… E Temer escolheu a outra

Num dia já carregado de acontecimentos, o presidente Michel Temer surpreendeu a todos com o anúncio, no início da noite, da sucessora de Rodrigo Janot. “O presidente escolheu a subprocuradora-geral da República, dra. Raquel Elias Dodge” disse, no Planalto, o porta-voz Alexandre Parola, gastando exatos 22 segundos no anúncio. Entrou, disse, depois saiu. Pela primeira vez desde a implantação da lista tríplice, o palácio não indicou o primeiro lugar. Mas Dodge estava na lista — era a segunda.

Dodge terá um desafio principal, lembra na Folha o diretor da sucursal de Brasília Leandro Colon. Há quem a veja, nos bastidores, como próxima do ex-presidente José Sarney e do ministro Gilmar Mendes, do Supremo. Ela, afinal, foi escolhida para interromper o trabalho da procuradoria-geral na Lava Jato ou seguirá o rumo? No Globo, Míriam Leitão lembra que a subprocuradora é reconhecida pelo trabalho de combate à corrupção, o que inclui os processos que levaram à cadeia o então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda.

Na noite de terça-feira, sem que constasse na agenda oficial como exige a lei, Temer se encontrou com Gilmar Mendes. Quando questionado, o Planalto informou que os dois, mais Moreira Franco e Eliseu Padilha, conversaram sobre a reforma política durante o jantar. Mais de uma fonte, porém, sugere que a sucessão de Janot também estava na pauta.

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Dez ministros do Supremo votaram por manter Edson Fachin como relator do caso que envolve a delação de executivos da JBS. A sessão será retomada hoje e falta apenas o voto da presidente Cármen Lúcia. Os ministros definiram também, por placar de 9 a 1, que é o relator de cada processo quem tem autoridade para homologar os acordos de delação premiada.

Gilmar Mendes, o único voto contrário, argumenta que um acordo de delação premiada, ainda mais quando se chega ao perdão de réu confesso, tem de ser homologado pelo plenário pois no perdão já há um julgamento final. Falou por duas horas e meia. Ele diz, também, que é preciso analisar com cautela e ter certeza de que a delação é voluntária — as homologações, reclama, estão sendo feitas com rapidez excessiva. Para além do argumento, porém, atacou o procurador-geral da República Rodrigo Janot e a Força Tarefa da Lava Jato, em Curitiba. Ele diz que o Supremo nunca se debruçou sobre os critérios dos acordos e eles terminaram por ser estabelecidos na corte de Sérgio Moro — “criou-se um direito penal de Curitiba”. Para o ministro, o sistema das delações “expõe de forma excessiva a honra dos delatados”. (Jota)

Não ficou sem resposta. Na sequência, o decado da Corte, Celso de Mello, defendeu Janot. “É preciso não desconsiderar nem desconhecer as lições da História e reconhecer que um Ministério Público independente constitui a certeza e a garantia da intangibilidade dos direitos do cidadão, da ampliação do espaço as liberdades fundamentais e da supremacia do interesse social”, disse. E aí ressaltou: “especialmente num país como o nosso, em que se evidenciam relações conflituosas que tendem a patrimonializar a coisa pública.”

O ministro Edson Fachin decidiu encaminhar diretamente à Câmara a denúncia da PGR contra Temer. Pedir a opinião dos advogados de defesa antes de o processo ser autorizado pelos deputados, considerou, seria indevido. Antes de se defender juridicamente, o presidente tem de ter a oportunidade de se defender no campo político — portanto, no Parlamento. É uma pequena vitória para o Planalto, que pretende acelerar ao máximo o trâmite na Câmara.

Cármen Lúcia: “No Brasil, todo mundo é republicano e a favor da República desde que o instrumento seja aplicado ao outro. Todo mundo é a favor do concurso público desde que seja para o outro fazer. Todo mundo é a favor da licitação desde que para outra empresa. Já passou muito da hora de o Brasil se tornar uma verdadeira República”. (Estadão)

Luís Roberto Barroso: “O que estamos fazendo é um Estado democrático de direito lutando contra uma república de bananas, que varria tudo para baixo do tapete e chancelava um pavoroso pacto oligárquico que havia no Brasil entre agentes políticos, agentes econômicos e a burocracia. É esse pacto oligárquico que o Judiciário está tentando quebrar, até porque quem se anunciou politicamente como titular para quebrar esse pacto oligárquico se aliou a ele e o aprofundou.” (Estadão)

E, no Senado, Renan Calheiros discursou renunciando à liderança do PMDB. “Não detesto Michel Temer”, falou, “não tolero a sua postura covarde diante do desmonte da CLT.”

A reforma trabalhista passou pela Comissão de Constituição e Justiça sem modificações e vai ao plenário para que os senadores a aprovem ou não. (Folha)

A Polícia Federal parou de emitir passaportes. Continuará recebendo a documentação e encaminhando o processo de todos que marcarem, mas o documento só sai quando o governo federal liberar nova verba. Delegados temem que se trate de um prenúncio de outros cortes no orçamento da instituição por decisão do Planalto, em retaliação branca às investigações.

Mas... O Planalto já acena com crédito suplementar de R$ 102,4 milhões para retomar a emissão nos próximos dias. (Globo)

Enquanto isso... A turma das redes sociais do Planalto jogou no Twitter: “Com a melhora no ambiente econômico, os brasileiros voltaram a ter interesse em viajar ao exterior.” Pois é. (Globo)

Centrais sindicais convocam uma paralisação para amanhã, dia 30, contra as reformas Trabalhista e da Previdência, além do governo Temer. A conversa, nas redes, sugere um movimento de baixo impacto. Em São Paulo, por enquanto, metroviários e bancários aderiram — e só. No Rio, por enquanto, há indícios apenas em algumas escolas particulares.

Um rapaz de 18 anos morreu atingido por dois disparos após uma manifestação, na Venezuela. É a 78ª vítima desde o início dos protestos contra o governo Maduro. (Estadão)

A Suprema Corte do país tirou poderes da procuradora-geral da República Luisa Ortega. Ela afirma que a Venezuela vive um estado de ruptura constitucional. Na terça, um helicóptero da polícia disparou granadas contra o Supremo. O piloto, Óscar Pérez, afirmou em vídeos representar uma coalizão de policiais e militares que se põem contra o governo. Ele está sendo procurado. (Globo)

Cultura

Não durou sequer dia — ou melhor: durou menos de uma hora. Os ingressos da Flip, que começaram a ser vendidos ontem, já estão quase todos esgotados, informa o Globo. O maior festival literário do país ainda vai liberar mais um lote de entradas nos próximos dias. Mas não são muitas, posto que a edição deste ano encolheu e tem menos cadeiras para os espectadores.

Conheça o mais novo artista do mercado de artes visuais: Kurt Cobain — sim, o líder do Nirvana. Ele também pintava. O New York Times conta sobre a chegada de sua obra plástica a uma feira de arte.

Quem vê as muitas guitarras Les Paul, Fender e tantos outras feitas sob medida na Feira da Associação Nacional dos Comerciantes de Música (Namm) poderia supor que as coisas vão bem no negócio. “Há mais fabricantes hoje do que em qualquer momento na história, mas o mercado não está crescendo”, conta George Gruhn. O comerciante de 71 anos vendeu guitarras para Eric Clapton, Neil Young, Paul McCartney e Taylor Swift. Nos últimos dez anos, a venda do instrumento caiu 30%, nos EUA. (Folha)

Kleber Mendonça Filho, Rodrigo Santoro, Karim Aïnouz, Cacá Diegues e outros brasileiros  estão entre os novos membros da Academia do Oscar. A instituição anunciou ontem sua nova composição, com 774 pessoas. Do total, 39% são mulheres e 30% são negros.

 

De Barbara Gancia sobre Leonilson, artista que morreu em 1993 e que só agora tem sua obra reunida em um livro de mais de mil páginas: “Quando estava internado em fase terminal, o Leo me enviava suas ilustrações [para a coluna dela, na Folha]  do hospital, invariavelmente, toda quarta-feira. Não houve semana em que falhasse. Ele pedia suas canetas de nanquim e, da cama, improvisava uma ilustração. Conseguiu cumprir a rotina até as últimas duas semanas de vida”.

R2-D2, o robô lendário de Star Wars, foi leiloado na Califórnia. Saiu por US$ 2,76 milhões, ou cerca de R$ 9 milhões. O exemplar é feito de partes do que foi usado na trilogia original de Star Wars,  Uma Nova Esperança, O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi.

Viver

O documento final da Conferência Americana de Prefeitos, que ocorreu em Miami e reuniu os mandatários de 1.481 cidades dos EUA, prevê que os governos locais continuarão a cortar as emissões e carbono como se Trump não tivesse deixado o Acordo de Paris. Dentre todos, 100 dos prefeitos assinaram um compromisso mais arrojado, com o objetivo de cortar por completo o uso de combustíveis fósseis pela máquina pública até 2035. Se tudo for seguido, os EUA terminarão por fazer cortes maiores do que os exigidos pelo acordo global.

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Um pacote de manuais internos para moderação de posts do Facebook, analisados pela ong jornalística Pro Publica, revela um aspecto tendencioso. Ataques a categorias muito gerais de pessoas são considerados discurso de ódio e, portanto, devem ser apagados. É o caso de etnia — ‘pessoas brancas’ —, sexualidade, nacionalidade. Mas, se for mais específico — contra ‘muçulmanos radicais’, por exemplo —, os ataques são considerados exercícios de liberdade de expressão. Na aplicação fria do manual, agressão a crianças negras pode, mas a heterossexuais brancos, não.

O Ministério da Justiça vai investigar a venda de spinners no Brasil. Os brinquedos, em geral importados da China, explodiram num repentino sucesso entre crianças. E não têm certificação do Inmetro.

O goleiro chileno Claudio Bravo agarrou três pênaltis seguidos nas cobranças após um empate por 0 a 0, eliminou o campeão europeu Portugual, e levando o Chile à final da Copa das Confederações contra o vencedor de Alemanhã e México, que ocorre hoje às 15h (horário de Brasília). Cristiano Ronaldo não chegou a bater o seu. Veja o feito de Bravo em vídeo.

Cotidiano Digital

O MIT está fazendo experiências com microdrones munidos de rodas. É o início do desenvolvimento da tecnologia para carros voadores. O sistema de inteligência artificial detecta qual o caminho mais eficiente, se pela rua, se pelo ar — e o pega. A expectativa é de que, no momento em que os carros voadores começarem a aparecer, cidades regulamentarão regiões de tráfego aéreo proibido.

A Suprema Corte do Canadá ordenou que o Google retirasse de sua busca referências aos produtos de uma empresa do país acusada de piratear a mercadoria de outra. Mas a ordem não abrange apenas o território canadense e, sim, o mundo todo. Grupos ligados a liberdade de expressão temem que este caso inspire ordens de censura globais por outras cortes no mundo.

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