialmente viciante”. O Globo reuniu e traduziu trechos de algumas críticas positivas

Mas... há olhares menos entusiasmados. Embora aprove a sequência, o crítico do Guardian, por exemplo, diz que é inquietante ver a série agora, depois de tantos anos desde a original e, também, depois de tantos “imitadores” dela, como Lost. “Como fazer Twin Peaks quando o mundo inteiro já está fazendo Twin Peaks?”, pergunta. A resposta, segundo ele, está num nome: David Lynch, o genial cineasta criador da série original e diretor da nova temporada.

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Num contexto em que os cinemas priorizam blockbusters, a Netflix surge como alternativa para os filmes independentes. O serviço de streaming tem os ingredientes para tal: além de dinheiro, conta com audiência e espaço livre para a segmentação. Também não trabalha com pressa - se os cinemas tiram de cartaz os filmes que não fazem público já nas primeiras semanas, a Netflix os mantém em seu catálogo, e os usuários descobrem as produções aos poucos, ao longo do tempo.

Cotidiano Digital

O software de inteligência artificial AlphaGo, da Google, e o maior jogador chinês de Go, Ke Jie, começaram uma série de três partidas para definir quem vence. O jogo milenar de estratégia, considerado mais complexo do que xadrez, era considerado a última fronteira em partidas de humanos contra computador. AlphaGo, porém, vem derrotando seus adversários. Faltava o maior do mundo. Na primeira, realizada durante a madrugada, Ke perdeu. As próximas ocorrerão nos dias 25 e 27 e serão transmitidas ao vivo em vídeo ou pelo Twitter.

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