Prezadas leitoras, caros leitores —

Hoje há poucas pessoas vivas que se lembram, mas já houve uma “gripezinha” que pegou o mundo desprevenido. Seus primeiros casos foram guardados em segredo pelo governo do país para “manter o moral”. Afinal, travava-se uma guerra que envolvia todas as grandes potências mundiais e os aspirantes ao posto. Admitir uma doença devastadora seria um sinal de fraqueza.

Naquelas ironias das quais a História parece gostar tanto, a primeira nação a tratar abertamente da (já) pandemia acabou levando a culpa e emprestando seu nome à doença: a Gripe Espanhola.

Foram pouco mais de dois anos, de fevereiro de 1918 a abril de 1920. Mas a pandemia atingiu 500 milhões de pessoas, um terço da população mundial. Imagine a Covid-19 infectando mais de dois bilhões de seres humanos. É isso. No Brasil, que não era exatamente um campeão de saúde e saneamento, foram pelo menos 35 mil mortos. Incluindo o presidente da República.

É impossível não comparar a pandemia de nossos avós, bisavós e trisavós à nossa, mas até onde vai essa comparação? Como reagiu a população? E o governo, o que fez? Esse é o tema principal da edição deste sábado do Meio, exclusiva para assinantes Premium.

Vamos contar também uma segunda história, a do filho de um presidente que tomou um empréstimo num banco público em condições muito estranhas e disparou assim uma das maiores crises da República. É. Já aconteceu antes.

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‘Chega de frescura, de mimimi’

“Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”, indagou o presidente Jair Bolsonaro (vídeo no Twitter) durante evento em São Simão (GO). “ Vocês não ficaram em casa. Não se acovardaram”, seguiu, elogiando o público que o assistia. Mais tarde, falou com eleitores. “Tem idiota que a gente vê nas redes sociais, na imprensa, [dizendo] ‘vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe. Não tem para vender no mundo.” (G1)

O ‘mimimi’: Na quinta-feira, o Brasil atingiu 261.118 mortos por Covid-19, com 1.786 óbitos, segundo dados do consórcio de veículos de comunicação apurados junto aos estados. A média móvel de 1.361 mortes em sete dias foi o quinto recorde consecutivo. Apenas Amazonas e Amapá tiveram indicação de queda no número de mortes. A alta se faz presente do Distrito Federal e em 16 estados: PR, RS, SC, SP, DF, GO, MS, AC, TO, AL, BA, CE, MA, PB, PI, RN e SE. (G1)

A situação pode ficar ainda pior. Muito pior. O Ministério da Saúde, de acordo com apuração do repórter Fabio Murakawa, considera a possibilidade de o número de mortes por dia ultrapassar as três mil daqui a duas semanas. (Valor)

Os Estados Unidos continuam liderando o triste ranking de casos e mortes, mas o Brasil parece disposto a assumir a ponta. De acordo com o Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford, nosso país registrou na quarta-feira uma média móvel diária em sete dias de 6,3 mortos por milhão de habitantes, enquanto o mesmo índice nos EUA ficou em 5,5 óbitos. (Globo)

Vários dentre os governadores responderam ao presidente com uma carta sóbria: “Ninguém discorda de que a pandemia seguirá ceifando vidas. Nesse contexto, a vacinação em massa a única capaz de deter a pandemia. Se não tivermos pressa, o futuro não nos julgará com benevolência. Por isso, pedimos ao Governo Federal esforço ainda maior para obter, em curto prazo, número consideravelmente superior de doses. Caso seja possível, sugerimos também o requerimento de apoio e intermediação da Organização Mundial da Saúde. Neste momento, há novas, reais e importantes justificativas para que o Brasil obtenha, com celeridade, novas remessas de imunizantes, a principal delas é a chegada e a rápida disseminação da nova variante P1, que tem se revelado ainda mais letal, prejudicando os esforços para proteger a vida. O mundo acompanha com preocupação o rápido avanço do contágio por essa variante no Brasil, o que torna o bloqueio da disseminação desse tipo de vírus matéria de interesse de diversas nações, inclusive porque outras variantes podem dela advir.” (G1)

Da “gripezinha” ao “país de maricas”, veja o que Bolsonaro já disse sobre a pandemia. (Folha)

O Ministério da Saúde tem um cronograma para vacinar toda a população até o fim deste ano. O problema é que o planejamento do mesmo ministério prevê a disponibilidade de somente 2/3 das vacinas para atingir a meta. (Poder360)

A estimativa de recebimento de 12,9 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZenenca envasadas pela Fiocruz, previsto para março, encolheu para 3,8 milhões. A fundação alega que só pode fazer nova previsão de entrega após a Anvisa aprovar os lotes que estão sendo produzidos. (Folha)

Tão preocupante quanto o fornecimento de vacinas é o comportamento das variantes do Sars-Cov-2. Segundo a Fiocruz, as piores mutações – do Amazonas, do Reino Unido e da África do Sul – já são predominantes em pelo menos seis estados: Alagoas, Ceará, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. (Estadão)

O governador João Doria (PSDB) cedeu à pressão da bancada evangélica e de seu secretário de Educação, mantendo igrejas e escolas abertas mesmo na maior restrição imposta pela pandemia. Com isso, o coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus, João Gabbardo, fez um apelo direto a esse público. “Se possível, façam as orações em casa”, pediu ele. (UOL)

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Perseverance não encontra vida inteligente em Marte

Tony de Marco

 
Sem-vida-inteligente

Política

A divulgação de supostas mensagens trocadas entre os procuradores da Lava-Jato em Curitiba respingou no Supremo Tribunal Federal (STF). Em julho de 2018, o desembargador de plantão no TRF-4 Rogério Favreto concedeu habeas corpus para a soltura do ex-presidente Lula, desencadeando uma operação para que a ordem judicial não fosse cumprida. De acordo com a coluna de Mônica Bergamo, o chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol disse aos colegas que a ministra Cármen Lúcia teria telefonado ao então ministro da Segurança, Raul Jungmann, superior hierárquico à PF, pedindo para que Lula não fosse solto. Jungmann admite que foi procurado pela ministra, mas nega que ela tenha feito o pedido. Cármen Lúcia ainda não se manifestou. (Folha)

E a inconfidência dos procuradores pode ir além do processo no STF pedindo a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro. Em mensagem de áudio, Dallagnol diz que a juíza Gabriela Hardt, que assumiu os processos contra Lula após Moro deixar a magistratura para ser ministro da Justiça de Bolsonaro, garantiu que Lula seria sentenciado no caso do sítio de Atibaia, o que aconteceu menos de um mês depois. (UOL)

Fundamental para o resultado da eleição de 2018, a base do presidente Jair Bolsonaro na internet dá sinais de erosão. Segundo o Índice de Popularidade Digital (IPD), elaborado pela consultoria Quaest, ele continua liderando com 60 pontos numa escala de 100 — mas este número representa uma queda de mais de 20 pontos em relação ao patamar que tinha em 2020. Pior, embora continue inelegível, o ex-presidente Lula, por outro lado, galgou degraus e chegou a 55,9 pontos. Nunca estiveram tão próximos, Bolsonaro e Lula. E outros dois pré-candidatos também cresceram e aparecem próximos de ambos. O apresentador Luciano Huck chegou a 48,9 pontos e o governador paulista, João Doria, a 43,9. (Folha)

Meio em vídeo: Pela primeira vez em quase um ano uma pesquisa indica a popularidade de Jair Bolsonaro abaixo dos 30%. Números do IPEC (Inteligência, Pesquisa e Consultoria), formados por executivos que deixaram o IBOPE após o instituto encerrar as operações, indicam que 28% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom — 39% avaliam como ruim ou péssimo. Ainda que mais baixa, se esta margem representa uma base para a corrida eleitoral, Bolsonaro chega com folga ao segundo turno e tem muitas, muitas chances de vencer. O que precisaria acontecer para que sua candidatura derretesse — e talvez até um impeachment? É isto que o editor Pedro Doria tenta responder. Assista no YouTube.

Circula nas redes, a princípio apócrifo, o vídeo Quanto custa Bolsonaro? Assista.

A Polícia Militar de Minas Gerais prendeu em Uberlândia um homem de 24 anos, cuja identidade não foi divulgada, por suposta incitação ao assassinato de Jair Bolsonaro. No Twitter, ele publicou “Gente, Bolsonaro em Udia (apelido da cidade) amanhã... Alguém fecha virar herói nacional?” Outras três pessoas estão sendo investigadas por postagens semelhantes. A prisão foi ratificada pela Polícia Federal, a quem o caso foi encaminhado. (Estado de Minas)

Cultura

Fique em casa, proteja-se. Mas não deixe de aproveitar as opções culturais. Confira:

Na quarta, às 18h, o diretor do Centro Cultural b_arco e curador Renato de Cara conversa com Guilherme Werneck sobre os rumos da arte contemporânea brasileira. A atividade integra o Seminário de Cultura e Realidade Contemporânea da Escola da Cidade e será transmitida pelo YouTube.

Precisando se mexer no isolamento? O Grupo Corpo inicia hoje uma série de quatro workshops gratuitos realizados de forma remota. Não é preciso ser bailarino ou bailarina profissional para participar.

Começa hoje a primeira edição virtual e gratuita do Cultura Inglesa Festival, que se estende até o dia 28. A live de Caetano Veloso nesse domingo, com canções e histórias de seu exílio em Londres, é o destaque do fim de semana. Veja a programação completa.

Nesse sábado, os elencos da Companhia de Teatro Íntimo e do Coletivo Negro se unem para homenagear a Negra Palavra do poeta Solano de Trindade em espetáculo transmitido pelo Itaú Cultural.

A Sala Cecília Meireles abre a sua temporada com um concerto da Petrobras Sinfônica sob a regência de Priscila Bomfim e participação da pianista Erika Ribeiro, que interpreta um concerto de Ronaldo Miranda.

A Cia. OmondÉ estreia hoje a temporada virtual do Auto de João da Cruz, de Ariano Suassuna, com direção de Inez Viana. Também hoje, o Grupo Tapa leva a sua montagem de A Mandrágora, de Maquiavel, para a tela de computadores e celulares.

Na segunda, no Dia Internacional da Mulher, o Coletivo Takamakina de Teatro começa a temporada digital de Viva Cacilda! Felicidade Guerreira!, espetáculo dirigido e roteirizado por Lenise Pinheiro a partir de texto de Zé Celso Martinez Corrêa.

No mesmo dia, a Mostra de Cinema de Gostoso inicia a sua edição online e gratuita. Entre os destaques está o filme Até o Fim, de Ary Rosa e Glenda Nicácio. Confira a programação completa.

Construído de forma coletiva, o Festival de Imagens Periféricas realiza a sua primeira edição e propõe novas narrativas visuais da cidade de São Paulo. Entre e março e abril, a mostra organiza oficinas, diálogos e projeções, entre outras atividades.

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Não faltam na música brasileira exemplos de irmãos brilhantes, como os óbvios Caetano e Bethânia ou os Três Filhos de Caymmi. Mas poucas combinações que começaram nos genes são tão férteis quando a de Lô e Márcio Borges, responsáveis, juntos ou com outros parceiros, por algumas das joias do Clube da Esquina, movimento de saiu de Minas nos anos 1970 para mudar a cara da MPB. Mas há dez anos não éramos brindados com composições inéditas da dupla. A espera acaba hoje, com o lançamento de Muito Além do Fim. Por conta da pandemia, os irmãos não se encontraram para compor o álbum. Lô mandava as melodias por telefone, Márcio devolvia as letras. “Nossa sintonia é cósmica”, resume Lô. (Estadão)

Um filme com orçamento de US$ 200 milhões era algo ao alcance somente de grandes estúdios de Hollywood. Não é mais. Isso é quanto a Netflix pretende gastar com The Gray Man, sua mais cara produção até hoje. Parte dessa fortuna vai para o elenco estelar, que inclui Ryan La La Land Gosling, Chris Capitão América Evans e Wagner Capitão Nascimento Moura, além do queridinho do momento, Regé-Jean duque de Hastings Page. Ainda sem previsão de estreia, o longa é baseado em livro de Mark Greaney, ainda inédito no Brasil. (Globo)

Já era esperado, mas agora é oficial. A edição deste ano do Rock In Rio foi adiada para setembro de 2022, devido à pandemia do coronavírus. A edição portuguesa do evento, prevista para junho também foi transferida para o mesmo mês no ano que vem. (Folha)

Cotidiano Digital

A Europa vai acusar formalmente a Apple por práticas anticompetitivas. Segundo o Financial Times, a big tech vai ser acusada pela Comissão Europeia de colocar restrições em outros serviços de streaming de música, como impedir que informem os usuários de outras formas, muitas vezes mais baratas, de adquirir seus serviços. A Apple cobra uma taxa de 30% sobre todas as transações feitas na App Store. A prática beneficiaria o próprio serviço de streaming da Apple e já foi motivo de reclamação do Spotify, que apresentou uma queixa oficial contra a Apple há um ano. Depois de abrir uma série de investigações antitruste contra a empresa, essa será a primeira vez que UE move acusações contra a Apple. (Financial Times)

Novidade do WhatsApp. Foi liberada chamadas de voz e vídeo pelo computador, por meio dos aplicativos para Windows e Mac. As novas funções, no entanto, não funcionam pelo WhatsApp Web, aberto pelo navegador.

Meio em vídeo: Na edição desta semana de Pedro+Cora, o criptoartista Tony de Marco explica como muita gente está botando dinheiro no bolso vendendo arte digital. Assista no YouTube.

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