Trump curva a cabeça perante Putin

Foi uma longa entrevista coletiva — 46 minutos, raro para encontro de cúpulas. Lado a lado com o russo Vladimir Putin, em Helsinque, o presidente americano Donald Trump se fez claro. “Os Estados Unidos têm sido tolos”, afirmou. “Já devíamos ter tido este diálogo há muito tempo, antes de eu chegar ao cargo.” Trump defende estreitar relações com a Rússia e partiu contra a investigação, conduzida pelo FBI, a respeito da interferência de Moscou nas eleições que o conduziram à Casa Branca. “Fui um agente de inteligência”, disse Putin. “Sei como estes dossiês são fabricados.” Trump concordou. “Eles dizem que foi a Rússia. Estou aqui ao lado do presidente Putin. Ele diz que não foi. Eu não vejo por que seria.” Nunca antes um presidente americano havia partido contra o aparato de inteligência e Justiça dos EUA perante um líder estrangeiro.

As críticas foram imediatas e não vieram só dos democratas. “Trump deve deixar claro o que quis dizer”, afirmou o ex-presidente da Câmara e partidário do presidente, Newt Gingrich. “Este foi o maior erro de sua presidência.” O atual chefe da Câmara, Paul Ryan, o seguiu. “Ele deve compreender que a Rússia não é nossa aliada, os EUA devem terminar com seus ataques contra a democracia.”

Análise do New York Times: “Ao invés de defender os EUA contra aqueles que o ameaçam, ele atacou seus cidadãos e instituições. Ao invés de questionar o Sr. Putin, um adversário com histórico documentado de malfeitos contra os EUA, ele o elogiou sem reservas. Suas afirmações são tão divorciadas dos objetivos americanos, são tão inexplicáveis em tantos níveis diferentes, que trazem à tona uma pergunta que marca há muito o Sr. Trump: Será que a Rússia tem alguma informação que possa usar contra ele?”

As afirmações mais fortes de Donald Trump durante a coletiva.

Memória: como eram estas cúpulas noutros tempos. Em vídeo, Kennedy-Khrushchev (1961) e Reagan-Gorbachev (1986).

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Enquanto isso... O presidente brasileiro Michel Temer vai a Cabo Verde. Será a 12ª Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e o principal tema em pauta é estabelecer o livre fluxo de pessoas e bens pelos países. Abertura ampla de fronteiras.

Bernardo Mello Franco: “Que princípios norteiam o Partido da República? Chefiada por um condenado no mensalão, a legenda negocia ao mesmo tempo com Lula e Bolsonaro. Seria ingenuidade buscar razões ideológicas para o dilema. O PR integra o centrão, um grupo de partidos fisiológicos que costumava seguir Eduardo Cunha. A turma se destaca pelo forte apego a valores. Não exatamente os que são anunciados em microfones. O presidente do PP, por exemplo, está preocupado com sua reeleição ao Senado. Ele mora em Brasília, mas tem domicílio eleitoral no Piauí. Lá seria suicídio político aderir a um candidato que se oponha ao lulismo. Ligado à Igreja Universal, o PRB negocia de forma ecumênica. Seus bispos são próximos dos tucanos, mas participaram do governo petista. O Solidariedade, controlado pelo notório Paulinho da Força, também avalia ofertas no varejo. Lutou bravamente contra o fim do imposto sindical. Agora busca alternativas para compensar a perda de receita. O DEM tem algo assemelhado a um programa, mas parece pronto para abandoná-lo. O partido se divide entre Geraldo Alckmin e Ciro Gomes. Um apoiou o impeachment e reza pela cartilha do mercado. O outro denunciou o ‘golpe’ e promete revogar todas as reformas liberais.” (Globo)

Aliás... A equipe de Bolsonaro já considera ‘quase descartada’ a aliança com o PR.

O ex-presidente do PT, Rui Falcão, defende a estratégia de manter Lula como candidato até onde der na corrida. “A substituição só ocorrerá se houver uma impossibilidade total”, diz. Pelas suas contas, Bolsonaro não mantém sua posição confortável no momento em que outro petista aparecer. “Tem um pesquisador que diz que as pessoas só vão acreditar que Lula não é candidato no dia, e se, disser que não é.” Até lá, avalia, uma pesquisa sem Lula não mostra o cenário real. (Folha)

A presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, suspendeu ontem uma resolução da Agência Nacional de Saúde que previa novas regras para a cobrança de coparticipação e de franquia em planos de saúde. Os pacientes deveriam pagar até 40% no caso de haver cobrança de coparticipação em cima do valor de cada procedimento realizado. Atendendo pedido de decisão liminar da Ordem dos Advogados do Brasil, a ministra decidiu suspender a validade das novas regras durante o plantão do Judiciário. “Saúde não é mercadoria. Vida não é negócio. Dignidade não é lucro”, afirmou. A decisão ainda deverá ser analisada pelo relator da ação, ministro Celso de Mello, e depois deve ser validada ou derrubada pelo plenário do STF.

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HealthTech

Se há uma startup ambiciosa na praça, esta é a Grail. Pretende levantar, numa terceira rodada, US$ 1 bilhão em investimentos. E começará o tour em busca de gente com cheques graúdos por Hong Kong. Seu produto é radical. Quer antecipar o diagnóstico de câncer para o ponto no qual as chances de sobrevivência ainda estão na casa dos 70 a 90%.

É um exame de sangue. Quando o câncer ainda está nos estágios muito iniciais, o tumor já aparece em pequenos fragmentos de código genético — o ctDNA. Mas é muito pouco e, por isso, difícil de perceber. O teste mapeará todo o DNA encontrado no sangue e, utilizando-se de ciência de dados, vai comparar tudo o que encontra com a informação sobre tumores já conhecidos. Precisão é chave.

A Grail tem, entre os investidores iniciais, Bill Gates e Jeff Bezos. Mas não é a única startup buscando reinventar o tratamento de câncer.

Bancos de dados com informações sobre nossos corpos estão sendo formados a toda hora. Smartphones já acompanham de forma rudimentar nossos passos diários. Apps especializados para corrida e bicicleta são populares entre atletas amadores. Há quem use smartwatches ou pulseiras especializadas, como as FitBits, para medir frequência cardíaca, qualidade do sono. São informações delicadas. Podem aumentar ou diminuir, por exemplo, o valor do seguro de saúde. Como lembra o consultor Kirill Shilov, são dados armazenados quase sempre na nuvem. E o que não falta são casos de vazamento nas melhores empresas.

Tecnologia desenvolvida para astronautas está por toda parte em utensílios do dia a dia. Mas sua aplicação no mundo real não é simples — depende de insights, estudo, e por isso raramente acontece. A Agência Espacial do Reino Unido criou uma competição e tem um bom prêmio: US$ 5,3 milhões, que serão distribuídos a no máximo quatro projetos. Os quatro devem encontrar um jeito de aplicar o que foi desenvolvido pelo programa espacial em soluções para saúde.

Cultura

O quadrinista Marcelo D'Salete é o único brasileiro a concorrer ao Eisner 2018, o maior prêmio de quadrinhos do mundo, que será entregue nesta semana. Com quase 200 páginas, Cumbe (Amazon) é uma HQ composta por quatro contos que se baseiam em documentos reais para retratar a resistência dos escravos ao sistema colonial. Nos últimos quatro anos, a obra já foi lançada nos EUA, em Portugal, na França, na Itália e na Áustria. (Folha)

Para os curiosos: Uma bisbilhotada rápida, em vídeo, nas páginas do quadrinista.

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A Netflix divulgou a primeira imagem da atriz Olivia Colman como rainha Elizabeth em The Crown. Ela fará a versão mais velha da rainha na terceira temporada da série, no lugar de Claire Foy, que interpretou a personagem mais jovem.

Saiu também o primeiro teaser da terceira temporada de Stranger Things. Os novos episódios devem estrear no meio de 2019.

Viver

Bilhões de dólares estão sendo investidos para financiar projetos de proteção das florestas tropicais com foco na cobertura vegetal. Isso porque elas são responsáveis por mais de um terço do carbono armazenado em terra — as árvores retiram o gás da atmosfera e o armazenam em seu tronco, raízes, galhos e folhas. Esses ecossistemas também são os mais ricos em biodiversidade do planeta. Mas um novo estudo mostrou que proteger o carbono das florestas tropicais não garante a conservação da diversidade de espécies. Nas áreas em recuperação, a relação é verdadeira: quanto mais carbono, maior a biodiversidade, já que com o ressurgimento das matas, os animais retornam para ocupar o espaço perdido. Mas nas áreas com menor impacto humano, essa relação nem sempre é presente. Com o resultado, a sugestão dos cientistas é que os esforços para conservação de carbono e biodiversidade sejam melhor alinhados — mirar apenas em um não é garantia do outro. (Globo)

Por falar... Um novo estudo realizado no Reino Unido sugere que o contato com áreas verdes pode desempenhar um papel positivo para os idosos. No geral, a perda de funções cognitivas esperadas como parte do processo de envelhecimento é um pouco mais lenta em pessoas que vivem em bairros mais verdes.

O Brasil viu em 2016 sua taxa de mortalidade infantil crescer pela primeira vez em vinte e seis anos. É o que mostram dados do Ministério da Saúde analisados pela Folha. Segundo os números, desde o começo da década de 1990 o país apresentava redução anual média de 4,9% da taxa de mortalidade. Já em 2016, foram 14 óbitos infantis a cada mil nascimentos, um aumento próximo de 5% sobre o ano anterior, retomando índices similares aos dos anos 2014 e 2013. Para 2017, a previsão no Brasil é que a taxa fique, no mínimo, em 13,6. O ministério aponta a epidemia do vírus da zika e a crise econômica como razões para o crescimento, mas os dados também mostram alta de mortes infantis evitáveis não relacionadas à doença. Um exemplo: em queda desde 2013, as mortes por diarreia em menores de 5 anos voltaram a crescer em 2016. Vale lembrar que das 5.570 cidades do Brasil, 2.169 não possuem nenhum leito pediátrico.

Até 2050, metade do crescimento populacional ocorrerá em nove países. Antes disso, a Nigéria, que está atualmente em sétimo lugar na lista dos países mais populosos do mundo, terá alcançado o terceiro lugar, que hoje é dos Estados Unidos. Haverá mudanças também no topo do ranking: em 2024, a Índia vai ultrapassar a China. Aqui, mais oito fatos sobre as mudanças da população mundial.

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