Justiça beneficia Alckmin afastando denúncias

Já se aproximava do fim da tarde, na sexta-feira, quando o ministro Gilmar Mendes determinou a soltura de Paulo Vieira de Souza, acusado de ser o principal operador do caixa dois tucano em São Paulo. O ex-diretor da Dersa, empresa pública de infraestrutura rodoviária, estava preso desde 6 de abril, a pedido do Ministério Público, que localizou R$ 113 milhões em quatro contas de Paulo Preto, na Suíça. O MP pedira a prisão por conta de Paulo ter ameaçado uma outra ré, quando em liberdade. Para Gilmar, a medida não se justifica — as ameaças teriam ocorrido em 2015 e 16, com o objetivo de impedir o depoimento da mulher. Como ela já havia deposto, porém, a razão se extinguiu, seguiu o raciocínio do ministro. De acordo com Gerson Camarotti, há uma discreta celebração na cúpula do PSDB. “Ele podia causar um estrago no partido”, comentou um integrante da Executiva. Embora os mais ameaçados fossem o senador José Serra e o ministro Aloysio Nunes, havia motivos para crer que uma delação de Paulo atingisse também Geraldo Alckmin, que é candidato à presidência. Não escapou a Gilmar. “Aparentemente”, escreveu, “A fundamentação da prisão não revela os reais propósitos da medida. É particularmente preocupante a utilização da prisão preventiva como forma de forçar a confissão ou a colaboração do imputado.”

Bruno Boghossian: “Paulo Preto completara um mês no presídio de Tremembé e passou a dizer a interlocutores que estudava um acordo de delação premiada. Com o avanço de investigações sobre contas encontradas na Suíça, ele ameaçava colaborar com as apurações de desvios em governos do PSDB. Mas a caneta de Gilmar Mendes deu ao engenheiro mais tempo para pensar. Ainda que não haja favorecimento, os tucanos ganharam um desconto na entrada de uma eleição que será difícil para o partido.” (Folha)

Bernardo Mello Franco: “A canetada do supremo ministro é a terceira camada de blindagem aplicada ao presidenciável em 30 dias. No mês passado, a Procuradoria-Geral da República livrou o tucano da Justiça Criminal. Na quarta-feira, o procurador-geral de São Paulo, Gianpaolo Smanio, retirou outro inquérito do gabinete de um subordinado. Estranhamente, alegou que Alckmin teria foro privilegiado, embora ele não seja mais governador.” (Globo)

Em abril, ladrões invadiram uma casa de Paulo Preto em Campos do Jordão. Levaram dois cofres fechados, segundo o boletim de ocorrência, além de R$ 7,3 mil, joias, relógios, três aparelhos de TV e um faqueiro de prata. Segundo o caseiro, os homens ameaçaram matar Paulo dentro da cadeia caso a ocorrência fosse registrada. (Estadão)

Aliás... Segundo a revista digital Crusoé, o Instituto Brasiliense de Direito Público, IDP, recebeu R$ 7 milhões em doações desde 2011, dos quais R$ 3,46 milhões de forma oculta. Um bom naco deste dinheiro, R$ 2,6 milhões, veio da Souza Cruz que patrocinou eventos mas, curiosamente, preferiu não aparecer como patrocinadora. Um dos proprietários do IDP é Gilmar Mendes.

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O filho de Vladimir Herzog, jornalista assassinado na Ditadura, Ivo Herzog, enviou carta ao ministério das Relações Exteriores. Pede que o Brasil requeira aos EUA a ‘liberação completa’ dos registros da CIA sobre operações de tortura e assassinatos pelo Regime Militar. O pedido vem após a descoberta, pelo professor Matias Spektor, de um relatório no qual o diretor da CIA conta que o general-presidente Ernest Geisel determinou que a decisão de executar ou não presos nas mãos do CIE, Centro de Inteligência do Exército, deveria ser tomada no Palácio do Planalto. Segundo levantamento do G1, 81 pessoas morreram ou desapareceram após 1º de abril de 1974, a data do documento.

Elio Gaspari: “A metodologia narrada pelo serviço americano foi seguida no extermínio da direção do PCB. Antes de 1974 os comunistas eram perseguidos ou presos, mas não eram assassinados. Em abril, três dirigentes comunistas haviam sido capturados e mortos pelo CIE. No ano seguinte, outros sete. Com a destruição das siglas metidas em terrorismo, o CIE neutralizou a única organização esquerdista que agia na esfera política. À falta de dirigentes, em 1975 a ‘tigrada’ continuou matando militantes em sessões de tortura. A ideia de controlar o CIE colocando-o sob a supervisão do Planalto simplesmente não funcionou.” (Globo ou Folha)

Míriam Leitão: “Havia duas ilusões sobre o general Ernesto Geisel. A de que ele foi bom na economia pelos planos de desenvolvimento. E a de que enfrentou a linha dura e teria sido surpreendido por mortes que aconteceram até dentro dos quarteis do Exército. Sobre o segundo mito, o professor Spektor jogou a última pá de cal. Ernesto Geisel fez parte da linha de comando que matou Herzog e tantos outros durante o seu governo. Nos tempos de hoje há falas enviesadas de generais, inclusive do comandante do Exército. Há um pacto entre os militares da reserva e os comandantes da ativa na defesa da narrativa dos supostos méritos da ditadura. Se existe o pacto é porque dentro das Forças Armadas jamais foi feita autocrítica. A democracia comporta visões diferentes, e por isso nada há de errado em ser de direita. É possível ser conservador e democrático. O problema é que está sendo estimulada a direita que defende a ditadura e seus crimes. A esquerda brasileira sempre teve a vertente que gosta do projeto econômico dos militares. A esquerda acaba de repetir, no poder, alguns desses erros, como as doações de recursos públicos para empresários, supondo que eles liderariam o desenvolvimento nacional. Foi assim nos governos Médici e Geisel, foi assim nos governos Lula e Dilma. Do mito econômico a esquerda deveria se livrar rendendo-se aos muitos fatos e dados. O mito de que o general Geisel foi um ditador melhor do que os outros acaba de ruir. Tarda demais o momento de abandonar ilusões autoritárias. Não existem matizes e nuances em um governo ditatorial. Ele nunca é meio bom. Ele é o que é: o pior que pode acontecer a um país.” (Globo)

Começa amanhã, oficialmente, o prazo autorizado pelo TSE para que as campanhas coletem oficialmente dinheiro por vaquinhas online. Ainda assim, crowdfunding já vem acontecendo em nome dos candidatos, mas promovido por terceiros. A brecha na legislação o permite. Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes e Manuela D’Ávila estão entre os que se beneficiaram desta fonte de recursos. O dinheiro oficial pode ser arrecadado, mas só será gasto a partir de 15 de agosto, quando tem início a campanha de fato. (E, assim, o TSE finge que a campanha não está em curso. Como aliás deve mesmo ser, pelo movimento natural da democracia.) (Estadão)

Não é só na eleição presidencial que os outsiders ficaram de fora. Apesar do desgaste dos políticos tradicionais, nomes novos mal aparecem entre os candidatos aos governos estaduais. Pelo contrário: estão lá os Barbalho (Pará), Sarney (Maranhão), Calheiros (Alagoas) — incluindo até disputas em família, de Coelho contra Arraes, em Pernambuco. (Globo)

Cotidiano Digital

Através de um tweet confuso, o presidente americano Donald Trump anunciou que pretende ajudar a companhia chinesa ZTE, que encerrou suas atividades na semana passada. “O presidente Xi e eu estamos trabalhando juntos para trazer de volta a ZTE”, escreveu Trump. “São empregos demais perdidos na China.” O comentário solto vem em meio a contínuas críticas do americano à China por competição desleal e práticas que, de acordo com a Casa Branca, custam empregos aos americanos. E é justamente esta política que levou à crise súbita que praticamente matou a ZTE. O tweet é uma virada radical, sem ainda motivo claro, no discurso. O teor das conversas entre os governos dos dois países a respeito da crise é desconhecido.

Terceira maior fabricante de equipamentos pesados de telecomunicações no mundo, assim como número quatro em venda de aparelhos celulares nos EUA, a ZTE encerrou suas atividades para entrar num período de dormência. A Casa Branca proibiu empresas americanas de exportarem para a chinesa equipamento ou software. Sem chips Qualcomm ou equipamento de áudio da Dolby, a produção se tornou inviável. A companhia chinesa teria vendido seus produtos para Coreia do Norte e Irã, e como dentro destes produtos há tecnologia americana, tratados foram violados. Motivo específico à parte, Trump tem criticado e agido pessoalmente há meses contra companhias de tecnologia chinesas, em particular a ZTE e a Huawei.

A IBM proibiu o uso de dispositivos como flash drives USB e outros cartões de memória. A avaliação da equipe de segurança é que os riscos de perda e a partir daí vazamentos de informação são grandes demais e poderiam custar alto à companhia. Transferência de dados só online. via Pioneiros

Cultura

Poderia um aumento nos downloads de músicas da Taylor Swift ou um declínio na popularidade dos Beatles ser relevante para o gerenciamento da economia? O economista-chefe do banco central britânico, Andy Haldane, acredita que sim. Um estudo de pesquisadores da Claremont Graduate University, que se basearam na lista das 100 mais ouvidas mês a mês de 2008 para cá, mostra que tanto no ritmo das músicas quanto na carga positiva ou negativa das letras há a sugestão de padrões emocionais que se relacionam diretamente com a percepção da economia. Pois é: os dados de plataformas como o Spotify podem ajudar economistas a medirem o sentimento econômico dos consumidores.

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Em pouco mais de 24 horas, as grandes redes americanas anunciaram o cancelamento de 20 séries de sua programação. Os fãs e realizadores de Lucifer, cancelada pela Fox, já iniciaram uma campanha pedindo que ela volte por alguma outra rede ou plataforma digital.

Desde o ano passado, com movimentos como o #MeToo, a indústria do entretenimento se viu diante de debates importantes sobre assédio sexual, equidade salarial e representatividade. Mas em uma parte da indústria cinematográfica uma revolução já havia se iniciado: a da pornografia. Cada vez mais empoderadas sobre seus corpos, as mulheres estão procurando conteúdos que tenham o prazer feminino como protagonista. E uma nova geração de produtoras e diretoras está pronta para satisfazê-las. (Globo)

Viver

Uma revisão geral de estudos que compilou as melhores e mais recentes informações sobre uso de drogas, lícitas ou ilícitas, e suas consequências mostrou que o álcool e o tabaco são as substâncias viciantes que representam de longe o maior fardo à saúde pública global. Muito mais do que todas as drogas ilícitas, como maconha, cocaína, heroína e outros opioides, juntas. (Globo)

No aniversário de 130 anos da abolição formal do regime escravista, o Nexo preparou um especial com dados e ensaios sobre a desigualdade racial nas diferentes etapas da vida do brasileiro, da primeira infância à velhice. No que diz respeito a mortalidade infantil, por exemplo, os números mostram que quando a causa da morte é evitável — em razão de deficiência no acompanhamento da gestação ou de atenção médica durante o parto —, o índice entre pretos e pardos é maior em relação a brancos. Já no mercado de trabalho, em todos os estados brasileiros as pessoas brancas têm rendimento médio superior ao de pessoas negras.

Galeria: Em fotos, o que está no cardápio de hospitais ao redor do mundo.

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