Meio

Nos bastidores daquele domingo tumultuado em que Lula quase foi liberto, partiu do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, a orientação que impediu a soltura. Responsável pela Polícia Federal, o ministro conversou com o presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Thompson Flores, que lhe recomendou que não libertasse Lula. Como sabia que uma ordem judicial para derrubar o habeas corpus do plantonista estava a caminho, Jungmann repassou à Superintendência de Curitiba o comando. (Valor)

O deputado petista Paulo Pimenta confirmou que decidiu submeter o habeas corpus de Lula ao TRF-4 quando foi informado, no início da semana passada, de que teria um ex-companheiro de partido no comando do tribunal no fim de semana. (Folha)

Bruno Boghossian: “Enquanto magistrados guerreavam em praça pública, a chefe do Judiciário se limitou a agitar, de longe, uma tímida bandeira branca. Cármen Lúcia se esquivou do papel de comandante no momento em que o país exigia disciplina de seus juízes para contornar uma sucessão de decisões desajuizadas. Afinal, quem tinha razão na história? O desembargador que aproveitou um plantão para mandar soltar o ex-presidente Lula, o juiz de primeira instância que se negou a cumprir esta ordem ou o relator que retomou a relatoria do caso, atropelando o primeiro personagem? Não pergunte à presidente do STF. Cármen levou sete horas para emitir uma nota que nada dizia. A chefe do Judiciário viu o plenário do tribunal se deteriorar sob seus pés e contribuiu para seu colapso.” (Folha)

Conrado Hübner Mendes: “Não sabemos exatamente quando entramos na era da politização judicial com esteróides, mas sabemos de onde vem sua autoria intelectual e institucional. O STF normalizou condutas individuais e chicanas procedimentais que se espraiam por outras instâncias. O desgoverno judicial, o bate-cabeça interindividual, a busca por um ‘super-trunfo’ procedimental que permita a um juiz, sozinho, produzir efeitos concretos, ainda que apenas por algumas horas ou alguns dias, estão escancarados demais. Algumas horas ou dias, em casos de aguda reverberação política, são suficientes. O judiciário renunciou ao manto da imparcialidade que ainda conseguia se insinuar com alguma eficácia nas causas mais visíveis do país. Ainda não sabemos que força política se beneficiará dessa renúncia, se à esquerda ou à direita. Mas podemos dizer que, mergulhado no seu projeto de desinstitucionalizar-se por autoimolação, sob a liderança de um STF conflagrado, o judiciário avista o precipício: aquele limiar em que suas decisões em casos explosivos já não conseguem ser lidas senão pela lente política, pouco importa se consistentes do ponto de vista técnico. Ultrapassado o limiar, vale a lei do mais forte, a política em estado bruto e visceral.” (Época)

E nesta toada... O novo ministro do Trabalho, Caio Luiz de Almeida Vieira de Mello, é sócio da mulher do ministro do STF, Gilmar Mendes. Desembargador aposentado especializado em Justiça trabalhista, é um dos 23 sócios do escritório Sergio Bermudes Advogados Associados.

O MDB de Sérgio Cabral vai retornar ao poder no Rio de Janeiro. Na semana passada, O Globo conseguiu infiltrar dentro de uma reunião fora de agenda do prefeito Marcelo Crivella, um repórter. Ele gravou quando o político, bispo ‘licenciado’ da Igreja Universal, ofereceu a pastores isenção de IPTU e um atalho para que seus fiéis burlem filas para cirurgias nos hospitais públicos. Já há três pedidos de impeachment protocolados e o MDB tem maioria na Câmara. Um caminho é Crivella permitir ao partido que assuma parte do governo. O outro é perder o mandato — e o vice-prefeito, Fernando Mac Dowell, morreu em maio. Se o impeachment ocorrer este ano, há eleição especial. A partir de janeiro, assume o presidente da Câmara. Do MDB. (Globo)

O apresentador do Brasil Urgente José Luiz Datena, que se afastou da TV para anunciar a candidatura ao Senado pelo DEM, pulou fora. Ele já aparecia no Ibope com 23%, segundo lugar perante Eduardo Suplicy, com 29%. São duas vagas. (Estadão)

Segundo um amigo do apresentador ouvido por José Fucs, Datena está acostumado a ser estrela e ter a última palavra. Engolir sapos, como é típico da política, não o agradou.

Donald Trump vai indicar o juiz conservador Brett Kavanaugh para o lugar de Anthony Kennedy, na Suprema Corte. Kennedy, um liberal, costumava votar com a esquerda nas questões de comportamento. Não parece ser o caso de Kavanaugh, e isto é importante: há nove supremes, quatro de cada lado, e Kennedy se punha firme no meio entre esquerda e direita. A mudança, se confirmada, altera o balanço ideológico de quem interpreta a Constituição. Kavanaugh chegou à proeminência trabalhando com o procurador Kenneth Starr no caso que levou Bill Clinton ao impeachment e foi assessor direto de George W. Bush. O Senado, que precisa aprovar seu nome, está dividido em 50 votos contra 50. Alguns democratas que enfrentam reeleição este ano em estados onde Trump foi bem podem se sentir pressionados a aprová-lo. Mas também há republicanos moderados e aqueles que temem por suas eleições dada a impopularidade do presidente noutros cantos. A torcida do Partido Democrata é que consiga empurrar pelo menos até novembro o voto, quando ocorre a eleição e saberá se há perspectiva de ter maioria na Casa. A batalha política começou. (New York Times)

Mais dois garotos foram retirados da caverna alagada na Tailândia. Os mergulhadores retomaram a operação hoje, depois de salvarem quatro garotos ontem. Agora, já são dez meninos resgatados. Devem sair ainda a qualquer momento os outros dois meninos restantes e o técnico, que passaram a última noite no local. A missão pode levar mais tempo que as dos dias anteriores. Isso porque, além de uma pessoa a mais a ser resgatada — nos outros dias foram grupos de quatro garotos —, chove forte na região.