Após os tiros disparados contra a caravana do ex-presidente Lula, o clima fechou ainda mais — nas redes e no país. Muitos leitores vêm nos cobrando posicionamento por um dos flancos políticos. Não é nosso papel. Ontem, a internet passou o dia especulando sobre as origens dos tiros. O Meio não reproduzirá o que não passam de chutes de redes sociais. Nem agora, muito menos na campanha que promete ser tensa.

Isto posto: a uma semana tensa segue o breve descanso da Páscoa e do Pessach. Cá este Meio não circulará na sexta-feira. Voltamos segunda. Até lá, boa Páscoa, e chag sameach.

— Os editores.

Sob pressão, polícia busca ao menos dois por ataque a caravana do PT

Segundo a Polícia Civil do Paraná, dois dos três ônibus da caravana do ex-presidente Lula receberam tiros. O que estava mais atrás foi alvejado duas vezes no lado esquerdo e, o do meio, uma, no flanco direito. Os disparos, ainda segundo a polícia, parecem ter sido feitos por duas armas diferentes, ambas de baixo calibre. Por isso, e porque estavam em lados diferentes da estrada, a hipótese inicial é de que havia ao menos dois envolvidos no atentado. Uma quarta marca, no vidro do último ônibus, provavelmente foi feita por pedra. Os dois ônibus tiveram também pneus furados por ganchos pontiagudos postos ao longo da estrada. Lula estava na caravana, justamente no ônibus que saiu ileso. Um laudo oficial ficará pronto nos próximos dias. (Folha)

O primeiro delegado responsável pela investigação foi Wilkison Fabiano de Arruda, de Laranjeiras do Sul. “Se há disparo de arma de fogo em direção a diversas pessoas, isto será considerado tentativa de homicídio”, declarou. Arruda foi substituído pelo também delegado Hélder Lauria, quando duas equipes do COPE, de operações especiais, vieram de Curitiba. As investigações, agora, se concentram em disparo de arma de fogo com dano provocado. O procurador Olympio Sotto Maior também fala em tentativa de homicídio.

A Polícia Rodoviária Federal acompanhava os ônibus e preparou um relatório no qual afirma que nada anormal foi percebido durante o trajeto. O documento, porém, estranhamente não menciona o instante no qual os veículos pararam para constatar tanto os pneus furados quanto as marcas de tiro.

De acordo com Vera Magalhães, deputados e senadores petistas passaram o dia em linha direta com o ministro da Segurança, Raul Jungmann. No Planalto, informa Andréia Sadi, o presidente Michel Temer recebeu (discretamente) o ex-ministro Gilberto Carvalho, emissário de Lula. O PT deseja que a investigação seja assumida pela Polícia Federal. Mas o governo não quer.

De bate-pronto, ainda na terça, Geraldo Alckmin afirmou que o PT colhia o que plantara. Ontem, voltou atrás. “Toda forma de violência tem que ser condenada. É papel de homens públicos pregar a paz e a união entre os brasileiros”, escreveu no Twitter.

Jair Bolsonaro: “É tudo mentira. Está na cara que alguém deles deu os tiros. A perícia deverá ficar pronta entre hoje (ontem) e amanhã (hoje) e vai apontar a verdade.” (Estadão)

Clóvis Rossi: “Os tiros contra a caravana Lula são o ápice da selvageria que se foi instalando no Brasil. A principal vítima é o diálogo, instrumento indispensável para se fazer política, para adotar medidas que tenham um mínimo de consenso. A transformação da política em guerra tribal, entre ‘coxinhas‘ e ‘mortadelas‘, acabou com a conversa. Não se trata mais de argumentar com os adversários, mas de xingá-los — e os apelidos dados mostram o nível indigente da guerra. O que muda a guerra de patamar é o tiro. Entre xingar o ‘inimigo’ e disparar contra ele há um abismo que deveria ser intransponível. Se foi transposto agora é porque o Brasil resvala ainda mais para a barbárie — e o que está havendo no Rio é, aliás, muito mais representativo do estágio de degradação do país. Descobrir quem deu os tiros talvez seja possível. Digo talvez porque o assassinato da vereadora Marielle Franco chega à segunda semana sem que os culpados tenham sido apontados. O impossível, no entanto, é descobrir os culpados pelo assassinato do diálogo. São tantos — e estão sempre do lado contrário ao que cada tribo defende — que não parece ter mais jeito.” (Folha)

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Editorial do Globo: “Tiros na caravana de Lula no Sul e ameaças à família do ministro Edson Fachin, relator na Corte de processos da Lava-Jato, são atos repulsivos, antidemocráticos. Protestar é parte do jogo democrático. Jogar pedras, um crime. Atirar, ameaçar de violência extrema, inaceitável. Precisam, por óbvio, de rápida e incisiva investigação. O Brasil tem passado por campanhas disputadas, mas dentro dos marcos legais. Inaceitável será que haja algum acidente nesta trajetória, por descaso da sociedade e do próprio Estado.”

Editorial do Estadão: “Nada justifica o ataque com paus, pedras, chicotes e tiros contra um grupo político antagonista. Considerar que a violência contra Lula seja uma consequência natural – e, portanto, aceitável – do discurso belicoso do chefão petista, como se este fizesse por merecer as agressões por ter dividido o país entre ‘nós’ e ‘eles’, é dar um passo decisivo para o terreno do vale-tudo, que nada tem a ver com democracia.”

Editorial da Folha: “Não se pode descartar a hipótese de que os promotores do ataque à caravana tenham se sentido legitimados pelo clima crescente de intolerância e agressividade. Este, por sua vez, é um subproduto nefasto do descrédito de expressiva parcela dos líderes políticos, que não raro contamina a imagem da própria política e das instituições. Para tal ambiente contribuem ainda a propagação de fake news e a demonização militante de adversários, que grassa sem contraditório por meio das redes sociais. Impõe-se imediata e rigorosa investigação para encontrar e punir os responsáveis por esse ataque.”

José Antonio Dias Toffoli, ministro do Supremo, liberou da cadeia o deputado afastado Paulo Maluf, de 86 anos. Ficará em prisão domiciliar. A decisão ocorreu após Maluf ser internado para uma ressonância que indicou compressão de nervos da coluna. “Prisão domiciliar humanitária”, explicou. E, assim, cassou sozinho a decisão anterior de um par seu no STF, Edson Facchin. A mudança de regime veio um dia após Toffoli enviar para casa Jorge Picciani, o presidente afastado da Assembleia do Rio. Também por razões médicas. O ex-governador paulista, condenado a 7 anos, 9 meses e 10 dias de prisão por lavagem de dinheiro, estava preso desde 22 de dezembro. O pleno da corte terá de se reunir para determinar a solução final.

Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato no MPF: “O ciclo da impunidade da corrupção. Difícil descobrir. Descoberta, difícil prová-la. Provada, difícil que o processo não seja anulado. Não anulado, demora mais de década e prescreve. Não prescrita, a pena é baixa e é indultada no Natal. Se sobra alguma pena e é aplicada a poderoso, ele adoece e vai para casa. No caso Maluf, vemos o ciclo completo, como no do ex-juiz Lalau.”

No final do ano, Toffoli se tornará presidente do Supremo. Suas ações nas últimas 24 horas estão sendo lidas como um prenúncio da gestão. (Folha)

Eduardo Guardia será o novo ministro da Fazenda. O atual secretário executivo da pasta foi indicado por Meirelles, mas enfrentava resistências no Congresso. Teria pouco ‘jogo de cintura político’. A escolha, no entanto, fez parte de um acordo do presidente Michel Temer com Meirelles para que o ministro se filiasse ao MDB. (Estadão)

E por falar... A verdade ainda importa? Um vídeo. via Pioneiros

Está marcado para 27 de abril um encontro entre o presidente sul-coreano Moon Jae-in e o ditador norte-coreano, Kim Jong-un. Eles conversarão na Zona Desmilitarizada entre os dois países. Na terça, Kim esteve na China, onde conversou com o presidente Xi Jinping — sua primeira visita de Estado.

Cultura

Uma mescla de realidade e ficção, Era o Hotel Cambridge (trailer), de Eliane Caffé, levou o Prêmio Bravo! de melhor filme, entregue na noite de terça-feira. O rapper Rincon Sapiência recebeu das mãos de Tom Zé o título de Melhor Disco, por Galanga Livre (Spotify), enquanto o Grupo Corpo venceu o Melhor Espetáculo de Dança com Gira. Foram premiados ainda a Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, como Melhor Evento Cultural, e o Sesc São Paulo como Melhor Programação Cultural. Veja outros ganhadores.

Tem Steven Spielberg novo na praça. Jogador nº 1 (trailer) se passa num futuro distópico, em 2044, quando a humanidade prefere a realidade virtual de um jogo ao mundo real. O embalo do feriado traz também um novo Disney. Em Uma Dobra no Tempo (trailer), dois irmãos decidem reencontrar o pai, um cientista que trabalha para o governo e está desaparecido desde que se envolveu em um misterioso projeto. E a principal estreia brasileiras é Nada a perder — Contra tudo. Por todos (trailer), hagiografia do bispo evangélico Edir Macedo, empresário fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e proprietário da TV Record, que chega aos cinemas. Veja outras estreias.

Viver

No ano passado, três engenheiras de software apresentaram uma ação de classe contra a Uber alegando que o sistema de remuneração e promoção da empresa favorecia funcionários homens e brancos. Elas representaram 420 funcionários que se identificaram como mulheres ou negros. Agora, além de um acordo financeiro de US$ 10 milhões, a empresa também concordou em divulgar regularmente métricas de diversidade — o primeiro e único relatório da companhia foi publicado no ano passado. Um juiz precisará aceitar os termos do acordo.

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A Nasa adiou mais uma vez o lançamento do Telescópio Espacial James Webb (JWST), o sucessor do Hubble. A expectativa agora é de que ele esteja pronto para ir ao espaço em maio de 2020 — o lançamento há havia sido adiado em 2017. É o telescópio mais complexo da agência espacial. (Folha)

No Brasil, a principal fonte de energia são as hidrelétricas. Na França, as usinas nucleares. Na Índia, o carvão. O Nexo mostra, em gráficos, como cada país gera sua energia.

Cotidiano Digital

O domínio .br é o sétimo colocado entre os identificadores de países da internet. Mas está perdendo espaço. Ao fim de 2017, havia 3,9 milhões de sites com a terminação brasileira. Ou seja: crescimento nulo em relação ao ano anterior. 0,18%. O .cn chinês, primeiro em número, cresceu 1,42%. O .de alemão, 1,24%. O término brasileiro sofre com a economia ruim, a nova concorrência de domínios genéricos como o .xyz e, claro, a decisão de muitas pequenas empresas que abrem páginas no Facebook ao invés de criar sites. (Valor)

Enquanto o Congresso americano se preocupa com o Facebook, o presidente Donald Trump tem outro foco. A Amazon. Jeff Bezos, o fundador e CEO, é também dono do Washington Post, jornal crítico a Trump. E daí nasce o ódio. Não é só. Trump vem do mercado imobiliário, e a Amazon prejudica diretamente os shoppings horizontais comuns em todo o país — muitos deles, fechando. Segundo o Axios, do Salão Oval ele cogita a possibilidade de um processo antitruste. E só o anúncio desta obsessão provocou uma queda de 5% nas ações da companhia de e-commerce, ou US$ 30 bilhões do seu valor de mercado.

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