Prezados leitores —

Quando o Meio nasceu, em outubro de 2016, publicamos um manifesto. “O Meio acredita que o digital muda tudo”, escrevemos — e a campanha à presidência deste ano o demonstra. “Ele aproximou algumas pessoas e distanciou outras tantas. O Meio não é de centro. Quando for o caso, terá opinião. Mas, no Meio, esquerda e direita se encontram e ambos os argumentos terão espaço. O Meio acredita em argumentos.”

Acreditamos em democracia. Porque acreditamos em democracia, partimos sempre da Constituição. Portanto, todo brasileiro tem o direito de concorrer à presidência a partir dos 35. Tem o direito de dizer o que pensa, vedado o anonimato. O que pensa não o impede de ser eleito. Quem for eleito sobe a rampa, veste a faixa. E só é presidente após afirmar perante todos nós ‘Prometo manter, defender e cumprir a Constituição da República, observar suas leis, promover o bem geral do Brasil’.

A Constituição tem cláusulas pétreas que não podem ser emendadas. Portanto homens e mulheres são iguais; a tortura é proibida; ninguém pode ser privado de seus direitos por religião, escolhas políticas ou convicções pessoais. Organizações paramilitares são proibidas. A censura prévia é proibida. A Presidência da República não tem qualquer poder sobre o Parlamento ou sobre o Judiciário. Todas cláusulas pétreas. Não são as únicas.

Esta eleição não está decidida. Tem favorito, mas pode surpreender.

Mas, não importa o resultado da eleição de domingo, o Meio o aceitará. Não importa quem suba a rampa, o Meio observará com olhar crítico. Mas temos a convicção de que jornalismo, na prática diária de tornar público o que faz quem tem poder, será mais necessário do que nunca. Trabalharemos, nestes próximos quatro anos, usando de toda a liberdade que a Constituição nos confere — como cidadãos, como jornalistas. E estaremos prontos para cobrir a eleição de 2022.

Prezados leitores: bom voto. É um direito fundamental, que deve ser cultivado.

— Os editores.

Datafolha: Haddad sobe, Bolsonaro cai, e eleição pega fogo

A diferença ainda é grande — segundo o novo Datafolha Jair Bolsonaro tem 48% dos votos totais, Fernando Haddad, 38%. Mas há uma clara inflexão da curva. Brancos e nulos são 8% e, indecisos, 6%. Levando-se em consideração apenas os votos válidos, o placar está em 56 a 44%. Era 59 a 41% há uma semana. Era uma distância de 18 pontos, caiu a 12 — diminuiu em seis. A eleição é domingo, e o ritmo de velocidade da circulação de informações e conversas pelo WhatsApp provocou grandes turbulências nos pleitos de São Paulo, Rio e Minas no segundo turno. O capitão reformado do Exército é franco favorito, mas uma virada não é impossível. Realizada na quarta e quinta-feiras, a pesquisa tem margem de erro de dois pontos.

Pelos números do Datafolha, a principal dificuldade de Haddad está na taxa de rejeição: 52% declaram que não votariam nele de jeito nenhum. Para Bolsonaro, a taxa é de 44%. (Folha)

Mauro Paulino e Alessandro Janoni: “A diminuição da diferença de Bolsonaro para Haddad é acentuada em função da dicotomia que caracteriza o cálculo dos votos válidos nas disputas em segundo turno. São apenas dois candidatos — quando um ganha, o outro perde na mesma proporção. É impossível afirmar tratar-se de uma migração contínua com potencial para estender-se até o domingo. Apenas o próximo levantamento, às vésperas da votação, poderá sugerir se a curva se intensificará ou se perderá força. O apoio ao capitão reformado apresenta tendência de queda em quase todos os segmentos socioeconômicos e demográficos. Um dos pontos pode explicar as mudanças é a nova comunicação de Haddad. A campanha abriu canais com linguagem adaptada a conjuntos de menor renda (com maior peso na população) ao divulgar, por exemplo, o preço do gás de cozinha que pretende praticar. O outro vetor, talvez o principal, refere-se às turbulências que atingiram a candidatura do PSL — episódios que sugerem intervenções autoritárias, protagonizados por Bolsonaro, por seu filho Eduardo e aliados acabaram por corroborar a campanha do PT, que o vinha classificando de antidemocrático e violento. Segundo o Datafolha, os brasileiros nunca valorizaram tanto a democracia. A maioria condena as práticas como tortura de suspeitos, censura da imprensa e fechamento do Congresso. Com esse cenário, agressões entre eleitores em discussões políticas, ameaças à presidente do TSE, insinuações de intervenção no STF, estímulo à perseguição tanto de jornalistas como de adversários podem ter minado parte da confiança que o candidato vinha obtendo junto a diferentes setores do eleitorado.” (Folha)

Jairo Nicolau: “Haddad e Bolsonaro estão empatados (na margem de erro) entre as mulheres e os católicos. A vantagem nacional de Bolsonaro deve-se ao seu desempenho entre os evangélicos e os homens.”

Dirigentes do DEM, ouvidos pelo Painel, gostaram da notícia. Avaliam que o resultado vai apertar mas que não há tempo para virar. Com vitória mais apertada, Bolsonaro terá de fazer mais concessões e negociar para governar. (Folha)

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Fiscais de TREs fizeram ações simultâneas nos campi de 17 universidades em nove estados do país. Em um caso, na Paraíba, o juiz local ordenou a apreensão de um manifesto em defesa da democracia que não identificava qualquer candidato. Na federal de Campina Grande, a Polícia Federal aprendeu cinco HDs da assessoria de imprensa. Noutra federal, a da Grande Dourados, no Mato Grosso do Sul, o TRE interrompeu uma aula sobre fascismo organizada pelo DCE. Na faculdade de Direito da Uff, foi exigida a derrubada de uma bandeira com a marca antifascista, que tampouco citava qualquer candidato. O juiz ordenou, ainda, a prisão do diretor casou houvesse recusa. Em pelo menos um caso, na federal de São João Del Rey, havia realmente propaganda político partidária. A corte exigiu a retirada de uma nota no site da universidade em ‘repúdio ao candidato Jair Bolsonaro’. (Globo)

A Abraji, principal organização de defesa dos jornalistas do país, soltou uma nota em conjunto com a Repórteres Sem Fronteira, Comitê para a Proteção dos Jornalistas, Human Rights Watch, Conectas Direitos Humanos e Artigo 19. Pedem que ambos os candidatos denunciem a violência contra jornalistas que cobrem a campanha eleitoral. Já houve casos, até, de ataques físicos a repórteres.

O Datafolha também perguntou aos eleitores como se posicionavam no segundo turno dos estados. Alguns dos resultados, em votos totais e links para os resumos dos debates que ocorreram ontem na TV Globo, com vídeo:

São Paulo: João Doria 43%, Márcio França 40%. Debate.

Rio de Janeiro: Wilson Witzel 47%, Eduardo Paes 37%. A eleição está apertando a cada pesquisa. Debate.

Minas Gerais: Romeu Zema 68%, Antonio Anastasia 32%. Debate.

Distrito Federal: Ibaneis Rocha 64%, Rodrigo Rollemberg 23%. Debate — que terminou sendo uma entrevista ao vivo com Rollemberg, seu adversário não foi.

Cultura

Em São Paulo, a Mostra Internacional de Cinema entra na sua última semana. No domingo, acontece a tradicional sessão ao ar livre, com a exibição de A Caixa de Pandora no Parque Ibirapuera. A Orquestra Jazz Sinfônica executa a trilha ao vivo. Antes, hoje, é no Largo São Francisco que rola cinema ao ar livre. A Paixão de Joana D'Arc e Hitler do 3º Mundo recebem trilha ao vivo de Sonpekiza Trio, Kiko Dinucci e Cadu Tenório. E pinturas de diferentes fases de Lasar Segall ocupam o quinto andar do Sesc 24 de Maio a partir de hoje na mostra Ensaio sobre a Cor.

No Rio, comandado pelo sambista Moyseis Marques, o Baile da Democracia agita o Circo Voador hoje à noite. O Studio OM.art abriga até 25 de novembro a coletiva Diáletica, com obras de Lygia Clark, Antonio Dias e Waltercio Caldas, entre outros. E até 3 de novembro, o Festival Antimatéria leva música de vanguarda a diversos espaços da cidade. O trio formado por Peter Brötzmann, Marino Pliakas e Michael Wertmüller e o duo de Juçara Marçal e Cadu Tenório estão na programação.

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Não é, este fim de semana eleitoral, um de bons filmes em cartaz. A comédia romântica Podres de Ricos (trailer) é a mais bem cotada. O rapaz namora a moça em Nova York, são felizes, ele então a convida para o casamento de seu melhor amigo, em seu país. Singapura. Lá ela descobre que seu namorado é um dos homens mais ricos do lugar, solteiro cobiçado. Halloween (trailer), desta vez sem número, continua a série de terror dos anos 1980. E Amigos Alienígenas (trailer) é uma animação. Nela, o menino Louis tenta esconder seus companheiros vindos do espaço antes que o pai, ufologista famoso, os descubra e queira estuda-los. Veja os outros lançamentos.

La Casa de Papel ganhou o primeiro teaser da terceira temporada. A Netflix divulgou o vídeo pelo Twitter. Nele, parte do elenco se reencontra e troca abraços e beijos antes de se sentarem para ler o roteiro.

E três obras de Banksy foram leiloadas em Paris. Desta vez, sem nenhuma peça pregada pelo artista britânico — a casa de leilão checou as obras antes do evento para garantir que não houvesse nenhuma destruição surpresa. (Estadão)

Viver

O alpinista francês Alain Robert, apelidado de ‘homem-aranha’, escalou um dos prédios mais altos de Londres ontem. Sem cordas, usando apenas seus músculos para chegar ao topo. Pois é. Aos 56 anos, ele demorou uma hora para subir os 230 metros do prédio Heron Tower, localizado no distrito financeiro da capital britânica. Depois do ato, ele foi preso. Veja em vídeo.

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Durante décadas, especialistas disseram que as nações poderiam evitar grandes aumentos de temperatura reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e migrando para fontes mais limpas, como a solar, eólica e nuclear. Mas um novo relatório publicado pelas Nações Unidas este mês afirma que demoramos tanto tempo para reduzir as emissões de dióxido de carbono que até mesmo uma mudança radical em direção à energia limpa provavelmente não seria suficiente. A saída pode ser retirar uma grande parte da substância já carregada na atmosfera. O problema é que os pesquisadores ainda não descobriram como fazê-lo — economicamente, ou em escala suficiente. (New York Times)

Por falar... Os painéis solares podem ser a fonte de energia do futuro, mas também criam um problema sem uma solução fácil: o que faremos com milhões de painéis quando eles pararem de funcionar? Normalmente, os painéis são garantidos por 25 a 30 anos e podem durar ainda mais. Mas como a indústria solar cresceu, o mercado foi inundado com painéis baratos que podem quebrar em apenas cinco anos. Em 2016, a Agência Internacional de Energia Renovável estimou que já havia 250 mil toneladas de resíduos de painéis solares em todo o mundo e que esse número cresceria para 78 milhões até 2050.

Mãe é mãe. Um estudo realizado com crianças de 5 a 12 anos adormecidas mostrou que, para acordá-las, uma gravação com a voz da mãe é mais efetiva que um alarme de incêndio. Elas são três vezes mais propensas a acordar com a gravação do que com os alarmes tradicionais, além de serem mais rápidas em escapar dos quartos na situação de perigo quando ouvem a mãe.

Cotidiano Digital

Quando Andy Rubin, o criador do Android, deixou o Google, em 2014, recebeu tratamento de herói, assim como um belo ‘pacote de saída’ de US$ 90 milhões. O que o Google nunca tornou público foi que uma funcionária acusou Rubin de má conduta sexual. A mulher, com quem estava tendo um relacionamento extraconjugal, disse que ele a coagiu a fazer sexo oral em um quarto de hotel em 2013. Segundo investigação do New York Times, Rubin foi um dos três executivos que o Google protegeu na última década depois de serem acusados de assédio.

O Wall Street Journal publicou uma reportagem arrasadora contra a Netflix. Segundo o jornal, a empresa de streaming cultiva um clima terrível para os funcionários. Gerentes são incentivados a demitir com frequência senão correm o risco de parecerem frouxos. O medo de demissão é constante. Uma vice-presidente chegou a afirmar para seus diretores que a prática era boa. “O medo motiva”, afirmou. Ela nega. A matéria contrasta com a fama da empresa, de ter um bom ambiente.

A Stone, uma das empresas brasileiras de pagamento eletrônico, abriu capital em Nova York, na Nasdaq.

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