Vale vai encerrar barragens como a de Brumadinho

Sob pressão, o presidente da Vale, Fábio Schvartsman, anunciou ontem que a empresa vai desativar as barragens semelhantes a Brumadinho que tem no país. No período, a operação de mudança deve interromper 10% da produção da mineradora. Hoje, a Agência Nacional de Mineração conta com apenas 35 fiscais capacitados para avaliar as 790 barragens de rejeitos de minérios. (Estadão)

Schvartsman se mantém por um fio — dentro do governo, já se prepara um plano B, no qual o peso do Estado no conselho da Vale pode ser usado para destituir a diretoria. (Globo)

Elio Gaspari: “Sérgio Buarque de Holanda ensinou: ‘Nós não temos conservadores no Brasil, temos gente atrasada.’ Essa gente atrasada estagnou a economia durante o século XIX e no XX faliu as grandes companhias de aviação brasileiras. No XXI, produziu os desastres de Mariana e Brumadinho. Bolsonaro elegeu-se presidente com uma plataforma conservadora, amparado pelo atraso. Sua campanha contra os organismos do meio ambiente foi a prova disso. Não falava em nome do empresariado moderno do agronegócio, mas da banda troglodita que se confunde com ele. Outra bandeira de sua ascensão foi a defesa da lei e da ordem. A conexão dos ‘rolos’ de Fabrício Queiroz com as milícias do Rio ilustrou quanto havia de atraso na sua retórica. As mineradoras moveram-se nos escurinhos do poder e, mesmo depois de Mariana, bloquearam as iniciativas que aumentariam a segurança das barragens. Deu Brumadinho. As perdas da Vale nas Bolsas e com as faturas dos advogados superarão de muito o que custaria a proteção de Brumadinho. Será a conta do atraso. Com menos de um mês de governo, Bolsonaro foi confrontado pela diferença entre conservadorismo e atraso. Muita gente que votou nele pode detestar o Ibama e as ONGs do meio ambiente. Também pode achar que bandido bom é bandido morto. Quando acontecem desgraças como Brumadinho ou quando são expostas as vísceras das milícias e seus mensalinhos, essas mesmas pessoas mudam de assunto, e o presidente fica só, como ficou o general João Figueiredo depois do atentado do Riocentro.” (Globo ou Folha)

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Igor Gielow: “O protagonismo do general Hamilton Mourão como presidente interino incomodou o entorno familiar e político de Jair Bolsonaro. Um dos filhos do presidente disse a duas pessoas que o general busca se mostrar como uma figura mais preparada em caso de alguma crise desestabilizar o governo — avaliação, de resto, constante nos círculos políticos de Brasília. A desavença também ocorre dentro do governo, onde ministros como Onyx Lorenzoni e Gustavo Bebianno se veem questionados tanto por Mourão quanto pelos ministros egressos da ala militar.” (Folha)

Morreu ontem, em São Paulo, Genival Inácio da Silva. Um dos irmãos mais próximos do ex-presidente Lula, Vavá tinha 79 anos e sofria de câncer no pulmão. Os advogados de Lula foram à Justiça pedir que lhe fosse concedido o direito previsto na Lei de Execução Penal, que considera a possibilidade de prisioneiros irem ao velório de parentes em primeiro grau. O direito existe, mas está sujeito a permissão do agente de custódia e da Justiça. A Polícia Federal respondeu que não. Durante a madrugada, a Justiça reiterou a negativa. Os argumentos incluem a falta de helicópteros da PF, deslocados para Brumadinho, os problemas para garantir a segurança do ex-presidente, e a dificuldade de organizar a logística da ida em tão pouco tempo. (Jota)

O presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Juan Guaidó, convocou para hoje a população às ruas em mais uma onda de protestos contra o governo Maduro. Um de seus objetivos é distribuir aos militares que estiverem acompanhando cópias da anistia concedida a todos que se erguerem contra o regime. À imprensa russa, Maduro afirmou estar pronto para negociar com a oposição.

Guga Chacra: “A probabilidade de uma guerra civil na Venezuela cresceu. Nicolás Maduro deve lutar para se sustentar no poder e ainda desfruta de enorme apoio dos militares, além de milícias pró-regime e mesmo de Cuba. Para completar, recebeu o suporte da Rússia, que não entraria em um conflito, mas já começou a armar o regime. A oposição segue liderada por civis contrários a um conflito. Mas há movimentos anti-Maduro, incluindo militares desertores, que podem pegar em armas para lutar. Inclusive, eles têm pedido ajuda aos EUA. Apesar de os americanos não terem a intenção de uma intervenção militar, há membros no governo Trump que simpatizam com esta ideia.” (Globo)

A Câmara dos Comuns deu permissão à premiê Theresa May para que busque um novo acordo de saída negociada com a União Europeia. Foi por muito pouco — 318 a 310. May irá a Bruxelas, mas o comando da EU já afirmou que não reabrirá as negociações.

Cotidiano Digital

Uma investigação do TechCrunch revelou que o Facebook vem desobedecendo de forma flagrante as regras da Apple para distribuir apps para iPhone que espionam o uso dos celulares. O app se chama Facebook Research, está registrado como ‘de uso interno’, e usuários que têm entre 13 e 35 anos vêm sendo estimulados a instalá-lo em troca de pagamentos que chegam a US$ 20 por mês. É um dinheiro tentador principalmente para o público alvo: adolescentes. Quem o baixa permite à rede social acesso a todos os apps que usa, as mensagens que troca, além de outros dados. A empresa vê cada detalhe de como o celular é usado. Em agosto último, a Apple baniu a distribuição de Onavo, um app também do Facebook, usado com o mesmo objetivo. Foi com detalhada descrição de como as pessoas usavam seus smartphones que o Facebook percebeu antes de todo o mercado como o WhatsApp vinha sendo utilizado por cada vez mais gente, o que levou à decisão de compra-lo. Estes apps espiões dão uma imensa vantagem competitiva. Mas são proibidos pela Apple, que tem por marca garantir a privacidade de seus usuários. Apps de ‘uso interno’ são permitidos para que empresas possam testar, apenas entre seus funcionários, novas tecnologias. Facebook Research tem este tipo de permissão e não poderia ser distribuído para além da companhia. Driblando a Apple, porém, está sendo feito. A revelação, principalmente após o alerta feito pela fabricante do iPhone em agosto, quando baniu o outro app, deverá provocar um sério estremecimento na relação entre as duas.

A expectativa era de que os resultados financeiros da Apple, referentes ao último trimestre de 2018, seriam muito ruins. Pois não foram tanto. A empresa vendeu US$ 84,3 bilhões em equipamento e serviços. Há uma queda forte na China, e o mercado para iPhones está chegando ao ponto de saturação, com usuários escolhendo substituir seus aparelhos em prazos mais alongados. Mas outros negócios, como o de serviços — apps, games, Apple Musica e iCloud — crescem e mostram margens de lucros atipicamente altas para o setor, 62%. A Bolsa, que esperava números piores, se animou.

Cultura

Ainda não há confirmação oficial, mas, segundo o Extra, Sandy & Junior estarão de volta depois de mais de uma década do fim da dupla. Os irmãos planejam um show para o segundo semestre deste ano em comemoração aos 30 anos da primeira aparição dos dois juntos na televisão. O evento deve acontecer no Allianz Parque, em São Paulo.

Aqui, em vídeo, a primeira vez em que a dupla apareceu na TV, cantando Maria Chiquinha.

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Boa notícia para os fãs de O Diário da Princesa (trailer): pode ser que voltemos a Genovia. Durante o programa de Andy Cohen, Anne Hathaway, a intérprete da princesa Mia, garantiu que a possibilidade é real. “Existe um roteiro para o terceiro filme. Eu quero fazer. Julie Andrews quer fazer. Mas só faremos se for algo perfeito, pois amamos a história tanto quanto os fãs, então só soltaremos quando estiver pronto. Mas estamos trabalhando nisso”, afirmou.

“O Rio? É doce/A Vale? Amarga”. Os trechos do poema de Carlos Drummond de Andrade voltaram a aparecer após as tragédias de Mariana, em 2015, e agora em Brumadinho. O Globo conta a história dos versos. Intitulado Lira Itabirana, o nome do poema é uma referência a Itabira, cidade onde, em 1902, nasceu Drummond e, quatro décadas depois, foi fundada a Vale do Rio Doce. Foi publicado em 1984, na 58ª edição do pequeno jornal O Cometa Itabirano, que em seus últimos anos de vida ajudou-o a reconciliar-se com a cidade natal. Drummond havia se afastado dela justamente pela tristeza de ver a cidade mineira se descaracterizar diante das ações das mineradoras.

Viver

Trinta e seis graus negativos. Era essa a mínima esperada em Fargo, na Dakota do Norte, ontem. A essa temperatura, a vodka congela. Os americanos em todo o meio-oeste do país estão sofrendo com o frio. E a sensação térmica deverá cair ainda mais em toda a região. Pode atingir os 50 graus negativos. Nessas condições, a pele exposta pode congelar em apenas cinco minutos. É uma situação não só perigosa, mas potencialmente mortal. A culpa é do vórtice polar — a massa de ar gelado que normalmente circula no Ártico e está mergulhando na direção sul dos EUA nesta semana. E ainda que o nome soe dramático, não é nada novo ou fora do comum. Geralmente essa massa de ar polar frio permanece acima do Pólo Norte, porque costuma ser forte, centrada e compacta. Mas às vezes o vórtice enfraquece, trazendo o ar polar frio para baixo.

O presidente americano Donald Trump resolveu usar o fenômeno para questionar a existência do aquecimento global. “O que diabos está acontecendo com o aquecimento global? Por favor, volte rápido, precisamos de você!”, zombou em seu Twitter. A Vox explica que isso é um erro. Tempo e clima são coisas diferentes — o primeiro é o que estamos experimentando no momento, enquanto o segundo é a tendência mais ampla que faz com que certas experiências climáticas sejam mais ou menos prováveis. Um mapa do Instituto de Mudanças Climáticas da Universidade de Maine mostra a anomalia diária de temperatura — ou como diferentes temperaturas globais foram comparadas a uma linha de base de 1979 a 2000 — em todo o mundo. No geral, o mundo em 29 de janeiro deste ano estava em média 0,3°C mais quente, apesar do fato de que partes da América do Norte estavam 10 graus abaixo da média. A dica: o que você vê pela janela não determina a existência ou não das mudanças climáticas.

Não são poucos os mestrandos e doutorandos que reclamam da falta de atenção de seus orientadores. Mas o iraquiano Firas Mohsin Jumaah foi, literalmente, salvo pela sua. Firas é yazidi, uma minoria religiosa perseguida no Iraque. Em 2014, ele foi para seu país natal preocupado com a segurança da esposa e seus dois filhos pequenos, dias antes do Estado Islâmico se autodeclarar um califado. Enviou uma mensagem à sua orientadora, Charlotta Turner, professora de química na sueca Universidade Lund, dizendo que se ele não voltasse em uma semana, ela poderia encarecidamente excluí-lo do programa de doutorado. Mas ela fez um pouco mais. Acionou o chefe de segurança da universidade, que a ajudou a achar uma companhia que topasse uma operação de resgate. Dias depois, o aluno e sua família foram encontrados por seis mercenários armados, divididos em dois jipes do modelo Land Cruiser. Charlotta pagou 60 mil coroas suecas (R$ 25 mil) para a equipe de segurança que o socorreu, dinheiro depois debitado do salário dele. A trama veio a público agora, após uma amiga jornalista da professora produzir um documentário sobre o caso. (Folha)

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